Bolsonaro mantém discurso de supernotificação de covid-19 e segue citando TCU

Política
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O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar, sem apresentar provas, que existe "forte indício" de supernotificação de mortes por covid-19 nos Estados. Ele acusou novamente governadores de inflarem óbitos para receber recursos e mencionou mais uma vez um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o tema. A Corte já o desmentiu duas vezes e reiterou que não produziu qualquer dado sobre supernotificação de mortes ou casos da doença, bem como não há julgamentos sobre o tema.

"Está muita polêmica no TCU ainda, ou já acalmou isso aí?", indagou Bolsonaro a apoiadores ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira, 9. Em seguida, o mandatário disse que esclareceria o assunto, citou "dois acórdãos" do TCU e disse que não sabia o motivo de um dos documentos ainda não ter sido retirado do ar. Bolsonaro retomou o discurso de que o órgão "disse que critério mais importante para recursos a Estados é notificação" de casos e óbitos por covid-19.

"O próprio TCU disse que a prática poderia não ser salutar, pois incentivaria supernotificações. Governadores, para receber mais dinheiro, notificavam mais covid", disse. "Tem gente querendo desqualificar o que eu estou falando para não incriminar governadores. Eu entendo que realmente isso tem que ser analisado e, no meu entendimento, sim, tivemos supernotificação no Brasil e tem alguns governadores que praticaram isso aí", afirmou o presidente.

Bolsonaro disse não saber o motivo pelo qual o órgão retirou do ar um dos documentos. A Corte informou ao Estadão/Broadcast que apura o caso internamente. Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, auditor do TCU, é investigado pelo órgão por ter sido autor do estudo paralelo citado por ele. Na conversa com apoiadores, o presidente não citou essa investigação.

De acordo com o jornal O Globo, o funcionário confessou à chefia imediata que é o autor do documento e que comentou o teor de suas análises pessoais com o pai, militar e amigo pessoal de Bolsonaro. O pai de Marques, segundo o auditor teria relatado a seus chefes, teria enviado o texto ao presidente.

Na manhã desta quarta, segundo o jornal Correio Braziliense, a ministra do TCU Ana Arraes, autorizou a abertura de processo administrativo disciplinar contra o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, que já foi destituído de suas funções de supervisor no Núcleo de Supervisão de Auditoria do tribunal. No lugar dele, vai assumir Fábio Mafra, de acordo com o jornal.

"O TCU disse que o critério de transferência de recursos para os Estados por mortes não era o mais salutar", disse Bolsonaro. O presidente voltou a repetir também que o documento indicava que, por "estudos estatísticos não conclusivos", cerca de 45% das mortes oficiais poderiam ser resultado de supernotificação.

Bolsonaro também defendeu que o número de mortes por ano no País cresce anualmente, e que se "retirados" os dados de covid, a taxa de óbitos anual no Brasil teria um "crescimento negativo", justificando que este seria um dos indícios da supernotificação. "Ano passado foram 200 mil mortes. Se tirar a metade disso, você vai ver que o Brasil é um dos países com menor taxa de óbitos por milhão de habitantes", repetiu.

O presidente ainda ironizou os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado e atacou o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL). "Não vamos agir como gênios em saúde da CPI, o Renan Calheiros e Omar Aziz".

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."