Pauta antidemocrática ocupa Paulista

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Manifestantes ocuparam pelo menos dez quarteirões da Avenida Paulista ontem, em ato convocado pelo presidente Jair Bolsonaro, que discursou por 18 minutos no local. Máscaras de proteção contra a covid eram exceção, enquanto cartazes pedindo o fechamento do STF, contrários especialmente o ministro Alexandre de Moraes, a regra. A Secretaria de Segurança Pública estimou que 125 mil manifestantes estiveram na via, completamente fechada ao trânsito.

Os apoiadores atenderam a um pedido do presidente e levaram cartazes com frases em inglês e espanhol, para traduzir os lemas bolsonaristas a espectadores estrangeiros. Alguns pediam intervenção militar, o fechamento do Legislativo e eleições com voto impresso.

As falas de Bolsonaro contra Moraes e o STF, tema central do discurso, provocaram alguns dos momentos mais fortes de aplausos. Quando o presidente disse que Moraes ainda teria "tempo para se redimir" e revogar mandados de prisão contra apoiadores do presidente que atacaram a Corte, o público começou a gritar com pedidos de ações imediatas. Em outro carro de som, ao lado, surgiram gritos que defendiam intervenção.

Com o calor, o sol forte e a dificuldade para se locomover, alguns manifestantes passaram mal e tiveram de ser socorridos por parentes e amigos. A temperatura chegou a 28ºC na região. As placas de ônibus estacionados nos arredores da avenida mostravam que parte do público havia embarcado em outros Estados: Santa Catarina, Espírito Santo e Minas Gerais, além de cidades do interior paulista. Alguns caminhoneiros também estacionaram seus veículos nos arredores.

Manifestantes cercaram a portaria de um prédio na esquina da Avenida Paulista com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, após apoiadores do presidente se desentenderem com um jornalista. Policiais militares tiveram que intervir. O repórter e um câmera foram escoltados até a portaria de um prédio. Uma garrafa de vidro foi atirada em direção aos jornalistas e quase acertou um simpatizante do presidente.

Brasília

Na Esplanada dos Ministérios, estava presente a pauta antidemocrática suscitada de forma recorrente pela militância bolsonarista, mas apareceram demandas como a defesa do agronegócio, o combate à corrupção e o repúdio às prisões de influenciadores governistas.

Entre as longas filas de caminhões e seus motoristas estacionados na Esplanada, estavam famílias com crianças e idosos, evangélicos, produtores rurais e sindicalistas da área, motoqueiros, homens encapuzados e militares fardados conduzindo as tradicionais fanfarras do feriado da Independência. Durante a manhã, houve círculos de oração conduzidos por carro de som, com homens ajoelhados, clamando aos policiais que permitissem sua passagem à Praça dos Três Poderes.

As novas demandas dos apoiadores do presidente não conseguiram rivalizar com o tradicional discurso golpista. Palavras de ordem como 'eu autorizo', em alusão à uma intervenção militar, foram repetidas.

"Queremos Bolsonaro no poder, intervenção militar, faxina no Judiciário e Legislativo, nova Constituição anticomunista e crimininalização do comunismo no Brasil", dizia uma faixa do grupo Quartel do Bolsonaro. Em outro cartaz, o apelo pela ruptura institucional se repetia: "Bolsonaro acione as Forças Armadas. O povo ordena".

O que muitos manifestantes desejavam era justamente a ordem do presidente para que pudessem atacar os outros Poderes. "Ele (Bolsonaro) falou de coisas inconstitucionais, isso a gente já ouviu demais", disse um manifestante em conversa com caminhoneiro para que avançasse contra a barreira de contenção. "Nós temos que fazer nossa parte, se ele não faz a dele", disse outro, decepcionado com o teor do discurso do presidente.

Novamente apareceu o esforço para passar a mensagem ao exterior. Uma mulher levava uma placa escrita "monsieur le présidente, utilisez l'arméé" (senhor presidente, use o Exército). Já um casal empunhava sorridente uma cartolina branca com a mensagem "game over STF" (fim de jogo STF).

Um dos nomes mais defendidos pelos bolsonaristas era o de Roberto Jefferson, cujo rosto estampava cartazes e adesivos. Jefferson foi preso a mando do ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito do inquérito das milícias digitais, acusado de disseminar mentiras e ataques contra as instituições nas redes sociais.

Seu rosto também apareceu com destaque no Rio, graças a Fabrício Queiroz. O policial denunciado como operador das "rachadinhas" do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) compartilhou ao longo do dia diversas imagens de sua participação nas manifestações governistas, que tiveram grande adesão na zona sul. Em uma, Queiroz bate continência para um boneco de papelão de Roberto Jefferson. Em uma postagem, Queiroz chama o presidente do PTB de "patriota". E afirma: "Tem meu respeito!!" (Colaboraram Weslley Galzo e Wilson Tosta)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

A tentativa do presidente americano Donald Trump de demitir quase todos os funcionários do Escritório de Proteção Financeira do Consumidor (CFPB, na sigla em inglês) foi suspensa nesta sexta-feira pela juíza federal Amy Berman Jackson, que se declarou "profundamente preocupada" com o plano. Jackson agendou uma audiência para 28 de abril para ouvir depoimentos de autoridades que trabalharam na redução de força de trabalho, ou "RIF".

A decisão deixa no limbo um órgão criado após a Grande Recessão para proteger contra fraudes, abusos e práticas enganosas. Autoridades do governo Trump argumentam que o órgão extrapolou sua autoridade e deveria ter uma missão mais limitada.

Na quinta-feira, as autoridades do governo haviam decidido demitir cerca de 1.500 pessoas, restando aproximadamente 200 funcionários, por meio de uma redução de efetivo que reduziria drasticamente o tamanho do órgão.

Trata-se do exemplo mais recente de como os planos de Trump enfrentaram obstáculos legais enquanto ele trabalha para remodelar o governo federal, alegando estar repleto de fraudes, desperdícios e abusos. Outras demissões e políticas foram alvo de litígios e ordens judiciais.

O CFPB há muito tempo frustra empresas com sua supervisão e investigações, e o assessor de Trump, Elon Musk, o tornou um dos principais alvos de seu Departamento de Eficiência Governamental, conhecido como "DOGE".

Autoridades da Casa Branca não responderam imediatamente às perguntas sobre a decisão da juíza.

O governo Donald Trump acusou Harvard de descumprir requisitos legais sobre doações estrangeiras, como parte do esforço para pressionar a universidade a atender suas exigências. Nos últimos dias, a Casa Branca também anunciou o bloqueio de US$ 2 bilhões em verbas e ameaçou retirar a isenção fiscal da instituição.

O Departamento de Educação pressionou Harvard a fornecer todos os nomes dos doadores estrangeiros e todos os registros de comunicação com eles desde 2020, após acusar a universidade de não relatar as grandes contribuições a partir de outros países, como exige a lei. A instituição nega.

Em carta enviada ao reitor Alan Garber, o Departamento de Educação também pediu uma série de registros relacionados a estrangeiros que passaram por Harvard. Isso inclui estudantes expulsos ou que tiveram seus vínculos com a universidade cancelados desde 2016, além de detalhes sobre pesquisadores visitantes, acadêmicos, estudantes e professores estrangeiros desde 2010.

Jason Newton, porta-voz de Harvard, contestou a alegação de que a universidade não estava cumprindo a exigência legal de relatar doações estrangeiras superiores a US$ 250 mil. "Harvard tem apresentado relatórios há décadas como parte de seu cumprimento contínuo da lei", disse ele em comunicado.

Atender à mais recente demanda de Donald Trump seria um desafio significativo. Dados a própria universidade apontam que mais de 69 mil ex-alunos vivem fora dos Estados Unidos, espalhados por 202 países. É provável que todos tenham sido contatados pela universidade para doações. Como Harvard cancela os vínculos de qualquer aluno que deixa o campus - por conclusão do curso ou expulsão - é possível que a exigência se aplique a todos eles. Já o tamanho da rede de acadêmicos visitantes que são de outros países ou vivem fora dos EUA não estava imediatamente claro.

O pedido é parte dos esforços da Casa Branca para pressionar a Universidade de Harvard, que se recusou a atender uma série de exigências de Donald Trump, acusando o governo de interferir na liberdade acadêmica. Anteriormente a administração republicana havia anunciado o bloqueio de mais de US$ 2 bilhões em verbas federais e ameaçado retirar a isenção fiscal da instituição de ensino.

"Talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser taxada como uma entidade política se continuar promovendo a 'doença' inspirada em política, ideologia e terrorismo? Lembre-se, o status de isenção fiscal depende totalmente de agir no INTERESSE PÚBLICO!", escreveu Donald Trump na sua rede, a Truth Social, durante a semana.

Trump está em ofensiva contra as universidades de elite americana contra as políticas de inclusão de minorias e o que chama de falha em combater o antissemitismo nos campi. O governo conseguiu concessões de Columbia, após cortar US$ 400 milhões em verbas federais para a universidade. As exigências para Harvard, contudo, eram ainda mais amplas e a instituição se tornou a primeira a enfrentar a Casa Branca, mesmo sob ameaça.

No mês passado, o governo disse que estava revisando cerca de US$ 9 bilhões em contratos com Harvard, alegando que a universidade havia permitido que o antissemitismo se espalhasse sem controle.

A Casa Branca então apresentou uma longa lista de exigências. Entre outras coisas, o governo Trump queria que a universidade privada alterasse seus critérios de admissão, implementasse "diversidade de pontos de vista" entre os professores, se submetesse a uma "auditoria" de suas práticas de contratação, revisasse seus padrões disciplinares e informasse ao governo sempre que um estudante estrangeiro cometesse uma infração.

A universidade se recusou a atender as demandas. "Nenhum governo, independentemente do partido no poder, deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e investigação podem seguir", escreveu o Alan Garber em resposta contundente.

A resistência foi elogiada por críticos de Donald Trump, incluindo o ex-presidente Barack Obama, que foi aluno da Faculdade de Direito de Harvard. O democrata disse que a universidade deu um exemplo a ser seguido e pode inspirar outras instituições de ensino pressionadas pelo governo.

Em outra frente, os republicanos no Congresso anunciaram na quinta-feira, 17, que vão investigar a universidade, chamada de "piada" por Donald Trump. Os legisladores acusam a universidade de violar direitos civis e pediram dados sobre as práticas de contratação, programas de diversidade e os protestos pró-Palestina ocorridos no campus no ano passado.

A carta, assinada pelo presidente da Comissão de Supervisão da Câmara, James Comer, e pela deputada de Nova York Elise Stefanik criticava a universidade por negar as exigências de Trump. "Harvard é tão incapaz ou está tão indisposta a impedir a discriminação ilegal que a instituição, sob sua direção, se recusa a assinar um acordo razoável proposto por autoridades federais para que Harvard volte a cumprir a lei." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está substituindo o comissário interino da Receita Federal, que ele nomeou apenas três dias antes, dando continuidade à turbulência na cúpula da agência tributária, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

O vice-secretário do Tesouro, Michael Faulkender, agora comandará a Receita Federal (IRS, em inglês), tornando-se a quinta pessoa a ocupar o cargo até agora neste ano.

Trump indicou Billy Long, ex-congressista republicano do Missouri, para dirigir a agência. O Comitê de Finanças do Senado não agendou sua audiência de confirmação, e os democratas criticam os vínculos de Long com empresas que promovem créditos tributários questionáveis.

Faulkender atuou no Departamento do Tesouro em uma função não tributária durante o primeiro governo Trump, trabalhando no Programa de Proteção ao Salário e em outras questões antes de retornar à Universidade de Maryland, onde lecionou cursos de finanças. O Senado votou por 53 a 43 no mês passado para confirmá-lo como secretário adjunto do Tesouro.