Rússia usa fala de Trump para justificar anexação de partes da Ucrânia

Internacional
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Um dia após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que a Ucrânia pode ou não se tornar parte da Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, usou a declaração para justificar a anexação russa de partes do país vizinho. Segundo ele, muitos ucranianos desejam fazer parte do território russo.

Em entrevista à Fox News, transmitida na noite de segunda-feira, 10, Trump comentava as incertezas sobre um acordo de paz na Ucrânia, quando se referiu à possibilidade de o país se juntar ao vizinho. "Eles podem fazer um acordo ou podem não fazer. Eles podem se tornar russos um dia ou podem não se tornar", declarou Trump.

Em resposta, o porta-voz do Kremlin disse nesta terça, 11, que parte da Ucrânia quer se tornar Rússia. Ele citou referendos realizados em territórios ocupados por forças russas ou apoiados pela Rússia que, segundo ele, mostraram apoio à anexação.

Em setembro de 2022, Moscou declarou que as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzia eram parte da Rússia. Os referendos, porém, não foram reconhecidos pela comunidade internacional. O retorno ao poder de Trump, que prometeu acabar com "a carnificina" da guerra no seu primeiro dia no cargo, reacendeu as especulações em torno das negociações de paz.

Terras

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, divulgada ontem, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, indicou estar aberto à possibilidade de uma troca de território com a Rússia como parte de uma eventual negociação para encerrar a guerra.

"Se Trump conseguir levar a Ucrânia e a Rússia para a mesa de negociações, trocaremos um território por outro", indicou Zelenski, sem especificar quais regiões poderiam ser negociadas. "Não sei, veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não há prioridade", afirmou.

O presidente ucraniano reforçou estar disposto a abrir um diálogo pelo fim da guerra, desde que a partir de uma posição de igualdade de forças. Segundo o jornal, Zelenski diz que oferecerá a empresas americanas contratos lucrativos para a reconstrução do país após o conflito.

A volta de Trump também colocou a ajuda americana aos ucranianos em xeque. O presidente americano falou em condicionar essa ajuda e declarou querer negociar um acordo com Kiev que possa oferecer como garantia seus metais de terras raras, materiais usados principalmente na indústria eletrônica.

Intervenção

Segundo Zelenski, a proteção da Ucrânia depende dos EUA e afastou a possibilidade de a Europa sozinha conseguir oferecer garantias de segurança a seu país. Ele afirmou ainda que uma missão da ONU não ajudaria a acabar com o conflito, a não ser que fosse acompanhada por garantias de que lutaria contra a Rússia. "Serei franco com você, não acho que as tropas da ONU ou algo semelhante tenham realmente ajudado alguém ao longo da história", disse. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste domingo, 16, contar com o apoio da bancada do PSD na Câmara dos Deputados para aprovar projeto de anistia aos presos e condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro.

Bolsonaro disse que o alinhamento se deu depois de uma conversa com o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, atual secretário de Governo e Relações Institucionais do Governo de São Paulo. "Eu, inclusive, há poucos dias, tinha um velho problema e resolvi com o Kassab, em São Paulo. Ele está ao nosso lado, com a sua bancada, para aprovar a anistia em Brasília", afirmou Bolsonaro. Procurado diretamente e por assessoria de imprensa, Kassab não se manifestou até o momento.

A bancada do PSD na Câmara dos Deputados conta com 44 integrantes. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ) afirmou neste domingo que vai pedir no colégio de líderes urgência na votação da proposta da anistia. O pedido, segundo ele, será feito pelos 92 deputados do PL e também por parlamentares de outros partidos, o que chamou de "surpresa".

Os bolsonaristas presos pelo 8 de Janeiro foram condenados por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) estimou em 400 mil o número de participantes do ato promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, na capital fluminense.

Em postagem na rede social X, a PMRJ diz que acompanhou a manifestação, e que o 19º Batalhão de Polícia Militar (19BPM) acompanhou o evento em conjunto com o Comando de Operações Especiais (COE) e o 1º Comando de Policiamento de Área (1CPA). A postagem informa, ainda, que não houve o registro de ocorrências.

A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, rebateu as declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, em ato bolsonarista neste domingo, 16, insinuou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teme enfrentar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas em 2026.

Pelo X, Gleisi afirmou que Lula disputou seis eleições ao Planalto e, quando não venceu, respeitou o resultado, não tramou golpes nem atacou as instituições. "Não é Lula que tem medo de perder, governador Tarcísio. É Bolsonaro que tem medo da prisão", escreveu a ministra.

Em ato bolsonarista na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, Tarcísio questionou o motivo de a Justiça brasileira tornar o ex-presidente inelegível. "Qual razão para afastar Jair Messias Bolsonaro das urnas? É medo de perder eleição, porque sabem que vão perder?".

A manifestação deste domingo teve como pauta principal a defesa da anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Segundo levantamento do Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) da Universidade de São Paulo (USP), o ato reuniu 18,3 mil pessoas, menos de 2% do público de um milhão de pessoas que era aguardado para o ato.

Em discurso a apoiadores, Bolsonaro afirmou que, mesmo "preso ou morto", vai continuar sendo um "problema" para o Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente declarou já ter votos suficientes para emplacar a anistia, que também pode beneficiá-lo.

"Eu estava nos Estados Unidos [no dia do vandalismo em Brasília]. Se eu estivesse aqui, estaria preso até hoje ou quem sabe morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto. Mas eu deixo acesa a chama da esperança, da libertação do nosso povo", disse Bolsonaro, denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como "líder" do plano golpista para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022.