Brasil e Venezuela fecham acordo de cooperação agrícola; relembre relação entre Lula e Maduro

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O Brasil assinou na quarta-feira, 12, um memorando de entendimento para cooperação técnica em agricultura com o governo da Venezuela. O anúncio abre um novo capítulo da relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ditador do país vizinho, Nicolás Maduro, que é marcada por episódios de aproximação e outros de afastamento.

Como mostrou o Estadão, um dia depois da assinatura do acordo, Maduro anunciou a entrega de cerca de 180 mil hectares de terra para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Ministério das Relações Exteriores (MRE) afirma que a iniciativa do chavista não tem relação com o memorando de entendimento.

A proximidade entre Lula e o regime venezuelano foi criticada por adversários políticos do petista ao longo dos últimos anos. A ligação passou a ser politicamente mais custosa neste terceiro mandato, com pesquisas de opinião indicando a impopularidade de Maduro e um rechaço do apoio do petista à ditadura chavista.

Em maio de 2023, no início do mandato de Lula, Maduro foi recebido no Palácio do Planalto. O presidente defendeu a reabilitação do chavista e disse que ele era alvo de "narrativas" emplacadas por opositores.

Um mês depois, em junho, Lula causou polêmica ao afirmar que a Venezuela "tem mais eleições do que o Brasil" e que o conceito de democracia é "relativo".

O relacionamento entre os dois, no entanto, estremeceu no ano passado, quando Maduro venceu a eleição presidencial sob suspeitas de fraudes e perseguição a opositores. Parte da comunidade internacional reconheceu a vitória de Edmundo González, mediante atas eleitorais que nunca foram divulgadas pelo regime venezuelano.

Ao contrário do PT e do MST, Lula chegou a afirmar que o processo eleitoral no país vizinho não foi correto e não reconheceu os resultados do pleito. Porém, descartou romper relações com Maduro e criticou as sanções econômicas contra o regime bolivariano lideradas pelos Estados Unidos.

O auge da tensão foi quando Maduro afirmou, sem provas, que não há auditoria nas eleições brasileiras. A declaração do chavista fez o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) emitir uma nota declarando que o boletim de urna brasileira é "totalmente auditável".

Apesar do embate, em janeiro deste ano houve uma nova aproximação. Mesmo com as críticas ao sistema eleitoral venezuelano, Lula decidiu enviar a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, para a posse do ditador.

Como mostrou o Estadão, após a posse de Maduro, o governo Lula começou a manter alguns contatos com o regime, enquanto observa com atenção as medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação à Venezuela

Veja o que diz o memorando de entendimento assinado entre Brasil e Venezuela

No Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira, 12, foi publicado um memorando de entendimento - instrumento jurídico que registra acordos internacionais - instituindo cooperação técnica entre o Itamaraty e três ministérios venezuelanos que atuam na agricultura produtiva, alimentação e com as comunidades e movimentos sociais.

De acordo com o memorando de entendimento, a cooperação entre Brasil e a Venezuela contempla as seguintes iniciativas feitas pelos dois países:

- desenvolvimento da produção familiar, urbana, periurbana e comunal;

- monitoramento com fins agrícolas;

- vigilância, prevenção, contenção, controle e erradicação de pragas agrícolas e enfermidades animais (mosca da carambola, febre aftosa, entre outras);

- criação de um programa binacional para o desenvolvimento sustentável da

- fronteira comum amazônica;

- produção primária em setores estratégicos (milho, mandioca, café, cana de açúcar, cítricos, bananas e outros);

- melhoramento genético de búfalos, bovinos, ovinos e caprinos;

- produção de soja;

- produção de sementes de alto valor estratégico;

- sistema de reservas alimentares

As terras foram expropriadas durante o governo de Hugo Chávez, seu antecessor, na década de 2000. Maduro afirmou que elas serão utilizadas para cultivar alimentos destinados ao consumo na Venezuela, no norte do Brasil e para exportação.

Em nota enviada neste sábado, 15, o Ministério das Relações Exteriores negou a relação entre a entrega de terras feitas por Maduro e o memorando de entendimento. O Itamaraty disse ainda que o memorando não embasa juridicamente a implementação de projetos de cooperação bilaterais e que estes ainda não estão em andamento.

"O memorando de entendimento entre Brasil e Venezuela, publicado no Diário Oficial da União em 12/03/2025, representa intenção dos dois governos de explorar intercâmbios nas áreas da agricultura, da pecuária, da soberania e segurança alimentar e nutricional. O referido memorando não embasa juridicamente a implementação de projetos de cooperação bilaterais", afirmou o MRE.

Em outra categoria

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar o comandante do Federal Reserve, Jerome Powell.

"'Está tarde' deveria renunciar imediatamente", afirmou Trump em registro na Truth Social nesta quarta-feira.

"O presidente do Fed deveria ser investigado pelo Congresso, disse o chefe do FHFA", completou o presidente americano, referindo-se ao diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA) e presidente do conselho da Fannie Mae e da Freddie Mac, William Pulte, que pediu nesta quarta-feira que o Congresso investigue o presidente do BC americano.

Em comunicado, Pulte afirmou que Powell demonstrou "viés político" e prestou "testemunho enganoso" ao Senado, o que seria "motivo suficiente para sua destituição 'por justa causa'".

O grupo terrorista Hamas afirmou nesta quarta-feira, 2, que discute as propostas de cessar-fogo com Israel na Faixa de Gaza entregues pelos mediadores do conflito. A declaração vem a público um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizer que Israel havia apoiado uma trégua de 60 dias no território palestino.

Segundo a declaração do Hamas, o grupo realiza consultas para discutir as propostas. "[O objetivo é] alcançar um acordo que garanta o fim da violência, a retirada (de Israel na Faixa de Gaza) e a ajuda urgente ao nosso povo", disse o grupo.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, também tocou no assunto nesta quarta. Sem mencionar Trump, ele afirmou que há sinais positivos para retomar negociações para uma trégua "o mais rápido possível".

Saar declarou que as negociações são uma oportunidade para resgatar 49 reféns que continuam presos pelo Hamas após 21 meses do atual conflito. Eles foram capturados em Israel durante o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, junto com outras 202 pessoas. Acredita-se que dos 49, 27 estejam mortos.

Segundo a imprensa israelense, os dois principais ministros de extrema direita do gabinete de Binyamin Netanyahu - Bezalel Smotrich (Economia) e Itamar Ben Gvir (Segurança Nacional) - expressaram oposição a uma trégua com o Hamas na terça-feira.

Sem o apoio de Smotrich e Ben Gvir, Netanyahu perderia a maioria legislativa que dá apoio ao seu governo.

O esforço em direção a novas negociações para um cessar-fogo ganhou força pouco antes do encontro entre Netanyahu e Trump previsto para a próxima semana, em Washington. Também seguiu a decisão dos EUA de bombardear instalações nucleares do Irã ao lado de Israel, cumprindo uma ambição israelense de longa data.

Trump, que tem expressado crescente frustração com o que rotula de "guerra muito brutal" em Gaza, diz que espera ver um cessar-fogo alcançado já na semana que vem.

Segundo o jornal americano The New York Times, três autoridades de Israel afirmaram sob anonimato que o último esforço dos EUA buscou oferecer ao Hamas garantias mais fortes de que um cessar-fogo temporário, o que pode abrir caminho para um fim permanente do conflito.

Entretanto, os termos exatos do novo esboço dos EUA permanecem desconhecidos e os dois lados precisam de mais negociações para resolver os detalhes de um cessar-fogo de 60 dias - o que torna um o fim do conflito mais distante.

Enquanto algumas autoridades sugeriam que Israel havia suavizado as exigências, Netanyahu prometeu novamente nesta quarta que "eliminaria fundamentalmente" o Hamas. "Estou dizendo a vocês: não haverá mais Hamas", disse. "Não vamos voltar a isso."

Entraves para o fim da guerra

Embora as autoridades israelenses expressem um otimismo cauteloso quanto ao estado das negociações, não está claro se a fórmula mais recente superaria os pontos críticos que têm consistentemente atrapalhado as negociações para encerrar a guerra.

Netanyahu diz estar pronto para um cessar-fogo temporário, mas não interromperá a guerra de forma permanente, a menos que o Hamas abandone o poder em Gaza e seus líderes se exilem - condições que o Hamas rejeita.

Líderes do Hamas dizem que libertarão todos os reféns restantes somente se Israel encerrar a guerra permanentemente.

Segundo analistas, alguns fatores podem fazer Netanyahu ceder. Impulsionado pelo que muitos israelenses consideram a bem-sucedida guerra contra o Irã, o premiê tem agora uma popularidade mais forte nas pesquisas do que em qualquer outro momento desde o início da guerra.

As análises são de que isso pode fazer com que Bibi, como o premiê é conhecido, esteja disposto a arriscar o fim da coalizão que sustenta o governo se puder aproveitar o fim do conflito para fortalecer os laços diplomáticos de Israel com os países árabes vizinhos.

Operações militares em Gaza

Enquanto a trégua não é alcançada, as operações militares de Israel na Faixa de Gaza continuam. A Defesa Civil do território palestino disse que os bombardeios israelenses mataram 33 pessoas somente nesta quarta-feira.

O porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal, disse que sete pessoas morreram em um ataque a um apartamento na Cidade de Gaza, incluindo o diretor do hospital indonésio - uma unidade privada no norte de Gaza - Marwan al-Sultan. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi autorizado pela Justiça argentina a visitar a ex-presidente Cristina Kirchner, atualmente em regime de prisão domiciliar em Buenos Aires. Com isso, o Planalto confirmou oficialmente a visita na agenda presidencial durante a cúpula do Mercosul na Argentina.

O encontro ocorrerá nesta quinta-feira, dia 3, segundo decisão do tribunal federal responsável por revisar a execução penal dela. A própria corte indicou a janela para a visita.

O advogado de Cristina, Carlos Beraldi, confirmou ao Estadão ter obtido nesta quarta-feira, dia 2, o aval para que Lula possa se encontrar Cristina, um dia após ingressar com uma requisição específica para o petista.

A necessidade de aval prévio às visitas de pessoas que não sejam do círculo mais íntimo e da rotina da ex-presidente segue as regras impostas pela Justiça para que ela cumprisse a pena de seis anos em regime domiciliar, condenada por administração fraudulenta.

O encontro ocorrerá enquanto Lula participa da Cúpula do Mercosul, em Buenos Aires, para onde decolou nesta quarta-feira. O presidente desembarca no país vizinho e cumpre agenda oficial na manhã de quinta-feira, dia 3.

Oferta de solidariedade

Agora, Lula vai ao apartamento da ex-presidente condenada em caso de corrupção prestar "solidariedade" antes de embarcar de volta ao Brasil. Ela está reclusa na rua San José, número 1.111, segundo andar, apartamento D. O prédio tem localização central na capital argentina, no bairro de Constituición.

A Justiça argentina determinou que, em regime de prisão domiciliar, Cristina adote certos comportamentos e evite tumultuar a rotina da vizinhança.

O governo brasileiro trabalha para que Lula não entre no mérito da acusação e da condenação - apenas retribua um gesto de solidariedade a ela -, cioso de que a visita soe como ingerência externa no Judiciário argentino e repercuta mal.

É justamente o que o governo Lula reclama da gestão Donald Trump na ofensiva contra o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes, nos casos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para integrantes do governo Lula, aplicar sanções a um integrante da mais alta corte nacional seria cruzar uma "linha vermelha" e equivale a uma "interferência" institucional em um dos poderes da República, à qual o governo avalia como responder na esfera política. (COLABOROU GIORDANNA NEVES, ENVIADA ESPECIAL)