Big techs fogem de aumento de responsabilidade em novo julgamento

Política
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Plataformas de internet e entidades do setor digital apresentaram embargos de declaração ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão tomada em junho que aumentou a responsabilidade das empresas pelas publicações de usuários. As chamadas big techs querem que a Corte fixe o prazo que começa a vigorar a decisão e não pediram esclarecimentos sobre pontos polêmicos.

Esse tipo de recurso não tem potencial para reverter a decisão tomada em plenário - mas, ao detalhar cada ponto da tese aprovada, o tribunal pode ampliar ainda mais os deveres das plataformas. Para evitar esse efeito, o Google, o Facebook e X limitaram-se a falar sobre o prazo, sem questionar aspectos mais sensíveis da decisão para as empresas.

Antes do julgamento do STF, as plataformas não precisavam responder por danos causados pelas postagens. No plenário, ficou decidido que essa regra só permanece em caso de crimes contra a honra - injúria, calúnia e difamação. Nesses casos, as empresas só teriam a obrigação de remover o conteúdo em caso de decisão judicial com essa determinação específica.

Para outras práticas criminosas, a retirada do conteúdo deve ser feita mediante simples notificação. Antes do julgamento, essa regra já vigorava para casos de violação a direitos autorais e imagens de nudez não autorizada.

Nos embargos de declaração, o Google pediu para o Supremo definir o início da vigência da decisão, "de forma a evitar conclusões díspares nas instâncias inferiores e a multiplicação de recursos".

A empresa também quer a fixação de requisitos mínimos para os usuários notificarem a remoção de conteúdo criminoso - como a descrição do ilícito e a legitimidade do requerente. Segundo os advogados, a medida é "essencial para que se evite uma indústria de notificações e a sobrecarga do próprio Judiciário".

Ainda no recurso, o Google pediu a correção do termo "chatbot" no texto do acórdão. Segundo a empresa, o termo não se refere a um mecanismo de publicação automatizado ou indiscriminado.

O recurso do Facebook pede para o STF fixar o início dos efeitos da decisão no mínimo seis meses após o trânsito em julgado - ou seja, depois do julgamento dos embargos de declaração e da publicação de um novo acórdão. Portanto, para a empresa, fatos ocorridos antes desse prazo devem ser regidos pela interpretação original do Marco Civil da Internet.

O Facebook também pede que os conteúdos que devem ser retirados do ar pelas plataformas sem decisão judicial sejam descritos como "manifestamente" criminosos ou ilícitos, para que não haja responsabilização das empresas em casos difíceis de terem a ilegalidade comprovada sem o aval do Judiciário.

O Facebook pede, ainda, que o tribunal substitua, na tese, a expressão "presunção de responsabilidade" dos provedores para "presunção relativa de culpa", como forma de esclarecer que as empresas não têm a intenção de cometer crimes nos conteúdos ilegais postados por terceiros.

O X argumenta que as medidas necessárias para se adequar à decisão são "não apenas custosas, mas especialmente complexas, em termos jurídicos, técnicos e operacionais", e que exigem tempo "minimamente razoável" para serem aplicadas.

O processo, alega a empresa do bilionário Elon Musk, demanda alinhamento entre equipes internas, preparação de pessoal especializado (moderadores e equipe jurídica) e desenvolvimento de infraestrutura tecnológica.

"Não é razoável que não seja fixado prazo para a implementação das mudanças impostas. É impossível a implementação imediata de todas as novas obrigações previstas. A complexidade da questão é tamanha que o próprio STF levou mais de 4 meses desde a finalização do julgamento para publicar o acórdão", escreve.

O X dá exemplos de outras leis que garantiram maior tempo para as empresas se adaptarem: a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) previu 24 meses; o recente ECA Digital, seis meses; a europeia Digital Services Act (Lei de Serviços Digitais), 15; e a britânica Online Safety Act (Lei de Segurança Online) passou a vigorar 17 meses depois da aprovação.

Ainda assim, as empresas correm o risco de verem suas responsabilidades ampliadas a partir do julgamento dos recursos. Isso porque entidades do setor digital também apresentaram embargos de declaração à decisão do Supremo, com a abordagem de tópicos que as big techs preferiam ver silenciados agora.

A Wikimedia Foundation (WMF), organização sem fins lucrativos por trás da Wikipédia, pede que o STF crie categorias de diferenciação para "provedores de aplicação de internet". O grupo quer a definição de um regime legal específico para os provedores "neutros" ou "de baixa interferência" - "aqueles que não admitem postagens de conteúdo opinativos, não criam ou impulsionam conteúdo e tampouco monetizam em cima deles", explica.

A WMF argumenta que se trata de uma fundação sem fins lucrativos voltada ao livre acesso da informação, que não vende espaço para propagandas, não impulsiona artigos de forma customizada, não monetiza os conteúdos que são criados e publicados na Wikipedia, e que iniciou o uso de algoritmos em sua operação, "mas jamais para criar engajamento com usuários para viralizar conteúdo ou para monetizar".

Outras entidades, como o InternetLab, somaram-se ao apelo da WMF. O InternetLab, por exemplo, além de outros pontos colocados, pediu que a ampliação da responsabilização decidida pelo STF seja direcionada apenas à atividade de plataformas de redes sociais e de alguns serviços de mensageria, quando sua atuação se aproxima à das redes sociais.

A Sleeping Giants, um movimento global de ativismo digital, tocou em uma ferida aberta para as plataformas: a presunção de responsabilidade dos provedores em caso de conteúdos ilícitos sobre anúncios e impulsionamentos pagos. Nesses casos, pode haver responsabilização mesmo sem notificação, mas os provedores ficarão isentos se comprovarem que atuaram em tempo razoável para remover o conteúdo indevido.

A entidade alerta para a falta de definição de conceitos como "atuação diligente", "tempo hábil" e "rede artificial de distribuição", Segundo o texto, "por se tratar de parâmetro para a aferição de responsabilidade, é necessário que os critérios possam ser objetivamente aferíveis, de modo a afastar qualquer julgamento subjetivo e que possa gerar decisões conflitantes no território nacional".

A Sleeping Giants também pediu para o STF apontar a responsabilidade do Executivo nas regras de funcionamento da internet brasileira. "Ainda que seja imperioso que o Brasil, através do Congresso Nacional, avance na seara regulatória, o Supremo foi silente em relação à participação do Poder Executivo no contexto abordado", anotaram os advogados.

Ao todo, onze entidades entraram com recursos após a publicação do acórdão de 1,3 mil páginas. Como mostrou o Estadão, o governo Lula avalia que a decisão do STF faz parte do leque de opções para regulamentar o setor - e acabou por engavetar, por enquanto, o projeto que o próprio Palácio do Planalto elaborou para o tema.

A decisão do STF resultou em uma tese com 14 tópicos. Algumas lacunas foram deixadas em branco, na expectativa que o Executivo e o Legislativo detalhassem as normas de funcionamento da internet no Brasil. Algumas dessas lacunas podem ser sanadas no julgamento dos embargos de declaração, que não tem data prevista para acontecer.

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A BBC pediu desculpas nesta quinta-feira, 13, ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por uma edição enganosa de seu discurso de 6 de janeiro de 2021, mas afirmou que não houve difamação, rejeitando os argumentos de sua ameaça de processo de US$ 1 bilhão.

A BBC informou que o presidente Samir Shah enviou uma carta pessoal à Casa Branca dizendo que ele e a emissora lamentavam a edição do discurso proferido por Trump antes de alguns de seus apoiadores invadirem o Capitólio dos EUA, enquanto o Congresso se preparava para certificar os resultados da vitória do presidente eleito Joe Biden nas eleições de 2020.

A BBC afirmou que não há planos de retransmitir o documentário, que juntou trechos do discurso proferidos com quase uma hora de intervalo.

"Reconhecemos que nossa edição, involuntariamente, criou a impressão de que estávamos exibindo uma única seção contínua do discurso, em vez de trechos de diferentes pontos, e que isso deu a impressão equivocada de que o presidente Trump havia feito um apelo direto à violência", escreveu a BBC em uma retratação.

O advogado de Trump enviou uma carta à BBC exigindo um pedido de desculpas e ameaçando entrar com um processo de US$ 1 bilhão pelos danos causados pelo documentário. Ele havia estabelecido um prazo até sexta-feira, 14, para que a BBC respondesse.

A disputa foi desencadeada por uma edição do principal programa jornalístico da BBC, "Panorama", intitulada "Trump: Uma Segunda Chance?", exibida dias antes da eleição presidencial americana de 2024.

A produtora terceirizada que fez o filme juntou três citações de duas seções do discurso de 2021, proferidas com quase uma hora de intervalo, no que parecia ser uma única citação na qual Trump incitava seus apoiadores a marcharem com ele e "lutarem com todas as suas forças".

Entre as partes cortadas estava uma seção em que Trump dizia querer que seus apoiadores se manifestassem pacificamente.

O diretor-geral, Tim Davie, e a chefe de jornalismo, Deborah Turness, renunciaram no domingo, 9, alegando que o escândalo estava prejudicando a BBC e que "como CEO da BBC News and Current Affairs, a responsabilidade final é minha".

A carta do advogado de Trump exigia um pedido de desculpas ao presidente e uma retratação "completa e justa" sobre o documentário, além de outras "declarações falsas, difamatórias, depreciativas, enganosas ou inflamatórias" sobre Trump.

A carta também afirmava que o presidente deveria ser "devidamente" indenizado pelos "impactantes danos financeiros e à sua reputação".

Especialistas jurídicos disseram que Trump enfrentaria dificuldades para levar o caso à Justiça, mas poderia usar o erro como forma de pressionar por uma indenização.

Os prazos para entrar com o processo nos tribunais ingleses, onde as indenizações por difamação raramente ultrapassam 100 mil libras (cerca de R$ 699 mil), expiraram há mais de um ano. Como o documentário não foi exibido nos EUA, seria difícil demonstrar que os americanos passaram a ter uma opinião pior dele por causa de um programa que não puderam assistir.

Mas o pedido de desculpas e a retratação ocorrem enquanto a BBC afirma estar investigando uma reportagem do Daily Telegraph que aponta que uma edição de seu programa Newsnight de 2022 havia feito o mesmo, editando trechos do mesmo discurso de Trump.

Caso o processo fosse a julgamento, no entanto, especialistas jurídicos afirmaram que a BBC poderia demonstrar que Trump não sofreu prejuízos, já que acabou sendo eleito presidente em 2024.

*Fonte: Associated Press

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

A China pediu nesta quinta-feira, 13, que a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, retire suas declarações sobre Taiwan ou o Japão irá assumir "todas as consequências". Na última semana, Sanae afirmou que um ataque chinês a Taiwan poderia representar uma "ameaça à sobrevivência". Segundo a primeira-ministra, a ação poderia gerar uma resposta militar de Tóquio.

Em uma publicação no X (antigo Twitter), o porta-voz do Ministérios das Relações Exteriores da China, Lin Jian, classificou os comentários como "provocativos" e exigiu uma retratação da primeira-ministra.

A fala de Sanae, segundo Jian, viola gravemente "o princípio de uma só China, os princípios orientadores estabelecidos nos quatro documentos políticos China-Japão e as normas básicas das relações internacionais", sendo uma interferência nos assuntos internos do país chinês. "A China se opõe firmemente e não tolerará de forma alguma tais declarações", afirmou.

"Nossa mensagem ao Japão é clara: o Japão deve se arrepender totalmente de seus crimes de guerra, parar imediatamente com suas declarações e ações erradas e provocativas que interferem nos assuntos internos da China e parar de brincar com fogo na questão de Taiwan. Quem brinca com fogo acaba se queimando", escreveu.

A China, que reivindica o território de Taiwan, ameaçou ainda responder militarmente se o Japão "ousar intervir" nas discussões sobre Taiwan. "Taiwan pertence à China. Como resolver a questão de Taiwan e realizar a reunificação nacional é uma questão a ser decidida pelo povo chinês e não admite interferência de nenhuma força externa", concluiu.

Líder na indústria de desenvolvimento de chips semicondutores, Taiwan se vê na constante sombra da ameaça de invasão chinesa. Pequim tem um plano de unificar as regiões autônomas sob a visão de "uma só China", o que também engloba territórios como Hong Kong.

Turistas italianos suspeitos de participar de "safáris humanos" pagavam valor adicional para atirar e matar crianças. Os crimes ocorreram em meio ao cerco de Sarajevo, um dos capítulos mais sangrentos da Guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995, período da dissolução da antiga Iugoslávia (atual Sérvia).

A denúncia é investigada pelo Ministério Público de Milão e foi aberta após uma investigação do repórter e escritor italiano Ezio Gavazzeni, que concedeu uma entrevista ao jornal La Repubblica. Segundo a reportagem, as "excursões" custavam de € 80 mil (cerca de R$ 493 mil) a € 100 mil (R$ 616 mil) por pessoa.

O dinheiro era entregue a intermediários das milícias sérvias. Os suspeitos devem ser julgados por homicídio doloso agravado por crueldade e motivos torpes.

Como funcionava o esquema

De acordo com a denúncia, os turistas italianos voavam até Belgrado, na Sérvia, pela companhia aérea Aviogenex. Depois, seguiam de helicóptero ou por terra até as colinas da capital da Bósnia e Herzegovina, onde recebiam armas e eram posicionados para atirar em civis.

Quem são os suspeitos?

Segundo a reportagem, a maioria dos atiradores era composta por políticos ou simpatizantes da extrema-direita, entre 40 e 50 anos, que tinham paixão por armas e procuravam por formas de adrenalina "sádica". Eles moravam nas regiões de Lombardia, Piemonte e Triveneto.

Dentre os "turistas de guerra", estão:

empresários - um deles era dono de uma clínica particular em Milão;

médicos;

Mercenários.

Quem será ouvido pelo Ministério Público de Milão?

- um ex-funcionário da agência de inteligência da Bósnia, que, de acordo com o La Repubblica, já afirmou que o Serviço de Inteligência e Segurança Militar (Sismi) da Itália foi alertado sobre a situação no início de 1994;

- um oficial da Eslovênia;

- um bombeiro que depôs no julgamento do ex-presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic. Na ocasião, ele citou os "atiradores turistas" com roupas e armas que destoavam do contexto;

- os pais de uma bebê de um ano que foi morta no "beco dos atiradores".