Câmara confronta Supremo e aprova projeto para sustar ação penal do golpe

Política
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A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira, 7, projeto que suspende processo penal por tentativa de golpe contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão também beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os outros 32 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por atos golpistas.

A proposta foi aprovada com amplo apoio dos partidos do Centrão e da oposição. Foram 315 a favor e 143 contra.

Ministros da Primeira Turma do Supremo podem reagir à decisão dos parlamentares. Interlocutores de Alexandre de Moraes, relator dos processos, e Cristiano Zanin, presidente da Turma, dizem que a tendência do colegiado a de é não acatar a decisão.

Na discussão da proposta, que é um projeto de resolução apresentado pelo PL, tanto a base do governo Lula quanto a oposição ao governo deixaram claro que o texto beneficia Bolsonaro e os outros denunciados. Ou seja, a partir da decisão da Câmara, o STF teria de travar a ação penal contra os 34 denunciados por tentativa de golpe. O Supremo, no entanto, já havia avisado que os deputados não poderiam suspender o trâmite judicial contra acusados e réus que não são parlamentares.

Na tribuna da Câmara, o relator do projeto, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), afirmou que a sustação não vai se restringir a Ramagem e também vai alcançar todos os acusados (21 deles já são réus).

'Mesmo vagão'

"Quem fez uma denúncia colocando todo mundo no mesmo vagão? Ou seja, quem escolheu Ramagem e os outros na mesma denúncia? O Ministério Público. O Ministério Público tinha a oportunidade de, sabendo que ele era deputado, ter o cuidado de fazer uma denúncia em apartado", disse Gaspar.

Quando o processo de resolução foi colocado na pauta, o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), disse que a intenção da oposição era livrar Bolsonaro e os outros denunciados dos julgamentos do STF. Lindbergh afirmou ainda que a Corte vai derrubar a medida. "Aprovar isso aqui é levar a Câmara para a irrelevância institucional. Os senhores acham que alguém aqui está dando peitada no Supremo? Isso vai ser totalmente desconsiderado, porque não respeita nenhum fundamento constitucional", disse o petista.

Junto a Bolsonaro, Ramagem foi denunciado pela PGR por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado e virou réu no caso por decisão da Primeira Turma em 26 de março.

"Fica sustado o andamento da Ação Penal contida na Petição n.º 12.100, em curso no Supremo Tribunal Federal, em relação a todos os crimes imputados", diz o parágrafo único do projeto de resolução aprovado. O processo citado é o da denúncia do Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, Ramagem e outros 32 denunciados por tentativa de golpe.

O deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) declarou que, mesmo focando em Ramagem, a consequência da aprovação é a suspensão da ação penal para todos os envolvidos no processo, sem alternativa. "Em nome da imunidade parlamentar, a ação deve ser sustada. É sim ou não, e está acabado", disse.

Tanto Bolsonaro quanto Ramagem são réus pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração do patrimônio público tombado. Somadas, as penas para esses crimes podem chegar a 43 anos de prisão.

O PL se fundamenta num trecho da Constituição que dá à Câmara o poder se sustar o andamento de uma ação penal enquanto o parlamentar mantiver o seu mandato.

A leitura entre os ministros do Supremo, porém, é de que o Poder Legislativo não tem atribuição para decidir sobre ações penais em curso na Corte e de que poderiam ser anuladas apenas as acusações contra Ramagem sobre atos após sua diplomação. Fatos criminosos anteriores à diplomação não podem ser objeto de votação na Câmara, avaliaram esses interlocutores.

Em ofício enviado à Câmara, Zanin já havia alertado os deputados sobre os limites que uma decisão de sustar a ação penal teria. A Constituição dá direito à Câmara e ao Senado de travar ação penal contra deputado ou senador por votação. Para integrantes do STF, essa autorização constitucional não poder ser ampliada para outros réus, como o ex-presidente da República.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O grupo terrorista Hamas libertou um soldado israelense-americano nesta segunda-feira, 12, que estava preso há mais de 1 ano e meio na Faixa de Gaza, em uma ação unilateral. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que viaja ao Oriente Médio nesta semana, descreveu a soltura como "um gesto de boa fé" do grupo para acabar com a guerra.

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A libertação do Hamas foi a primeira desde que Israel rompeu o acordo de cessar-fogo de oito semanas com o grupo em março e retomou os ataques violentos na Faixa de Gaza. O Hamas diz estar disposto a liberar todos os reféns em troca de um cessar-fogo de 5 anos; Israel rejeita a proposta de trégua e promete intensificar os ataques para ocupar o território de Gaza.

Com apoio do governo americano, Israel bloqueia a entrada de ajuda humanitária no território palestino e aprofunda a crise de fome entre os civis.

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O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu se reuniu nesta segunda-feira com o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e o embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, e discutiu a libertação dos reféns restantes. Ele é criticado por não priorizar a soltura dos reféns, em troca da manutenção da guerra.

O papel de Israel na libertação de Alexander não está claro. Israelenses criticam Netanyahu por depender de um líder estrangeiro para ter reféns libertados.

Na abertura do julgamento por acusações de corrupção, onde Netanyahu prestou depoimento, uma mulher perguntou se ele estava "envergonhado de que o presidente dos Estados Unidos esteja salvando seus cidadãos e os esteja deixando para morrer em cativeiro".

Críticos afirmam que a insistência de Netanyahu em manter a guerra em Gaza tem motivação política. Netanyahu afirma que pretende alcançar os objetivos de Israel de libertar os reféns e desmantelar o Hamas.

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