Com comemorações suspensas, Belém parece uma cidade fantasma na véspera de Natal

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O normalmente movimentado local de nascimento bíblico de Jesus parecia uma cidade fantasma neste domingo, 24. As celebrações da véspera de Natal em Belém, na Cisjordânia, foram canceladas devido à guerra Israel-Hamas.

As luzes e a árvore de Natal que normalmente decoram a Praça da Manjedoura estavam faltando, assim como as multidões de turistas estrangeiros e as bandas de jovens que se reúnem na cidade todos os anos para marcar a data. Dezenas de integrantes das forças de segurança palestinas patrulhavam a praça vazia.

"Este ano, sem a árvore de Natal e sem luzes, há apenas escuridão", disse John Vinh, um monge franciscano do Vietnã que vive em Jerusalém há seis anos.

Ele disse que sempre vem a Belém para comemorar o Natal, mas este ano foi especialmente preocupante, ao contemplar um presépio na Praça da Manjedoura com um menino Jesus envolto em uma mortalha branca, uma lembrança das milhares de crianças mortas em Gaza. Arame farpado cerca a cena, os escombros cinzentos não refletem nenhuma das luzes alegres e explosões de cores que normalmente enchem a praça na época do Natal.

O cancelamento das festividades de Natal é um duro golpe para a economia da cidade. O turismo é responsável por cerca de 70% da receita de Belém, quase tudo isso na época do Natal.

Com muitas companhias aéreas cancelando voos para Israel, poucos estrangeiros estão visitam. Autoridades locais dizem que mais de 70 hotéis em Belém foram forçados a fechar, deixando milhares de pessoas desempregadas.

As lojas de presentes demoraram a abrir na véspera de Natal, embora algumas tenham aberto quando a chuva parou de cair. Houve poucos visitantes, no entanto.

"Não podemos justificar colocar uma árvore e comemorar normalmente, quando algumas pessoas [em Gaza] nem sequer têm casas para onde ir", disse Ala'a Salameh, um dos donos do Afteem, um restaurante de faláfel de propriedade de sua família, a poucos passos da praça.

Salameh disse que a véspera de Natal costuma ser o dia mais movimentado do ano. "Normalmente, você não consegue encontrar uma única cadeira para sentar, estamos lotados de manhã até meia-noite", disse Salameh. Este ano, apenas uma mesa foi ocupada por jornalistas que fugiam da chuva.

Sob uma faixa que dizia "Os sinos de Natal de Belém tocam para um cessar-fogo em Gaza", alguns adolescentes vendiam pequenos Papais Noéis infláveis, mas ninguém estava comprando.

Em vez da tradicional marcha musical pelas ruas de Belém, jovens escoteiros permaneceram em silêncio com bandeiras. Um grupo de estudantes locais desfraldou uma enorme bandeira palestina enquanto permaneciam em silêncio.

"Nossa mensagem todos os anos no Natal é de paz e amor, mas este ano é uma mensagem de tristeza, pesar e raiva diante da comunidade internacional com o que está acontecendo na Faixa de Gaza", disse a prefeita de Belém, Hana Haniyeh, em discurso ao público.

Joseph Mugasa, pediatra, foi um dos poucos visitantes internacionais. Ele disse que o seu grupo de turistas de 15 pessoas, da Tanzânia, estava "determinado" a vir para a região, apesar da situação. "Já estive aqui várias vezes e é um Natal bastante único, pois normalmente há muita gente e muitas celebrações", disse. "Mas não podemos comemorar enquanto as pessoas estão sofrendo, por isso estamos tristes por elas e rezando pela paz."

Mortos

Mais de 20 mil palestinos foram mortos e mais de 50 mil feridos durante a ofensiva aérea e terrestre de Israel contra os governantes do Hamas em Gaza, segundo autoridades de saúde locais, enquanto 85% dos 2,3 milhões de residentes do território foram deslocados. A guerra foi desencadeada pelo ataque mortal do Hamas, em 07 de outubro, ao Sul de Israel, no qual militantes mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria delas civis, e fizeram mais de 240 reféns.

A guerra em Gaza foi acompanhada por um aumento da violência, com cerca de 300 palestinos mortos por fogo israelense na Cisjordânia.

Os combates afetaram a vida em toda a Cisjordânia. Desde 07 de outubro, o acesso a Belém e outras cidades palestinas no território ocupado por Israel tem sido difícil, com longas filas de motoristas à espera para passar pelos postos de controle militares. As restrições também impediram que dezenas de milhares de palestinos saíssem do território para trabalhar em Israel.

Amir Michael Giacaman abriu sua loja, "Il Bambino", que vende esculturas em madeira de oliveira e outros suvenires, pela primeira vez desde 07 de outubro. Não há turistas e poucos residentes têm dinheiro, porque os que trabalharam em Israel ficaram presos em casa.

"Quando as pessoas têm dinheiro extra, vão comprar comida", disse a sua mulher, Safa Giacaman. "Este ano, estamos contando a história do Natal. Estamos celebrando Jesus, não a árvore, não o Papai Noel", disse ela, enquanto sua filha Makaella corria pela loja deserta.

Os combates em Gaza estão na cabeça da pequena comunidade cristã na Síria, que enfrenta uma guerra civil já em seu 13º ano. Cristãos sírios disseram que tentam encontrar alegria, apesar dos conflitos em curso em sua terra natal e em Gaza.

"Onde está o amor? O que fizemos com amor?", questionou o reverendo Elias Zahlawi, sacerdote em Yabroud, uma cidade a cerca de 80 quilômetros ao norte de Damasco, capital da Síria. "Jogamos Deus fora do reino da humanidade e, infelizmente, a Igreja permaneceu em silêncio diante desta dolorosa realidade."

Esperança

Alguns tentaram encontrar inspiração no espírito do Natal.

O patriarca latino Pierbattista Pizzaballa, chegando de Jerusalém para a tradicional procissão até a Igreja da Natividade, disse ao público escasso que o Natal é um "motivo de esperança", apesar da guerra e da violência.

O Natal simples está de acordo com a mensagem original da data e ilustra as muitas maneiras com as quais a comunidade está se unindo, disse Stephanie Saldana, de San Antonio, Texas, e que mora em Jerusalém e Belém há 15 anos com o marido, assistente paroquial da Igreja Católica Siríaca de São José.

"Sentimos o Natal mais real do que nunca, porque esperamos que o príncipe da paz chegue. Estamos à espera de um milagre para parar esta guerra", disse Saldana. Fonte: Associated Press

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O Supremo Tribunal Federal (STF) reagiu neste sábado, 19, às críticas feitas em artigo da revista The Economist que diz que o ministro Alexandre de Moraes tem "poderes excessivos" e que o tribunal enfrenta "crescentes questionamentos". Em nota assinada pelo presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, o STF defendeu a atuação de Moaes e negou que haja uma crise de confiança na instituição.

"O enfoque dado na matéria corresponde mais à narrativa dos que tentaram o golpe de Estado do que ao fato real de que o Brasil vive uma democracia plena, com Estado de direito, freios e contrapesos e respeito aos direitos fundamentais", afirmou o tribunal.

A revista inglesa afirmou que o Supremo poderia agravar sua crise de confiança diante dos brasileiros caso o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seguisse na Primeira Turma do tribunal, em vez de ser levado ao plenário. O texto também fez críticas a Barroso, aos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, e apontou que Moraes tem "poderes excessivos" nas decisões da Corte.

Em resposta, o STF afirmou que o julgamento de ações penais contra autoridades segue o rito previsto no procedimento penal, que determina que esses casos sejam analisados pelas turmas, e não pelo plenário. "Mudar isso é que seria excepcional", destacou a nota assinada por Barroso.

Barroso rebateu a sugestão de suspender Moraes do julgamento de Bolsonaro. Segundo ele, o ex-presidente ofendeu quase todos os integrantes do Supremo e, "se a suposta animosidade em relação a ele pudesse ser um critério de suspeição, bastaria o réu atacar o tribunal para não poder ser julgado". Ele ainda classificou Moraes como um juiz que "cumpre com empenho e coragem o seu papel, com o apoio do tribunal, e não individualmente".

O STF também negou que exista uma crise de confiança na instituição e citou dados do Datafolha, divulgados em março de 2024, para sustentar o argumento. Ao mencionar os dados, no entanto, Barroso usou o percentual atribuído ao Poder Judiciário como um todo, cuja confiança é maior, se comparada à da Corte, com 24% que confiam muito, 44% que confiam um pouco e 30% que não confiam.

Segundo a pesquisa, 21% dos entrevistados disseram confiar muito no Supremo, 44% confiam um pouco e 30% não confiam. Para a Corte, isso demonstra que a maioria da população mantém algum nível de confiança no tribunal.

A nota ainda destacou que decisões monocráticas citadas pela revista foram posteriormente ratificadas pelos demais ministros. Entre elas, a suspensão do X (antigo Twitter), que foi determinada pela ausência de representante legal da empresa no Brasil, e não por algum conteúdo publicado na plataforma. A medida foi revertida após a indicação de um representante.

"Todas as decisões de remoção de conteúdo foram devidamente motivadas e envolviam crime, instigação à prática de crime ou preparação de golpe de Estado. O presidente do Tribunal nunca disse que a Corte 'defeated (derrotou) Bolsonaro'. Foram os eleitores", declarou o STF.

Barroso afirmou ainda que, apesar de a reportagem citar "algumas das ameaças sofridas pela democracia" no País, deixou de mencionar as tentativas de invasão da sede dos três Poderes em Brasília nos ataques de 8 de janeiro por uma "multidão insuflada por extremistas" além das tentativas de explosão de bomba no STF e no aeroporto de capital. A nota cita ainda o plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), além do ministro Alexandre de Moraes.

"Foi necessário um tribunal independente e atuante para evitar o colapso das instituições, como ocorreu em vários países do mundo, do leste Europeu à América Latina", concluiu Barroso.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue internado na unidade de terapia intensiva (UTI) uma semana depois da cirurgia realizada em 13 de abril. Um novo boletim médico divulgado pelo Hospital DF Star e compartilhado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro neste domingo, 20, informa que inda não há previsão de alta da UTI, mas que o ex-presidente apresenta boa evolução clínica.

A nota do hospital ainda diz que Bolsonaro apresenta pressão arterial sob controle, após o episódio de alteração relatado no boletim deste sábado, 19. Ele permanece em jejum oral, ou seja, sem se alimentar pela boca, e tem intensificado a fisioterapia motora e as medidas de reabilitação.

No domingo passado, 13 de abril, Bolsonaro fez uma cirurgia de 12 horas para retirar aderências no intestino e reconstruir a parede abdominal.

A operação foi feita após o ex-presidente passar mal, dois dias antes, durante uma agenda no interior do Rio Grande do Norte. Bolsonaro teve uma obstrução devido a uma dobra intestino delgado que dificultava o trânsito intestinal. Na cirurgia, a complicação foi desfeita. Segundo a equipe médica responsável pelo procedimento, o pós-operatório deverá ser "prolongado".

A defesa do ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência Filipe Garcia Martins pediu permissão ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para circular livremente por Brasília entre segunda-feira, 21, e a quarta-feira, 23. A defesa de Martins também quer que ele não perca a liberdade condicional caso seja fotografado ou gravado por profissionais da imprensa.

Nesta quinta-feira, 17, Moraes permitiu que Filipe Martins possa acompanhar presencialmente o julgamento da Primeira Turma do STF na próxima terça-feira, 22. Neste dia, o colegiado vai começar a julgar se aceita a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-assessor e outras cinco pessoas por participação na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Moraes garantiu a presença de Filipe Martins no julgamento e o autorizou a "se deslocar tão somente entre aeroporto, hotel e o local da sessão de julgamento". O desembargador Sebastião Coelho, que defende o ex-assessor, argumenta que ele deve ter o direito de circular pela capital federal, mas se resguardar no período noturno.

"Com o devido respeito, tal formulação impõe uma restrição mais severa do que aquela já observada pelo Requerente em sua comarca de origem (Ponta Grossa-PR), onde cumpre medida cautelar de recolhimento domiciliar noturno, com monitoramento eletrônico, mas com possibilidade de circulação durante o período diurno dentro dos limites da comarca", disse Coelho.

Segundo o desembargador, caso Martins fique limitado a transitar entre o aeroporto, o hotel e o STF, o ex-assessor poderá ser submetido a "constrangimentos operacionais e jurídicos desnecessários, inclusive no acesso à alimentação, cuidados pessoais, reuniões com a defesa técnica ou deslocamentos imprevistos".

Ao ganhar o direito à prisão domiciliar, em agosto do ano passado, Martins teve que seguir medidas cautelares como o uso de tornozeleiras eletrônicas e a proibição de conceder entrevistas e a proibição de utilizar redes sociais, com uma multa de R$ 20 mil por publicação feita por ele.

O advogado de Filipe Martins pediu a Moraes que não o puna por "imagens, vídeos ou registros" feitos por pessoas comuns ou profissionais de imprensa. No último dia 7, o ministro do STF multou o ex-assessor em R$ 20 mil por ele aparecer em uma publicação de Sebastião Coelho feita em outubro do ano passado.

"Que seja integrada e esclarecida a decisão, com a inclusão expressa de ressalva quanto à responsabilização do Requerente por imagens, vídeos ou registros feitos por terceiros, inclusive profissionais da imprensa, para que tais exposições involuntárias não sejam interpretadas como violação das medidas cautelares impostas, sobretudo diante da publicidade inerente ao julgamento e da impossibilidade fática de controle sobre a circulação de registros audiovisuais em ambiente digital", solicitou o defensor.

Martins passou seis meses preso preventivamente durante a condução do inquérito dos atos golpistas. A justificativa foi de que ele teria tentado fugir do Brasil para escapar da investigação. O nome do ex-assessor constou em uma lista de passageiros do avião presidencial que decolou para Orlando, nos Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022. A defesa, posteriormente, defendeu que ele não embarcou e estava no Brasil naquele dia e o ex-assessor foi solto.

A PGR imputou a ele a confecção de uma das minutas do golpe, aquela que previa prender Moraes, o também ministro do STF Gilmar Mendes, além do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), então presidente do Senado.

Além de Martins, a Primeira Turma do STF vai decidir, a partir das 14 horas da terça, se aceita a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Fernando de Sousa Oliveira, Marcelo Costa Câmara, Marília Ferreira de Alencar, Mário Fernandes e Silvinei Vasques.