Diretor da PF critica descapitalização da PF, conflito de leis e pressa em relatório de Derrite

Política
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O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, criticou a celeridade na discussão do PL Antifacção na Câmara dos Deputados, o conflito entre legislações e o que chamou de "descapitalização" da corporação prevista no relatório do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP).

Rodrigues é ouvido nesta terça-feira, 18, na comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Senado que investiga o crime organizado. O diretor de inteligência da PF, Leandro Almada, também era esperado, mas se ausentou diante da operação desta manhã para apurar crimes envolvendo a venda do Banco Master ao BRB.

O projeto de lei pode ser votado nesta terça em meio a uma insatisfação generalizada com o relatório produzido por Derrite, da bancada bolsonarista à petista. O diretor-geral da PF se queixou dos pontos que levam, segundo ele, a uma redução de recursos dos fundos que financiam o trabalho da corporação e ao conflito entre diferentes legislações sobre o mesmo tema.

Ele afirmou que, após Derrite retirar os pontos que poderiam restringir a atuação da PF - uma vez que condicionava a investigação federal sobre facções a uma solicitação do delegado de polícia estadual ou do Ministério Público estadual, ou por iniciativa própria da PF, mediante comunicação às autoridades estaduais - ainda restam trechos problemáticos.

"Remanescem (na versão atual do relatório) alguns pontos que precisam de melhor maturação, por exemplo, estamos propondo uma legislação contra o crime organizado, ao passo que já existe uma legislação ao crime organizado. E isso poderia gerar um conflito de normas, que trará prejuízos, uma grande confusão processual, nulidades, trocas de foros, de competências, toda uma sorte de prejuízos em vez de ganhos para o sistema investigatório", declarou Rodrigues.

Em seguida, ele criticou a retirada de recursos da PF, num momento em que ele pleiteia junto ao Palácio do Planalto mais verba para investimentos e combate ao crime. O orçamento anual da PF hoje é de R$ 1,8 bilhão, e a cúpula da corporação avalia que seria preciso o dobro de servidores, hoje na faixa de 15 mil agentes, para dar conta de todo o trabalho demandado.

"Outro (ponto) afeta a PF, que é a questão dos recursos. Estamos falando de descapitalizar o crime organizado, não podemos fazer uma proposta que descapitalize a PF. Há ali a retirada de recursos dos fundos federais (Funapol, Fundo Nacional de Segurança Pública, fundo antidrogas), e isso traria prejuízo, redução de recursos para a PF. A gente busca o contrário, a ampliação do orçamento da PF", afirmou.

Derrite elaborou quatro versões em menos de uma semana de seu relatório sobre o PL Antifacção, de autoria do Ministério de Justiça. O processo foi amplamente criticado por governistas e definido pelo ministro Ricardo Lewandowski como "açodado".

"Um projeto dessa envergadura necessariamente precisa de um tempo de debate, de discussão. Tantas boas cabeças que há neste parlamento, na sociedade civil, nas polícias, no Ministério Público, no Judiciário, precisam ser ouvidas, participar, para a gente ter uma legislação que atenda ao interesse publico, a necessidade da melhora dos instrumentos para o sistema de justiça criminal", declarou.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse na segunda-feira, 17, estar confiante que uma nova versão do relatório de Derrite "terá apoio amplo" no plenário da Casa. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que não há acordo com a Câmara dos Deputados sobre o projeto de lei antifacção. O projeto, se aprovado, precisará do aval do Senado.

"Não tem [acordo] mesmo. Que eu tenha participado, não. Até porque ele é uma verdadeira metamorfose ambulante. Na minha opinião, o melhor projeto sairá na hora que as pessoas, nós da classe política não quisermos usar isso como elemento de disputa eleitoral. Enquanto virar disputa eleitoral, é difícil sair", declarou o senador no Palácio do Planalto.

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O presidente dos EUA, Donald Trump, e o Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, finalizaram uma série de acordos para aprofundar a parceria estratégica entre os países, segundo comunicado da Casa Branca desta terça-feira, 18.

Mohammed bin Salman prometeu que a Arábia Saudita aumentará seus compromissos de investimento nos EUA para quase US$ 1 trilhão. No âmbito de defesa, Trump aprovou um grande pacote de futuras entregas de jatos F-35 e garantiu que a Arábia Saudita comprará quase 300 tanques americanos, disse a Casa Branca.

"As principais conquistas incluem ainda o Acordo de Cooperação Nuclear Civil, avanços na cooperação em minerais críticos e um Memorando de Entendimento sobre Inteligência Artificial - todos os quais destacam o compromisso dos Estados Unidos em garantir acordos que beneficiem diretamente o povo americano", acrescentou o governo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta terça-feira, 18, que a regulamentação excessiva de inteligência artificial por estados americanos está ameaçando minar esse "grande motor de crescimento".

"Alguns estados estão até tentando incorporar a ideologia de diversidade em modelos de IA", escreveu ele na rede Truth. "Devemos ter um padrão federal único em vez de um mosaico de 50 regimes regulatórios estaduais. Se não o fizermos, a China nos alcançará facilmente na corrida pela IA", acrescentou.

O Senado dos Estados Unidos aprovou nesta terça-feira, 18, por unanimidade, um projeto de lei que obriga as autoridades a tornar públicos arquivos do caso do falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein, horas depois de a proposta ter passado pela Câmara dos Representantes.

Os senadores utilizaram um procedimento especial para que o texto fosse considerado aprovado de forma automática, sem debates e sem emendas. A proposta de lei será enviada ao gabinete de Donald Trump para sua promulgação.

O presidente americano está preparado para assinar o projeto de lei sobre os arquivos de Epstein assim que ele chegar à sua mesa, disse um funcionário da Casa Branca.

Jeffrey Epstein era um magnata e criminoso sexual que se suicidou em sua cela em agosto de 2019, antes de enfrentar um julgamento federal por uma série de escândalos ligados à sua rede de menores de idade abusadas sexualmente por ele e alguns de seus convidados, em muitos casos personalidades mundiais.

A lei aprovada pelo Congresso dos EUA obriga o Departamento de Justiça a publicar documentos não confidenciais da investigação sobre o financista e sua morte na prisão.

A medida foi tomada depois que os democratas, acompanhados por um pequeno grupo de dissidentes republicanos, conseguiram levar a legislação à votação na Câmara, apesar da veemente oposição de Trump e dos líderes do Partido Republicano. Isso refletiu como o caso Epstein e a forma como o presidente lidou fragmentaram a coalizão política de Trump e sugeriram uma fragilidade em seu controle absoluto sobre o partido.

A moção para levar o projeto ao plenário ficou parada por meses na Câmara e precisava de mais uma assinatura para avançar. O destino do projeto mudou na semana passada depois da reabertura do governo federal, que possibilitou a posse da deputada Adelia Grijalva. A democrata deu a última assinatura à moção.

Em paralelo, a divulgação de e-mails de Epstein obtidos por meio de liminar pelo Comitê de Supervisão da Câmara, também na semana passada, aumentou a pressão sobre Trump e os republicanos.

Nos mais de 20 mil arquivos, o presidente é citado mais de 1,6 mil vezes, e em alguns e-mails Epstein diz que Trump sabia de seus crimes e passou horas com uma das vítimas. O republicano nega qualquer conduta criminosa e considera o assunto uma "farsa".

Na segunda-feira, Trump disse que assinaria o projeto de lei se ele fosse aprovado por ambas as casas do Congresso, acrescentando: "Deixem o Senado analisá-lo".

A votação desta terça reforça as exigências para que o Departamento de Justiça divulgue os arquivos do caso de Epstein, um empresário influente que se suicidou em uma prisão de Manhattan enquanto aguardava julgamento em 2019, acusado de abuso sexual e tráfico de menores.

Trump muda de posição

Trump afirmou ter rompido relações com Epstein há anos, mas tentou durante meses contornar as pressões pela divulgação dos documentos. Na segunda-feira, ele disse a repórteres que Epstein tinha ligações mais com democratas e que não queria que os arquivos de Epstein "prejudicassem o grande sucesso do Partido Republicano".

Ainda assim, muitos na base republicana continuam a exigir a divulgação dos arquivos. Para aumentar essa pressão, várias sobreviventes dos abusos de Epstein comparecerão ao Capitólio nesta terça para pressionar pela divulgação dos arquivos. Elas também se reuniram com Johnson e protestaram em frente ao Capitólio em setembro, mas tiveram que esperar dois meses pela votação.

Isso porque Johnson manteve a Câmara fechada para atividades legislativas por quase dois meses e também se recusou a empossar a deputada democrata Adelita Grijalva, do Arizona, durante a paralisação do governo.

Após vencer uma eleição suplementar em 23 de setembro, Grijalva havia prometido fornecer o voto crucial de número 218 para a petição referente ao projeto de lei sobre os arquivos de Epstein. Mas somente depois de tomar posse na semana passada ela pôde assinar a petição de desobstrução, garantindo a maioria necessária na Câmara, composta por 435 membros.

Rapidamente ficou evidente que o projeto de lei seria aprovado, e tanto Johnson quanto Trump começaram a ceder. No domingo, Trump disse que os republicanos deveriam votar a favor do projeto.

O deputado Thomas Massie, republicano do Kentucky e autor do projeto de lei juntamente com o deputado democrata Ro Khanna, disse que Trump "cansou de me ver ganhar. Ele queria se juntar a nós."

Mesmo com todos votando a favor da divulgação dos arquivos, os líderes republicanos descartaram a medida como uma "votação política para inglês ver", orquestrada por democratas que apenas fingiam interesse no caso Epstein na esperança de prejudicar politicamente Trump. E embora o presidente tenha afirmado que sancionaria o projeto de lei caso chegasse à sua mesa, seus defensores questionaram se o Departamento de Justiça de fato divulgaria os arquivos.

*Com informações de agências internacionais.