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Após a recuperação moderada do dia anterior, quando descontou apenas 0,52% vindo de uma queda livre de 4,31% na sexta-feira, o Ibovespa voltou ao campo negativo em boa parte desta terça-feira, mas na reta final chegou a encontrar fôlego para esboçar leve alta no fechamento. Contudo, no ajuste de encerramento, o índice neutralizou a recuperação, em leve baixa de 0,13%, aos 157.981,13 pontos, com a suspensão de aguardada sessão na Câmara em razão de um protesto do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que ocupou a cadeira da presidência.
Ele disse que dali não sairia, em manifestação contra o processo do qual é alvo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. A Polícia Legislativa foi acionada e a transmissão pela TV Câmara, também suspensa. Até então, o Ibovespa subia, tendo tocado máxima da sessão, no fim da tarde, com a sinalização de que tanto o Senado como a Câmara dos Deputados devem votar com celeridade o PL da Dosimetria - tido como chave para a eventual desistência do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de sua pré-candidatura à Presidência da República.
Além da cautela que costuma anteceder as decisões sobre juros nos EUA e no Brasil, como as da quarta-feira, os investidores ainda monitoram, com lupa, as idas e vindas em torno da pré-candidatura do senador fluminense à Presidência da República, que recolocou no foco o risco político antes mesmo de 2026 começar.
Com giro financeiro mais acomodado nesta terça-feira, mas ainda a R$ 25,0 bilhões, após a acentuação de volume observada nas duas sessões anteriores, o índice da B3 oscilou de 155.187,81 a 158.851,19 pontos, no fim da tarde, após ter operado em boa parte do dia com máxima que correspondia ao nível de abertura. No ano, o Ibovespa avança 31,34%, com leve perda de 0,69% no agregado de dezembro.
"Nervosismo e volatilidade têm prevalecido no mercado desde a sexta-feira, com o anúncio do Flávio Bolsonaro, na medida em que o mercado estava comprado em único nome, o de Tarcísio de Freitas", resume Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. "Com dosimetria caso venha a ser aprovada no Congresso, quem sabe o Flávio não desiste de ser o candidato indicado pelo pai", acrescenta.
"A gente não vê, no discurso, o Flávio colocar o Brasil numa rota de crescimento, atrair investimento estrangeiro ou tornar o ambiente doméstico mais favorável aos negócios. E são esses pontos que o Tarcísio consegue deixar mais claro, agradando muito ao mercado", diz Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos.
Em busca de melhorar a própria imagem junto a agentes econômicos, Flávio Bolsonaro disse hoje ter conversado, antes mesmo de anunciar sua pré-candidatura, com o ministro da Economia do governo de Jair Bolsonaro, o economista liberal Paulo Guedes. "Busco pessoas de confiança que já foram testadas", acrescentou o senador.
Em desdobramento político significativo, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, decidiu pautar para esta terça-feira, 9, o projeto de anistia aos condenados por atos golpistas. A proposta que tramita em urgência, inicialmente chamada de PL (projeto de lei) da Anistia, passou a ser denominada PL da Dosimetria, pela relação com o tamanho das penas.
Por sua vez, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, disse no fim da tarde que, caso seja aprovado na Câmara hoje, o PL da Dosimetria pode ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na quarta-feira, e no plenário da Casa, na semana que vem - declarações que contribuíram para o Ibovespa mudar de direção e firmar sinal positivo na reta final desta terça-feira, até que veio a reviravolta em torno do protesto do deputado do PSOL.
"A questão do Flávio ainda está no centro da atenção. A insistência na candidatura reforça a perspectiva, o temor, de reeleição do atual governo, o que coloca em xeque eventual ajuste fiscal futuro, com efeito para inflação e juros altos por mais tempo. Ativos de risco sofrem com o aumento do pessimismo", diz Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos.
"O risco fiscal segue como principal obstáculo para uma queda mais rápida dos juros, já que a dívida bruta deve se aproximar de 80% do PIB em 2027", aponta Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos. "No campo político, a proximidade das eleições adiciona volatilidade. Movimentos preliminares de candidaturas já impactam a curva de juros futuros e o câmbio", acrescenta.
Na B3, apesar da queda em torno de 1% para os preços do petróleo em Londres e Nova York, as ações de Petrobras mostraram resiliência (ON +0,63%, PN também +0,63%). Ação de maior peso na carteira Ibovespa, Vale ON perdeu força no ajuste final, pouco acima da estabilidade no fechamento (+0,06%). Mais cedo, o papel da mineradora contribuía para mitigar o efeito negativo das ações do setor financeiro, com Santander (Unit -2,13%) na ponta perdedora do segmento. No campo vencedor, destaque para Pão de Açúcar (+3,91%), Usiminas (+3,68%) e CSN (+3,31%). No lado oposto, Magazine Luiza (-4,93%), Vamos (-3,33%) e Cyrela (-2,56%).
"Cenário político ainda está volátil, e é cedo para falar sobre o que pode acontecer com a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, mas a possibilidade de o Federal Reserve voltar a cortar os juros dos Estados Unidos, na reunião de amanhã, continua a ser um driver de alta importante também para a Bolsa brasileira", diz Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora.
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