Eleições na Argentina: histórico reduto de Massa, Tigre dá sinais de cansaço com peronista

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Quem visitar a cidade de Tigre, na grande Buenos Aires, não terá dúvidas de estar em um reduto de Sergio Massa, o candidato peronista para a presidência e ministro da Economia. Desde a estação de trem no bairro portenho de Retiro, por toda a viagem de quase 1 hora, até a chegada à estação de Tigre, o rosto sério do candidato se faz presente em seus cartazes de campanha.

A cidade, bem como toda a província de Buenos Aires, foi uma das poucas que escolheu o ministro como favorito nas primárias. Mas se nela é possível encontrar um "massismo", também há um forte sentimento anti-Massa de quem o acompanha por quase toda a vida e o viu pular de um lado a outro da política.

Iara Arias, 21, admite que não entende muito de política, mas sabe que vai votar em Massa nas eleições de 22 de outubro. Não sabe bem porque, diz que é um sentimento que a faz escolher o ex-prefeito de sua cidade. "Mas Milei não dá, tenho medo", admite a jovem que trabalha em um quiosque nas vizinhanças da estação de trem.

Nas PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), celebradas em 13 de agosto, Massa recebeu 20% dos votos na cidade que lhe serve como vitrine de gestão. O suficiente para vencer, mas muito próximo da coalizão adversária do Juntos pela Mudança, cuja candidata principal, Patricia Bullrich, recebeu 16%.

Mas ainda que tenha sido uma vitória na cidade que abriga seu time de futebol favorito, o Club Atlético Tigre, esta eleição também trouxe uma derrota amarga: a de sua mulher para a prefeitura. Massa levou para o nacional uma briga local com o atual prefeito, Julio Zamora, que disputa a reeleição dentro do União pela Pátria. Porém, teve de disputar o espaço com Malena Galmarini, esposa de Sergio Massa.

Ainda que fosse o favorito a vencer, por já ser o mandatário do cargo, Zamora não pôde estar na mesma cédula de Massa, que foi composta pelo nome de sua mulher. A ele, então, restou participar da cédula de Juan Grabóis, o adversário de Massa que disputava a candidatura da coalizão peronista mas só recebeu 5,8% dos votos.

Cédulas rasgadas

O voto na Argentina pode ser tanto eletrônico quanto em papel, e a cédula pode ter uma lista única ou separada. Na lista única, há apenas um candidato para cada cargo, enquanto na separada aparecem todos os candidatos, inclusive de outros partidos, juntos, dando ao eleitor a possibilidade de votar em mais de um partido para compor a chapa da coalizão.

A lista única, que foi o caso de Massa e Malena, causa um chamado "efeito arrasta", em que o candidato que encabeça a lista - no caso Sergio Massa - arrasta os demais nomes, por uma questão de comodidade. Um efeito que lembra o coeficiente eleitoral no Brasil. Mas caso o eleitor queira escolher candidatos de listas diferentes, ele pode rasgar a cédula e colocar quem achar melhor. Uma ação pouco comum.

No caso da disputa em Tigre, o arrasta não funcionou e mais de 35 mil eleitores deliberadamente rasgaram a cédula em favor de Zamora. No fim, ele ganhou a disputa com 58%, enquanto Malena recebeu 41%.

Mas quem caminha pelo centro da cidade, pensa que ela ainda é a candidata principal da cidade, pois há cartazes com seu nome e rosto ao lado de Massa e Axel Kicillof para todo lado. Já na chegada à estação de trem, as boas vindas são dadas por uma faixa escrita "Massa - Axel - Malena". Já Zamora faz campanha sozinho, com pequenas bancas com seu nome e panfletos nas calçadas.

Mario Terzia, 60, disse que achou um absurdo Massa tentar emplacar a esposa na cidade. O dono de uma loja de tintas no centro diz que vota em qualquer um para a presidência, menos Massa. "Ele não é confiável, se molda conforme a necessidade. Já foi do governo, foi oposição e agora é governo, mas diz que a culpa da crise não é sua. Tem que ser muito louco para votar nele", confessa.

Diz que é um eleitor da oposição. Para a presidência preferia a linha-dura Patricia Bullrich e para a província vai votar em Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, contra Kicillof. Mas, como não acredita que Bullrich chegue ao segundo turno, deve votar em Javier Milei em uma disputa contra Massa. "Voto em qualquer um, menos nele", enfatiza.

É a mesma afirmação de Leonardo Favre, 46, que trabalha em uma loja de fantasias na Avenida Cazón. É um admirador de Horacio Rodríguez Larreta, o candidato que foi derrotado por Bullrich nas primárias, e seu voto no primeiro turno já vai diretamente a Milei. "É um louco, fico um pouco preocupado, mas jamais votaria em Massa. Ele pula de uma ideia a outra, não dá pra confiar em uma pessoa assim", disse.

Essa desconfiança contra Massa reside no fato de ele já ter sido próximo de Cristina Kirchner, tendo sido inclusive seu chefe de Gabinete depois de Alberto Fernández. Mas um rompimento entre eles os colocou adversários na disputa de 2015, quando Massa ficou em terceiro lugar atrás do vencedor Macri e do peronista Daniel Scioli.

Na época, não poupou palavras duras contra Cristina: "Quando em 2013 nos quiseram impor a 'Eterna Cristina', tivemos a coragem de conter. Se voltar a aparecer, vamos conter de novo". Não só não conteve, como voltou a compor o seu governo. Nas disputas primárias deste ano, Cristina deixou claro que Massa não era seu preferido - era Eduardo "Wado" de Pedro - mas concordou em apoiá-lo em nome de uma união do peronismo.

Cansaço

Tigre enviou sinais de cansaço ao candidato que faz questão de citar sua gestão na cidade entre 2007 e 2013 nos debates presidenciais. Não foi a cidade que mais o votou na província de Buenos Aires. O departamento, na verdade, o escolheu por 32%, em conjunto com províncias como Santiago del Estero (53%), reduto histórico do peronismo; Formosa (46%); Chaco (34%) e Catamarca (30%).

"O desempenho eleitoral do União pela Pátria em Tigre não foi bom, Malena perdeu a pré-candidatura com o prefeito, e Massa, por outro lado, teve uma vitória muito limitada na categoria presidencial", observa Facundo Galván, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. "Basicamente os seus vizinhos de distrito e até as pessoas que melhor o conhecem não falam bem do desempenho da sua candidatura no seu próprio distrito".

Massa terá uma disputa complicada pela frente. Por ser o candidato do governo - o mais impopular dos últimos 20 anos - e ministro de uma Economia com inflação acima de 138%, é o alvo natural das críticas. Mas sua estratégia tem sido jogar a culpa ao atual presidente, Alberto Fernández, desaparecido da cena política. Também já tentou jogar a culpa em Milei e suas declarações explosivas que deixariam o mercado financeiro ansioso.

Mas analistas admitem que sua trajetória até aqui é um milagre. Nas PASO, amargou um terceiro lugar - em termos de coalizão, porque em termos nominais, ficou à frente de Bullrich. Porém, com um resultado que poderia ser considerado bom para o cenário adverso que enfrenta. Ele saiu de "chances 0" no início da corrida eleitoral, para o possível segundo lugar na disputa com Milei pelo segundo turno.

As pesquisas demonstram, porém, que o segundo turno tende a ser duro. Os eleitores devem se dividir entre o anti-peronismo de Massa com o anti-mileismo que está surgindo. A maioria das pesquisas colocam Milei como ganhador em uma disputa com Massa, mas nenhum especialista descarta uma reviravolta de um candidato que é conhecido por ser um camaleão.

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (PB), participa na segunda-feira, 21, Dia de Tiradentes, de eventos em Minas Gerais ao lado do governador Romeu Zema (Novo) e do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG).

O dia de Motta vai começar às 9 horas, em Ouro Preto. O presidente da Câmara vai participar da cerimônia da Medalha da Inconfidência 2025, a convite de Zema.

O governador de Minas tenta pavimentar um caminho para a eleição presidencial de 2026 e é a favor da anistia para os condenados do 8 de Janeiro - tema que Motta deve enfrentar nas próximas semanas.

Ainda pela manhã da segunda-feira, Motta vai partir para São João del-Rei, para integrar as homenagens pelo 40º aniversário do falecimento do presidente Tancredo Neves. O deputado foi convidado pelo colega Aécio Neves.

A segunda agenda de Motta contará com três eventos: às 11h45, ele participa da visita ao túmulo do ex-presidente; às 12h30, da reabertura do Memorial Tancredo Neves, e às 13h15 de um almoço no Solar do Presidente.

Em meio ao debate sobre uma possível anistia aos condenados pelos ataques de 8 de Janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes concedeu prisão domiciliar a, pelo menos, seis pessoas sentenciadas por tentativa de golpe de Estado somente neste mês. As decisões se baseiam, principalmente, em laudos médicos que apontam condições graves de saúde ou no tempo de prisão preventiva já cumprido pelos réus.

O caso mais recente é o de Sérgio Amaral Resende, condenado a 16 anos e 6 meses de prisão por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada. Ele também foi condenado, solidariamente com outros réus, ao pagamento de R$ 30 milhões por danos morais coletivos.

Resende cumpria pena na Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, e teve a prisão convertida após sua defesa apresentar laudos que apontam sepse, necrose na vesícula e sequelas nos rins, pâncreas e fígado.

"O sentenciado no mês de fevereiro de 2025 teve alta do hospital do Paranoá, e não tem condições de permanecer no sistema prisional para tratar a sua saúde", diz o documento enviado ao STF.

A decisão favorável foi concedida na sexta-feira, 18. Ele é o terceiro nome da lista da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav) a obter o benefício por razões médicas.

Antes dele, Jorge Luiz dos Santos e Marco Alexandre Machado de Araújo também tiveram a pena convertida. Jorge Luiz apresentou laudo que indicava necessidade de cirurgia cardíaca. A defesa informou que ele sofre de hipertensão arterial grave e sopro cardíaco de grau 6, com pressão arterial fora de controle. Moraes autorizou a prisão domiciliar em 15 de abril.

Marco Alexandre estava preso desde abril de 2023. Segundo a Asfav, ele desenvolveu transtornos psicológicos durante a detenção, foi internado na ala psiquiátrica do presídio e atualmente faz uso de medicamentos para depressão. O benefício foi concedido em 11 de abril.

Na mesma data, Cláudio Mendes dos Santos e Ramiro Alves da Rocha Cruz Junior também obtiveram o direito à prisão domiciliar. No dia 13, a medida foi estendida ao indígena Helielton dos Santos.

As concessões de Moraes vêm acompanhadas de medidas cautelares: tornozeleira eletrônica, proibição de acesso a redes sociais (inclusive por terceiros), impedimento de contato com outros envolvidos nos ataques, veto à concessão de entrevistas - salvo autorização expressa do STF - e restrição de visitas a advogados, pais, irmãos e pessoas previamente autorizadas pelo Tribunal.

As decisões recentes ocorrem após a repercussão do caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos.

Ela foi presa por participação nos ataques e ganhou notoriedade após pichar, com batom, a frase "perdeu, mané" na estátua da Justiça em frente ao prédio do STF, imagem que viralizou nas redes sociais. Após dois anos na cadeia, a cabeleireira teve sua prisão convertida em domiciliar no mês passado.

Débora foi condenada a 14 anos de prisão pelos mesmos crimes de outros réus, incluindo tentativa de golpe e dano ao patrimônio público.

A comoção gerada por seu caso motivou manifestações de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que passaram a alegar desproporcionalidade na pena. Parte das críticas, porém, ignorava os crimes pelos quais ela foi efetivamente condenada, reduzindo sua participação ao gesto simbólico.

Em mensagem de Páscoa, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse neste domingo, 20, que a data remete à comemoração do renascimento do amor e da paz sobre as injustiças. Segundo Lula, o momento é de reforçar os laços de união e de solidariedade.

"Hoje é o dia em que milhões de brasileiras e brasileiros, e pessoas em todo o mundo, comemoram o renascimento do amor e da paz sobre as injustiças. É o momento em que nos encontramos - seja em uma celebração religiosa, seja em um almoço de família - para reforçar nossos laços de união e de solidariedade. E em que relembramos os ensinamentos de Jesus de que devemos sempre amar uns aos outros, construindo um mundo cada vez melhor e mais fraterno", escreveu, Lula em mensagem divulgada pelo governo federal.

Ao fim da publicação, Lula desejou um "feliz domingo de Páscoa".