Israel planeja controle militar de Gaza sem prazo para acabar no pós-guerra

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O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, divulgou nesta sexta, 23, seu plano mais detalhado até o momento para o pós-guerra na Faixa de Gaza. O documento materializa declarações anteriores do premiê, com a promessa de Israel manter o controle militar sem prazo de saída do território, enquanto a administração civil ficaria nas mãos de palestinos que não tenham vínculos com o Hamas.

O plano foi mal recebido pelos palestinos, que o chamaram de "fadado ao fracasso", e não satisfaz os EUA, maior aliado de Israel, que defendem a soberania palestina após o fim da guerra. Se concretizado, o projeto inviabiliza a criação de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia ocupada no curto prazo.

O documento apresentado por Netanyahu reitera a posição israelense contra o "reconhecimento unilateral de um Estado palestino" por considerá-lo "uma forma de recompensa ao terrorismo". Ele estabelece ainda duas zonas tampões que seriam controladas por Israel por tempo indefinido.

Objetivo

A primeira seria estabelecida na fronteira de Gaza com o Egito, o que aumentaria as tensões com o governo egípcio e pressupõe uma invasão à cidade de Rafah. A outra seria ao longo da fronteira israelense com Gaza, com o controle israelense de uma faixa de território dentro do enclave, onde hoje os militares estão demolindo casas e prédios.

Em relação à administração civil, os gestores seriam escolhidos a dedo por Israel entre os moradores locais sem vínculos com países e entidades que apoiem o terrorismo. Embora o projeto não mencione explicitamente a Autoridade Palestina, que administra partes da Cisjordânia ocupada, a menção a moradores de Gaza afasta o envolvimento do principal grupo político palestino.

O plano, como esperado, também pede o fechamento da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, que tem forte atuação na Faixa de Gaza. Em janeiro, Israel acusou funcionários da organização de cooperar com o Hamas - a acusação foi questionada por um relatório de inteligência dos EUA.

A intenção de Israel com o plano é dificultar um ataque como o que ocorreu no dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram 1,2 mil pessoas em território israelense.

A Autoridade Palestina chamou a proposta de "colonialista e racista" e disse que ela equivaleria à reocupação israelense de Gaza, como antes de 2005. "Se o mundo estiver genuinamente interessado em ter segurança e estabilidade na região, deve pôr fim à ocupação de Israel de terras palestinas e reconhecer um Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital", declarou Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

Acordo

Esta é a primeira vez que os planos de Netanyahu para Gaza foram reunidos em um único documento. A divulgação foi feita no mesmo dia em que autoridades israelenses voaram para Paris para se reunir com diplomatas de Catar, EUA e Egito em um esforço para obter um acordo de cessar-fogo em troca da libertação de mais de 100 reféns que permanecem em poder do Hamas em Gaza.

Embora as autoridades israelenses afirmem que estão abertas a um acordo para suspender o combate e libertar os reféns, o governo de Netanyahu rejeita um cessar-fogo permanente. A pressão internacional, no entanto, cresce à medida que o número de mortos aumenta.

Em quatro meses de guerra, 29,5 mil palestinos, entre civis e membros do Hamas, foram mortos por Israel, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

O plano divulgado ontem atraiu pouca reação da extrema direita israelense, que faz parte da base política de Netanyahu e cujos líderes esperam reocupar a Faixa de Gaza com colonos judeus após o fim da guerra. O documento evita qualquer manifestação de apoio ao reassentamento de colônias em Gaza, mas não descarta a possibilidade, uma omissão que parecia ser um tentativa de evitar uma rebelião na coalizão radical do governo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Quatro ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são esperados por comissões na Câmara dos Deputados nesta semana. As "visitas" ocorrem em meio a desgastes nos ministérios de Lula, com demissão de Carlos Lupi pelo escândalo dos desvios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e avanço da reforma ministerial, com previsão de substituição na pasta das Mulheres, saindo Cida Gonçalves e entrando Márcia Lopes.

Para dois ministros, a presença será obrigatória, já que se trata de convocação. O chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, deverá comparecer à reunião da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional nesta terça-feira, 6, à tarde, para prestar esclarecimentos sobre o asilo diplomático concedido à Nadine Heredia. A ex-primeira dama do Peru foi condenada pela Justiça peruana por corrupção, em ação originada da Operação Lava Jato.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também foi convocada pela oposição e deve comparecer à reunião da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural nesta quarta-feira, 7, às 10h.

A convocação partiu de dois requerimentos: um do deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), que pede que a ministra preste esclarecimentos sobre os impactos ambientais da construção de uma nova rodovia em Belém para a COP30. Já o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), pecuarista e agricultor, quer que Marina explique se "estava envolvida ou fomentando" ações da 21.ª edição do Acampamento Terra Livre, e sobre aumento de incêndios e alta na degradação na Amazônia Legal.

Na mesma comissão, mas no dia anterior, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, foi convidado pelos parlamentares para discutir e analisar diversas pautas. Com requerimentos de deputados da oposição e governistas, o ministro deverá ser questionado sobre o preço dos alimentos, a situação da regularização fundiária no País, supostos crimes praticados por movimentos sociais durante o "Abril Vermelho", ações do governo para solucionar conflitos no campo, entre outras. Teixeira também será convidado a apresentar os resultados das políticas da pasta e os planos para este ano.

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, foi convidado pela Comissão de Trabalho para reunião com os deputados na quarta-feira. O colegiado disse que o objetivo será que o ministro apresente "plano de trabalho para o ano de 2025" e debata temas ligados à sua pasta.

Também na quarta, Carlos Lupi era esperado na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa para prestar esclarecimentos sobre os desvios bilionários dos proventos de aposentados e pensionistas do INSS. Ele, entretanto, pediu demissão do Ministério da Previdência na última sexta-feira, 2, em meio ao escândalo. Como mostrou o Estadão, esta foi a 11.ª troca na Esplanada dos Ministérios desde o início da gestão de Lula, em 2023.

O chefe interino da Coordenação de Sanções do governo dos Estados Unidos, David Gamble, vem ao Brasil nesta semana para uma série de agendas bilaterias para discutir "organizações criminosas transnacionais", segundo a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília.

Enviado pelo Departamento de Estado da administração Trump, Gamble é responsável pelos programas de sanções voltados ao combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas.

Gamble deve se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), de acordo com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), licenciado de seu mandato.

Nas redes sociais, Eduardo tem tratado a vinda do americano como um passo para a imposição de sanções por parte de Trump contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, considerado algoz do bolsonarismo.

"Está chegando a hora", escreveu Eduardo no X (antigo Twitter) na sexta-feira, 2, ao compartilhar um link de um site noticioso informando que Gamble vem ao Brasil para tratar de "sanções contra Moraes".

O governo brasileiro não confirma reunião do enviado americano com nenhuma autoridade.

Desde que decidiu se licenciar do mandato para viver nos Estados Unidos, em março, Eduardo vem dizendo que tomou a decisão "para buscar sanções aos violadores dos direitos humanos" junto ao governo Trump.

Em postagem publicada nas redes sociais na ocasião, ele disse ser alvo de perseguição, criticou Moraes e chamou a Polícia Federal de "Gestapo", polícia secreta da Alemanha nazista.

"Irei me licenciar sem remuneração para que possa me dedicar integralmente e buscar sanções aos violadores de direitos humanos. Aqui, poderei focar em buscar as justas punições que Alexandre de Moraes e a sua Gestapo da Polícia Federal merecem", disse.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que há consenso no Congresso Nacional e no Judiciário de que houve exagero na aplicação de parte das penas para condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Segundo o presidente da Casa, os deputados discutem um projeto de "readequação" das penas.

As declarações ocorreram nesta segunda-feira, 5, em entrevista ao programa Bom Dia Paraíba, da afiliada da TV Globo na Paraíba.

"Eu vejo a questão da anistia como uma pauta que precisa ser discutida com muita serenidade. Não vai ser com arroubos, com atropelos, que nós vamos resolver essa situação. Porque o que é que há na sociedade, o que é que há no Congresso, e eu diria até dentro do próprio Judiciário, de consenso nesse tema? É que há penas exageradas para pessoas que não mereciam essas penas", afirmou.

Motta prosseguiu: "Nós precisamos discutir como resolver isso, até para que não sejamos injustos para com pessoas que não participaram do planejamento daquele ato de 8 de janeiro, que não financiaram esse movimento que nós infelizmente vivemos".

Segundo o presidente da Câmara, está sendo discutida uma "readequação" das penas a partir de um projeto de lei na Câmara. Ele não mencionou se a proposta é a mesma que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), vem costurando no Congresso.

"É essa a discussão que nós temos feito para poder, de certa forma, resolver essa situação, poder fazer uma discussão sobre essas penas. A partir daí, um projeto que possa fazer essa readequação", disse.

De acordo com o deputado, com o projeto, há uma possibilidade de que alguns presos já possam voltar para suas casas, a depender do cumprimento de parte da pena. O parlamentar, no entanto, ainda não indicou quando vai pautar o requerimento de urgência para o projeto de lei da anistia. O pedido já foi protocolado pela bancada do PL.