Palavra questão de vida ou morte

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Um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro, Consuelo de Castro (1946-2016) é revisitada com duas montagens: Aviso Prévio, que estreia nesta sexta, 5, no Teatro Viga, e Medeia por Consuelo de Castro, em versão exibida pela cia BR 116 em seu canal no YouTube. A simultaneidade dos espetáculos chama a atenção. Ainda que tenha deixado um legado consistente e seja dona de uma das prosas mais cortantes da nossa literatura, Consuelo faz parte de toda uma geração pouco explorada pelas encenações contemporâneas.

Títulos brasileiros são maioria nos palcos. Quem observasse a ampla oferta que havia em São Paulo antes da pandemia poderia perceber que mais de 60% da dramaturgia encenada atualmente é nacional. Diretores e produtores, contudo, costumam privilegiar autores vivos - e jovens.

Salvo as honrosas exceções de Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, que podem ser vistos comumente em cena, parece raro que as companhias se interessem por trabalhos dos séculos 19 e 20. Entre os mais marginalizados, estão os autores que ficaram conhecidos como "geração de 1969", formada por Antonio Bivar, José Vicente, Leilah Assunção, Isabel Câmara e também por Consuelo de Castro.

"Não é por acaso que Consuelo retorna agora", considera Bete Coelho, que protagoniza a montagem de Medeia. Para a atriz, vivenciamos um período de crescente autoritarismo, propício a um retorno às reflexões trazidas pela dramaturga. "Estamos vivendo um tempo em que querem nos desviar da verdade e até mesmo desfazer a história."

Lançado em 1968, ano de endurecimento do regime militar, Prova de Fogo foi o primeiro texto de Consuelo de Castro. Censurada já na origem, antes mesmo de chegar ao palco, a peça tratava justamente da agitação política no movimento estudantil da época. A criação seguinte, À Flor da Pele, foi encenada em 1969 e continuava gravitando em torno da conflituosa situação vivida pelo País naquele momento. Apresentava a temática, porém, em outra chave. A partir do embate de um casal de amantes - uma jovem idealista e um homem de meia-idade conservador - a autora equacionava aspectos que perdurariam na sua obra, como a necessidade de transformação social e as desiguais relações de poder entre homens e mulheres.

Tanto Medeia quanto Aviso Prévio fazem parte de uma segunda fase na trajetória da escritora, iniciada nos anos 1980. Mantém-se uma consistência em relação aos temas e a seu perfil combativo, mas há uma reinvenção formal, com uma dramaturgia mais fragmentada e complexa. A psicanálise também entra com força em suas criações, trazendo camadas extras na composição das personagens.

Concebida com o título de Medeia em Mar Aberto - e rebatizada como Medeia por Consuelo de Castro pela cia BR 116 - a obra redimensiona a tragédia clássica de Eurípedes, ampliando a dimensão da traição sofrida pela protagonista. A mítica figura grega que abandonou seu povo e seu país para seguir Jasão, líder dos Argonautas, não se revolta por um abandono de natureza apenas conjugal. Ao se casar com Glauce, filha do rei Creonte, Jasão rejeitaria também os ideais de justiça que motivaram o casal a fugir e roubar o Velocino de Ouro.

Traída de todas as maneiras, essa mulher arquetípica (e uma das principais figuras femininas da literatura universal) encontra espaço para se expor na escrita visceral proposta pela dramaturga. "Para Consuelo, cada palavra era uma questão de vida ou morte", considera Bete Coelho, que chegou a participar de uma leitura da peça, dirigida pela própria Consuelo, em 1998. "É uma autora verborrágica, intensa, mas de uma verborragia justa e necessária."

Em Aviso Prévio, o olhar recai sobre um casal prestes a se separar - oportunidade de mais uma vez ir fundo na desequilibrada relação entre gêneros. "Trata-se de um estudo onírico sobre o casamento e o descasamento", pontua a diretora Clara Carvalho.

Nesse estudo, somos apresentados aos personagens Oz e Ela, que não irão levantar questionamentos apenas acerca de sua frustração amorosa, mas também sobre questões sociais, insatisfação existencial e a finitude da vida. Montada pela primeira vez em 1987, com Nicette Bruno e Paulo Goulart, a peça agora é novamente encenada por atores casados na vida real: Fernanda Couto e Kiko Vianello.

A dissolução do casamento vai sendo espelhada em outras situações: patrão e empregada, mãe e filha, trapezista e palhaço. Com esses pares de personagens (as duplas são uma constante em suas obras), a autora consegue explorar seu talento para a composição dos diálogos, o que lhe rendeu prêmios como Molière e APCA. "Com esses fragmentos, sem uma estrutura muito linear, ela consegue ir mais fundo nas questões, trazendo a psicanálise e também um flerte com a loucura", considera a encenadora, que costura esses episódios alternando um registro ora farsesco, ora realista.

Mesmo com a iminência do retorno à fase vermelha do Plano São Paulo, a estreia presencial será mantida. A temporada no teatro retorna no dia 20, se mantidas as determinações do governo do Estado. Mas as sessões poderão ser acompanhadas online a partir do dia 16.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Sabrina Sato leva a sério o ditado de que a melhor fase da vida começa depois dos 40. Foi quando ela viu tudo mudar. Aos 42 anos, separou-se de Duda Nagle, com quem viveu 7 anos e teve uma filha, Zoe, agora com 6 anos. Aos 43, assumiu um namoro com Nicolas Prattes. Prestes a completar seus 44, casou-se com o ator.

Mas Sabrina mal imaginava que poderia se apaixonar depois de uma relação longa e da responsabilidade de criar Zoe. O amor, é claro, vem acompanhado de estereótipos, mas a apresentadora quer provar que nenhum deles é real com Minha Mãe com Seu Pai, reality que acaba de estrear na Globoplay.

A proposta é inusitada: filhos inscreveram os pais de meia-idade para que eles tentem encontrar um novo amor. O que eles não sabiam é que teriam de atuar como "especialistas", decidindo o destino dos pais e acompanhando tudo o que acontece entre eles. Tudo mesmo.

Em entrevista ao Estadão, Sabrina garante ter sido a primeira vez que colocou tanto da sua experiência em um programa. Em Minha Mãe com Seu Pai, ela foi filha, mãe, amiga, confidente e conselheira. "Eu me intrometi até demais", brinca. Foi a atriz que, depois de ver a proposta do formato original, da rede britânica ITV Studios, pediu para assumir o programa. À época, ela estava noiva e grávida de Nicolas - e perdeu o bebê com 11 semanas de gestação.

Por ter sentido na pele o que é amar de novo, a apresentadora conta ter feito o máximo para que os participantes também "se jogassem" no romance. "Minha experiência de estar em um momento muito feliz da minha vida pessoal, de estar amando, de ter encontrado alguém especial e ter dado certo me ajudou a incentivá-los e a falar: 'Gente, vem, vem pular na piscina também, vem para esse lado'."

"Qualquer pessoa que encerra um relacionamento longo e com filhos pensa: 'Agora já era'. Você não consegue nem pensar que ainda pode voltar a amar e ser amada." O peso é ainda maior para as mulheres. No reality, ela decidiu avisar cada participante de que o objetivo é dar-lhes a oportunidade de escolher um parceiro - e não de serem escolhidas. "As pessoas precisam entender que a mulher com mais de 40, 50, 60 anos tem desejos. A mulher que quer encontrar um grande amor está mais viva do que nunca."

ROMANCE

Ao todo, seis homens e seis mulheres participam do programa. A maioria não vive um romance há muito tempo - e há algumas mulheres que chegaram a passar por relacionamentos tóxicos.

Do lado dos filhos, há ciúme. A atriz diz ter se divertido com as reações. "Os filhos viram pela primeira vez o pai ou a mãe beijar na boca. É uma loucura imaginar que a mãe queira fazer outras coisas além de maternar... É maravilhoso", comenta.

A Globo pretende que Minha Mãe com Seu Pai preencha a ausência do BBB 25 e pega carona no crescente gosto do público brasileiro por realities de namoro - como se viu com Casamento às Cegas, da Netflix.

Segundo Gustavo Baldoni, head de Conteúdo de Entretenimento Produtos Digitais da Globo, o Globoplay conseguiu um aumento de 51% de horas vistas de realities no ano passado. Túnel do Amor, reality de namoro apresentado por Ana Clara, é um dos maiores sucessos do serviço de streaming e soma 10 milhões de horas consumidas.

Para ele, o interesse do público pelo gênero envolve curiosidade e identificação. "Todo mundo se relaciona ou já se apaixonou. Há uma curiosidade em observar as questões e os conflitos. Os realities permitem explorar dinâmicas diferentes de relacionamentos, além de gerar muitas conversas", comenta.

EXEMPLOS

Para Sabrina, o gosto dos brasileiros está ligado a um "interesse em tudo que envolve o comportamento humano". "Nós temos tantos problemas e ainda achamos que conseguimos cuidar dos problemas dos outros. Nós também vamos nos baseando nos relacionamentos das outras pessoas para termos como exemplo", diz.

Sabrina não viveu apenas um pouco das experiências amorosas do elenco: ela também já esteve do outro lado da moeda e foi participante do Big Brother Brasil. Diferentemente do elenco do novo programa, ela diz ter enfrentado o receio da família para entrar na casa.

"Meus irmãos falavam: 'Pelo amor de Deus, você vai expor a família inteira. Se você quer trabalhar na televisão, ser apresentadora, nós te ajudamos a fazer algum teste. Mas não inventa de participar do Big Brother'.".

Por entender o quanto é difícil tomar a decisão de participar de um reality, ela resolveu ajudar ao máximo o elenco de Minha Mãe com Seu Pai. "Tem de ter coragem. Na minha vida, ainda mais agora, eu aprendi a valorizar o tempo que eu tenho, a viver os momentos e me preocupar menos com o que os outros vão pensar e mais com o que realmente importa: os meus sentimentos", diz.

O reality terá dez episódios. Quatro deles estão desde quarta-feira, 30, no Globoplay e outros quatro chegarão ao catálogo do streaming no dia 7. A revelação da dupla final vai ao ar no dia 14 de maio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um novo documentário produzido pelo diretor Martin Scorsese apresentará uma conversa inédita com o falecido papa Francisco sobre o esforço apoiado pelo pontífice para oferecer educação por meio do cinema, anunciaram os produtores do filme nesta quarta-feira, 30.

Chamado Aldeas - A New Story, o documentário está "enraizado na crença do papa na sagrada natureza da criatividade", disse um comunicado dos cineastas. Não foi anunciada uma data de lançamento.

Segundo eles, a conversa inédita com Scorsese foi a "última entrevista aprofundada do papa para o cinema".

Antes de morrer, Francisco chamou o documentário de "um projeto extremamente poético e muito construtivo porque vai às raízes do que é a vida humana, a sociabilidade humana, os conflitos humanos... a essência da jornada de uma vida", disseram os cineastas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Morreu nesta quarta-feira, 30, o jornalista Luiz Antonio Mello, aos 70 anos. A informação foi publicada pelo jornal A Tribuna, do Rio de Janeiro, em que ele atuava como editor desde 2021. Mello teve uma parada cardíaca enquanto fazia um exame de ressonância, e se recuperava de uma pancreatite no Hospital Icaraí.

Nome importante para o rock nacional, Luiz Antonio Mello (conhecido como LAM) passou por veículos como Rádio Tupi, Rádio Jornal do Brasil e Última Hora. No entanto, foi na Rádio Fluminense FM que ele esteve à frente do programa Maldita, criado em 1981 e responsável por dar visibilidade a grandes nomes da música, como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Legião Urbana. A história foi contada no longa-metragem Aumenta que é Rock'n Roll, estrelado por Johnny Massaro e dirigido por Tomás Portella.

Após a passagem pela Fluminense FM, que deixou em 1985 para participar da implantação da Globo FM, trabalhou como consultor de marketing para uma gravadora, foi diretor de TV e produtor musical. Colaborou com vários veículos, entre eles o Estadão, e é autor dos livros Nichteroy, Essa Doida Balzaka (1988), A Onda Maldita (1992), Torpedos de Itaipu (1995), Manual de Sobrevivência na Selva do Jornalismo (1996), Jornalismo na Prática (2006) e 5 e 15, Romance Atonal Beta (2006).

A prefeitura de Niterói declarou três dias de luto em homenagem ao jornalista.

"Luiz Antônio Melo era um niteroiense apaixonado por nossa cidade e que tinha uma mente, uma capacidade inventiva e criativa extraordinária. Participou diretamente de um dos momentos mais marcantes da música brasileira e do rock nacional através da rádio fluminense na década de 80. Lembro que ele ficou muito grato e feliz quando apoiamos a realização do filme Aumenta que isso aí é Rock and Roll, baseado no livro de sua autoria. Recentemente, conduzia com maestria as edições do jornal A Tribuna. Niterói, o rock e o jornalismo estão de luto com a sua partida. Mas ele deixou um legado, suas ideias", afirmou o prefeito Rodrigo Neves.