O governador João Doria (PSDB) anunciou na manhã de sexta-feira, 26, que o Instituto Butantan pretende pedir à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aval para iniciar testes clínicos, com humanos, de uma candidata a vacina contra a covid-19 com produção 100% nacional. Horas mais tarde, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse que outro imunizante, desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, só aguarda aval da agência para testes em humanos.A técnica usada pela Butanvac, nome da candidata à vacina do instituto, é a mesma empregada na produção da vacina da gripe, que já é feita no Butantan. O imunizante é produzido em ovos de galinha e o País não dependerá de insumos importados para a sua produção. Dentre as vantagens dessa tecnologia, o presidente do Butantan, Dimas Covas, destacou o baixo preço e a segurança.
A tecnologia da Butanvac utiliza um vetor viral que contém a proteína Spike do novo coronavírus de forma íntegra. O vírus usado como vetor nesta vacina é o da doença de Newcastle, infecção que afeta aves, mas sem sintomas em humanos.
O governo disse que nenhuma outra vacina da covid usa essa técnica e o desenvolvimento seria 100% nacional. Mas uma instituição dos Estados Unidos já publicou estudos baseados em testes com a mesma tecnologia - o órgão paulista reconhece ter parceria com os americanos.
O lote piloto, que será usado nos ensaios clínicos, já está pronto. Se tudo correr bem nos testes, o instituto começará a produzir a vacina em larga escala em maio e fala em iniciar aplicação na população em julho. Isso depende, porém, da aprovação em três fases de testes, que vão determinar a segurança e eficácia do produto. O objetivo é fabricar 40 milhões de doses até o fim do ano.
O instituto tem capacidade para produzir 100 milhões de doses da Butanvac por ano, disse Covas. A prioridade de compra será do Ministério da Saúde, mas o excedente poderá ser vendido ao governo paulista ou exportado. O compromisso do Butantan é fornecer a vacina para países de baixa e média renda. Vietnã e Tailândia estão ao lado do Brasil no consórcio para a produção da Butanvac.
Segundo ele, os resultados dos testes pré-clinicos se mostraram promissores, mas não foram apresentados os dados. A vacina foi enviada à Índia para ser testada em animais e, segundo o Butantan, teve resultados "excelentes". Já os testes clínicos de fase 1 e 2 devem começar em abril e durar de 45 a 75 dias. Depois, são testes da fase 3, com mais voluntários. Ontem à noite, a Anvisa recebeu a documentação do Butantan.
Para Covas, a fase de estudos clínicos pode ser encurtada, pois já há conhecimento maior sobre vacinas da covid. Ele ainda afirmou que a vacina é mais imunogênica - produz maior resposta imune, o que abre a possibilidade de uma só dose.
Segundo o Estadão apurou, o governo projeta que a Butanvac deve custar US$ 4, valor 60% menor que a dose da Coronavac. Não há nenhum recurso do Ministério da Saúde alocado no desenvolvimento da vacina neste momento. "Os recursos são do Butantan e do Estado de São Paulo", disse Doria, sem revelar os valores gastos com o desenvolvimento Butanvac.
Governo federal
À tarde, ao lado do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Pontes destacou que o governo federal investiu em 15 tecnologias de vacinas. "Três dessas vacinas entraram em pré-testes, já fizeram os testes em animais, e agora estão entrando na fase de testes com voluntários, testes clínicos."
No caso da vacina da USP, um dossiê com os resultados foi enviado à Anvisa em fevereiro e, após uma primeira análise, a agência devolveu o pedido para ajustes. Mais documentos foram entregues esta semana.
O imunizante tem como estratégia uma proteína recombinante do próprio Sars-CoV-2. Na primeira fase, deve ser aplicado em 360 voluntários e levar cerca de três meses para concluir as fases 1 e 2. Depois, há outro cronograma para a fase 3.
Os estudos são coordenados pelo professor Célio Lopes Silva, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em parceria com a empresa brasileira Farmacore Biotecnologia e a PDS Biotechnology Corporation. A pesquisa é financiada pelo Ministério da Ciência. Segundo a pasta, há R$ 200 milhões disponíveis para custear estudos clínicos de vacinas brasileiras, com o aprovação do Orçamento nesta semana.
Na entrevista, Pontes afirmou que o anúncio de hoje não teve nenhuma relação com o fato de Doria também ter anunciado uma vacina nacional mais cedo. "Coincidência", disse ele.
Para o ministro, o desenvolvimento de uma vacina nacional contra a covid-19 é uma estratégia de soberania. "Vimos as dificuldades que tivemos com importação", afirmou. A entrevista de Pontes e Queiroga, porém, não estava prevista e a imprensa foi chamada apenas uma hora antes de começar.
Preocupado em evitar ganhos políticos de Doria, seu adversário político, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que não compraria a Coronavac, vacina chinesa produzida no Brasil pelo Butantan. Meses depois, precisou recuar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Butantan e USP esperam liberação para testar duas vacinas de produção nacional
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