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Em meio à movimentação calorosa que tomou conta da Casa UBC, no Rio de Janeiro, Zeca Pagodinho foi celebrado como a grande estrela de uma noite que misturou emoção, nostalgia e a alegria despretensiosa típica dos quintais onde o samba nasceu e se espalhou pelo país. Reservado, mas visivelmente tocado pelas homenagens, o compositor carioca recebeu o Prêmio UBC 2025 pelo conjunto de sua obra autoral, sendo aplaudido por uma multidão de colegas que fizeram questão de participar da festa.
Logo na abertura, o mestre de cerimônias Júlio de Sá resumiu o clima do evento: “sabor de quintal”. E era exatamente essa a atmosfera que tomava conta do salão, com mesas que lembravam botequins frequentados por Zeca e convidados distribuídos no ambiente para celebrar, cantar e reverenciar sua trajetória.
O troféu foi entregue por Marcelo Castello Branco e Fernanda Takai, CEO e diretora da União Brasileira de Compositores. Pagodinho, sentado com o neto Noah na mesa central, ouvia elogios e histórias com a serenidade de quem, há décadas, transforma o cotidiano em música. “Você não tem hater”, brincou Júlio de Sá, arrancando risos do público.
Duetos históricos e reencontros musicais
A primeira grande emoção da noite veio de Gilberto Gil, que abriu o roteiro musical interpretando ao lado do homenageado o clássico Deixa a vida me levar. O dueto reacendeu a memória afetiva de 2017, quando Zeca entregou o primeiro Prêmio UBC ao próprio Gil.
A programação seguiu costurada por encontros improváveis e parcerias que representavam diferentes gerações do samba. Nego Álvaro revisitou Chico não vai na corimba com a intimidade de quem conhece a essência das rodas cariocas, enquanto Karinah trouxe ao palco Ai, que saudade do meu amor, parceria de Zeca com Arlindo Cruz.
O público vibrou com Vanessa da Mata, que vive fase iluminada como cantora e brilhou ao interpretar Bagaço da laranja ao lado do fenômeno João Gomes. Mariene de Castro e Zélia Duncan deram nova cor a Brincadeira tem hora, reafirmando o poder de reinvenção do repertório de Zeca.
Sambas revisitados em novas vozes
Hamilton de Holanda emprestou seu bandolim reluzente para Moacyr Luz reviver Não sou mais disso, enquanto Roberta Sá e Wilson Simoninha deram vida a Mutirão de amor em clima de roda de amigos.
Teresa Cristina emocionou ao interpretar Lente de contato, com Rildo Hora na gaita — número que acabou sendo repetido a pedido do próprio músico, em busca do brilho perfeito para o instrumento.
Zeca Baleiro manteve o clima leve ao brincar no palco antes de cantar Judia de mim, enquanto o trio Gilsons surpreendeu com vitalidade ao dividir Vou botar teu nome na macumba com o rapper BK.
Representando o funk paulista, MC Hariel se juntou a Xande de Pilares para uma vibrante versão de Faixa amarela.
Um final à altura de uma carreira gigante
No encerramento, o palco ganhou nova multidão quando Zeca conduziu Camarão que dorme a onda leva, samba que o apresentou ao Brasil há 42 anos no disco de Beth Carvalho — que esteve simbolicamente representada pela filha, Luana Carvalho. O momento ganhou brilho extra com o neto Noah cantando alguns versos.
A cerimônia oficial acabou, mas a música continuou madrugada adentro, como não poderia deixar de ser. A Casa UBC virou botequim, quintal, roda de samba — todos os espaços onde Zeca Pagodinho sempre foi rei. E foi nesse clima, sem formalidades, que se encerrou a celebração de um artista que segue popular, amado e, como brincou o apresentador, “sem hater”.
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