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Belém, na Cisjordânia, volta a acender árvore de Natal em meio a trégua na Faixa de Gaza

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Uma árvore de Natal foi acesa em Belém, na Cisjordânia, no sábado, 6, pela primeira vez desde o início da guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Aos poucos, as celebrações natalinas estão retornado à cidade palestina, reverenciada pelos cristãos como o local de nascimento de Jesus.

Enquanto um cessar-fogo instável se mantém em Gaza, os palestinos esperam que as festividades sejam um passo rumo a um futuro mais pacífico em uma região abalada pela tragédia. "Não é como era antes da guerra", disse o empreendedor John Juka, de 30 anos. "Mas é como se a vida estivesse voltando."

Turismo religioso é motor econômico de Belém

O turismo e os peregrinos religiosos são, há muito tempo, um dos principais motores econômicos de Belém, cidade de maioria muçulmana. Cerca de 80% dos moradores dependem dessa atividade para sobreviver, segundo o governo local.

"Quando temos 10 mil visitantes e peregrinos dormindo em Belém, isso significa que o açougueiro está trabalhando, o supermercado está funcionando e todos estão trabalhando", disse o prefeito de Belém, Maher Nicola Canawati. "Há um efeito cascata."

Essa tábua de salvação econômica desapareceu quando a guerra eclodiu em Gaza, após o ataque liderado pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023, no sul de Israel.

O Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo grupo terrorista, afirma que mais de 70 mil palestinos foram mortos durante a ofensiva retaliatória israelense.

Nesse período, as autoridades de Belém cancelaram as principais celebrações de Natal. Ao mesmo tempo, os militares israelenses intensificaram as operações na Cisjordânia, incluindo comunidades próximas a Belém.

A taxa de desemprego na cidade saltou de 14% para 65%, disse Canawati. A pobreza disparou e cerca de 4 mil pessoas deixaram a cidade em busca de trabalho. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no mês passado, afirmou que a Cisjordânia atravessa a pior crise econômica de sua história, citando as operações militares israelenses em curso.

Agora, os moradores de Belém buscam uma recuperação. "A decisão que tomamos foi reacender o espírito do Natal e a esperança", disse o prefeito. "Acho que isso envia uma ótima mensagem para o mundo todo de que nós, palestinos, amamos a vida e estamos ansiosos por uma solução pacífica."

Alguns turistas retornam

No sábado, multidões cercadas por policiais fortemente armados aplaudiram após uma oração pedindo paz. Pais ergueram seus filhos nos ombros enquanto uma imponente árvore de Natal iluminava a Praça da Manjedoura, perto do local onde os cristãos acreditam que Jesus nasceu.

Para famílias como a de Juka, que lutaram para manter seus negócios de pé durante a guerra, a cena representou um profundo alívio após anos de incerteza.

Eles abriram o restaurante de comida tradicional palestina em 1979. Com muitos estabelecimentos de Belém fechando ao longo do conflito, a família se perguntava por quanto tempo ainda conseguiria resistir.

Em agosto, com o avanço das negociações de cessar-fogo, Juka começou a notar visitantes voltando a circular pelas ruas e decidiu reabrir o negócio. "Os turistas finalmente se sentem seguros para voltar", disse. "Temos esperança de que possamos ver a paz em nosso futuro."

Em novembro, o número de visitantes na cidade atingiu o maior patamar desde o início da guerra e as reservas indicam que os hotéis devem alcançar uma ocupação de cerca de 70% no período do Natal, segundo Canawati.

Ainda assim, entre as centenas de pessoas reunidas na praça, poucos eram turistas estrangeiros. Moradores disseram que, apesar da alegria, as celebrações ainda estão longe do que eram antes da guerra.

Tensões na Cisjordânia

O pintor Issa Montas, de 29 anos, que mora na Cisjordânia, disse que as tensões no território lançaram uma sombra sobre a celebração do feriado. Embora Belém tenha sido por muito tempo um refúgio religioso de relativa calma, a violência e as incursões militares tornaram-se frequentes nas proximidades. Os militares israelenses afirmam que suas ações visam reprimir militantes na Cisjordânia e responder a agressões.

No sábado, o Exército de Israel informou que suas forças mataram a tiros dois palestinos que, segundo eles, tentaram atropelar soldados em um posto de controle em Hebron, ao sul de Belém. O Ministério da Saúde de Gaza confirmou pelo menos uma das mortes.

Os postos de controle militares transformaram deslocamentos em jornadas que, às vezes, duram o dia inteiro. Montas, que trabalha em Jerusalém, disse ter levado seis horas para viajar de sua casa, em Ramallah, até Belém - menos de 32 quilômetros de distância.

Ao mesmo tempo, os ataques de colonos israelenses contra palestinos na Cisjordânia atingiram os níveis mais altos desde que o escritório humanitário da ONU começou a registrar os dados em 2006, chegando ao ápice nos últimos meses.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, cujo governo é dominado por defensores da extrema-direita do movimento de colonos, afirmou que os responsáveis são "um punhado de extremistas".

"Vejo muita violência, mas ninguém consegue impedi-los, nem mesmo o Exército ou a polícia israelenses conseguem controlá-los. Eles permitem que façam isso", disse Montas sobre os colonos. "Parece que, não importa o que eu diga, será inútil porque ninguém se importa."

Ainda assim, ele demonstrou uma esperança cautelosa no sábado, enquanto crianças corriam entre vendedores ambulantes e uma mistura de música natalina e árabe ecoava entre a multidão. "Esta [celebração] não é só para nós. É para todos. Cristãos, judeus, muçulmanos", disse. "Este Natal é para todos."

*Com informações da AP

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