Pajé e a proteção aos indígenas

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Celebrizado ao receber o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Locarno 2019 por A Febre, o pajé Regis Myrupu - nascido em São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas - e sua colega de cena Rosa Peixoto - sua filha no aclamado filme de Maya Da-Rin - têm recorrido às forças da natureza e à espiritualidade para protegerem seus familiares e amigos da pandemia. No momento em que o longa chega à Netflix e está programado pelo Cana Brasil (exibição na segunda, 15, às 20h50), após ter conquistado 29 prêmios mundo afora, revelando uma cartografia das estratégias de sobrevivência das populações indígenas, suas estrelas se abraçam à fé dos povos originários para rezar contra o alastramento da covid-19 na capital amazonense.

Para os clãs indígenas, nem toda reforma assistencial parece aplacar os danos inerentes ao contágio, dando à palavra "isolamento" um sentido politicamente trágico, assim como acontece na trama filmada por Maya. Nela, um segurança (Regis) entra em estado febril inexplicável, em meio à aparição de uma criatura desconhecida.

"Os primeiros meses da pandemia foram difíceis, pois acabamos infectados pelo coronavírus, apesar de termos tomado todas as precauções", diz Rosa Peixoto, do povo Tariano, egressa de Iauaretê, um distrito da mesma São Gabriel da Cachoeira (AM) de onde vem Regis, localizada a cerca de 1.100 km de Manaus, segundo dados da Funai. "Fomos curados pelos poderes ancestrais e ficamos todos bons aqui em casa. Depois de um longo período em que ficamos isolados, começamos a nos adaptar e a organizar os trabalhos que tínhamos. Minha família se uniu e se ajudou muito para passarmos por esse momento delicado."

Hoje radicado na Itália, país natal de sua mulher, a designer Romina Bianconi, Regis lamenta a morte de dois tios (um "de sangue", um "do coração") e de um pajé, que foi seu professor, em decorrência da covid. "Aos olhos de um xamã, os povos indígenas vêm sofrendo com pandemias desde que os colonizadores brancos chegaram, trazendo doenças. Mas, agora, falta muita coisa a Manaus em termos de condição sanitária e de leitos para os doentes. Entre os jovens, poucos herdaram o conhecimento dos pajés, nas tradições de cura, o que nos leva a apelar para a medicina dos brancos. O problema é que conheço indígenas que adoeceram em São Gabriel da Cachoeira, foram até Manaus para se tratar e, lá chegando, contraíram a covid e morreram.

Acreditamos que é necessária a defumação e que precisamos comer certos alimentos e beber certos líquidos para preservar o corpo. Mas essas práticas não acontecem nas cidades grandes", lamenta Regis, de 41 anos, às voltas com uma filha de 19 meses, Yusiò Celeste. "Daqui, eu faço rituais para proteger minha família, mandando proteção para meu povo e para Manaus."

Lançado em circuito em novembro, A Febre abriu sua trajetória em Locarno, na Suíça, não apenas ganhando o troféu de melhor atuação dado a Regis, mas com o Prêmio da Crítica, votado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica - Fipresci, e o Prêmio do Júri Jovem, ligado à sua abordagem ambiental.

Então estreante nos cinemas, Regis brilha no longa no papel de Justino, um vigia do cais do porto que começa a ser acometido por uma moléstia térmica - a tal febre do título - que médico algum explica, sendo sempre acompanhado pela filha, Vanessa (papel de Rosa), também profissional da Saúde.

O desgoverno de sua temperatura se manifesta no momento em que um animal (ou coisa assim) passa a rondar o perímetro por onde ele trafega, em sua rotina modesta.

No Festival de Biarritz (França) e no Festival de Pingyao (China), a produção conquistou os prêmios de Melhor Filme. Também recebeu o prêmio de Direção no Festival de Chicago (EUA). Projetado em Thessaloniki (Grécia), Mar Del Plata (Argentina) e Amiens (França), o longa conquistou o troféu Candango de melhor filme, em Brasília, e o troféu Redentor de melhor direção no Festival do Rio, onde ainda ganhou um prêmio especial pela engenharia de som. "Quando eu morava em Manaus, era muito difícil um produtor me ver como atriz", diz Rosa, hoje com 32 anos. "Viam apenas uma pessoa incapaz de estar ali atuando como qualquer personagem. E, depois do A Febre, esse pensamento mudou muito em relação a nós, indígenas. Passaram a ver a gente com mais respeito e com olhar mais profissional. Antigamente, você não era visto para ocupar esse espaço: o de protagonista."

Logo após a exibição em Locarno, Maya conversou com o Estadão, que estava na plateia onde o longa foi ovacionado, e disse: "Acho que todos os indígenas são heróis. Depois de terem vivido o fim do seu mundo, há mais de quinhentos anos, e resistido ao maior massacre da História, aqueles que sobreviveram e seguem lutando para sobreviver são os maiores heróis que a humanidade já conheceu. Então, com certeza, Justino é um herói, mas também é um personagem com o qual eu poderia cruzar no meu cotidiano. Queria fazer um filme sobre os seus dilemas existenciais", disse Maya, ressaltando seu esforço em evitar exotismos. Esforço esse que Regis celebra no filme que projetou sua luta para resguardar seu povo, os desanos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Uma vaquinha online foi aberta para ajudar a atriz Maidê Mahl, de 32 anos, que segue em recuperação após ter sido encontrada com ferimentos graves e desacordada em um hotel de São Paulo, em setembro do ano passado. A informação foi divulgada na noite de domingo, 20, no Instagram dela.

De acordo com a publicação, Maidê saiu da UTI, mas ainda requer cuidados especiais. Ela está sendo acompanhada por uma mulher chamada Mariá, que deixou o trabalho para se dedicar integralmente à recuperação da atriz.

"Os gastos com medicamentos, alimentação e cuidados básicos são altos, e elas precisam da nossa ajuda. Qualquer valor faz diferença. Se puder, contribua e compartilhe. Juntos, podemos garantir que a Maidê siga vencendo essa batalha!", dizia a publicação.

A atriz ficou conhecida por interpretar Elke Maravilha na série O Rei da TV (2022) e por atuar em Vale dos Esquecidos. Em setembro de 2024, ela desapareceu após ser vista com uma mochila nas costas no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo.

Três dias depois, em 5 de setembro, a atriz foi localizada em um hotel na região central da cidade, com ferimentos graves e inconsciente. Ela ficou internada na UTI por um mês, em coma, e recebeu alta hospitalar apenas no fim de janeiro deste ano.

No último dia 18, Maidê fez sua primeira publicação nas redes sociais desde o ocorrido. "Meu coração é pura saudade quando vejo esse vídeo. Quando eu falava, cantava, eu andava e dançava. Agora esse sonho está perto de se realizar", escreveu ela, sem dar detalhes sobre o tratamento. A atriz disse estar em reabilitação no maior centro especializado da América Latina e demonstrou otimismo com a recuperação.

O texto abaixo contém spoilers do segundo episódio da nova temporada de 'The Last of Us'.

A HBO e a Max exibiram no domingo, 20, o segundo episódio da nova temporada de The Last of Us. A produção trouxe um dos momentos mais aguardados e polêmicos do videogame: a morte de Joel, interpretado por Pedro Pascal. A cena, marcada por violência, foi debatida pelos criadores Craig Mazin e Neil Druckmann em entrevista à revista Variety.

Na trama, Joel é atacado por Abby (Kaitlyn Dever) durante uma patrulha, após ajudá-la a escapar de infectados. Ela o atrai até uma cabana, onde o personagem é ferido e espancado diante de Ellie (Bella Ramsey), que tenta intervir. A motivação da personagem está ligada aos acontecimentos do final da primeira temporada. Enquanto isso, a cidade de Jackson lida com uma invasão de infectados, ampliando a tensão.

Druckmann explicou que o momento precisava ocorrer ainda no começo da temporada para dar início ao novo arco narrativo da série - no jogo, a morte de Joel também acontece no início. Para ele, atrasar essa virada poderia enfraquecer o impacto da história.

Mazin completou dizendo que o desafio era equilibrar a surpresa para quem ainda não conhecia o jogo e a expectativa de quem já sabia o que viria.

"Existe o risco de atormentar o público, e não é isso que queremos fazer. Se as pessoas souberem que isso vai acontecer, vão começar a se sentir atormentadas. E quem não sabe, vai acabar descobrindo, porque todo mundo comentaria sobre a ausência da cena", explicou o criador. "Nosso instinto foi garantir que, quando acontecesse, parecesse natural dentro da história - e não como uma escolha pensada apenas para abalar o público."

A versão televisiva da história também expande elementos que, no jogo, aparecem apenas como menções. A crise em Jackson, por exemplo, foi mostrada de forma mais direta, o que ajuda a consolidar o local como um personagem dentro da narrativa. "Queríamos que o público levasse Jackson em consideração daqui para frente", disse Druckmann.

O episódio também aprofunda a relação entre Joel e Dina (Isabela Merced), que não chega a ser mostrada no jogo. A adaptação sugere que, ao longo dos anos em Jackson, Joel e Dina desenvolveram uma conexão próxima, o que reforça o impacto emocional do ataque. Já a dinâmica entre Ellie e Dina ainda está em construção, com diferenças importantes em relação ao material original.

O autor britânico Neil Gaiman, conhecido por obras como Sandman, Coraline e Deuses Americanos, abriu um processo contra Caroline Wallner, ceramista que o acusou de abuso sexual.

Ele cobra mais de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,6 milhões), alegando que ela quebrou o acordo de confidencialidade firmado entre os dois há três anos. As informações são da revista Vulture.

Wallner se mudou para a casa de Gaiman em Woodstock, nos Estados Unidos, onde trabalhou e morou, junto com o ex-marido. Segundo ela, os abusos teriam ocorrido entre 2018 e 2020, após o fim do casamento. Nesse período, o autor teria proposto relações sexuais em troca de moradia. Ele nega a acusação e diz que foi ela quem iniciou os encontros íntimos.

Em 2021, Gaiman e Wallner assinaram um acordo que incluía cláusulas de sigilo e não difamação. Como parte do acerto, o escritor pagou US$ 275 mil à ceramista, que ficou impedida de processá-lo ou relatar publicamente o que viveu. Agora, ele afirma que Wallner descumpriu os termos ao dar entrevistas a veículos de imprensa.

No novo pedido, o autor exige o reembolso total do valor pago, o pagamento de honorários advocatícios e uma compensação de US$ 50 mil para cada entrevista concedida. O ex-marido de Wallner, que também assinou o acordo à época, foi citado no processo.

Vincent White, advogado da ceramista, e especialista em casos de assédio, afirmou que raramente homens acusados recorrem à Justiça nesses casos, por conta da repercussão pública negativa. "Quando alguém tenta silenciar esse tipo de denúncia, muita gente acaba acreditando que ela é verdadeira", afirmou.