Continue lendo o artigo abaixo...
O tom conservador do Comitê de Política Monetária (Copom) e a ausência de sinalização sobre os próximos passos na reunião de ontem colocaram em segundo plano a volatilidade do ambiente político que impulsionou os juros futuros nas últimas sessões. O mercado, que gostaria de estar discutindo qual será a magnitude do primeiro corte da Selic, ainda debate se a flexibilização virá em janeiro ou março de 2026.
Na abertura, os vértices curtos chegaram a ensaiar alta, reagindo a dados mais fortes de atividade e também à leitura de que o Banco Central não tem pressa para diminuir o juro. A partir do início da tarde, passaram a operar em viés de baixa, tendo como suporte recuo mais acentuado do dólar e dos rendimentos dos Treasuries. O ambiente externo também ajudou os vencimentos intermediários e longos da curva, que perdeu inclinação.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 13,753% no ajuste anterior para 13,735%. O DI para janeiro de 2029 caiu de 13,259% no ajuste antecedente para 13,140%, e DI para janeiro de 2031 marcou 13,415%, vindo de 13,532% no ajuste de ontem.
Gestor de portfólio da Connex Capital, Gean Lima afirma que seu cenário de início do ciclo de flexibilização em março foi reforçado após o comunicado de quarta-feira,10, do Copom. "Mas o mercado ainda está dividido entre janeiro e março, o que já vinha antes do Copom. Há opiniões para os dois lados, mas, na minha, o Copom não retirou elementos do texto que poderiam sair, e preparou o terreno para cortar o juro em março", disse. "Acredito que a probabilidade de corte em janeiro caiu".
Segundo cálculos de Lima, a precificação da curva aponta cerca de 56% de chance de corte de 25 pontos-base da Selic na primeira reunião de 2026 do Copom. "Esse número estava em mais de 60% nos últimos dias e já bateu 88% semanas atrás", disse. Já a taxa terminal de 2026 passou de 12,75% nesta quinta, vindo de 12% na última sexta-feira, data em que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou sua pré-candidatura à eleição presidencial e embaralhou as apostas do mercado para o cenário eleitoral.
"Uma candidatura dele no lugar de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo elimina chance de transição de governo", afirma Lima, aumentando probabilidade de reeleição do presidente Lula, que tende a adotar política fiscal mais expansionista. Nesta quinta, no entanto, o noticiário político se acalmou, assim como o cenário externo, o que ajudou a curva de DIS, avalia.
Em entrevista ao podcast Irmãos Dias, Flávio reafirmou que seu "preço" para abrir mão da corrida à disputa presidencial é dar lugar a seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está preso e não pode ser eleito. As declarações não mudaram a dinâmica dos DIs.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, os acontecimentos políticos deram lugar às discussões sobre os fundamentos econômicos e ajustes de cenários depois do comunicado do Copom. "Parece que o tema político ficou mais de lado e o pessoal pensou que ainda há tempo para decidir candidaturas".
A semelhança do documento que acompanhou a decisão de manter a Selic em 15% com o da reunião anterior, na avaliação de Cruz, foi adotada justamente para evitar interpretações de que uma redução em janeiro ainda está na mesa. "Quem já achava que corta em março não está com dúvida, alguns com cenário em janeiro estão jogando a toalha, mas a maioria ainda está mantendo", comentou Cruz, que mantém março como perspectiva para o início do afrouxamento.
Diante do comunicado do colegiado, Cruz avalia que a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada hoje pelo IBGE, fez pouco preço nos DIs nesta quinta. As vendas do varejo restrito, que não consideram automóveis e material de construção, avançaram 0,5% entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais. A mediana do Projeções Broadcast previa queda de 0,1%. Já o varejo ampliado, que inclui esses dois setores, aumentou 1,1% na passagem mensal, frente mediana de 0,2%.
Seja o primeiro a comentar!