Israel 'repete ataques ainda mais sérios do que o ato terrorista' do Hamas, diz Lula

Internacional
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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a criticar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza após os ataques do grupo terrorista Hamas, no dia 7 de outubro. Em entrevista à Al Jazeera, o presidente brasileiro reconheceu os ataques que deixaram mais de 1.200 pessoas mortas em Israel como terroristas, mas disse que a resposta israelense, que inclui bombardeios aéreos e ofensiva terrestre no enclave palestino são "ainda mais sérias" que o ataque do grupo terrorista Hamas. Segundo estimativas do ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo grupo terrorista Hamas, mais de 15 mil pessoas morreram na Faixa de Gaza desde o início da guerra.

Lula também afirmou que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, é um "extremista" e que não tem sensibilidade humana. "O primeiro-ministro de Israel não respeita a vida dos palestinos. Precisamos que eles tenham o mesmo respeito que os judeus e os palestinos têm direito a ter o seu próprio Estado, demarcado desde 1947 e a ONU deve obrigar Israel e os demais Estados a cumprir isso". O presidente brasileiro voltou a chamar a ofensiva israelense de "genocídio".

O presidente brasileiro destacou também que Netanyahu vem sofrendo pressões internas por conta de seu governo e relembrou que conheceu o ex-premiê israelense Yitzhak Rabin, um dos formuladores dos Acordos de Oslo, em 1993. "Rabin foi assassinado por um fanático e desde então tudo só piorou em Israel", disse Lula.

Desde o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro, Lula tem dado declarações críticas a Israel na guerra contra o grupo terrorista. O presidente chegou a condenar o terrorismo do Hamas em mais de uma oportunidade, mas já se referiu à reação israelense como "insanidade" e genocídio. "Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo, o Estado de Israel está cometendo mais um ato de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, que as mulheres não estão em guerra. Ao não levar em conta que eles não estão matando soldados, eles estão matando junto crianças", disse o petista no dia 13 de novembro.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticou a declaração do presidente: "A Conib lamenta profundamente declarações do presidente Lula comparando as ações de defesa de Israel a genocídio. É uma acusação falsa que, vinda do presidente da República, ganha dimensões ainda mais graves. A Conib mais uma vez pede serenidade e equilíbrio às autoridades neste momento tão tenso e doloroso, com aumento de manifestações antissemitas no Brasil e no mundo".

Presidente critica papel da ONU

Lula também criticou o papel da ONU no conflito no Oriente Médio, afirmando que Israel não se comprometeu a aceitar a resolução aprovada no Conselho de Segurança da ONU que pede uma pausa nos conflitos e a criação de corredores humanitários na Faixa de Gaza. O texto proposto por Malta foi aprovado no meio de novembro com 12 votos a favor, nenhum contra e 3 abstenções, de Estados Unidos, Reino Unido e Rússia. Os cinco países com assento permanente no grupo não exerceram o direito ao veto.

"Falta liderança no mundo hoje. Se tivéssemos verdadeiros líderes e um Conselho de Segurança que tivesse as suas decisões respeitadas, não teríamos essa guerra", avaliou o presidente brasileiro. "A falta de comando faz com não seja possível ter paz na região desde 1947."

Lula lembrou que em outubro, os EUA vetaram de forma isolada uma proposta de resolução patrocinada pelo Brasil sobre a guerra no Oriente Médio. O projeto previa pausas humanitárias no confronto e condenação dos ataques terroristas. Segundo a diplomacia dos EUA, o veto ocorreu por conta da ausência de menção ao direito de autodefesa de Israel, apoiado por Washington.

"Não consigo entender como Joe Biden, presidente do país mais importante do mundo, não tem a sensibilidade de pedir o fim desta guerra. Eles têm muita influência sobre Israel, então eles podem sim parar a guerra quando quiserem", apontou o presidente brasileiro.

O presidente Lula visitou a cidade de Doha, no Catar, antes de seguir para a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Durante a entrevista, Lula apontou que viajou ao país do Oriente Médio para agradecer o papel de mediador do Catar para a saída dos palestinos com dupla nacionalidade da Faixa de Gaza, além dos acordos para a liberação de reféns israelenses que estão em Gaza.

"Quis agradecer o papel do emir do Catar na ajuda pela libertação dos 32 brasileiros que estavam na Faixa de Gaza, além da liberação dos reféns que estavam em Gaza", disse Lula.

Durante a passagem pelo Catar, o presidente brasileiro também mencionou que está conversando com o país do Oriente Médio sobre a possível libertação de Michel Nisenbaum, cidadão brasileiro que foi sequestrado pelo grupo terrorista Hamas e está no enclave palestino.

Putin

Questionado sobre a guerra na Ucrânia, Lula voltou a falar sobre uma possível mediação entre Kiev e Moscou para o fim das hostilidades, defendendo a realização de um "referendo" nas regiões disputadas pelos dois países. "O Brasil foi o primeiro país a condenar a invasão russa e a violação da soberania da Ucrânia, precisamos sentar na mesa de negociações para parar com as mortes", apontou o presidente brasileiro.

Lula também apontou mais uma vez que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, seria recebido no Brasil caso opte por participar presencialmente da próxima reunião do G-20, que será realizada em novembro do ano que vem no Rio de Janeiro. Putin tem um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra por causa de seu suposto envolvimento em sequestros e deportação de crianças de partes da Ucrânia ocupadas pela Rússia durante a guerra.

Por ser signatário do TPI, o Estado brasileiro seria obrigado a prender Putin e entregar o líder russo à Corte de Haia. Em setembro, Lula já havia afirmado que Putin seria bem recebido no Brasil e que não seria preso. O presidente brasileiro também chegou a apontar que o Brasil poderia sair do TPI, mas recuou em suas declarações.

"Eu não sou especialista em direito internacional, mas se Putin quiser vir ao Brasil para o G-20 ele será recebido. Ele só não virá ao Brasil se não quiser. E eu irei à Rússia no ano que vem para participar da próxima reunião do Brics", disse Lula.

COP-28

Lula também falou sobre o papel do Brasil em relação às questões climáticas, citando o comprometimento do país em zerar o desmatamento da Amazônia em 2030.

O presidente brasileiro está participando da COP-28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Lula tem cobrado um maior financiamento dos países ricos aos países florestais.

A manutenção e recuperação de florestas é a grande aposta do Brasil na COP-28. O País levou à conferência números relativos à queda do desmatamento na Amazônia. De acordo com dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que houve uma redução de 22% no desmatamento da Amazônia em um ano. A análise inclui o período de agosto de 2022 a julho de 2023.

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O empresário Cláudio Fernando Aguiar, que foi candidato a prefeito de Guarujá (litoral de São Paulo) pelo Partido Novo em 2024, é investigado pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Policiais federais fizeram buscas na casa dele nesta terça-feira, 11, na Operação Emergentes.

O Estadão pediu manifestação do político e do Partido Novo, o que não havia ocorrido até a publicação deste texto. O espaço segue aberto

O nome de Cláudio surgiu na investigação a partir da quebra do sigilo da nuvem de Bruno Costa Calixta, conhecido como Boy ou Cachoeira, apontado como "disciplina" do PCC no Guarujá.

O contato do empresário estava salvo no celular de Calixta como "Dr Claudio Irmão", o que segundo a Polícia Federal permite "inferir algum tipo de ligação" dele com a facção, "em virtude de a nomenclatura 'irmão' ser comumente utilizada pelos integrantes da organização criminosa".

A PF também encontrou conversas entre Cláudio e Calixta, além de vídeos em que os dois aparecem juntos em um haras. Em uma mensagem, o político afirma: "Mal sabe ele que a gente é mais bandido que ele 50 vezes".

Em outro diálogo, Bruno Calixta fala sobre a amizade com Cláudio: "Nossa amizade vai além de um jantar né, Doutor? Então, contigo eu posso ficar um mês sem te ver, mas a gente vê quem é amigo. Aquele que, sem estar na nossa frente, não fica falando mal da gente, né?"

Em 2024, Cláudio teve 5.342 votos no primeiro turno e não conseguiu uma vaga no segundo turno da eleição para prefeito de Guarujá. Ele também foi candidato a deputado estadual pelo PL em 2022 e a governador pelo PMN em 2018.

A Operação Emergentes fez buscas em 26 endereços em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Um mandado de busca e apreensão também foi cumprido em Portugal. Foram expedidos ainda mandados de prisão contra sete investigados e determinadas medidas de bloqueio e sequestro de bens e valores.

A investigação que levou a PF a deflagrar a Emergentes foi aberta em abril de 2024 a partir da Operação Sólis. A Polícia Federal mira um esquema de tráfico internacional de drogas. Segundo a PF, cargas de cocaína estavam sendo escondidas em cascos de navios com o auxílio de mergulhadores recrutados pelo PCC.

Pouco mais de um ano após serem impedidos por decisão judicial de manter contato, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, se reencontraram em público nesta quarta-feira, 12, em um restaurante em Brasília. A proibição de diálogos e encontros entre os dois ocorreu no ano eleitoral e, agora, ambos miram o próximo ciclo de eleições no ano que vem, com foco em aprovar o Projeto de Lei (PL) da Anistia antes disso.

"O PL da Anistia para nós é uma prioridade. Todos os partidos, com exceção da esquerda estão do nosso lado, ou muito favoráveis", disse Bolsonaro.

O encontro de Bolsonaro e Valdemar ocorreu em uma churrascaria no Setor de Clubes Norte, na capital federal. Antes de entrar no restaurante, Valdemar afirmou que estava com "muita saudade" de Bolsonaro. A decisão que proibiu o contato entre os dois partiu do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em fevereiro do ano passado, após a Polícia Federal (PF) deflagrar a Operação Tempus Veritatis, que cumpriu mandados de busca e apreensão no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado ocorrida em 2022.

Diferentemente de Bolsonaro, Valdemar foi indiciado, mas não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento na tentativa de golpe que previa impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para manter o então presidente no Palácio do Planalto. A medida cautelar que impedia os dois de conversar foi revogada por Moraes nesta terça-feira, 11.

Agora com o contato restabelecido, o chefe do PL e o presidente de honra da sigla centram esforços em mobilizar a base bolsonarista. Para isso, Valdemar promete conversar "todos os dias (com Bolsonaro) sobre política e as bombas eu jogo todas na mão do Bolsonaro".

Também estiveram no almoço a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Carlos Portinho (PL-RJ), os deputados Altineu Côrtes (PL-RJ) e Eduardo Pazuello (PL-RJ) e o ex-ministro Onyx Lorenzoni.

Bolsonaro espera reunir um milhão no Rio

O ex-presidente disse esperar até um milhão de pessoas no ato de rua que será realizado na Avenida Paulista no domingo, 16. Segundo ele, a tônica do seu discurso será exclusivamente sobre o PL da Anistia, pauta que é tratada como prioridade no partido.

"Não vou cobrar o Hugo Motta. Ele sabe o que tem que fazer. É uma pessoa equilibrada. Conversei com ele antes das eleições. Não fiz exigência nenhuma. Nós, como parlamentares, você olhando no olho sabe o que o outro quer. Não é prioridade minha não, é de quem tem coração", disse Bolsonaro.

Ele desembarcou em Brasília na manhã desta quarta-feira após compromisso em São Paulo. No desembarque, o ex-presidente se encontrou com o secretário de governo de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o abraçou. De acordo com Bolsonaro, não deu tempo de aprofundar nenhuma conversa, mas relatou já ter procurado o dirigente partidário para pedir o apoio do partido ao PL da Anistia.

Ainda segundo relatos do ex-presidente, Kassab se declarou favorável à proposta. Em declarações públicas, o presidente do PSD liberou os parlamentares para votarem como quiserem.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Ele minimizou o movimento do PT e do governo para vetá-lo, assim como o descontentamento de ministros do STF por causa das relações do deputado com o governo Donald Trump, sob o argumento de que Eduardo é a pessoa certa para o cargo. "O Eduardo é amigo do Trump. Queria que fosse amigo de quem? Do Maduro? Isso é crise? É solução", afirmou.

A matéria enviada anteriormente estava truncada. Segue a versão correta:

A Espanha negou o pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) pela extradição do blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. O argumento que embasa a decisão é de que os atos atribuídos a Eustáquio não configurariam crime no País e estariam protegidos pelo direito à liberdade de expressão.

No parecer, ao qual o Estadão teve acesso, a procuradora espanhola Teresa Sandoval escreveu que não há "dupla tipicidade" ou "dupla incriminação", quando a conduta é considerada um crime nos dois países.

"Os atos constituem, segundo a legislação brasileira, um crime de abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado. Na legislação espanhola vigente, esses atos não constituem crime, ao estarem amparados pela liberdade de expressão. Portanto, a dupla incriminação normativa não se aplica", explicou.

Para a defesa do blogueiro, "o Brasil está fadado a ver negada a extradição e concedido o asilo". Eustáquio está na Espanha desde 2023 e é considerado foragido. Ele enfrenta acusações de ameaça, corrupção de menores e tentativa de abolição do Estado democrático de direito, e tem dois mandados de prisão preventiva emitidos pelo ministro Alexandre de Moraes.

O pedido do STF negado pela Justiça espanhola nesta semana inclui uma investigação sobre a divulgação de dados do delegado da Polícia Federal (PF) Fábio Shor. Os fatos são descritos no parecer da procuradoria.

Neste processo, Eustáquio é acusado de usar o perfil da filha de 16 anos para conduzir uma campanha virtual contra o delegado, após o indiciamento de Bolsonaro. O perfil fez três publicações em que expõe a esposa de Shor, divulga uma imagem do delegado e o acusa de "prender patriotas inocentes e fazer milhares de crianças chorarem por seus pais".

Uma das postagens no perfil da menina traz o outro filho do blogueiro como uma "testemunha": "Bernardo Eustáquio, uma das milhares de crianças vítimas do delegado Fábio Alvarez Shor, dá o seu testemunho sobre a crueldade do responsável pelo indiciamento de Bolsonaro, conhecido como capataz de Alexandre de Moraes. A denúncia do meu irmão tem o aval de 131 delegados", dizia a publicação.

Durante as investigações, o delegado Fábio Shor cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa da família, apreendendo aparelhos celulares e tablets. Nas postagens feitas usando o perfil da menina, Shor era acusado de "roubar" celulares e "invadir" o quarto dos adolescentes.

Ele conduz o inquérito das milícias digitais e é um dos quatro agentes que subscrevem o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A apuração indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e serviu de base para a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra ele e outras 33 pessoas.

Após os posts, perfis de políticos e lideranças de direita também passaram a publicar incitações contra o agente da PF. No entendimento do STF, Eustáquio usou os filhos para expor o delegado.

O blogueiro também é apontado como um dos principais alvos da investigação sobre as milícias digitais por conta de sua atuação na internet com ataques e desinformação em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em acordo de delação premiada firmado com a PF no âmbito do inquérito do golpe, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, afirmou que, em dezembro de 2022, o então presidente autorizou o acesso ao Palácio da Alvorada a três blogueiros aliados que temiam ser presos pela Polícia Federal, entre eles Oswaldo. No dia, as imediações da sede da instituição, em Brasília, foram alvo de vandalismo.

Segundo Cid, os blogueiros Oswaldo Eustáquio, Bismark Fugazza e Paulo Souza telefonaram a Bolsonaro relatando a apreensão e o então presidente determinou que a entrada deles fosse liberada.