Cinema pelo olhar de Christopher Doyle

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Responsável por imagens que revolucionaram a engenharia de enquadramentos no cinema dos anos 1990 e 2000, sobretudo na maneira de depurar cores, o australiano Christopher Doyle, um dos diretores de fotografia mais admirados pela seara autoral do audiovisual, revê hoje as cenas de Amor À Flor Da Pele (2000) menos interessado nos movimentos de câmera. Alguns deles foram responsáveis por renovar gramáticas da arte de filmar. Mas o que mais interessa a ele são as pessoas ali retratadas, vivências de set.

A partir desta sexta-feira, 19, o drama romântico ambientado na Hong Kong de 1962, onde se ouve Nat King Cole a cada virada do envolvimento entre uma secretária (Maggie Cheung) e um jornalista (Tony Leung, prêmio de melhor ator em Cannes pelo papel), vai para o serviço de streaming Mubi. É o abre-alas da mostra Apaixonante - O Cinema de Wong Kar Wai, dedicada ao realizador chinês de quem Doyle foi fotógrafo-assinatura por anos a fio (veja a programação na página H5). A parceria deles parou em 2004, quando fizeram A Mão, um dos segmentos do longa em episódios Eros, dirigido ainda por Michelangelo Antonioni (1912-2007) e Steven Soderbergh. No dia 12 de abril, o trecho de Kar Wai e Doyle, sobre a relação entre uma garota de programa de luxo e seu alfaiate, entra no www.mubi.com

"Se você pegar o roteiro das coisas que a gente filmou, verá que Wong Kar Wai sempre jogava fora parte da estrutura que tínhamos no começo. Fazia isso não por uma ideia de script livre, por alguma rebeldia, mas pela tentativa de descobrir aquilo que os filmes tentavam nos dizer", diz Doyle ao Estadão, em entrevista via Zoom de Hong Kong, onde prepara um novo projeto. "Quando há um esquema colaborativo na criação de um filme, como havia com Kar Wai e nossa equipe, os personagens vão além do que está escrito, pois o processo se torna um aprendizado coletivo."

Aos 68 anos, Doyle deixou a Austrália ainda adolescente, para desbravar o mundo, e acabou parando na China, na década de 1970, onde fotografou cerca de 50 produções, a começar por Aquele Dia na Praia (1983), de Edward Yang (1947-2007). Ganhou 59 prêmios por seu rigor em apostar na liberdade de enquadrar sem obedecer a cartilha alguma. Conquistou o troféu honorário Pierre Angénieux ExcelLens, em Cannes, em 2017, e o troféu Golden Osella, dado a ele pelo Festival de Veneza, em 1994, em tributo aos planos de Cinzas do Tempo. Esse será exibido no Mubi no próximo dia 26, em sua versão "redux", repaginada por Kar Wai, em 2008.

"Quando estou preparando um filme, preciso conhecer bem as locações, porque é necessário respeitar a ética da natureza. Não importa se eu filmo no Vietnã, no Brasil ou na Argentina, eu preciso conhecer o local com a compreensão de que a luz é um carinho, a luz é sensualidade, a luz é o poder. E a luz vem do espaço. Ela diz algo sobre aquele espaço e nos informa qual é a real história a ser contada. Não crio luz. Interpreto a luz que o espaço me dá", diz Doyle, que trabalhou com realizadores cultuados como o chinês Zhang Yimou (em Herói), o indiano M. Night Shyamalan (em A Dama na Água), o chileno Alejandro Jodorowsky (em Poesia Sem Fim) e o americano Gus Van Sant, para quem fotografou Paranoid Park, ganhador do prêmio do 60.º Aniversário de Cannes, em 2007. "A gente sempre precisa se perguntar qual é a forma de dar a um personagem a luz que ele merece. Encontrando a resposta, a arte se faz."

Sem lançar longas desde 2013, quando exibiu O Grande Mestre na Berlinale, Kar Wai anda, há tempos, envolvido com o projeto de série chamado Blossoms, sobre um oportunista que se torna um milionário na Ásia dos anos 1990. Não se sabe se Doyle será o fotógrafo, uma vez que tudo que o realizador faz é gestado em segredo, a longuíssimos prazos. Por enquanto, o diretor se ocupa em projetar as versões restauradas de seus longas em cinemas e relançá-las em streamings. Filmes que renovaram esteticamente o melodrama, não apenas em termos plásticos, mas também no modo de retratar os desvarios do querer.

"O melodrama é uma representação do sexo por aquilo que é inaudito, interditado. Ele nasce de questões que não se resolvem. Entendo essa palavra, 'melodrama', como sendo a mistura de 'drama' e de 'melodia'. Logo, a maneira de lidar com o gênero é encontrar ritmo. E Wong Kar Wai e eu encontramos isso com a ajuda da direção de arte, do figurino e com a percepção de que o prazer causa tensão. Filmamos essas histórias sem tese. Não se faz arte por meio de explicações, se faz arte buscando significados", disse Doyle, que acaba de fotografar a série Ouverture of Something that Never Ended para a Gucci, em parceria com Gus Van Sant.

"Rever nossos filmes em plataformas digitais de streaming me prova que a arte dá sempre um jeito de encontrar novas formas de se expressar, sem eliminar o passado. Pollock fez coisas incríveis, mas sua arte não acabou com a pintura figurativa. O cinema não matou a literatura. Essa juventude que hoje faz conteúdo para o YouTube não nega os filmes que a gente fez e torna o audiovisual mais forte, porque eles estão tornando esta época uma era mais visual. A questão para o futuro é só saber como vamos partilhar emoções."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Preta Gil usou suas redes sociais nesta segunda-feira, 28, para se declarar ao pai, Gilberto Gil. Os dois se apresentaram juntos no final de semana e cantaram Drão, música escrita em homenagem a Sandra Gadelha, mãe da cantora.

Atualmente, o cantor está em sua turnê de despedida, chamada de Tempo Rei. Os dois dividiram palco no Allianz Parque, em São Paulo.

"No palco, de mãos dadas com meu pai, cantando Drão, foi impossível não me emocionar. Drão fala sobre o amor que permanece, mesmo depois das grandes transformações da vida", escreveu Preta.

A artista ainda disse que o momento viverá para sempre em sua memória. "Cantar essa música com você, pai, foi sentir na pele tudo o que vivemos: o amor, a música e a história que carregamos juntos."

Ela finalizou o texto agradecendo ao pai pelos ensinamentos sobre o amor e afirmou que a música dos dois é a maneira mais bonita de eternizar isso.

Lady Gaga desembarcou no Brasil na madrugada desta terça-feira, 29, para iniciar os preparativos do show que fará no sábado, 3, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Até então, Gaga só tinha visitado o País uma única vez, em 2012 - e foi o suficiente para ir embora com uma tatuagem nova.

A artista nutre carinho especial pelos little monsters brasileiros e, naquela ocasião, resolveu marcar na pele a palavra "Rio". Gaga recebeu um desenho de fãs durante a passagem pela capital fluminense e decidiu tatuá-lo na nuca, com a letra I estilizada em formato de cruz, em referência ao Cristo Redentor.

O responsável pelo traço foi o tatuador Daniel Tucci, que tinha um estúdio entre Copacabana e Ipanema. "Era um domingo, eu estava almoçando com o meu filho, à época com 4 anos, e a produção dela me ligou e disse: 'É hoje, vamos nessa!', contou Tucci em entrevista ao g1.

Gaga estava acompanhada de amigos, que ficaram cerca de 3 horas bebendo cerveja e conversando no estúdio. Tara Savelo, então maquiadora da artista, também acabou tatuando o Cristo. "Foi tudo muito tranquilo, ela é muito gente boa. Foi uma tarde divertida", lembra o tatuador. Ele ainda revelou que a cantora pediu por "uma coisa meio tosca, uma tatuagem estilo cadeia".

Em uma postagem no Facebook, a estrela explicou que "a fonte foi criada a partir das assinaturas de três fãs, todos de bairros e idades diferentes" do Rio. "Representa como a música nos une", escreveu.

Naquele ano, Gaga fez três shows da turnê Born This Way Ball no Brasil, no Rio, em São Paulo e em Porto Alegre. Em 2017, ela retornaria ao País para participar do Rock in Rio, mas precisou cancelar de última hora por questões de saúde. A cantora sofre de fibromialgia e enfrentava dores intensas.

Nas redes sociais, ela publicou uma foto da tatuagem e relembrou os fãs da homenagem. "Por favor, não se esqueçam do meu amor por vocês. Lembram quando tatuei 'Rio' no pescoço, anos atrás? A tatuagem foi desenhada por crianças das favelas. Vocês têm um lugar especial no meu coração, eu te amo", escreveu Gaga.

A escritora alemã Alexandra Fröhlich, de 58 anos, foi encontrada sem vida na casa flutuante em que morava em Hamburgo, na Alemanha. Segundo informações da polícia local, o corpo foi descoberto na última terça-feira, 22, por um dos filhos da autora. Até o momento, não há informações sobre suspeitos; a polícia investiga o caso.

"De acordo com as informações atuais, um membro da família encontrou a mulher de 58 anos sem vida na sua casa flutuante e alertou os bombeiros, que conseguiram confirmar sua morte", diz um comunicado da polícia de Hamburgo. Agora, os investigadores estão em busca de possíveis suspeitos e qualquer testemunha que possa fornecer informações relevantes.

Autora de romances e jornalista

Considerada uma das romancistas de maior sucesso dos últimos anos na Alemanha, Fröhlich começou a carreira como jornalista na Ucrânia, onde fundou uma revista feminina na capital, Kiev, e começou a ficar conhecida. Mais tarde, já na Alemanha, trabalhou como escritora e repórter freelancer para algumas publicações voltadas para o público feminino.

Em 2012, Alexandra publicou seu livro de estreia, Minha Sogra Russa e outras Catástrofes (em tradução livre). A obra é inspirada em suas próprias experiências com a sogra e vendeu mais de 50 mil cópias, figurando na lista dos mais vendidos da revista semanal Der Spiegel.

Nos anos seguintes, ela lançou mais três livros: Viajando com Russos (2014), sequência de seu primeiro romance, As Pessoas Sempre Morrem (2016) e Esqueletos no Armário (2019). Lançadas em outras países como França, Rússia e Inglaterra, nenhuma das obras tem edição lançada em português - as traduções dos títulos são livres.

A imprensa alemã descreve o texto de Fröhlich como bem-humorado e ao mesmo tempo profundo, mesclando temas como romance policial e suspense psicológico dentro da ficção. Ela deixa três filhos.