'A mediocridade sempre volta'

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Não é difícil ver versos de músicas de Ivan Lins em posts de redes sociais. A obra do compositor, que em 2020 completou 50 anos de carreira e 75 de vida, permanece pungente e induzindo a reflexões. Gravado por nomes como Elis Regina, Nana Caymmi, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Sting, Ivan não se cala diante de questões que o atormentam, como o governo Jair Bolsonaro, a corrupção e a demonização da classe artística. "Os fatos que essas letras trazem se repetem. A corrupção, o mau político, a grosseria, a estupidez e a mediocridade sempre voltam", diz.

O compositor, que atualmente se divide entre Lisboa e Petrópolis, no Rio, estava na capital portuguesa quando a pandemia começou. Teve de esperar para voltar ao Brasil e, aos poucos, retomar as atividades. Um disco só com músicas em parceria com Vitor Martins está em compasso de espera. A turnê que comemoraria as cinco décadas de atividade, também.

Nesta sexta, 26, ele se apresenta no Teatro J. Safra, em São Paulo, que terá 40% de sua capacidade de público disponível, acompanhado apenas pelo tecladista Marco Brito. No repertório, canções como Vieste, Bilhete e Iluminados. "Vou cantar o que este momento pede: canções mais líricas, de letras mais intensas. Essa será a minha mensagem. O povo brasileiro tem uma carência afetiva imensa", diz.

Você não fez live, apenas uma participação na que comemorou seu aniversário. Por quê?

Fiz pouca coisa neste tempo de pandemia. Dois ou três shows em Portugal. Alguns passaram pela internet. Em dezembro, fiz uma apresentação com a Jazz Sinfônica de São Paulo, metade dela, e o MPB4 que foi linda. Foi o único show com público que fiz no Brasil até agora. Preciso sentir o calor humano, a respiração das pessoas. Isso é essencial para a arte.

Como será o show desta sexta?

Vai ser em um formato que fiz poucas vezes. Eu e o meu tecladista, Marco Brito, com um repertório um pouco diferente do show que eu fazia em 2019. Vou cantar o que este momento pede: canções mais líricas, de letras mais intensas. Essa será a minha mensagem.

O brasileiro está carente?

Sim. Estamos precisando demais de amor. O povo brasileiro é carente. Tem uma carência afetiva imensa.

Os versos de músicas suas como Cartomante e Deixa Eu Dizer passaram a ser usados nas redes sociais para expressar a insatisfação política e social no Brasil. Você acompanha?

Sim, Desesperar Jamais, Bandeira do Divino, Novo Tempo também. A história é cíclica, igual à moda. Essas letras todas são do Vitor Martins. Ele sempre escreveu com essa atemporalidade, sabe que os fatos que essas letras trazem se repetem. A corrupção, o mau político, a grosseria, a estupidez e a mediocridade sempre voltam. Formigueiro, de 1978, é outra que casa direitinho todos os anos. Ela fala da corrupção na época da ditadura, quando se roubava muito, e os militares faziam vistas grossas para manter a maioria no Congresso e aprovar os projetos dentro daquela democracia alegórica que o País tinha.

Você estava preparando um disco chamado Canções de Rua, Canções de Amor, com letras do Vitor Martins. Ele está pronto?

Está parado. Esta coisa da pandemia nos tira um pouco o ânimo. Quem tem 35, 40 anos, até se anima em produzir mais. Quando você bate nos 50 anos de carreira como eu, acha que já fez muito, quer selecionar mais. Embora tenha composto muita coisa neste período. Inaugurei uma parceria nova com Joyce e Marcos Valle, outra com Valle e a Zélia Duncan. Estou batendo bola com outros parceiros. Esse disco com o Vitor, vou esperar. Gosto de compor presencialmente. Ir com o Vitor para uma fazenda para fazer as canções juntos, como sempre fizemos.

Você tem atuado na defesa dos direitos autorais. O meio digital tem sido correto com autores e intérpretes?

O direito autoral se modernizou e está respondendo muito bem à classe musical. Porém, há um problema que as sociedades de classe e o Ecad sofrem que é a arrecadação nos meios digitais. Com a internet, ela caiu drasticamente. Vivemos de show, do direito de execução. Com a pandemia, sem apresentações ao vivo, ficou tudo muito complicado. As plataformas digitais nos pagam uma cocada e uma mariola. É totalmente injusto. O compositor ficou no final da fila. Todo mundo ganha dinheiro e, no final, o que sobra vai para o compositor. Deveria ser o contrário. Os compositores deveriam ganhar mais que todo mundo e não ficarem pobres. Somos nós que geramos a riqueza das plataformas, editoras e gravadoras, enfim, de todo o mercado.

Mesmo com todos os seus discos nas plataformas e com tantas músicas gravadas por outros cantores você recebe pouco?

Sim. Mesmo das minhas músicas mais gravadas. O que chega são 5 centavos. Uma vergonha. Não só comigo, mas com todos os compositores.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O ex-Beatle Ringo Starr afirmou que só seguirá fazendo música sob uma condição: estar em uma banda. Em entrevista ao jornal The Times, publicada no último domingo, 12, o baterista explicou sua decisão.

"Eu só quero estar em uma banda. Não quero estar sozinho. Não tem como subir no palco e tocar 'Yesterday' apenas com a bateria", declarou.

Starr, que fez história ao lado de Paul McCartney, John Lennon e George Harrison nos anos 60, lançou em 10 de janeiro seu novo álbum, Look Up, que traz influências do country. É seu primeiro trabalho desde 2019.

Beatles e reencontro com McCartney

Sobre seu papel nos Beatles, Starr reconheceu suas limitações vocais, mas destacou o apoio de seus colegas. "Eu sempre quis ser outra pessoa, como Jerry Lee. Quero dizer, consigo segurar uma melodia, desde que seja no meu tom. Deu certo com os Beatles porque John e Paul eram grandes compositores", afirmou.

Ele também relembrou algumas das canções que marcaram sua trajetória, como With a Little Help from My Friends e Yellow Submarine. "Essas músicas ainda são gigantescas, e eu continuo tocando-as nas turnês. Eles escreveram muitas canções incríveis para mim."

Em dezembro, Starr reencontrou Paul McCartney no palco, durante uma apresentação no O2 Arena, em Londres. Os dois tocaram clássicos como Helter Skelter e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Esse foi o primeiro show em que se reuniram desde julho de 2019.

Ainda Estou Aqui entrou em cartaz em mais de 200 salas de cinema na França com o título Je Suis Toujours Là nesta semana. Com a exibição, o longa passou a receber resenhas de veículos franceses. E um dos mais tradicionais jornais do país, o Le Monde, fez uma crítica negativa do filme.

O crítico Jacques Mandelbaum dedicou uma página da edição do tradicional jornal francês para sua crítica. Para ele, a atuação de Fernanda Torres é "um tanto monocórdica."

Mandelbaum não gostou da "concentração melodramática" em Eunice Paiva, que fez o filme "passar com um traço leve demais pela compreensão do mecanismo totalitário".

O autor da crítica ainda comparou o trabalho de Fernanda Torres com o de Sônia Braga em Aquarius, alegando que as duas personagens beiram uma representação religiosa demais do sofrimento. O jornal avaliou o filme com uma estrela, em uma escala que vai até quatro.

Outros veículos franceses, porém, foram mais elogiosos a Ainda Estou Aqui. O jornal Liberátion disse que "Walter Salles narra com força e emoção o luto impossível que atingiu os Paiva". O Le Figaro classificou o filme como "uma cativante e poderosa narrativa histórica".

A revista especializada em cinema Première, por sua vez, o definiu como "uma obra dilacerante". Outra publicação tradicional, a Cahiers du Cinemà, o chamou de "um filme realizado com sutileza, que reafirma a necessidade da transmissão".

Emilia Pérez, representante francês ao Oscar 2025, é o principal rival de Ainda Estou Aqui na premiação. Os indicados ao Oscar serão revelados no próximo dia 23.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Neil Gaiman negou as acusações de abuso sexual das quais é alvo. O autor de Sandman usou seu blog pessoal para rebater os relatos apresentados pela New York Magazine na última segunda-feira, 13. A reportagem da revista apresenta denúncias de oito mulheres.

"(São) descrições de coisas que aconteceram ao lado de coisas que definitivamente não aconteceram. Estou longe de ser uma pessoa perfeita, mas nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém. Nunca", começou.

O britânico ainda justificou seu silêncio e ressaltou que sempre tentou ser uma pessoa reservada. "Fiquei quieto até agora, tanto por respeito às pessoas que estavam compartilhando suas histórias quanto por um desejo de não chamar ainda mais atenção para muita desinformação [...] Sentia que as mídias sociais eram o lugar errado para falar sobre assuntos importantes."

Gaiman afirmou que já foi uma pessoa "descuidada" com os sentimentos das outras, mas que nunca abusou de ninguém sexualmente e que todas as relações que teve foram consensuais.

"Algumas das histórias horríveis que estão sendo contadas agora simplesmente nunca aconteceram, enquanto outras foram tão distorcidas do que realmente aconteceu que não têm relação com a realidade. Estou preparado para assumir a responsabilidade por quaisquer erros que cometi. Não estou disposto a virar as costas para a verdade, e não posso aceitar ser descrito como alguém que não sou, e não posso e não vou admitir ter feito coisas que não fiz", finalizou.

O autor já havia negado as acusações de abuso sexual quando o podcast Master: as alegações contra Neil Gaiman, da Tortoise, abordou o assunto.