No Centro das Atenções
Viajar pelo Brasil é mergulhar em uma narrativa viva, contada por ruas de pedra, casarões coloniais, igrejas barrocas e manifestações culturais que resistem ao tempo. Entre praias paradisíacas e grandes metrópoles, há um circuito de cidades históricas que ganharam reconhecimento internacional por seu valor excepcional: são os patrimônios culturais da humanidade, listados pela UNESCO. Lugares como Ouro Preto, Olinda, São Luís e Goiás Velho não são apenas destinos turísticos — são capítulos preservados da formação do país, onde passado e presente se entrelaçam de forma única.
Ouro Preto (MG): o barroco em estado puro
Declarada Patrimônio Mundial em 1980, Ouro Preto é talvez o exemplo mais emblemático do legado colonial brasileiro. Fundada no final do século XVII durante o ciclo do ouro, a cidade se desenvolveu em meio a montanhas e guarda um conjunto arquitetônico barroco considerado um dos mais importantes das Américas. Suas ladeiras íngremes conduzem os visitantes a igrejas deslumbrantes, como a de São Francisco de Assis, obra-prima de Aleijadinho e Mestre Ataíde. O casario preservado, os museus instalados em antigas residências e a atmosfera quase cenográfica fazem da cidade um destino imperdível para quem busca compreender a riqueza e as contradições do período colonial.
Além do patrimônio arquitetônico, Ouro Preto pulsa culturalmente. A Semana Santa atrai milhares de turistas, assim como o tradicional Carnaval de blocos, que mistura irreverência e história. A cidade universitária mantém um clima vibrante, com cafés, ateliês e centros culturais que atualizam o legado artístico local.
Olinda (PE): onde o passado dança com o presente
Fundada em 1535, Olinda foi declarada Patrimônio Mundial em 1982. Localizada a poucos quilômetros do Recife, a cidade preserva um conjunto urbano colonial harmonioso, marcado por sobrados coloridos, igrejas seculares e mirantes com vista para o mar. Caminhar por suas ladeiras é viajar no tempo: o Sítio Histórico de Olinda mantém traços da ocupação portuguesa e das influências holandesas, além de uma forte identidade nordestina que se manifesta na música, no artesanato e na gastronomia.
Olinda é também um dos epicentros culturais do país. Seu Carnaval é reconhecido internacionalmente pela criatividade e participação popular, com os famosos bonecos gigantes desfilando pelas ruas em meio a frevo e maracatu. Ao longo do ano, ateliês de artistas, feiras de artesanato e festivais de música mantêm a cidade viva e efervescente, transformando o patrimônio histórico em palco de manifestações contemporâneas.
São Luís (MA): azulejos, poesia e resistência
A capital maranhense, fundada em 1612 pelos franceses e posteriormente ocupada por portugueses e holandeses, é uma joia arquitetônica única no país. Seu centro histórico foi reconhecido pela UNESCO em 1997, graças ao conjunto urbano com mais de 3.500 imóveis tombados, muitos revestidos de azulejos portugueses que conferem à cidade um aspecto singular. As fachadas coloridas, os sobrados com janelas de madeira e as praças arborizadas criam um cenário que combina nostalgia e beleza tropical.
Mas São Luís não vive apenas de sua arquitetura. A cidade é berço de manifestações culturais fortes, como o bumba meu boi, o tambor de crioula e as festas juninas — celebradas com intensidade ímpar. A cena literária e musical também é notável, com poetas, cantores e grupos locais mantendo viva uma tradição cultural marcada pela miscigenação de influências europeias, africanas e indígenas.
Goiás Velho (GO): charme colonial no coração do Brasil
A antiga capital de Goiás, também conhecida como Goiás Velho, foi declarada Patrimônio Mundial em 2001. Fundada no início do século XVIII, a cidade floresceu durante o ciclo do ouro no Centro-Oeste e conserva até hoje seu traçado urbano original, com ruas sinuosas e edificações coloniais em perfeita harmonia com o entorno natural. Diferente de Ouro Preto, Goiás Velho tem uma atmosfera mais tranquila e bucólica, ideal para quem busca contemplação e imersão histórica sem grandes multidões.
A cidade abriga a Casa de Cora Coralina, importante escritora goiana, que hoje funciona como museu dedicado à sua vida e obra. As festas religiosas e procissões, a hospitalidade local e a culinária típica — com doces artesanais e pratos sertanejos — completam a experiência. Goiás Velho é um lembrete de que a história também se escreve longe do litoral, no coração do Brasil profundo.
Um convite à imersão cultural
Explorar essas cidades é mais do que fazer turismo: é vivenciar o legado de diferentes períodos históricos, compreender como o Brasil foi se moldando culturalmente e perceber que o patrimônio não é algo estático, mas vivo e em constante transformação. Cada uma dessas localidades oferece ao visitante experiências que unem aprendizado, contemplação e emoção — seja ouvindo um maracatu ecoar pelas ladeiras de Olinda, contemplando o entalhe barroco em Ouro Preto, percorrendo azulejos centenários em São Luís ou lendo poesia à beira do rio em Goiás Velho.
Em tempos de viagens rápidas e destinos superficiais, roteiros culturais como esses são uma oportunidade rara de desacelerar e se conectar com a alma de um país.