Como Rússia e China se aproximam de rebeldes houthis para enfraquecer EUA no Mar Vermelho

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Os ataques dos rebeldes Houthis contra navios mercantes no Mar Vermelho abriram uma fenda no comércio global na qual dois países tentam se favorecer: a Rússia e a China. Antagonistas dos Estados Unidos na competição por influência mundial, ambos se esforçam em garantir a segurança de suas embarcações enquanto os houthis miram declaradamente navios americanos pelo apoio de Washington a Israel.

O esforço resultou em uma aproximação dos rebeldes sediados no Iêmen com Pequim e Moscou desde que os ataques começaram, após o 7 de outubro. Diplomatas dos dois países têm dialogado com líderes do grupo e autoridades do Irã, patrocinador dos houthis, para buscar garantias de que seus navios podem navegar pela região sem sofrerem ataques. No fim de março, dois navios de guerra russos entraram no Mar Vermelho em um sinal de aval dos rebeldes.

Indiretamente, as garantias fortalecem o comércio da Rússia, da China e do Irã, três membros do Brics, à medida que grandes companhias ocidentais precisam deslocar os navios para outras rotas, a fim de evitar o Mar Vermelho - o que aumenta custos de navegação e enfraquece a presença ocidental no comércio do Oriente Médio.

Para os rebeldes, o enfraquecimento é um objetivo explícito de suas ações e da aproximação com russos e chineses. "Há uma cooperação e um desenvolvimento das relações entre o Iêmen, a Rússia, a China e os estados do Brics", escreveu um dos líderes houthis, Ali al-Qahoum, no seu perfil do X, em março. "Isso é necessário para reprimir os EUA e o Ocidente na crise em torno do Mar Vermelho, para atolar, enfraquecer e tornar inviável a manutenção da unipolaridade".

A Rússia e a China agem de maneira discreta em torno do assunto. Quando os ataques começaram como forma de retaliar a campanha militar de Israel contra o Hamas, os rebeldes declararam mirar os navios com bandeiras de aliados israelenses, mas tanto os russos quanto os chineses, mais afastados do conflito, também foram atingidos. Autoridades dos dois países ficaram preocupadas com os ataques, mas não se envolveram na coligação militar liderada pelos EUA que respondeu com ofensivas aéreas contra as bases houthis e diminuiu a sua capacidade militar. Ao contrário, buscaram o aliado em comum e principal patrocinador estatal do grupo: o Irã.

Diplomatas russos e chineses procuraram Teerã para tentar controlar os ataques desde o início. Esse movimento foi visto com expectativa por autoridades ocidentais, sobretudo americanas, de que ao menos a China - que mantêm relações em alto nível com os EUA, ao contrário da Rússia - iria utilizar o diálogo para pressionar os rebeldes a se abster de impedir o transporte marítimo como um todo. Mas isso não aconteceu.

Segundo afirmou uma autoridade iraniana à agência de notícias Reuters em janeiro, os diálogos diplomáticos entre Teerã e a China foram à respeito apenas dos negócios bilaterais. "Em suma, a China diz: 'Se nossos interesses forem prejudicados de alguma forma, isso terá impacto nos nossos negócios com Teerã. Então, diga aos houthis para mostrarem moderação'", declarou.

Na análise do especialista do centro de estudos Chatam House com foco na presença da China no Oriente Médio, Ahmed Aboudouh, os chineses evitaram uma pressão maior para não se indispor com os iranianos. "Não há provas de que Pequim estivesse interessado em colocar a credibilidade em risco para pressionar por uma desescalada total no Mar Vermelho", afirmou.

Segundo o especialista, há ao menos dois motivos para a cautela. O primeiro é que Pequim não teria influência suficiente sobre Teerã. Apesar de ter sido comprador de 90% do petróleo iraniano em 2023, os investimentos estrangeiros da China no país nos últimos é baixo se comparado a outros da região, como na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos. "Esta relação econômica instável limita a influência da China e alimenta a frustração dos responsáveis iranianos ante a relutância de Pequim em fazer mais para aliviar as pressões sobre a sua economia", acrescentou.

O segundo motivo é o interesse. Com os EUA enfraquecido no Oriente Médio, a China tem mais espaço para aumentar a presença e os seus negócios na região, assim como a Rússia e o Irã, acuados pelas sanções ocidentais nos últimos anos e envolvidos em uma competição maior com os EUA. "Penso que isto é um sintoma, e não uma causa, das tensões entre os EUA e Ocidente, por um lado, e a China e a Rússia, por outro, e dos padrões existentes de concorrência econômica", disse Alexandra Stark, especialista em relações internacionais da Rand Corporation.

Laços estreitos em antagonismo aos EUA

Antes do conflito israelense estourar no Oriente Médio, as relações da Rússia, Irã e da China com os EUA haviam se degradado por diferentes motivos que levaram a sanções e advertências americanas. A resposta foi uma aproximação dos três governos em um bloco de nações em desenvolvimento conhecido como Sul Global.

Historicamente, a Rússia não faz parte do Sul Global, caracterizado em grande parte por países em desenvolvimento e de renda baixa, mas se aproximou do bloco após a guerra na Ucrânia para fugir das sanções ocidentais que a atingiram. Essa aproximação aconteceu em especial com a China e com o Irã, que se tornaram aliados comerciais e, no caso específico de Teerã, militar.

A China, por sua vez, tornou-se uma espécie de líder do bloco após se converter em superpotência e oferecer investimento estrangeiro a nações em desenvolvimento que não veem o Ocidente e os EUA com confiança e interesse para exercer esse papel. Envolvida cada vez mais em uma competição por influência com os americanos, Pequim começou a fazer uso dessa liderança para ter mais forças no equilíbrio de poder mundial.

É assim, por exemplo, que o país articula o uso cada vez maior de sua moeda, o yuan, em oposição ao dólar americano no comércio estrangeiro. E ciente do enfraquecimento dos EUA no Oriente Médio, aproxima-se da região, incluindo exercícios militares conjuntos com as marinhas russas e iranianas a partir de 2019. Os últimos exercícios foram realizados no início de março no Golfo de Omã, no contexto de tensões na região.

Mas o exemplo mais evidente do interesse de Pequim no Oriente Médio foi o esforço para a expansão do Brics, com a inclusão do Irã e outras nações do Oriente Médio e norte da África (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito). "O Brics fortaleceu a presença na região com a entrada destes países", afirmou Vitélio Bustolin, professor e pesquisador de relações internacionais da Universidade Federal do Fluminense (UFF).

"A China está em um esforço de fazer a economia girar em torno dela, mas ainda não conseguiu isso no Mar Vermelho, onde a disputa está concentrada entre EUA, Europa e Irã. É um local importantíssimo para o comércio global, eles sabem disso, e por isso essa entrada das nações no Brics é tão importante", acrescentou.

A análise do especialista ecoa a própria declaração do líder houthi Ali al-Qahoum sobre a cooperação do grupo com os russos e chineses. E ao atender Moscou e Pequim, os houthis também olham para os seus próprios interesses.

O que ganham os Houthis

Quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou em janeiro uma resolução de apelo aos houthis para que interrompessem os ataques contra as embarcações no Mar Vermelho, quatro nações, dentre elas a Rússia e a China, se abstiveram. Os diplomatas russos foram um pouco mais além e trouxeram à tona o apoio dos EUA a Israel, que seria o culpado do conflito pelo conflito no Mar Vermelho.

Os relatos de navios russos e chineses atingidos por mísseis existiam em janeiro e continuam desde então, mas não mudaram a posição diplomática dos dois países. Após meses conversando com o Irã - que não tem autoridade sobre os houthis, apesar de aliado - os diplomatas também sentaram com os houthis para negociações em termos desconhecidos. Uma possível contrapartida, avaliam os especialistas, é o apoio de ambos ao grupo em organizações internacionais, como no próprio Conselho de Segurança.

No momento geopolítico atual, ter aliados diplomáticos para os houthis pode significar a legitimidade do grupo como um ator político do Oriente Médio, após anos sendo considerado pelos EUA e outras organizações um grupo terrorista.

Antes do 7 de outubro, os rebeldes, que controlam 70% da população do Iêmen depois de quase uma década de guerra civil contra o governo oficial, enfrentavam uma resistência interna crescente entre os civis por causa da pobreza, repressão e crise humanitária. Com as ações no Mar Vermelho adotadas com uma retórica de apoio à causa Palestina, entretanto, eles galvanizam o sentimento do mundo árabe e muçulmano e a resistência interna e externa começa a mudar.

"Esta postura retórica (de atribuir os ataques no Mar Vermelho a uma pressão sobre Israel e aliados) também permitiu aos houthis construir legitimidade no Iêmen e em todo o Oriente Médio, desviando a atenção de seus fracassos internos, onde a popularidade diminuiu nos últimos anos", analisou Stark, da Rand Corporation.

Segundo os analistas, é cedo para vislumbrar até onde a Rússia e a China estão dispostas a cooperar com os houthis em seus planos. Há muitos fatores, como a relação destes países com a Arábia Saudita, opositora do grupo, que precisam ser considerados. Apesar disso, qualquer que sejam os rumos que a diplomacia deve tomar, o fato é que o interesse de todos estes atores hoje passam pelo enfraquecimento de Washington. Como declarado, é isso que os une.

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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta sexta-feira, 14, manter a suspensão da rede social Rumble no Brasil. A Primeira Turma da Corte acompanhou o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, que determinou o bloqueio da plataforma de vídeos no país.

Moraes suspendeu a Rumble após a empresa descumprir a determinação judicial que exigia da empresa a indicação de um representante legal no Brasil, o que não ocorreu. O bloqueio é por tempo indeterminado e permanecerá em vigor até que a plataforma cumpra a determinação e pague as multas estipuladas. Os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Flávio Dino votaram para manter a decisão de Moraes.

O embate entre o ministro e a Rumble teve início após a plataforma se recusar a bloquear o perfil do blogueiro Allan dos Santos, que está foragido das autoridades brasileiras. Investigado por disseminação de fake news e ataques a integrantes do STF, Santos já teve seus perfis suspensos em outras redes sociais.

O CEO da Rumble, Chris Pavlovski, reagiu à decisão no X (antigo Twitter), afirmando que não acataria a ordem judicial. "Em vez disso, nos veremos no tribunal. Atenciosamente, Chris Pavlovski", publicou.

O comentário faz referência a uma ação movida pelo Rumble e pela Trump Media - empresa ligada ao ex-presidente Donald Trump - contra Moraes nos Estados Unidos, que acusam o ministro de violar a soberania americana.

Na decisão que determinou o bloqueio da plataforma, Moraes criticou a postura de Pavlovski, afirmando que o empresário "confunde liberdade de expressão com uma inexistente liberdade de agressão, confunde deliberadamente censura com proibição constitucional ao discurso de ódio e de incitação a atos antidemocráticos".

O ministro também ressaltou que redes sociais não podem ser usadas como "escudo" para justificar atividades ilícitas.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, arquivou todas as denúncias feitas pela oposição contra Rosângela da Silva, a Janja, que questionavam e pediam investigações sobre os gastos da primeira-dama em viagens internacionais. A informação foi publicada pela Folha de S. Paulo e confirmada pelo Estadão.

"As representações oferecidas não expõem elementos de desvio de recursos públicos, mas juízos de inconformismo com custos de atividades, ao que se nota, tornados públicos, como devido. Não se tem aqui tema de legalidade apurável no âmbito da competência do Ministério Público", diz trecho da decisão publicada pelo jornal.

Gonet afirmou ainda que a participação de Janja nos eventos oficiais é prevista e que o presidente da República pode delegar ao cônjuge esse tipo de ato protocolar, quando propiciarem "melhores resultados diplomáticos".

O procurador-geral da República citou como exemplo a mulher do ex-presidente Getúlio Vargas, afirmando que não há novidade na atuação de Janja. "É inegável, além disso, a consolidação da tradição no Brasil e em outros tantos países do papel social desempenhado pelas suas assim chamadas primeiras-damas. Entre nós, lembre-se, a mero título exemplificativo, de Darcy Vargas, mulher do presidente Getúlio Vargas, a quem se liga a criação e a direção da Legião Brasileira de Assistência (LBA), de fins assistenciais", escreveu.

Como mostrou o Estadão, parlamentares de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acionaram tanto a Controladoria-Geral da União (CGU) quanto o Tribunal de Contas da União (TCU) para que investigassem as viagens internacionais de Janja, com passagens na classe executiva.

Em fevereiro, a primeira-dama esteve em Roma, na Itália, onde participou de eventos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e se encontrou com o Papa Francisco. As passagens de ida e volta da primeira-dama custaram R$ 34,1 mil.

Janja costuma ser alvo de críticas tanto pelas viagens internacionais representando o Brasil, como por não ter um cargo formal no governo, mas utilizar estrutura e verbas públicas. Como mostrou o Estadão, o "gabinete informal" gerido pela primeira-dama tem pelo menos 12 integrantes, e já gastou ao menos R$ 1,2 milhão em viagens desde o começo do terceiro mandato de Lula.

As críticas provocaram mudanças no comportamento da primeira-dama, como, por exemplo, passar a divulgar seus compromissos nas redes sociais. Janja também desistiu de viajar a Nova York, nesta semana, para chefiar a delegação brasileira e discursar representando o Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).

O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu cinco auditorias nos comitês de cultura criados pelo governo federal após suspeitas de uso político e eleitoral das estruturas pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As representações foram protocoladas por parlamentares da oposição ao governo no Congresso e tramitam sob a relatoria do ministro Augusto Nardes.

Em paralelo, os congressistas preparam um pacote de medidas para pressionar a pasta da ministra Margareth Menezes. Como revelou o Estadão, os comitês estão ligados a ações partidárias e eleitorais, embora tenham sido criados no âmbito de uma política pública que vai custar R$ 59 milhões em dois anos.

Puxados por integrantes do PL, os integrantes da oposição discutem convocação da ministra da Cultura, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e a criação de uma comissão externa para acompanhar o caso.

O líder da oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), considera inadmissível o governo utilizar o aparato estatal para promover agendas ideológicas específicas.

"Tal prática fere os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa previstos na Constituição Federal. Enquanto isso, os verdadeiros artistas e produtores culturais do Brasil estão sendo excluídos de políticas públicas que poderiam fomentar a arte e a geração de empregos no setor cultural", disse.

Para além das possíveis criações de comissões, opositores realizaram uma série de pedidos de informações ao Ministério da Cultura em busca de esclarecimentos e como forma de pressão sobre a pasta. O deputado Kim Kataguiri (União-SP) já pediu a abertura de uma investigação pela Procuradoria-Geral da República.

"Caso essa grave situação seja confirmada, configura-se um potencial desvio de finalidade e a utilização indevida de recursos públicos, em afronta aos princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade, bem como às normas da legislação eleitoral, que vedam expressamente o emprego de verbas públicas em campanhas eleitorais", destacou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Em nota, o Ministério da Cultura informou que não existe impedimento a ONGs dirigidas por militantes partidários, "desde que não envolvam membros de Poder ou servidores públicos responsáveis pelo edital". A pasta também acrescentou que o "modelo do PNCC fortalece o controle social e a fiscalização cidadã, afastando riscos de instrumentalização partidária".

No TCU, os processos de auditoria abertos foram iniciativas do senador Rogério Marinho (PL-RN) e dos deputados Carlos Jordy (PL-RJ), Carla Zambelli (PL-SP), delegado Caveira (PL-PA) e Ubiratan Sanderson (PL-RS).