'A Bíblia é uma peça literária muito rica', diz o diretor Milo Rau

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Diretor de teatro e cinema, Milo Rau apresentou, no ano passado, em Veneza, sua mais recente criação, o filme O Novo Evangelho. Em textos e entrevistas, Rau repete sempre que criação artística é processo.

"Quando a cidade de Matera virou capital europeia da cultura, as autoridades me chamaram para encenar meu espetáculo sobre a Paixão de Cristo. Ofereci a contrapartida de um filme. Eles aceitaram e o prefeito até se reservou um papel importante, o do Cireneu, que ajuda Jesus a carregar sua cruz." O grande diferencial de O Novo Evangelho, destaque do 10º Ecofalante, Festival de Cinema Ambiental, é mostrar um Cristo negro, o camaronês Yvan Sagnet. "A situação dos refugiados é uma tragédia contemporânea. A direita italiana gostaria que todos morressem no mar. Yvan luta por condições mais humanas de trabalho na produção agrícola, que é controlada pela máfia. A direita detestou nosso filme, mas tivemos o apoio do papa Francisco."

Matera foi o cenário de famosas incursões do cinema pela Bíblia. Em 1964, Pier Paolo Pasolini fez O Evangelho Segundo São Mateus e, 40 anos mais tarde, surgiu a versão de Mel Gibson, A Paixão de Cristo. Rau não tem muito apreço pelo épico religioso de Gibson, mas incorpora ao seu elenco a Maria do filme dele, interpretada pela atriz romana Maia Morgenstern. De Pasolini, traz o próprio Cristo, Enrique Irazoqui, como coencenador do filme dentro do filme. A estrutura é complexa. O elenco predominantemente africano ensaia a peça, que é filmada. "É como eu gosto, um filme de processo."

Rau conversa pelo telefone com o Estadão. "A Bíblia é uma peça literária muito rica. Foi escrita e depois reescrita por copistas ao longo do tempo. Cristo é um personagem complexo, com muitas faces. Nunca quis fazer um filme tradicional sobre a Paixão de Cristo, mas incorporar a realidade contemporânea. É a melhor maneira de contar essa história e repercutir na sociedade atual."

E Luchino Visconti? "Como assim?" Rau viu Rocco e Seus Irmãos há muito tempo. Não tem uma lembrança muito viva do filme, aliás, Visconti não é de seus autores favoritos. O repórter lembra o (re)encontro de Rocco e Nadia, Alain Delon e Annie Girardot. Ele está abandonando o Exército; ela, deixando a cadeia. Encontram-se na rua, por acaso. Tomam um café. Falam de questões humanas e sociais. Ele lembra os agricultores, que sonharam ter um pedaço de terra. Plantaram e, na época da colheita, apareceram os milicianos. Houve chacina. E onde foi isso? "Em Matera", Rocco responde. Rau interessa-se pelo assunto, promete rever o filme.

Promessa feita, e cumprida. O repórter recebe um e-mail dele agradecendo a ação. "Revi Rocco e tenho de admitir que fui injusto com Visconti. É um grande filme." A questão no centro de O Novo Evangelho é a dignidade humana. "Cristo lutou por ela no passado, Yvan luta por ela hoje." Rau define seu filme como um documentário utópico. "É sobre um processo de criação desenvolvido por nós e que documentamos." Entre fato e ficção? "Exatamente. O filme mistura atores profissionais com os naturais, integra elementos de outras peças minhas. E, quando Cristo chega a Jerusalém, o que está sendo mostrado é uma manifestação de trabalhadores em Matera, com polícia e tudo."

Cristo busca seus discípulos. Simão, a quem chama de Pedro, e seu irmão, e André, ambos pescadores. "Vinde e vos farei pescadores de homens." Andarilhos, com túnicas e mantos, percorrem estradas, entre carros e caminhões. "É a minha Bíblia on the road, nas estradas da vida."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Um ônibus que transportava o cantor Ferrugem e sua equipe se envolveu em um acidente de trânsito na manhã deste domingo, 20, na região de Porto Alegre. Ninguém ficou ferido.

Na noite anterior, o artista havia se apresentado no festival Festimar, na cidade de Rio Grande, no litoral gaúcho.

Segundo comunicado divulgado pela empresa responsável pelo veículo, o acidente ocorreu por volta das 6h45 da manhã na BR-290, próximo à Ponte do Guaíba, que liga a capital ao interior do Estado.

Ferrugem falou sobre o ocorrido em suas redes sociais, compartilhando uma foto da frente do ônibus com os vidros estilhaçados. "Livramento! Um senhor acidente, mas graças a Deus todos estão bem", escreveu.

Mais tarde, gravou um vídeo explicando o acidente: "Destruiu tudo ali, a frente do ônibus, a porta foi arrancada, mas, graças a Deus, ninguém se machucou. Todo mundo bem, todo mundo inteiro."

O cantor também esclareceu que o acidente não atrapalharia o show que fará na noite deste domingo, 20, em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro.

Durante a tarde, ele mostrou que estava almoçando com a família antes de se encaminhar para a apresentação.

Em nota, a Mônica Turismo, responsável pelo ônibus, disse que os danos do acidente foram apenas materiais.

"A empresa imediatamente solicitou a substituição do veículo, mas não houve necessidade, a equipe preferiu ir até o aeroporto com o mesmo veículo para evitar atrasos", diz o comunicado.

Xuxa Meneghel fez um desabafo sobre a pressão estética que sofria da TV Globo na época em que apresentava o Xou da Xuxa, entre 1980 e 1990. Segundo a apresentadora, ela era pressionada para não chegar perto dos 60 quilos.

A revelação foi feita durante entrevista ao podcast WOW. Hoje com 62 anos, Xuxa comentou que lembrou da situação durante os bastidores do documentário Pra Sempre Paquitas, lançada em 2024 na Globoplay, mas que isso acabou não aparecendo no filme.

"Revisitando meu passado no documentário das paquitas, eles não colocaram uma coisa que me mandaram para eu ver em que me coloco para baixo, em que vejo uma foto minha nas cartinhas, em que eu falo 'olha como estou gorda, feia'", explicou Xuxa.

A apresentadora continuou: "Uma coisa que era me colocada na época [era] que se eu passasse dos 60 kg [estaria gorda]. Na época, 54 kg foi o normal que eu ficava. Na Globo, meu normal era 54 kg, 55 kg. Se eu fosse para 58 kg, já apertavam as minhas roupas."

Ela explicou que hoje tem boa relação com o próprio corpo, mas que, na época, a ideia de estar gorda caso seu peso aumentasse "era o que ouvia o tempo todo".

"Era uma cobrança muito grande, um negócio cruel. Você não se gostar e querer ficar mais forte ou menos forte, seja o que for, para você se sentir melhor, é uma coisa. Agora fazer isso por um padrão que lhe foi colocado...", completou.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, divulgou nota de pesar pelo falecimento da cantora Cristina Buarque, que morreu neste domingo, 20, aos 74 anos. Segundo Lula, a compositora teve "papel extraordinário" na música brasileira.

"Quero expressar meus profundos sentimentos pelo falecimento de Cristina Buarque. Cantora e compositora talentosa, teve um papel extraordinário na música brasileira ao interpretar as canções de alguns dos mais importantes compositores do samba carioca, ajudando a poesia e o ritmo dos morros do Rio a conquistarem os corações dos brasileiros", escreveu o chefe do Executivo no período da tarde. "Aos seus familiares e ao meu amigo Chico Buarque, deixo minha solidariedade e um forte abraço."

Filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e de Maria Amélia Alvim, Cristina era irmã dos cantores Chico Buarque e Miúcha, e da ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda.

A causa da morte de Cristina não foi divulgada.