Sem funcionários CLT, Precisa assinou contratos de R$ 1,6 bilhão

Política
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A Precisa Medicamentos, que atuou como representante no Brasil da produtora da vacina indiana Covaxin, não declarou ao governo federal, em dezembro do ano passado, nenhum funcionário celetista. O dado, obtido pelo Estadão via Lei de Acesso à Informação (LAI), reforça as suspeitas sobre a empresa que, no governo Jair Bolsonaro, já fechou ou intermediou contratos que somam R$ 1,67 bilhão.

Para fechar um contrato com o governo federal, uma empresa não tem, obrigatoriamente, de contratar empregados celetistas. Mas, segundo investigadores e auditores ouvidos pela reportagem, é "atípico" e "estranho" uma companhia envolvida em um acordo bilionário com a administração pública não ter funcionários contratados em regime CLT.

Em fevereiro, o Ministério da Saúde fechou contrato de R$ 1,6 bilhão com a Precisa para compra de 20 milhões de doses da Covaxin. O valor por dose (US$ 15) era o mais caro dos seis imunizantes que o País havia comprado. O negócio se tornou alvo de diferentes investigações por suspeita de irregularidades e corrupção e, em junho, após recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU), a Saúde suspendeu o contrato. Além da CGU, o contrato da Precisa com o ministério entrou na mira da CPI da Covid, da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU).

A Precisa Medicamentos é controlada por Francisco Emerson Maximiano. Conhecido como "Max", o empresário foi questionado sobre o regime de trabalho de seus funcionários durante depoimento na CPI da Covid. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), quis saber se todos os empregados contratados eram autônomos e se havia celetistas. "Não são todos autônomos, não", limitou-se a responder o empresário.

Segundo dados obtidos pela CPI, a Precisa faz parte de uma rede de empresas que movimentaram milhões nos últimos anos. Max, no entanto, disse não saber exatamente a quantidade de companhias que controla. "Honestamente, o receio é de informar que são oito e, porventura, serem nove ou sete." A CPI da Covid investiga transações milionárias "atípicas" do dono da Precisa.

Max assumiu a Precisa em 2014. A empresa nunca havia atuado no mercado de vacinas antes de tentar importar a Covaxin, o que também levantou suspeitas. A reportagem solicitou ao Ministério da Economia, via LAI, os números de empregados, admissões e demissões registrados pela "filial" da Precisa responsável pelo negócio da Covaxin até 31 dezembro do ano passado - último dado disponível. Esse tipo de informação consta da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ambos informados por empresas à pasta. "Após pesquisas em nossos bancos de dados Rais/Caged, não localizamos nenhuma declaração para o estabelecimento Precisa Comercialização de Medicamentos Ltda.", informou o ministério.

Polícia e Ministério Público costumam usar a Rais em investigações. O levantamento, junto com quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático, auxiliam investigadores a identificar se uma companhia tem ou não estrutura suficiente para prestar determinado serviço.

A reportagem também pediu, ao Ministério da Economia, o número de vínculos empregatícios ativos informados pela matriz da Precisa. Empresas que têm matriz e filial devem declarar a Rais separadamente. Entre 2018 e 2020, a matriz notificou zero funcionário à pasta. Em 2014, ano em que Max assumiu a empresa, havia dois vínculos ativos. No ano seguinte, 24 e, em 2016, a Precisa declarou seis funcionários CLT. Os anos em que a empresa declarou o maior número de vínculos empregatícios ativos foram 2012 (41) e 2013 (38).

Por meio de uma rede social corporativa, a reportagem localizou 11 trabalhadores que se identificaram como funcionários da Precisa Medicamentos. Deste total, oito informaram em seus perfis terem começado a trabalhar na empresa a partir de novembro do ano passado, quando começaram as negociações com o Ministério da Saúde para importação da Covaxin. Ouvidos na comissão do Senado, a farmacêutica Emanuela Medrades e o advogado Tulio Silveira se identificaram como empregados autônomos da Precisa Medicamentos.

O quadro de dirigentes da Precisa foi sendo montado ao longo da CPI da Covid, criada em abril deste ano. Emanuela Medrades relatou que Felipe Maximiano, filho de Max, atua "na parte financeira" e que o empresário Danilo Trento é diretor institucional da companhia. "Ele (Trento) responde diretamente à presidência. Eu não consigo te definir agora o caráter, o detalhe", disse a farmacêutica, que é diretora executiva da empresa, ao relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), em depoimento em julho.

Dados

Para o ex-ministro da CGU Valdir Simão, as informações da Rais/Caged são essenciais para conhecer o histórico das empresas. "Pode acontecer, dependendo do perfil da empresa, não ter empregados? Pode. Mas não me parece que, no caso de bens assim, que seja algo aceitável", afirmou.

Simão observou ainda que é fundamental para a administração pública verificar e cruzar informações como número de empregados da empresa, dados sobre impostos pagos, tempo de existência, cumprimento de outros contratos públicos, punições, advertências e multas.

"Com base em todas essas informações, o governo hoje tem ferramentas poderosas de monitoramento. Os alertas precisam chegar a tempo dos órgãos que são os contratantes", disse o ex-ministro. A defesa de Francisco Maximiano não respondeu aos contatos da reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na noite deste domingo, 20, esperar que Rússia e Ucrânia farão um acordo "nesta semana". "Ambos começarão a fazer grandes negócios com os Estados Unidos, que está prosperando, e farão uma fortuna", escreveu na rede social Truth Social.

A declaração foi feita em meio a um cessar-fogo de Páscoa marcado por acusações de violação de ambos os lados.

Ainda na rede social, o republicano citou o "Dia da Libertação", como batizou 2 de abril que foi a data em que anunciou uma série de tarifas.

Segundo ele, muitos líderes mundiais e executivos de empresas pediram alívio das imposições tarifárias desde a ocasião. "É bom ver que o mundo sabe que estamos falando sério, porque ESTAMOS! Eles devem corrigir os erros de décadas de abuso, mas isso não será fácil para eles", reforçou ao chamar quem quiser "o caminho mais fácil" para "construir na América".

Ele classificou como "traição não tarifária" questões que chamou de "manipulação cambial", subsídios para exportação, padrões agrícolas protecionista citando como exemplo a proibição de milho geneticamente modificado na União Europeia, entre outros.

Trump também voltou a criticar a discussão a respeito da deportação de Kilmar Armando Abrego Garcia, que foi deportado por engano para uma prisão em El Salvador.

Embora o governo do republicano tenha admitido um "erro administrativo", o republicano disse que Garcia está sendo tratado como uma "pessoa muito doce e inocente, o que é uma mentira total, flagrante e perigosa", voltando a citar sua ligação com a gangue MS-13. Os advogados de Garcia negam.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, condenou o ataque feito à usina hidrelétrica Rucalhue, que está sendo construída no rio Biobío, na região centro-sul do país, na madrugada deste domingo, 20, quando 52 veículos foram incendiados no local.

"Assim como fizemos em outros casos, perseguiremos e encontraremos os responsáveis que deverão responder perante a justiça. Continuaremos trabalhando sem recuar para erradicar todas as formas de violência", disse o mandatário em publicação na rede social X.

De acordo com o adido de Polícia do Chile, Renzo Miccono, indivíduos armados invadiram a localidade por volta das 2h30 da madrugada, ameaçaram quatro guardas de segurança e depois atearam fogo a máquinas.

O empreendimento terá 90 megawatts (MW) de capacidade e enfrenta resistência de povos originários locais e de ambientalistas. No último dia 03 de abril, a Corte de Apelações de Concepción negou dois recursos que pediam a paralisação das obras.

De acordo com a Associated Press, a região do Biobío já havia sido palco de outro ataque incendiário no último dia 7 de abril, quando duas residências e um galpão foram destruídos. Segundo autoridades, o ataque foi reivindicado pela Resistência Mapuche Lafkenche (RML).

A empresa responsável pelo projeto, Rucalhue Energía SpA, controlada da China International Water & Electric Corp (CWE), afirmou que está colaborando com as autoridades para encontrar os responsáveis e reforçar as medidas de segurança.

"Por sorte, não houve feridos graves. No entanto, os danos materiais são significativos. Uma avaliação completa das perdas está sendo feita", disse a companhia em comunicado, acrescentando que o projeto segue toda a regulamentação ambiental, social e técnica.

*Com informações da Associated Press.

O Exército de Israel afirmou que errou ao matar 15 socorristas na Faixa de Gaza. De acordo com relatório sobre o incidente, que ocorreu em 23 de março, foram identificadas "várias falhas profissionais, violações de ordens e uma falha em relatar completamente o incidente", informou a autoridade militar neste domingo, 20.

Na ocasião, uma ambulância em busca de pessoas feridas por um ataque aéreo israelense foi alvo de tiros em um bairro na cidade de Rafah, que fica na fronteira com o Egito. Quando outras ambulâncias chegaram para procurar a equipe desaparecida, também foram alvo de tiros.

"A investigação determinou que o fogo nos dois primeiros incidentes resultou de um mal-entendido operacional pelas tropas, que acreditavam enfrentar uma ameaça tangível por parte das forças inimigas", disse o exército israelense em referência a um possível veículo policial do Hamas.

Israel disse que demitiu o comandante adjunto do Batalhão de Reconhecimento Golani, por fornecer "um relatório incompleto e impreciso durante o debriefing" e repreendeu o oficial comandante da 14ª Brigada, citando sua responsabilidade geral.

Para Jonathan Whittall, chefe do escritório humanitário das Nações Unidas em Gaza e na Cisjordânia, a investigação militar israelense careceu de responsabilização. "Corremos o risco de continuar assistindo a atrocidades se desenrolarem, e as normas destinadas a nos proteger, se erodindo". Fonte: Dow Jones Newswires.