Relator da anistia prevê reduzir penas e fala em negociação com STF e Senado

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Escolhido ontem como relator do projeto de anistia aos condenados pelos atos golpistas, o deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), o Paulinho da Força, pretende trabalhar numa redação que substitua a ideia de perdão amplo por um texto que tenha como foco a redução de penas - uma proposta considerada mais palatável por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O novo relator afirmou que vai conversar com integrantes da Corte, com a cúpula do Senado e com o governo Lula para negociar um "texto pacificado".

Ele disse ainda que vai tentar "agradar a gregos e troianos" em seu parecer sobre o projeto que serviu de base para a aprovação da urgência da matéria (trâmite mais célere): uma proposta que concede anistia aos condenados por atos golpistas a partir do fim de 2022.

Paulinho foi designado para a relatoria pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). "Tenho certeza de que ele conduzirá as discussões do tema com o equilíbrio necessário", disse Motta no X (antigo Twitter). A publicação foi feita minutos depois de o presidente do Solidariedade chegar à residência oficial da Câmara, em Brasília. O deputado, que é presidente nacional do Solidariedade, é considerado um adversário do governo federal no Congresso. Por outro lado, tem sido um dos interlocutores de ministros do Supremo.

Magistrados da Corte já avisaram que não aceitarão a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, nem aos demais envolvidos na trama de ruptura institucional. Se o Congresso der sinal verde para uma proposta de perdão nesses termos, o STF deverá barrar o seu avanço, sob o argumento de que é inconstitucional. Há também resistências no Senado a uma anistia "ampla, geral e irrestrita". O presidente da Casa e do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já afirmou que nenhum projeto de anistia ampla passará pela Casa de Salão Azul.

NO MEIO. Em entrevista à GloboNews, Paulinho se comprometeu a construir um projeto de "pacificação", que não esteja nem "à direita" nem "à esquerda". O parlamentar afirmou não saber se o seu parecer vai "salvar" o ex-presidente, que cumpre prisão domiciliar desde 4 de agosto e foi condenado em 11 de setembro pelo Supremo por cinco crimes, incluído o de golpe de Estado.

"Tenho brincado que vamos tentar fazer aqui o que os gregos e troianos não fizeram, tentar agradar a gregos e troianos", disse. "Se conseguir, melhor. Se não conseguir, é tentar fazer alguma coisa no meio, que possa agradar à maioria da população brasileira."

Sobre Bolsonaro, ele afirmou que tentará construir um consenso. "Não sei se o meu texto vai agradar a todos ou vai salvar o Bolsonaro, digamos assim. É isso o que nós vamos tentar construir, conversando com todos e tentando ver a possibilidade de ter uma maioria. A princípio, nós vamos ter que fazer uma coisa pelo meio."

Em minoria no Congresso, o governo sofreu mais uma derrota, na noite de anteontem, com a aprovação do requerimento que prevê urgência na votação do projeto de anistia. Foram 311 votos favoráveis à urgência, 162 contrários e sete abstenções. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse que, ao pautar aquele requerimento, Motta se rendeu aos deputados do motim. Era uma referência aos parlamentares que sentaram na cadeira do presidente da Câmara, no início de agosto, em protesto contra a prisão domiciliar de Bolsonaro, decretada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

O PT e o governo, porém, têm apresentado posições divergentes sobre a redução de pena a quem participou da trama golpista. Em almoço anteontem com parlamentares e dirigentes petistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ser favorável a um acordo com o Centrão para diminuir o tamanho de algumas penas de condenados do 8 de Janeiro, desde que a medida não alcance Bolsonaro.

'ANISTIA DISFARÇADA'. Nos bastidores, dirigentes, deputados e senadores do PT não esconderam o mal-estar com esse comentário de Lula. "O problema é que redução de pena acaba sendo uma anistia disfarçada", afirmou a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

A ideia também foi debatida em reunião de ministros de partidos de centro com a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, na última terça-feira, segundo relatos colhidos pela reportagem. No encontro, avaliou-se que, se for apenas reduzir penas, o governo não tem por que brigar e seria melhor fechar um acordo e acabar com o assunto de uma vez. Para os governistas, o debate sobre o tema interfere em votações mais relevantes para o Planalto no Congresso.

Após ministros do Supremo avisarem publicamente que os crimes pelos quais Bolsonaro foi condenado não são passíveis de anistia, aliados do ex-presidente passaram a investir num plano B: tentar convencer a Corte a pelo menos manter o ex-presidente em prisão domiciliar para cumprir a pena.

As frequentes idas de Bolsonaro ao hospital podem servir para a defesa alegar o mesmo em relação a uma prisão domiciliar para o ex-presidente. No tribunal, há ministros que defendem esse regime para cumprimento da pena como a solução mais prudente para o caso.

Diante da notícia de que o acerto estava selado, Moraes veio a público anteontem para desmentir o que chamou de informações "totalmente inverídicas sobre um fantasioso acordo". "O STF não faz acordos. O STF aplica a lei e as sanções devidamente impostas pela Primeira Turma da Corte, após o devido processo legal", disse o ministro, em nota.

'LIGHT'. Nos bastidores, contudo, integrantes do tribunal concordariam com uma "anistia light", na qual as penas impostas aos condenados pelo 8 de Janeiro fossem reduzidas. A maioria da Corte, porém, não aprovaria, em exame posterior de constitucionalidade, a anistia a quem tramou um golpe.

No julgamento da semana passada, Moraes e Flávio Dino foram incisivos ao avisar que os crimes contra a democracia não podem ser anistiados. Gilmar Mendes deu declaração na mesma linha quando o julgamento foi encerrado. Em caráter reservado, outros ministros concordam com os colegas, a ponto de se formar maioria nesse sentido.

Paulinho disse ontem ter uma "relação histórica" com o STF e enfatizou que conhece Moraes desde quando era advogado. "Não queremos tentar resolver um problema e ter um conflito com os ministros do Supremo. Aí não resolve. Então, por isso, também vou dialogar com o Supremo."

O relator afirmou ainda que "não existe" a possibilidade de que o projeto pare no Senado. Ele disse ter conversado na semana passada com Alcolumbre, assim como o presidente da Câmara tem feito. "A ideia é construir alguma coisa conjunta com o Senado." Paulinho também declarou que vai estabelecer um diálogo com a base governista e disse acreditar que terá os votos de toda a bancada da esquerda na Câmara. Segundo o relator, o risco de a anistia não ser votada é "zero".

Em outra categoria

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, finalizaram uma série de acordos para aprofundar a parceria estratégica entre os países, segundo comunicado da Casa Branca desta terça-feira, 18.

Mohammed bin Salman prometeu que a Arábia Saudita aumentará seus compromissos de investimento nos EUA para quase US$ 1 trilhão. No âmbito de defesa, Trump aprovou um grande pacote de futuras entregas de jatos F-35 e garantiu que a Arábia Saudita comprará quase 300 tanques americanos, disse a Casa Branca.

"As principais conquistas incluem ainda o Acordo de Cooperação Nuclear Civil, avanços na cooperação em minerais críticos e um Memorando de Entendimento sobre Inteligência Artificial - todos os quais destacam o compromisso dos Estados Unidos em garantir acordos que beneficiem diretamente o povo americano", acrescentou o governo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta terça-feira, 18, que a regulamentação excessiva de inteligência artificial por estados americanos está ameaçando minar esse "grande motor de crescimento".

"Alguns estados estão até tentando incorporar a ideologia de diversidade em modelos de IA", escreveu ele na rede Truth. "Devemos ter um padrão federal único em vez de um mosaico de 50 regimes regulatórios estaduais. Se não o fizermos, a China nos alcançará facilmente na corrida pela IA", acrescentou.

O Senado dos Estados Unidos aprovou nesta terça-feira, 18, por unanimidade, um projeto de lei que obriga as autoridades a tornar públicos arquivos do caso do falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein, horas depois de a proposta ter passado pela Câmara dos Representantes.

Os senadores utilizaram um procedimento especial para que o texto fosse considerado aprovado de forma automática, sem debates e sem emendas. A proposta de lei será enviada ao gabinete de Donald Trump para sua promulgação.

O presidente americano está preparado para assinar o projeto de lei sobre os arquivos de Epstein assim que ele chegar à sua mesa, disse um funcionário da Casa Branca.

Jeffrey Epstein era um magnata e criminoso sexual que se suicidou em sua cela em agosto de 2019, antes de enfrentar um julgamento federal por uma série de escândalos ligados à sua rede de menores de idade abusadas sexualmente por ele e alguns de seus convidados, em muitos casos personalidades mundiais.

A lei aprovada pelo Congresso dos EUA obriga o Departamento de Justiça a publicar documentos não confidenciais da investigação sobre o financista e sua morte na prisão.

A medida foi tomada depois que os democratas, acompanhados por um pequeno grupo de dissidentes republicanos, conseguiram levar a legislação à votação na Câmara, apesar da veemente oposição de Trump e dos líderes do Partido Republicano. Isso refletiu como o caso Epstein e a forma como o presidente lidou fragmentaram a coalizão política de Trump e sugeriram uma fragilidade em seu controle absoluto sobre o partido.

A moção para levar o projeto ao plenário ficou parada por meses na Câmara e precisava de mais uma assinatura para avançar. O destino do projeto mudou na semana passada depois da reabertura do governo federal, que possibilitou a posse da deputada Adelia Grijalva. A democrata deu a última assinatura à moção.

Em paralelo, a divulgação de e-mails de Epstein obtidos por meio de liminar pelo Comitê de Supervisão da Câmara, também na semana passada, aumentou a pressão sobre Trump e os republicanos.

Nos mais de 20 mil arquivos, o presidente é citado mais de 1,6 mil vezes, e em alguns e-mails Epstein diz que Trump sabia de seus crimes e passou horas com uma das vítimas. O republicano nega qualquer conduta criminosa e considera o assunto uma "farsa".

Na segunda-feira, Trump disse que assinaria o projeto de lei se ele fosse aprovado por ambas as casas do Congresso, acrescentando: "Deixem o Senado analisá-lo".

A votação desta terça reforça as exigências para que o Departamento de Justiça divulgue os arquivos do caso de Epstein, um empresário influente que se suicidou em uma prisão de Manhattan enquanto aguardava julgamento em 2019, acusado de abuso sexual e tráfico de menores.

Trump muda de posição

Trump afirmou ter rompido relações com Epstein há anos, mas tentou durante meses contornar as pressões pela divulgação dos documentos. Na segunda-feira, ele disse a repórteres que Epstein tinha ligações mais com democratas e que não queria que os arquivos de Epstein "prejudicassem o grande sucesso do Partido Republicano".

Ainda assim, muitos na base republicana continuam a exigir a divulgação dos arquivos. Para aumentar essa pressão, várias sobreviventes dos abusos de Epstein comparecerão ao Capitólio nesta terça para pressionar pela divulgação dos arquivos. Elas também se reuniram com Johnson e protestaram em frente ao Capitólio em setembro, mas tiveram que esperar dois meses pela votação.

Isso porque Johnson manteve a Câmara fechada para atividades legislativas por quase dois meses e também se recusou a empossar a deputada democrata Adelita Grijalva, do Arizona, durante a paralisação do governo.

Após vencer uma eleição suplementar em 23 de setembro, Grijalva havia prometido fornecer o voto crucial de número 218 para a petição referente ao projeto de lei sobre os arquivos de Epstein. Mas somente depois de tomar posse na semana passada ela pôde assinar a petição de desobstrução, garantindo a maioria necessária na Câmara, composta por 435 membros.

Rapidamente ficou evidente que o projeto de lei seria aprovado, e tanto Johnson quanto Trump começaram a ceder. No domingo, Trump disse que os republicanos deveriam votar a favor do projeto.

O deputado Thomas Massie, republicano do Kentucky e autor do projeto de lei juntamente com o deputado democrata Ro Khanna, disse que Trump "cansou de me ver ganhar. Ele queria se juntar a nós."

Mesmo com todos votando a favor da divulgação dos arquivos, os líderes republicanos descartaram a medida como uma "votação política para inglês ver", orquestrada por democratas que apenas fingiam interesse no caso Epstein na esperança de prejudicar politicamente Trump. E embora o presidente tenha afirmado que sancionaria o projeto de lei caso chegasse à sua mesa, seus defensores questionaram se o Departamento de Justiça de fato divulgaria os arquivos.

*Com informações de agências internacionais.