A reforma tributária - cujo relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) foi aprovado nesta terça-feira, 7, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado por 20 votos a 6 - vai melhorar, e muito, o "monstrengo tributário" que vigora hoje no Brasil. A avaliação foi feita ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) pela ex-secretária da Fazenda de Goiás Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt, que está entre os 70 apoiadores do manifesto em defesa da aprovação da reforma.O termo "monstrengo tributário" Cristiane pegou emprestado do economista e ex-diretor da Instituição Fiscal Independente do Senado, Felipe Salto, a quem ela professa grande apreço. Mas diz discordar dele, quando diz que a reforma será um "monstrengo tributário". "Monstrengo é o que temos agora", contrapõe a ex-secretária de Goiás. Hoje, segundo ela, o sistema é caótico, com mais de 5,6 mil legislações municipais, estaduais e federais.
"Se juntarmos isso com as normas, decretos e instrumentos legais relativos à tributação são mais de 60 mil normativas. Temos um código tributário com 1,3 mil páginas e suas complementares", diz.
O novo sistema, de acordo com Cristiane, mesmo com um Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), tem uma única regra. E isso, na avaliação dela, representará grande avanço porque, nos contenciosos tributários, não se tem a mesma interpretação da lei: todo mundo tem um entendimento e tenta defender o próprio lado.
Só com a unificação da lei, avalia a ex-secretária de Goiás, vai se acabar com um custo com contenciosos na proporção de 75% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso, de acordo com Cristiane, vai levar a um patamar condizente com a prática internacional porque, ao final das contas, apesar de os contenciosos continuarem, os custos cairão para um dígito na proporção do PIB.
"Os contenciosos para saber se uma tributação é de competência de um município ISS ou de um Estado ICMS vão acabar. O empresário, dentro do sistema atual do ICMS não tem crédito tributário total. Agora não terá mais cumulatividade. Outro contencioso grande que vai acabar é entre as empresas e os Tesouros. Hoje acontece de uma empresa achar que tem direito a crédito e os Tesouros entenderem que o direito não é pleno", disse Cristiane, emendando que, com a reforma, mesmo com as exceções, as empresas passarão a ter direito ao crédito tributário.
Com a reforma, segundo Cristiane, o Comitê Gestor é quem vai gerir os recursos e definir quanto e quem tem direito ao crédito tributário, e os auditores fiscais vão poder trabalhar de forma coesa. Hoje, o trabalho dos auditores é muito custoso porque os Estados, por causa da guerra fiscal - que também vai acabar com a reforma -, dificultam a liberação das informações.
Outro ponto que Cristiane Schmidt julga de extrema importância e merecedor de destaque é que a carga tributária não vai aumentar, já que o valor será pré-estabelecido.
"Ficou claro para o Congresso que os brasileiros não querem mais pagar muito imposto. Por isso o grande número de pedidos de exceções", analisou a especialista.
Para ela, no médio prazo, quando o IVA estiver funcionando, até mesmo os novos contenciosos vão diminuir. E aí a base de arrecadação vai aumentar. A inadimplência, a judicialização e a elisão fiscal vão diminuir. "É o que chamamos de gap de compliance. Vai arrecadar mais sem aumentar a base."
Hoje, disse a ex-secretária de Goiás, segundo estudo feito pelo secretário extraordinário do Ministério da Fazenda para a reforma tributária, Bernard Appy, a carga tributaria sobre os ombros dos brasileiros é de 34%. Com a reforma, mesmo com as exceções, a alíquota padrão deverá ficar em 27,5%.
"Monstrengo tributário é o que temos hoje. O que vamos ter é uma melhora deste monstrengo. Não é o ideal como foi colocado pelo Baleia Rossi autor da PEC 45, mas foi a determinada pelos parlamentares, pela sociedade. Mais do que um processo tributário e econômico, é um processo político, que depende de consenso, o que é difícil", disse Cristiane, acrescentando que também gostou de o relator Eduardo Braga ter tirado do imposto seletivo os segmentos de telecomunicações e de energia elétrica.
Cristiane Schmidt: Reforma vai melhorar, e muito, o 'monstrengo tributário' que temos hoje
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