Cravo Neto: Poesia do Olhar

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O olhar de Mario Cravo Neto (1947-2009) é agudo, profundo e muito ligado à sua terra, a Bahia. Um olhar rico, sincrético e transdisciplinar. Não à toa, ele foi artista plástico, navegou pelo cinema, pela escultura, mas foi como fotógrafo que inscreveu seu nome no cenário nacional e internacional. Anos antes do Brasil começar a pensar a fotografia como protagonista nos museus e como força expressiva, ele já estava lá. Mas, como característica da fotografia brasileira, manteve um pé na fotografia documental, no sincretismo religioso. Um olhar que foi muito além da representação. De fala mansa, pousada e cantada, adorava se expressar por meio de metáforas.

Considerava a fotografia uma cicatriz no corpo, uma poesia. Não acreditava em diferenças das linguagens, mas, sim, na empatia - quando tal palavra ainda não estava na moda - das mensagens. Não gostava de definir seu trabalho porque não acreditava em definições. Polêmico, crítico e instigante, faleceu prematuramente, aos 62 anos, em 2009. Mas, usando o senso comum, como em todo e qualquer bom artista, a sua obra sobrevive e nos ajuda a relembrar a grandiosidade do seu trabalho.

Parte de sua imensa produção está em uma exposição, que não poderia ter melhor título que Espíritos Sem Nome, com abertura no sábado, 1º de maio, no Instituto Moreira Salles de São Paulo - inicialmente prevista para o mês de março, a abertura foi adiada em razão da pandemia de covid-19.

Concebida em parceria com o Instituto Mario Cravo Neto, a mostra foca na produção fotográfica do artista, linguagem que consagrou sua carreira. A seleção apresenta as principais séries produzidas ao longo de sua trajetória, entre as décadas de 1960 e 1990. No total, são exibidos cerca de 322 itens, incluindo, além de fotos, vídeos, desenhos, documentos, álbuns e instalações.

Sem seguir um formato cronológico, a exposição mostra o processo de desenvolvimento da linguagem e da poética do artista, cujo arquivo fotográfico integral de negativos e cromos está sob a guarda do IMS, em regime de comodato. Para seu filho, Cristian Cravo, presidente do conselho curador do Instituto Mario Cravo Neto, é justo considerarmos esta exposição uma retrospectiva: "É uma homenagem para um artista de imensa liberdade e muito intenso", afirma ao jornal O Estado de S. Paulo. "Ele sempre tentou dar conta de uma pluralidade poética visual e ser coerente em seu trabalho."

Em 1975, o artista sofreu um grave acidente de carro, que deixou suas pernas imobilizadas por quase um ano. O brusco acontecimento provocou também uma guinada estética em sua produção. Impossibilitado de se movimentar e fotografar na rua, Cravo Neto começou a criar obras inspiradas no momento de reclusão que vivia - como os desenhos feitos a partir do raio X de seu fêmur quebrado, exibidos na mostra -, além de retratos dos amigos e parentes que o visitavam.

Fotografar a família, por sinal, seria um hábito de toda sua vida, como evidenciam as várias imagens presentes na mostra. "A imobilidade foi uma experiência transformadora na qual ele teve que trabalhar com a experimentação", relata Christian.

Após o acidente, o artista aprofundou seu trabalho no campo da fotografia, especialmente com a produção de imagens encenadas, feitas em seu estúdio. A partir da década de 1980, o trabalho de Cravo Neto ganharia ainda mais fôlego, especialmente com duas séries, Eternal Now e Laróyè, presentes na mostra do IMS e ambas publicadas em livros posteriores. A primeira reúne imagens em preto e branco feitas em seu estúdio, em um fundo infinito. São retratos de modelos com elementos que remetem ao universo simbólico de Salvador e do Candomblé, religião na qual foi iniciado no começo dos anos 2000.

"Mario Cravo Neto foi um pensador da imagem e através da imagem", provoca Luiz Camillo Osorio, professor da PUC-Rio e crítico de arte, curador da mostra. E, relembrando uma crítica da Stefania Bril, escrita nos anos 1980, Luiz Camilo Osorio afirma: "Ele é (ou era) tantos artistas em um só."

Camilo Osorio também traça um paralelo entre a obra de Mario Cravo Neto e a música. : "Ele criou um ritmo orquestrado em cada etapa de sua vida como artista. Ao mesmo tempo em que mergulhou na estrutura visual."

Influenciado pelo contato com o etnógrafo Pierre Verger, Cravo Neto buscava retratar a espiritualidade e o sincretismo de sua cidade natal. A mostra traz desde uma série de fotos nas quais o artista registra ex-votos, esculturas devocionais em madeira, motivado por Lina Bo Bardi, até imagens dos rituais do candomblé, que Cravo Neto frequentava, como descreve em relato: "Programo a minha máquina de antemão para obter aquela subexposição característica das minhas fotos e depois me lanço de corpo inteiro (e de alma também) na festança: me incorporo nela, e ela me incorpora. Focar na objetiva? Nem pensar. O foco se faz no passo, na dança: um pouco mais perto, um nada mais longe. É caça meio alta para afinar a focalização. A imagem é também fruto desta parte performática do fotógrafo."

Espíritos Sem Nome era o título que ele já havia pensado para o seu livro Laróyè, publicado em 2000. Agora, ele se traduziu em nome desta retrospectiva que conta seu percurso narrador, narrativo e criador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Uma vaquinha online foi aberta para ajudar a atriz Maidê Mahl, de 32 anos, que segue em recuperação após ter sido encontrada com ferimentos graves e desacordada em um hotel de São Paulo, em setembro do ano passado. A informação foi divulgada na noite de domingo, 20, no Instagram dela.

De acordo com a publicação, Maidê saiu da UTI, mas ainda requer cuidados especiais. Ela está sendo acompanhada por uma mulher chamada Mariá, que deixou o trabalho para se dedicar integralmente à recuperação da atriz.

"Os gastos com medicamentos, alimentação e cuidados básicos são altos, e elas precisam da nossa ajuda. Qualquer valor faz diferença. Se puder, contribua e compartilhe. Juntos, podemos garantir que a Maidê siga vencendo essa batalha!", dizia a publicação.

A atriz ficou conhecida por interpretar Elke Maravilha na série O Rei da TV (2022) e por atuar em Vale dos Esquecidos. Em setembro de 2024, ela desapareceu após ser vista com uma mochila nas costas no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo.

Três dias depois, em 5 de setembro, a atriz foi localizada em um hotel na região central da cidade, com ferimentos graves e inconsciente. Ela ficou internada na UTI por um mês, em coma, e recebeu alta hospitalar apenas no fim de janeiro deste ano.

No último dia 18, Maidê fez sua primeira publicação nas redes sociais desde o ocorrido. "Meu coração é pura saudade quando vejo esse vídeo. Quando eu falava, cantava, eu andava e dançava. Agora esse sonho está perto de se realizar", escreveu ela, sem dar detalhes sobre o tratamento. A atriz disse estar em reabilitação no maior centro especializado da América Latina e demonstrou otimismo com a recuperação.

O texto abaixo contém spoilers do segundo episódio da nova temporada de 'The Last of Us'.

A HBO e a Max exibiram no domingo, 20, o segundo episódio da nova temporada de The Last of Us. A produção trouxe um dos momentos mais aguardados e polêmicos do videogame: a morte de Joel, interpretado por Pedro Pascal. A cena, marcada por violência, foi debatida pelos criadores Craig Mazin e Neil Druckmann em entrevista à revista Variety.

Na trama, Joel é atacado por Abby (Kaitlyn Dever) durante uma patrulha, após ajudá-la a escapar de infectados. Ela o atrai até uma cabana, onde o personagem é ferido e espancado diante de Ellie (Bella Ramsey), que tenta intervir. A motivação da personagem está ligada aos acontecimentos do final da primeira temporada. Enquanto isso, a cidade de Jackson lida com uma invasão de infectados, ampliando a tensão.

Druckmann explicou que o momento precisava ocorrer ainda no começo da temporada para dar início ao novo arco narrativo da série - no jogo, a morte de Joel também acontece no início. Para ele, atrasar essa virada poderia enfraquecer o impacto da história.

Mazin completou dizendo que o desafio era equilibrar a surpresa para quem ainda não conhecia o jogo e a expectativa de quem já sabia o que viria.

"Existe o risco de atormentar o público, e não é isso que queremos fazer. Se as pessoas souberem que isso vai acontecer, vão começar a se sentir atormentadas. E quem não sabe, vai acabar descobrindo, porque todo mundo comentaria sobre a ausência da cena", explicou o criador. "Nosso instinto foi garantir que, quando acontecesse, parecesse natural dentro da história - e não como uma escolha pensada apenas para abalar o público."

A versão televisiva da história também expande elementos que, no jogo, aparecem apenas como menções. A crise em Jackson, por exemplo, foi mostrada de forma mais direta, o que ajuda a consolidar o local como um personagem dentro da narrativa. "Queríamos que o público levasse Jackson em consideração daqui para frente", disse Druckmann.

O episódio também aprofunda a relação entre Joel e Dina (Isabela Merced), que não chega a ser mostrada no jogo. A adaptação sugere que, ao longo dos anos em Jackson, Joel e Dina desenvolveram uma conexão próxima, o que reforça o impacto emocional do ataque. Já a dinâmica entre Ellie e Dina ainda está em construção, com diferenças importantes em relação ao material original.

O autor britânico Neil Gaiman, conhecido por obras como Sandman, Coraline e Deuses Americanos, abriu um processo contra Caroline Wallner, ceramista que o acusou de abuso sexual.

Ele cobra mais de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,6 milhões), alegando que ela quebrou o acordo de confidencialidade firmado entre os dois há três anos. As informações são da revista Vulture.

Wallner se mudou para a casa de Gaiman em Woodstock, nos Estados Unidos, onde trabalhou e morou, junto com o ex-marido. Segundo ela, os abusos teriam ocorrido entre 2018 e 2020, após o fim do casamento. Nesse período, o autor teria proposto relações sexuais em troca de moradia. Ele nega a acusação e diz que foi ela quem iniciou os encontros íntimos.

Em 2021, Gaiman e Wallner assinaram um acordo que incluía cláusulas de sigilo e não difamação. Como parte do acerto, o escritor pagou US$ 275 mil à ceramista, que ficou impedida de processá-lo ou relatar publicamente o que viveu. Agora, ele afirma que Wallner descumpriu os termos ao dar entrevistas a veículos de imprensa.

No novo pedido, o autor exige o reembolso total do valor pago, o pagamento de honorários advocatícios e uma compensação de US$ 50 mil para cada entrevista concedida. O ex-marido de Wallner, que também assinou o acordo à época, foi citado no processo.

Vincent White, advogado da ceramista, e especialista em casos de assédio, afirmou que raramente homens acusados recorrem à Justiça nesses casos, por conta da repercussão pública negativa. "Quando alguém tenta silenciar esse tipo de denúncia, muita gente acaba acreditando que ela é verdadeira", afirmou.