Nise admite à CPI não saber que estudo pró-cloroquina havia sido descontinuado

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A médica Nise Yamaguchi, uma das principais defensoras da cloroquina como tratamento para pacientes de covid-19, admitiu à CPI que não sabia que o estudo citado por ela para indicar o uso do remédio como política pública havia sido descontinuado em dezembro.

"Esse estudo começou em abril de 2020 e foi encerrado em dezembro de 2020, encerrado por não demonstrar evidências suficientes. Isso pode ser encontrado em vários documentos e foi formalmente comunicado aos órgãos americanos salvo engano em 12 de dezembro de 2020", afirmou o senador Alessandro Vieira. "Nós não conseguimos encontrar nenhum outro tipo de estudo na Fundação Henry Ford", acrescentou.

"Essa informação eu não tinha", respondeu a médica.

"Pois é. Ela é de dezembro do ano passado", replicou o senador. Ele passou em seguida a defender o Instituto de Medicina Tropical do Amazonas, que bolsonaristas rotineiramente acusam - citando informações falsas - de ter usado pessoas como cobaias, aplicado dosagens não recomendadas de cloroquina com o fim de descredibilizar o medicamento, resultando em morte.

Alguns minutos antes, a dra. Nise havia tentado refutar o estudo em questão, sugerindo que essa pesquisa era responsável pela decisão - da qual ela discorda - dos Estados Unidos e do Canadá de abandonarem a cloroquina. Ela tinha sido indagada sobre o fato de que vários países do mundo, como Israel e nações da União Europeia, desistiram de contar com a substância que ela defende.

Em seu depoimento à CPI, no último dia 25, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, Mayra Pinheiro, também tentou desacreditar o Instituto de Medicina Tropical do Amazonas. Ela chegou a falar que 22 pessoas que morreram por terem recebido uma dosagem quatro vezes maior do que a recomendada pelo Ministério da Saúde - informação que não é verdade. A dosagem superior do estudo não era quatro vezes maior que o que é preconizado pelo ministério. Além disso, nem todas as 22 pessoas que faleceram haviam recebido a dosagem mais alta. Por fim, os óbitos não foram atestados como decorrentes do uso da droga, mas por síndrome respiratória aguda ou septicemia, consequências da covid. Os resultados - de que não se deveria usar dosagem alta para casos graves - foram publicados na revista científica Jama, da Associação Médica Americana, em abril de 2020.

"Da mesma forma como é também do final do ano, começo do ano, a informação de que o estudo feito pelo Instituto de Medicina Tropical do Amazonas, em nenhum fórum onde ele foi questionado, houve apontamento de irregularidade ou crime. E a gente está vendo aqui diariamente acusações reproduzindo informações que já são sabidamente falsas", afirmou Vieira ao rebater Nise. Foram arquivados os procedimentos abertos para investigar a pesquisa no Conselho Regional de Medicina e no Ministério Público Federal.

Nesse momento, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também saiu em defesa dos pesquisadores Amazonas e condenou os seus detratores.

"Qualquer acusação contra os profissionais do Instituto de Medicina Tropical e da Fiocruz do Amazonas é de uma irresponsabilidade tamanha. Fora o conhecimento técnico-científico que eles têm, de um respeito grande, não creio que alguém faria um teste simplesmente para matar pessoas só para dizer que a cloroquina não serviria. Isso é uma brincadeira que se levantou de uma forma tão vil, tão cruel, contra pais de família, contra profissionais", afirmou o presidente da CPI.

"Continuam perseguidos (os pesquisadores), ameaçados por gangues travestidos de pessoas honestas e do bem, como se fossem pessoas que irão para o céu quando forem a óbito. Não vão, vão todos para o inferno porque só conseguem fazer o mal, um mal muito grande propagando mentiras e inverdades contra famílias de bem e profissionais que são respeitados no mundo todo", concluiu Aziz.

Um pouco antes, Vieira afirmou que a depoente estava ignorando estudos sérios e tentando valorizar pesquisas que foram encerradas. Ele pediu que a médica citasse levantamentos de um alto padrão de qualidade - com revisão sistemática, produzidos por instituições sérias e publicados em revistas científicas reconhecidas - na qual ela estaria se alicerçando para defender cloroquina. A médica revirou papeis que havia levado consigo à CPI, mas não soube citar uma publicação. Apenas mencionou o estudo (descontinuado) da Fundação Henry Ford. Ficou de enviar mais referências à CPI.

Em abril do ano passado, quando a médica passou a defender a cloroquina, ainda não havia evidências definitivas sobre a eficácia da droga, apenas a ausência de provas de que ela funcionava para pacientes com covid-19. Atualmente, porém, os medicamentos do chamado "tratamento precoce" tiveram a sua ineficácia comprovada, de acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A Organização Mundial da Saúde (OSM) também emitiu nota em março alertando que "evidências de alta certeza" - ou seja, que dificilmente mudarão em novos estudos rigorosos - apontam que a hidroxicloroquina "não teve efeito significativo sobre a morte e admissão no hospital". As pesquisas envolveram a participação de milhares de pessoas.

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O presidente do Equador, Daniel Noboa, afirmou que vai solicitar a ajuda do Exército brasileiro, dos Estados Unidos e de países europeus para combater o crime organizado no país, considerado o mais violento da América Latina em 2024. A declaração foi dada em entrevista ao jornal britânico BBC nesta terça-feira, 18.

São Paulo, 19/03/2025 - Os exércitos fariam parte de uma força militar estrangeira, que Noboa propõe para ajudar no combate ao narcotráfico do país. Ele já havia falado sobre o plano antes, mas esta foi a primeira vez que o presidente nomeou países, incluindo o Brasil. "Setenta por cento da cocaína do mundo sai pelo Equador. Precisamos da ajuda de forças internacionais", disse à BBC.

Fontes do Exército brasileiro ouvidas pelo Estadão disseram que é improvável que tropas sejam enviadas. A atuação de forças estrangeiras costuma ser utilizado como recurso extremo em países com crises e tende a ser abordado no âmbito da ONU, que aprovam, por exemplo, as missões de paz. O Brasil liderou uma dessas missões no passado, no Haiti, mas esse não é o caso do Equador.

Noboa, que disputa o segundo turno das eleições presidenciais contra a candidata Luisa González no dia 13, afirmou que também quer que o presidente dos EUA, Donald Trump, passe a considerar as organizações criminosas do país como terroristas, a exemplo do que fez contra os cartéis de drogas do México.

Desde que assumiu o cargo em novembro de 2023, o governo Noboa enfrenta uma crise de segurança que o levou a declarar conflito armado interno em janeiro do ano passado e a alterar a legislação para endurecer as leis. O decreto autorizou o Exército equatoriano a atuar nas ruas do país.

Apesar disso, a violência no Equador continua em alta. Em janeiro, a polícia do Equador registrou o janeiro mais violento da história. Foram 600 homicídios, contra 479 no ano passado. Nos primeiros 50 dias deste ano, 1,3 mil homicídios foram registrados - uma média de um assassinato a cada hora.

Os homicídios estão relacionados, em sua maioria, ao narcotráfico. O Equador se tornou um dos principais exportadores de cocaína para os Estados Unidos nos últimos anos. O fluxo fortaleceu diferentes facções criminosas, que disputam territórios entre si e atuam em diversos negócios ilícitos além do narcotráfico, como mineração ilegal e tráfico de armas.

Segundo um relatório da Iniciativa Global Contra o Crime Transnacional Organizado de 2024, uma das facções presentes no Equador é o Primeiro Comando da Capital (PCC). Facções da Albânia, México e Itália também atuam no país, além de grupos locais como Los Choneros e Los Lobos.

Segundo a BBC, Noboa ordenou que o Ministério das Relações Exteriores busque acordos de cooperação com "nações aliadas" para apoiar a polícia e o exército do Equador e quer mudar a Constituição para permitir a instalação de bases militares estrangeiras no país.

Críticos do presidente afirmam que o plano, no entanto, tem um caráter eleitoral. Com a permanência da violência, esse é o tema de maior preocupação entre os equatorianos, de acordo com as pesquisas eleitorais. No primeiro turno, Noboa, que era o favorito, ficou à frente da adversária Luisa González, do Movimento pela Revolução Cidadã, por 0,5%.

Analistas de segurança afirmam que a estratégia adotada pelo presidente com relação a segurança é insuficiente, porque não englobam o fortalecimento de instituições. "São necessárias estratégias mais abrangentes para enfraquecer as estruturas e redes do crime organizado", disse Robert Muggah, diretor do Instituto Igarapé.

Israel disse nesta quarta-feira que suas tropas retomaram parte de um corredor que divide a Faixa de Gaza, e seu ministro da Defesa advertiu que os ataques se intensificarão até que o Hamas liberte dezenas de reféns e abandone o controle do território.

Os militares afirmaram que retomaram parte do Corredor Netzarim, onde haviam se retirado anteriormente como parte de um cessar-fogo iniciado em janeiro. Essa trégua foi rompida na terça-feira, 19, por ataques aéreos israelenses que mataram mais de 400 palestinos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

Em Israel, a retomada de ataques aéreos e das manobras terrestres levantou preocupações sobre o destino de cerca de duas dúzias de reféns mantidos pelo Hamas que, acredita-se, ainda estejam vivos. Milhares de israelenses participaram de manifestações contra o governo em Jerusalém e muitos pediram um acordo para trazer os prisioneiros de volta para casa.

Um porta-voz do Hamas, Abdel-Latif al-Qanou, disse que as ações das forças terrestres em Gaza eram um sinal claro de que Israel havia desistido da trégua e estava reimpondo um "bloqueio".

Também hoje, as Nações Unidas declararam que um de seus funcionários foi morto em Gaza e outros cinco ficaram feridos em um aparente ataque a uma casa de hóspedes. Não ficou imediatamente claro quem estava por trás do ataque, de acordo com a ONU.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discutiu com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, o fornecimento de eletricidade e as usinas nucleares da Ucrânia em uma "muito boa" conversa telefônica realizada nesta quarta-feira, 19. Trump afirmou que "os EUA poderiam ser muito úteis na operação dessas usinas com sua expertise em eletricidade e utilidades", conforme comunicado assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e pelo enviado especial americano, Mike Waltz.

"O controle americano dessas usinas seria a melhor proteção para essa infraestrutura", acrescenta o texto. Durante a conversa, Trump e Zelensky discutiram e concordaram com a implementação de um cessar-fogo parcial no setor energético. Equipes técnicas se reunirão na Arábia Saudita nos próximos dias para discutir a expansão do cessar-fogo para o Mar Negro. "Zelensky reiterou sua disposição para adotar um cessar-fogo total", completa o comunicado.

Trump também atualizou Zelensky sobre sua conversa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizada na terça-feira. "Eles concordaram em compartilhar informações de maneira estreita entre as equipes de defesa à medida que a situação no campo de batalha evolui", segundo o texto. O presidente ucraniano solicitou sistemas de defesa aérea adicionais para proteger seus civis, e Trump concordou em trabalhar com ele para "encontrar opções disponíveis, particularmente na Europa".

Os presidentes dos EUA e da Ucrânia concordaram que todas as partes devem continuar os esforços para implementar um cessar-fogo total. "Os líderes concordaram que Ucrânia e Estados Unidos continuarão trabalhando juntos para alcançar um fim real para a guerra, e que a paz duradoura sob a liderança do presidente Trump pode ser alcançada", pontua o comunicado.