Em ato esvaziado na Avenida Paulista neste domingo, 30, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e aliados protestaram contra o projeto de lei que anistia os condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Durante o discurso, Boulos afirmou que a base governista vai barrar a proposta na Câmara dos Deputados e provocou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se tornou réu por tentativa de golpe de Estado.
"O mundo gira e nós ainda vamos ter oportunidade de pegar a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e levar a marmita da Cozinha Solidária para ele lá na Papuda", disse Boulos, em referência ao ex-presidente.
Também presente no ato, o líder do governo na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), classificou esta semana como decisiva para o futuro do projeto e reforçou que a base do governo está unida para "enterrar de vez" o "PL da Anistia".
"Estou ligando para os líderes. Esta vai ser a semana em que nós vamos enterrar esse PL da Anistia. Não vão conseguir, eu digo aqui para vocês. Só de votar estão cometendo um crime. Você sabe que prisão preventiva é para qualquer pessoa que quer atrapalhar uma investigação", afirmou Lindbergh.
Também discursaram na manifestação os deputados federais Carlos Zarattini (PT-SP), Orlando Silva (PCdoB-SP), Ivan Valente (PSOL-SP) e Erika Hilton (PSOL-SP), além dos deputados estaduais de São Paulo Antônio Donato (PT) e Ediane Maria (PSOL).
A mobilização foi uma resposta à manifestação organizada por Bolsonaro e pelo pastor Silas Malafaia no Rio de Janeiro, no dia 16 de março, que teve entre suas principais bandeiras justamente a defesa da anistia aos envolvidos no ataque às sedes dos Três Poderes.
O ato foi promovido por entidades ligadas ao PT e ao PSOL. Além de São Paulo, outras sete capitais do País registraram manifestações da esquerda neste domingo: Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Curitiba (PR), Belém (PA), São Luís (MA), Brasília (DF) e Fortaleza (CE).
Na capital paulista, o protesto ocorreu na Praça Oswaldo Cruz, no início da Avenida Paulista, na intersecção da via com a Avenida Bernardino de Campos e a Rua Treze de Maio, na área central da cidade.
Os manifestantes seguiram até a sede do antigo Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), principal órgão de repressão política na ditadura miliar.
Os participantes seguravam cartazes com os dizeres "sem anistia" e em referência a uma eventual prisão de Jair Bolsonaro. Também exibiam bandeiras do Brasil.
O protesto ocorreu também em memória ao golpe militar de 1964, que tomou curso entre os dias 31 de março e 2 de abril. O governo federal decidiu não emitir manifestações oficiais sobre a data.
De acordo com o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), e a ONG More in Common, 6,6 mil pessoas estiveram presentes no ato na capital paulista. A contagem foi feita no momento de pico da manifestação, às 15h15, a partir de fotos aéreas analisadas com software de inteligência artificial.
No método, um drone captou imagens aéreas da multidão e o software analisou automaticamente essas imagens para identificar e marcar as cabeças das pessoas. Utilizando inteligência artificial, o sistema localizou cada indivíduo e calculou quantos pontos correspondiam a pessoas na imagem. Esse processo garantiu uma contagem precisa, mesmo em áreas densas, segundo os responsáveis pelo levantamento.
O Monitor da USP também realizou a estimativa de público do ato convocado por Bolsonaro na orla de Copacabana no dia 16. A manifestação reuniu 18,3 mil pessoas.
Antes do ato, na sexta-feira, 28, Boulos minimizou uma possível diferença de público entre as manifestações em Copacabana e na Praça Oswaldo Cruz. Para o deputado federal, importa mais que a esquerda marque presença em atos de rua. "A questão não é o tamanho do público. Nós não podemos deixar as ruas para o bolsonarismo e ficar na defensiva nesta pauta da anistia", disse o ex-candidato a prefeito de São Paulo.
Na cidade, a capacidade da esquerda em mobilizar atos de rua foi posta em xeque no ato das centrais sindicais de 1º de maio de 2024. Um evento organizado no estacionamento da Neo Química Arena, em Itaquera, na zona leste, contou com público reduzido, frustrando a expectativa de que o ato pudesse impulsionar a pré-candidatura de Boulos.
Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou um pedido de voto em Boulos antecipado, pelo qual foi condenado ao pagamento de uma multa eleitoral. Após o evento, o petista admitiu o público reduzido e o atribuiu a um "ato mal convocado".
PL da Anistia
Um projeto de lei de autoria do deputado federal Major Vitor Hugo (PL-GO) pretende anistiar "todos os que tenham participado de manifestações em qualquer lugar do território nacional" desde o dia 30 de outubro de 2022. Se aprovado, o texto abre brechas para que Bolsonaro seja beneficiado, uma vez que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente esteve à frente de uma tentativa de golpe de Estado que teve os atos de vandalismo à sede dos Três Poderes como ato derradeiro.
Como mostrou o Placar da Anistia do Estadão, mais de um terço da Câmara é favorável a conceder anistia aos presos do 8 de Janeiro. Dos 513 membros da Casa, 424 deram retorno até este sábado, 29: são 192 votos a favor do projeto, 126 contrários e 106 preferiram não responder. O apoio ao projeto é reduzido quando Bolsonaro é incluído no rol de anistiados.
Os 192 deputados federais favoráveis ao projeto podem levar o texto à votação no plenário da Casa, mas o número não é suficiente para aprovar a medida. Enquanto PL e PT são unânimes em votar a favor e contra o projeto, o Centrão é o fiel da balança e está indefinido. O PSD é o partido mais dividido entre adeptos e opositores do projeto.
Oposição critica ato na Paulista
Nas redes sociais, a oposição fez críticas ao ato na Paulista contra o projeto. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), em publicação no X (antigo Twitter), afirmou que "o vazio de Boulos encheu a Paulista de
vazio".
"Vazio total. A manifestação de Boulos comprova que o vazio de dentro pode ser visto pelo vazio de fora. Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz, diz o ditado. Nesse caso, é menos. O vazio de Boulos encheu a Paulista de
vazio", escreveu.
Na mesma rede social, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou uma foto e comentou sobre o número de pessoas no local. "A esquerda conseguiu fazer uma manifestação tão grande, mas tão grande, que dá pra contar quantas pessoas foram na foto kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Eu contei 44 e vocês?", ironizou.