O relacionamento entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o criminoso sexual Jeffrey Epstein, voltou ao debate público após o governo Trump decidir ocultar partes dos arquivos da investigação de tráfico sexual envolvendo Epstein e sua ex-namorada, Ghislaine Maxwell.
Nesta quarta-feira, 12, democratas do Comitê de Fiscalização da Câmara dos Estados Unidos divulgaram uma série de e-mails do empresário em que ele afirma que o presidente norte-americano "sabia das meninas", muitas das quais eram menores de idade, e teria "passado horas" com uma das vítimas.
Epstein foi um financista norte-americano acusado de comandar uma rede internacional de exploração sexual de menores. Nascido e criado em Nova York, ele iniciou a carreira como professor de matemática na escola de elite Dalton School, em Manhattan, mas construiu sua fortuna no mercado financeiro.
Em 1976, ingressou no banco de investimentos Bear Stearns, onde começou a formar uma rede de contatos com empresários e figuras influentes. Poucos anos depois, fundou sua própria companhia, a J. Epstein & Co, em 1982.
O sucesso nos negócios o aproximou de nomes poderosos da política e do entretenimento. Epstein era conhecido por manter amizade com o príncipe Andrew, irmão do rei Charles III, o ex-presidente americano Bill Clinton, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e Donald Trump. Em 2019, sua fortuna foi estimada em US$ 560 milhões (cerca de R$ 3,1 bilhões), segundo a rede CBS News.
Epstein foi acusado de liderar uma rede de exploração e tráfico sexual de menores de idade, ao lado da ex-namorada, Ghislaine Maxwell. O empresário teria recrutado adolescentes para atos sexuais em troca de dinheiro em propriedades localizadas em Nova York, Flórida, Novo México e em sua ilha particular no Caribe, entre 2002 e 2005.
As primeiras denúncias surgiram em 2005, quando os pais de uma menina de 14 anos o acusaram de abuso sexual em Palm Beach, na Flórida. O caso deu origem a outras investigações, e em 2008 o milionário foi condenado por exploração sexual e facilitação à prostituição de menores.
Na época, Epstein alegou que os encontros eram consensuais e que acreditava que as jovens tinham 18 anos. Mesmo assim, ele se declarou culpado e firmou um acordo judicial que previa 13 meses de prisão e a inclusão de seu nome na lista federal de criminosos sexuais. Mais de uma década depois, um juiz da Flórida considerou o acordo ilegal, e Epstein voltou a ser preso em julho de 2019 em Nova York.
Um mês após a prisão, ele foi encontrado morto em sua cela, e a autópsia concluiu que ele havia cometido suicídio. O Departamento de Justiça americano confirmou o resultado, depois de revisar gravações e relatórios.
As acusações contra o financista foram encerradas com sua morte, mas as investigações seguiram contra outros suspeitos, incluindo Ghislaine. Em 2022, ela foi condenada a 20 anos de prisão por envolvimento no esquema de tráfico sexual.
Qual a relação de Epstein com Trump?
Donald Trump e Jeffrey Epstein foram próximos por mais de uma década. Eles começaram a se relacionar nos anos 1980. Em 2002, Trump disse à New York Magazine: "Conheço o Jeff há 15 anos. Um cara incrível. É muito divertido estar com ele. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais jovens. Sem dúvida - Jeffrey gosta da vida social dele".
Eles foram vistos juntos em festas, e registros mostram o nome de Trump em sete voos de Epstein entre Palm Beach, Nova York e Washington. Trump reconhece ter usado o avião, mas nega ter visitado a ilha particular do financista ou cometido irregularidades.
Em 2003, Trump teria enviado a Epstein uma carta com uma mensagem de aniversário, incluindo um esboço sexualmente sugestivo de uma mulher nua e uma referência aos segredos que os dois compartilhavam. A Casa Branca negou que Trump tenha desenhado ou assinado a mensagem.
O clube Mar-a-Lago, de Trump, também aparece nas acusações contra Epstein e Ghislaine Maxwell. Foi ali que Virginia Giuffre, vítima da rede de tráfico sexual de Epstein, afirma ter sido recrutada, ainda adolescente.
A relação entre Trump e Epstein esfriou em 2004, após uma disputa por uma mansão em Palm Beach. Em 2019, Trump afirmou que os dois tiveram uma "desavença" e não se falavam havia 15 anos. Ele também sugeriu que encerrou a amizade porque Epstein teria "contratado" atendentes do spa de Mar-a-Lago.
Questionado se uma das mulheres era Giuffre, Trump respondeu: "Não sei. Acho que ela trabalhava no spa. Acho que sim. Acho que era uma das pessoas. Ele a roubou. E, a propósito, ela não tinha nenhuma reclamação sobre nós, como você sabe, nenhuma."
Trump alternou posições públicas sobre o caso ao longo dos anos. Em 2019, pediu uma "investigação completa", mas também desejou "tudo de bom" a Maxwell em 2020.
Durante a campanha de 2024, mostrou ambiguidade sobre divulgar os arquivos de Epstein. Já no governo, indicou chefes do Departamento de Justiça e do FBI que prometeram aprofundar o caso, mas as agências concluíram que os documentos não sustentavam investigações adicionais.
Trump passou a criticar seus próprios apoiadores por insistirem no tema, chamando-os de "fracos" e dizendo que haviam caído em um "golpe" dos democratas.