Casa Civil expõe plano de expansão do Progressistas

Política
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Em 1976, o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tinha apenas oito anos quando seu conterrâneo piauiense, o então deputado federal e presidente da Arena, Francelino Pereira, comemorou o resultado da legenda nas eleições municipais afirmando que ela se tornara "o maior partido do Ocidente". Se, na época, o desempenho celebrado por Francelino (eleito por Minas) era impulsionado pelos métodos da ditadura militar, agora, 45 anos depois, é a vez de Nogueira tentar aproveitar o apoio do Planalto para liderar o projeto nacional do Progressistas (PP) de se tornar o maior partido do País.

Descendente direto da Arena, o PP é presidido nacionalmente por Nogueira, que pretende aproveitar sua entrada num dos principais ministérios do governo de Jair Bolsonaro para deflagrar a estratégia expansionista do partido já nas próximas eleições.

A ideia do novo chefe da Casa Civil é que o partido consiga eleger a maior bancada de deputados federais no próximo ano - hoje é a terceira maior da Câmara, com 41 - e amplie sua representatividade no Senado (tem sete parlamentares). Se isso ocorrer, vai garantir ao PP uma maior fatia no bolo de recursos vindos do Fundo Partidário e a perspectiva de controle dos principais espaços políticos do Congresso.

Além disso, a legenda quer eleger o maior número possível de governadores, já que hoje administra apenas o Acre, com Gladson Cameli. Esse plano inclui o próprio Nogueira, que é pré-candidato ao governo do Piauí e faz oposição ao governador petista Wellington Dias - seu ex-aliado, que não poderá ser candidato. Nogueira não bateu o martelo sobre a candidatura porque isso abreviaria sua permanência à frente da Casa Civil, já que teria de se desincompatibilizar em abril. Como tem mandato de senador até 2027, poderia se manter no ministério sem precisar disputar eleição, e reassumiria a cadeira, caso Bolsonaro não se reeleja.

Num call com aliados no Piauí, na semana passada, ele comunicou o convite que tinha recebido para ser ministro e pediu a opinião de todos. A conversa incluiu o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes, que pode vir a assumir seu lugar na disputa regional. Os participantes do call apoiaram a entrada dele no ministério e confirmaram que o líder do PP não definiu se manterá a candidatura ao governo.

Presidente. Essa definição passa pela evolução do plano expansionista do Progressistas. Na mesa de negociações está a possibilidade de o próprio Bolsonaro se filiar à legenda para disputar a reeleição. A entrada do presidente é vista no partido como uma oportunidade favorável para aumentar a bancada de parlamentares, uma vez que Bolsonaro traria boa parte de seus aliados.

Ministros e ex-integrantes do governo também negociam para se filiar ao partido na esteira da aproximação com o governo. É o caso do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que está deixando o PSD. O comando do PP ofereceu ainda a legenda para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e para a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, caso os dois decidam concorrer a cargos eletivos.

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que estuda concorrer a deputado estadual em São Paulo, também pode retornar à legenda a qual já foi filiado. Hoje, ele está sem partido depois de ter sido expulso do Novo, pelo qual concorreu a deputado federal em 2018, mas ficou com a primeira suplência.

Pragmatismo. Se a aliança com Bolsonaro funciona como um motor para o plano expansionista, o pragmatismo do PP não vai impedir que alianças com a oposição sejam feitas para 2022. A executiva nacional do partido já definiu que as realidades regionais serão respeitadas nos acordos políticos. Isso evita problemas em Estados importantes, especialmente no Nordeste, onde o PP é alinhado a governos de esquerda.

Vice-governador na Bahia, João Leão sonha em se tornar o candidato ao governo com apoio do PT local. A aliança com Leão na cabeça de chapa é improvável, uma vez que os petistas devem lançar o senador Jaques Wagner para a sucessão do governador Rui Costa. Mas Leão acredita que poderá alavancar sua candidatura, pois vai assumir o governo baiano em 2022, caso se confirme a desincompatibilização de Costa para disputar uma vaga no Congresso. Depois de ser vice na chapa petista, Leão e seus aliados acham razoável que o PT os apoiem dessa vez. Mesmo que isso não ocorra, o PP deve se manter alinhado aos petistas.

Leão também foi procurado por Nogueira, que quis ouvi-lo sobre o convite para o ministério. O vice baiano não fez nenhuma restrição e ouviu que não haverá qualquer empecilho da legenda às alianças estaduais. Na prática, os dois lados avaliam que a presença de Nogueira na Casa Civil vai, inclusive, ajudar a alavancar as campanhas dos integrantes do partido, independentemente de que lado da disputa eles estejam.

A estratégia expansionista do PP já conta com outro importante nome no tabuleiro político. O presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), se elegeu para o posto com aval do Planalto e só ampliou sua influência política desde então. Considerado fundamental por Bolsonaro na estratégia de blindagem contra eventual pedido de impeachment, Lira se tornou interlocutor preferencial do presidente. Hoje, o deputado tem voz nas discussões da agenda do governo, incluindo as propostas de reformas tributária e administrativa. Tem também ampla mobilidade nos debates por liberações de emendas orçamentárias e distribuição de cargos.

Lira nega que a chegada de Nogueira à Casa Civil tenha provocado uma disputa entre os dois. Ele elogia a capacidade de articulação política do senador. Parlamentares experientes, porém, alertam que será importante acompanhar como vai ficar a relação entre os dois, já que ambos terão participação importante nas discussões políticas entre governo e Congresso.

O PP se movimenta também para tentar emplacar a senadora Katia Abreu (TO) no Tribunal de Contas da União (TCU), na vaga que poderá ser aberta caso o ministro Raimundo Carreiro confirme a antecipação de sua aposentadoria. Se isso ocorrer, a senadora seria a segunda parlamentar com origem no PP, já que o ministro Augusto Nardes era deputado do partido quando entrou no tribunal. Ela, no entanto, prefere nem discutir a hipótese neste momento. "Quero continuar a cumprir meu mandato de senadora. Oportunidades circunstanciais são avaliadas quando e se surgirem", disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

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O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."