Bolsonarismo 'raiz' vê Skaf com desconfiança

Política
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Responsável por barrar a divulgação de um manifesto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que cobrava harmonia entre os Poderes, o presidente da entidade, Paulo Skaf, se tornou alvo de críticas internas a quatro meses de deixar o cargo. O prazo estabelecido por ele para que associações da federação empresarial possam aderir ao documento terminou ontem. A divulgação do manifesto "A Praça é dos Três Poderes", contudo, deve ficar para depois do 7 de Setembro, quando estão programados atos convocados pelo presidente Jair Bolsonaro.

Em conversas reservadas, o presidente da Fiesp - que em janeiro de 2022 será substituído por Josué Gomes, da Coteminas - costuma dizer que gosta de Bolsonaro "na pessoa física" e procura manter canais abertos com o governo federal, mas não tem nenhuma relação com o movimento bolsonarista que está por trás das manifestações marcadas para o 7 de Setembro. A recíproca é verdadeira.

Enquanto ministros e integrantes do primeiro escalão do governo federal têm trânsito livre na sede da Fiesp, na Avenida Paulista, o núcleo ideológico que orbita em torno do Palácio do Planalto vê com desconfiança e faz críticas ao dirigente empresarial. Na semana passada, por exemplo, Skaf subiu no palanque ao lado do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, na inauguração de um laboratório de robótico do Sesi em São José dos Campos.

Alguns dias depois, o empresário assumiu a condução da redação final do manifesto que nasceu na Febraban, mas causou um racha na entidade. Além de optar por um tom conciliador e que prega a "harmonia" entre os três poderes, Skaf adiou a divulgação do manifesto, o que atendeu a uma demanda bolsonarista. Pressionado por todos os lados, assumiu o custo político e submergiu.

Anteontem, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) reafirmou, em nota, o apoio ao manifesto. A entidade, no entanto, procurou se desvincular das decisões da Fiesp e considerou que o manifesto, "aprovado por governança própria, foi amplamente divulgado pela mídia, cumprindo sua finalidade".

Quando confrontado com a pergunta sobre seu futuro político, recorre ao mesmo mantra. "O ano político é 2022, agora estou focado na transição da Fiesp", afirma.

Os bolsonaristas "raiz", por sua vez, não se sensibilizaram com os gestos do empresário. "Não sei se o Skaf é um aliado. Eu considero ele alguém que quer fazer política. A Fiesp não tem credibilidade", disse o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) ao Estadão.

O líder da Fiesp, que encerra seu mandato no dia 31 de dezembro, já foi considerado uma opção dos bolsonaristas para disputar o governo de São Paulo em 2022 e até mesmo para assumir o comando no Estado do partido Aliança pelo Brasil, um projeto que foi engavetado.

Hoje os projetos eleitorais de Skaf e Bolsonaro em São Paulo caminham em rumos opostos. "Ele (Skaf) não tem sido mais cogitado como uma opção bolsonarista como era antes", disse o empresário Luís Felipe Belmonte, que insiste em manter a coleta de assinaturas para criar o Aliança pelo Brasil. Após tornar-se um satélite de Bolsonaro em São Paulo, o PTB tentou uma aproximação com Skaf, mas até agora não obteve êxito, segundo o vice presidente do partido, Flávio Beal.

O dirigente vê com ceticismo a possibilidade do presidente da Fiesp ser o candidato governista em São Paulo e defende a escolha de um nome mais "sensível" ao movimento conservador, mas pondera. "Há um apreço do presidente pelo Skaf, que foi nomeado para o Conselho da República, Ele é um interlocutor importante", afirmou Beal.

Contramão

Enquanto busca preservar a boa relação com um presidente da República acuado e em viés de baixa nas pesquisas de popularidade e intenção de voto, Skaf se aproxima de um projeto eleitoral que anda na contramão de Bolsonaro. Recentemente ele se deixou fotografar no almoço de aniversário do ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin, que está de saída do PSDB, do ex-governador Márcio França (PSB) e de outras lideranças que buscam uma terceira via em São Paulo.

Skaf se articula pela vaga de candidato ao Senado ao lado da dupla Alckmin - França no palanque para o Palácio dos Bandeirantes.

Desde que decidiu entrar na política, Skaf sempre esteve próximo de governos, exceto na gestão Dilma Rousseff. Ele foi do PSB, partido da base governo na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, e migrou para o MDB de Michel Temer em seguida. O presidente da Fiesp já se candidatou três vezes ao governo de São Paulo - e em todas foi derrotado. Em 2010, concorreu pelo PSB. Em 2014, pelo MDB, ficou em segundo lugar no pleito em que Geraldo Alckmin (PSDB) foi reeleito em primeiro turno. Em 2018, também pelo MDB, Skaf disputou e ficou em terceiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A tentativa do presidente americano Donald Trump de demitir quase todos os funcionários do Escritório de Proteção Financeira do Consumidor (CFPB, na sigla em inglês) foi suspensa nesta sexta-feira pela juíza federal Amy Berman Jackson, que se declarou "profundamente preocupada" com o plano. Jackson agendou uma audiência para 28 de abril para ouvir depoimentos de autoridades que trabalharam na redução de força de trabalho, ou "RIF".

A decisão deixa no limbo um órgão criado após a Grande Recessão para proteger contra fraudes, abusos e práticas enganosas. Autoridades do governo Trump argumentam que o órgão extrapolou sua autoridade e deveria ter uma missão mais limitada.

Na quinta-feira, as autoridades do governo haviam decidido demitir cerca de 1.500 pessoas, restando aproximadamente 200 funcionários, por meio de uma redução de efetivo que reduziria drasticamente o tamanho do órgão.

Trata-se do exemplo mais recente de como os planos de Trump enfrentaram obstáculos legais enquanto ele trabalha para remodelar o governo federal, alegando estar repleto de fraudes, desperdícios e abusos. Outras demissões e políticas foram alvo de litígios e ordens judiciais.

O CFPB há muito tempo frustra empresas com sua supervisão e investigações, e o assessor de Trump, Elon Musk, o tornou um dos principais alvos de seu Departamento de Eficiência Governamental, conhecido como "DOGE".

Autoridades da Casa Branca não responderam imediatamente às perguntas sobre a decisão da juíza.

O governo Donald Trump acusou Harvard de descumprir requisitos legais sobre doações estrangeiras, como parte do esforço para pressionar a universidade a atender suas exigências. Nos últimos dias, a Casa Branca também anunciou o bloqueio de US$ 2 bilhões em verbas e ameaçou retirar a isenção fiscal da instituição.

O Departamento de Educação pressionou Harvard a fornecer todos os nomes dos doadores estrangeiros e todos os registros de comunicação com eles desde 2020, após acusar a universidade de não relatar as grandes contribuições a partir de outros países, como exige a lei. A instituição nega.

Em carta enviada ao reitor Alan Garber, o Departamento de Educação também pediu uma série de registros relacionados a estrangeiros que passaram por Harvard. Isso inclui estudantes expulsos ou que tiveram seus vínculos com a universidade cancelados desde 2016, além de detalhes sobre pesquisadores visitantes, acadêmicos, estudantes e professores estrangeiros desde 2010.

Jason Newton, porta-voz de Harvard, contestou a alegação de que a universidade não estava cumprindo a exigência legal de relatar doações estrangeiras superiores a US$ 250 mil. "Harvard tem apresentado relatórios há décadas como parte de seu cumprimento contínuo da lei", disse ele em comunicado.

Atender à mais recente demanda de Donald Trump seria um desafio significativo. Dados a própria universidade apontam que mais de 69 mil ex-alunos vivem fora dos Estados Unidos, espalhados por 202 países. É provável que todos tenham sido contatados pela universidade para doações. Como Harvard cancela os vínculos de qualquer aluno que deixa o campus - por conclusão do curso ou expulsão - é possível que a exigência se aplique a todos eles. Já o tamanho da rede de acadêmicos visitantes que são de outros países ou vivem fora dos EUA não estava imediatamente claro.

O pedido é parte dos esforços da Casa Branca para pressionar a Universidade de Harvard, que se recusou a atender uma série de exigências de Donald Trump, acusando o governo de interferir na liberdade acadêmica. Anteriormente a administração republicana havia anunciado o bloqueio de mais de US$ 2 bilhões em verbas federais e ameaçado retirar a isenção fiscal da instituição de ensino.

"Talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser taxada como uma entidade política se continuar promovendo a 'doença' inspirada em política, ideologia e terrorismo? Lembre-se, o status de isenção fiscal depende totalmente de agir no INTERESSE PÚBLICO!", escreveu Donald Trump na sua rede, a Truth Social, durante a semana.

Trump está em ofensiva contra as universidades de elite americana contra as políticas de inclusão de minorias e o que chama de falha em combater o antissemitismo nos campi. O governo conseguiu concessões de Columbia, após cortar US$ 400 milhões em verbas federais para a universidade. As exigências para Harvard, contudo, eram ainda mais amplas e a instituição se tornou a primeira a enfrentar a Casa Branca, mesmo sob ameaça.

No mês passado, o governo disse que estava revisando cerca de US$ 9 bilhões em contratos com Harvard, alegando que a universidade havia permitido que o antissemitismo se espalhasse sem controle.

A Casa Branca então apresentou uma longa lista de exigências. Entre outras coisas, o governo Trump queria que a universidade privada alterasse seus critérios de admissão, implementasse "diversidade de pontos de vista" entre os professores, se submetesse a uma "auditoria" de suas práticas de contratação, revisasse seus padrões disciplinares e informasse ao governo sempre que um estudante estrangeiro cometesse uma infração.

A universidade se recusou a atender as demandas. "Nenhum governo, independentemente do partido no poder, deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e investigação podem seguir", escreveu o Alan Garber em resposta contundente.

A resistência foi elogiada por críticos de Donald Trump, incluindo o ex-presidente Barack Obama, que foi aluno da Faculdade de Direito de Harvard. O democrata disse que a universidade deu um exemplo a ser seguido e pode inspirar outras instituições de ensino pressionadas pelo governo.

Em outra frente, os republicanos no Congresso anunciaram na quinta-feira, 17, que vão investigar a universidade, chamada de "piada" por Donald Trump. Os legisladores acusam a universidade de violar direitos civis e pediram dados sobre as práticas de contratação, programas de diversidade e os protestos pró-Palestina ocorridos no campus no ano passado.

A carta, assinada pelo presidente da Comissão de Supervisão da Câmara, James Comer, e pela deputada de Nova York Elise Stefanik criticava a universidade por negar as exigências de Trump. "Harvard é tão incapaz ou está tão indisposta a impedir a discriminação ilegal que a instituição, sob sua direção, se recusa a assinar um acordo razoável proposto por autoridades federais para que Harvard volte a cumprir a lei." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está substituindo o comissário interino da Receita Federal, que ele nomeou apenas três dias antes, dando continuidade à turbulência na cúpula da agência tributária, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

O vice-secretário do Tesouro, Michael Faulkender, agora comandará a Receita Federal (IRS, em inglês), tornando-se a quinta pessoa a ocupar o cargo até agora neste ano.

Trump indicou Billy Long, ex-congressista republicano do Missouri, para dirigir a agência. O Comitê de Finanças do Senado não agendou sua audiência de confirmação, e os democratas criticam os vínculos de Long com empresas que promovem créditos tributários questionáveis.

Faulkender atuou no Departamento do Tesouro em uma função não tributária durante o primeiro governo Trump, trabalhando no Programa de Proteção ao Salário e em outras questões antes de retornar à Universidade de Maryland, onde lecionou cursos de finanças. O Senado votou por 53 a 43 no mês passado para confirmá-lo como secretário adjunto do Tesouro.