O governo de São Paulo anunciou nesta sexta-feira, 24, um plano de contingenciamento que prevê restrição de até 16 horas no pressão nos encanamentos de distribuição de água na região metropolitana de São Paulo, além de medidas mais drásticas como o rodízio no abastecimento e uso do volume morto dos mananciais em casos extremos. O objetivo é combater a crise hídrica afeta o Estado.
O planejamento irá se pautar em 7 faixas de restrição, que serão ativadas a depender do avanço ou não do desabastecimento.
Entenda a metodologia
As 7 faixas de atuação representam etapas de criticidade e vão orientar as medidas de contingências que serão adotadas. Segundo o governo, as restrições só vão acontecer após sete dias consecutivos dos índices em uma mesma faixa, com relaxamento após 14 dias consecutivos de retorno ao cenário imediatamente mais brando.
Faixas 1 e 2: estabelecem o Regime Diferenciado de Abastecimento (RDA) e a gestão de demanda noturna de 8 horas, respectivamente;
Faixa 3: prevê gestão de demanda noturna de 10 horas por dia e intensificação de campanhas de conscientização;
Faixas 4, 5 e 6: contingência controlada, com períodos ampliados de redução da pressão na rede, por 12, 14 e 16 horas;
Faixa 7: cenário mais grave. prevê o rodízio de abastecimento entre regiões, com obrigação de fornecimento de caminhões-pipa para apoio a serviços essenciais.
"O rodízio é uma medida de caráter excepcional e de impacto muito alto. Ele só será considerado quando todas as medidas anteriores se revelarem insuficientes para garantir a preservação dos reservatórios", explicou o diretor-presidente da Arsesp.
A divulgação das medidas foi feita após o Sistema Cantareira registrar o nível mais baixo do reservatório dos últimos dez anos. A medição é realizada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e divulgada diariamente no site da companhia.
Hoje, o nível de reservação hídrica está em 28,7%, o menor patamar desde a crise que afetou São Paulo entre 2014 e 2015. Com isso, o Estado está na faixa 3, com diminuição da pressão por 10 horas.
Histórico da crise hídrica
O Sistema Cantareira é o maior produtor de água da Região Metropolitana de São Paulo, utilizando 33 m3/s de água para abastecer, aproximadamente, 46% da população da RMSP.
Ele é formado por cinco reservatórios: Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro, os quais estão conectados por túneis subterrâneos e canais.
Durante todo o ano de 2014 e 2015, as vazões afluentes ao sistema foram bem menores do que a média histórica, registradas desde 1930, inclusive abaixo do pior ano da série, que até então havia sido 1953.
Em 2014, em média o Sistema Cantareira recebeu 23% da média histórica das afluências e em 2015, 50%.
Com o agravamento da estiagem ocorrida em 2014 e 2015, foi autorizado o uso da reserva técnica do Sistema Cantareira, conhecido como "volume morto", que soma cerca de 480 bilhões de litros de água localizados abaixo das estruturas de operação dos reservatórios e acessíveis apenas por bombeamento.
A gestão do Sistema Cantareira é de responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE). Apesar de o Sistema estar localizado integralmente em território paulista, recebe água de uma bacia hidrográfica de gestão federal.
Conforme mostrou o Estadão, uma das razões do esgotamento do Sistema Cantareira é o desmatamento. A região possui 93.932 hectares de remanescentes de vegetação nativa, 35,5% do território, de acordo com o governo estadual.
Se a água é o centro da crise, as árvores são uma espécie de "amortecedor climático" do ambiente urbano. A arborização urbana reduz a temperatura, resultado da absorção de energia solar para a fotossíntese, purifica o ar, como consequência da retenção de material particulado nas folhas e da absorção de determinados gases. Além disso, diminui o impacto das chuvas sobre o solo, reduzindo a velocidade das águas.