Navalni é velado com a presença de apoiadores, após dias de impasses

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O opositor russo Alexei Navalni, que morreu em 16 de fevereiro na prisão, foi velado na Igreja do Ícone da Mãe de Deus Acalma Minhas Dores, em Moscou, na Rússia, na manhã desta sexta-feira, 1º, após dias de impasse na devolução do corpo à família. Sob forte presença policial, milhares de apoiadores do ativista se reuniram nas imediações da igreja para homenageá-lo.

O funeral ocorreu após uma batalha com as autoridades sobre a libertação do corpo do mais feroz crítico do presidente Vladimir Putin. Seus apoiadores disseram que autoridades exerceram pressão sobre o local onde seria realizado o sepultamento e que várias igrejas em Moscou se recusaram a realizar o culto antes que a equipe de Navalni obtivesse permissão desta no distrito de Maryino.

Depois que o carro funerário chegou à igreja, o caixão pôde ser visto em imagens transmitidas ao vivo sendo retirado do veículo, enquanto a multidão aplaudia e gritava: "Navalni! Navalni!". A igreja precisou ser cercada por barreiras de controle de multidão. Horas antes do início do funeral, centenas de pessoas já esperavam para entrar no centro religioso.

Uma foto de dentro da igreja mostrava um caixão aberto com o corpo de Navalni coberto de flores vermelhas e brancas, e sua mãe sentada ao lado segurando uma vela. O pai de Navalni também esteve presente, mas não ficou claro quem mais de sua família compareceu.

"O amor é mais poderoso que o medo"

Diplomatas ocidentais foram vistos na longa fila, juntamente com Boris Nadezhdin e Yekaterina Duntsova. Ambos queriam concorrer contra Putin nas próximas eleições presidenciais e opuseram-se à guerra na Ucrânia. Nenhum dos dois foi permitido na votação.

O velório durou pouco mais de meia hora, sem que os milhares de apoiadores do opositor pudessem entrar para prestar suas homenagens. O caixão com seu corpo foi transferido para o cemitério de Borisovo, onde a polícia também apareceu em força. Multidões da igreja marcharam até lá após o término do funeral, gritando: "Não à guerra" e "O amor é mais poderoso que o medo".

Funerárias se recusaram a transladar corpo

A equipe do opositor russo denunciou na quinta-feira, 29, que serviços funerários se recusam a transportar o corpo do opositor para a igreja do velório nessa sexta-feira. "É uma vergonha. Os motoristas do carro funerário agora se recusam a levar Alexei [ao funeral] do necrotério", lamentou Ivan Khdanov, um de seus colaboradores, no Telegram.

"Primeiro, não fomos autorizados a alugar uma sala funerária para nos despedirmos de Alexei. Agora, quando o velório está marcado na igreja, os agentes funerários nos informam que nenhum carro funerário levará o corpo para lá", confirmou sua equipe nas redes sociais.

Os funcionários "recebem ligações de pessoas desconhecidas que as ameaçam para não levar o corpo de Alexei a lugar nenhum!", afirmou a equipe.

A mãe de Navalni, Liudmila Navalnaya, passou oito dias tentando fazer com que as autoridades liberassem o corpo após sua morte em 16 de fevereiro na Colônia Penal nº 3, na cidade de Kharp, na região de Yamalo-Nenets, cerca de 1,9 mil quilômetros a nordeste de Moscou.

Liudmila e outras pessoas próximas a Navalni relataram que foram pressionados pelo governo de Putin a fazer um velório secreto. As autoridades russas ainda não anunciaram a causa da morte do ativista, que tinha 47 anos.

Navalni estava preso desde janeiro de 2021 , quando regressou a Moscou para enfrentar prisão certa depois de se recuperar na Alemanha de um envenenamento por agente nervoso que atribuiu ao Kremlin.

Kremlin alertou contra manifestações

Milhares de russos participaram do funeral do líder opositor, apesar das rigorosas medidas policiais e dos avisos das autoridades sobre as consequências da participação em atos não autorizados. O Kremlin alertou afirmou sexta-feira que seriam punidos todos aqueles que participassem de manifestações não autorizadas durante o funeral do líder opositor.

"Queremos lembrar que existe uma lei que deve ser seguida: qualquer reunião não autorizada constituirá uma violação da lei", disse o porta-voz da presidência da Rússia, Dmitry Peskov, na sua entrevista coletiva diária. Peskov acrescentou que quem participar de reuniões não autorizadas será punido de acordo com a legislação vigente

"Uma boa pessoa e não apenas um bom político"

Na igreja e no cemitério, foram instaladas cercas metálicas e foi destacado um significativo efetivo policial. Várias câmeras de vigilância e outros dispositivos que podem servir como inibidores de sinal de internet e celular também foram colocados nos postes do cemitério.

"Navalni era a consciência da nação. E, embora tenha medo, escolhi a consciência ao invés do medo e é por isso que estou aqui", disse à EFE uma mulher de 65 anos que se identificou como Svetlana e ressaltou que o legado do opositor "não morrerá".

Outro apoiador, que preferiu não se identificar, comentou que Navalni "era uma boa pessoa e não apenas um bom político". "As pessoas o seguiram porque ele não apenas disse a verdade, mas acreditou no que disse", destacou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) deve entrar com um recurso contra a decisão que recomenda a perda do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ). Esta terça-feira, 22, é o último dia do prazo para a apresentação deste documento. A cassação foi aprovada pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados no último dia 9 de abril.

Caso o recurso seja aceito, o processo retorna ao Conselho de Ética, onde será nomeado um novo relator para o caso. Já no caso de negativa, a cassação segue o processo normal e será votada em plenário. O presidente da Câmara, Hugo Motta, já se comprometeu a não levar o assunto à apreciação dos parlamentares em menos de 60 dias.

Esse tipo de recurso, direcionado à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), está previsto no Regimento Interno da Câmara. A definição da pauta, porém, é atribuição do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Relembre o caso

Após a decisão do Conselho de Ética pela cassação do deputado, Braga iniciou uma greve de fome que durou mais de uma semana, realizada no mesmo plenário onde ocorreu a votação.

Como mostrou o Estadão, o protesto foi encerrado após um acordo acordo firmado entre o presidente da Câmara, Arthur Lira, com os líderes do PT e do PSOL na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ) e Talíria Petrone (PSOL-RJ), além da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que é esposa de Glauber. Lira se comprometeu a não levar o processo de cassação ao plenário antes do segundo semestre, garantindo tempo para a defesa do parlamentar.

Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), protagonizaram um momento de descontração nesta terça-feira, 22, durante o julgamento da denúncia contra o "núcleo de gerência" do plano de golpe de Estado.

Relator do inquérito, Moraes afirmou que o colega é "candidato a papa", após Dino fazer referências à Bíblia durante seu voto. O Papa Francisco morreu na madrugada desta segunda-feira, 21, em decorrência de um acidente vascular cerebral.

"E apenas para não deixar a Bíblia de fora, quem empresta dinheiro a juros comete um pecado, segundo o Antigo Testamento", disse Dino, em um diálogo com a ministra Cármen Lúcia sobre a semântica da palavra "jurista" - que pode ser usada para se referir a uma pessoa detentora de grande saber jurídico, e também para alguém que empresta ou toma empréstimos a juros.

Em tom de brincadeira, Moraes disse: "Vossa Excelência é candidato a Papa. Eu percebo uma certa...", e riu, antes de retomar seu voto.

Dino prestou homenagem ao Papa Francisco nesta segunda. Em publicação em seu perfil no Instaram, o ministro afirmou que o papa foi "um exemplar cristão latino-americano".

"Em um mundo em que o ódio virou indústria de bilionários, sua pregação de estadista da fraternidade é essencial", escreveu.

Em decisão unânime, a Primeira Turma do Supremo recebeu a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que atribui a "gerência" do plano de golpe a seis auxiliares que fizeram parte do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Se tornaram réus: Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal; Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública; Fernando de Sousa Oliveira, ex-diretor de Operações do Ministério da Justiça e Segurança Pública; Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência; coronel Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; e general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência.

O deputado Alfredo Gaspar (União-AL), apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi designado relator da representação feita pelo PL para travar a tramitação da ação penal julgada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) réu. Bolsonaro também foi declarado réu na mesma ação e poderia ser beneficiado.

Gaspar é signatário do requerimento de urgência pela anistia aos presos do 8 de Janeiro e costuma apoiar pautas da oposição na Câmara dos Deputados. Ele foi procurador-geral de Justiça de Alagoas - outra justificativa para sua escolha.

Ele afirma que ainda está analisando o texto. "Conduzirei (o trabalho) de forma técnica e criteriosa", afirmou.

A primeira votação ocorrerá na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Caso seja aprovada no colegiado, a proposta irá para decisão do plenário.

O PL fundamenta a ação num trecho da Constituição que dá à Câmara o poder se sustar o andamento de uma ação penal enquanto o parlamentar mantiver o seu mandato. Para o líder do PL da Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), se a Câmara pode trancar uma ação penal, a decisão beneficiaria todos os réus - caso de Bolsonaro.

A Constituição diz que esse procedimento só pode ser adotado em casos de crimes cometidos após a diplomação de um deputado.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República aceita pelo STF diz que, enquanto chefiava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem auxiliou Bolsonaro a deflagrar o "plano criminoso", descredibilizando as urnas eletrônicas e opositores no procedimento que teria culminado numa numa tentativa de golpe de Estado. Ramagem permaneceu no cargo até março de 2022.

A Polícia Federal afirma que ele se tornou um dos principais conselheiros do ex-presidente e articulou ataques ao STF. Trocas de mensagens apontaram, segundo as investigações, que Ramagem incentivava Bolsonaro a confrontar os ministros. A defesa do deputado classificou os indícios como "tímidos" e negou envolvimento dele em atos golpistas.

No documento, o PL alega que todos os supostos crimes imputados teriam sido consumados após a diplomação de Ramagem, que ocorreu em 19 de dezembro de 2022.

"Porquanto o crime de organização criminosa armada, que possui natureza permanente, teria se estendido até janeiro de 2023, e os demais crimes imputados teriam ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023", justifica o texto, assinado pelo advogado do partido, Marcelo Bessa.