Ministro da Defesa de Bolsonaro marca despedida do cargo

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O atual ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, marcou a cerimônia de despedida do cargo para o dia 29 de dezembro, dois dias antes do fim do mandato presidencial de Jair Bolsonaro. Ele e os atuais comandantes das Forças Armadas vêm sendo cobrados por apoiadores de Bolsonaro para promover uma intervenção militar, sem nenhum respaldo legal, o que seria um golpe de Estado contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, a ser empossado em 1º de janeiro.

Paulo Sérgio será, no curto prazo, o último militar a ter exercido o cargo de ministro da Defesa. General de Exército da reserva, ele será sucedido por um civil, o ex-presidente do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro, já indicado por Lula. O ministro já se reuniu com sucessor, em contato considerado positivo por ambos os lados. Mas as sensibilidades persistem.

Como o Estadão revelou, Lula deseja encerrar o quanto antes os acampamentos e aglomerações golpistas no entorno de quartéis pelo País. Os atos de protesto contra a eleição do petista e em favor de um golpe tiveram respaldo para ocorrer da atual cúpula militar de Bolsonaro. Agora, até a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal fala em acabar com a concentração de extremistas.

O gabinete de transição e ministros já indicados por Lula aumentaram a pressão política para dar fim aos acampamentos nas últimas semanas e passaram a dizer que viraram "incubadoras de terroristas e de atos violentos". Eles passaram a cobrar a remoção desde os atos extremistas de destruição de 12 de dezembro, após a diplomação de Lula, e da recente tentativa de explodir um caminhão de combustível no Aeroporto de Brasília. Os crimes tiveram a participação direta de bolsonaristas mobilizados em frente ao Quartel-General do Exército, conforme a polícia.

O ministro fará uma cerimônia longe da imprensa. Diante de tensões políticas envolvendo as Forças Armadas, a despedida será restrita a convidados e autoridades militares, no salão nobre da sede da Defesa, na Esplanada dos Ministérios. Essa passou a ser a prática adotada pelos militares em cerimônias oficiais por causa da tensão política envolvendo os militares.

Ele também vai inaugurar, na ocasião, sua foto oficial na galeria de ex-ministros e deverá discursar, com a presença dos atuais comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica. Segundo a Defesa, o ministro permanecerá formalmente no posto até o dia 31 de dezembro. Mas não presidirá a passagem de comando das Forças, que ficou para janeiro. Como o Estadão mostrou, os três haviam sinalizado a intenção de passar os comandos antes da hora, em ato político hostil a Lula, mas foram demovidos da ideia.

O general é considerado um aliado fiel do presidente Bolsonaro e mobilizou as Forças Armadas para realizar uma inédita fiscalização das eleições - embora houvesse previsão legal desde a disputa municipal de 2020, a atividade só foi realizada neste ano, por decisão política do Palácio do Planalto, enquanto Bolsonaro movia o aparato de Estado em campanha para desacreditar as urnas eletrônicas. Ao fim, mesmo sem nenhuma evidência de fraude, o ministro assinou ofício dizendo que a equipe das Forças Armadas não poderia atestar a segurança do sistema eletrônico de votação, o que foi motivo de críticas reservadas na caserna.

O general assumiu o comando do Exército em março de 2021, durante uma intervenção do Palácio do Planalto que resultou na demissão de toda a cúpula militar. Foi a maior crise política nas Forças Armadas desde a redemocratização. Um ano depois, Paulo Sérgio foi escolhido pelo presidente para assumir a Defesa e suceder o general Walter Souza Braga Netto, que saiu do cargo de ministro para disputar as eleições como candidato a vice-presidente na chapa derrotada, ao lado de Bolsonaro.

Em outra categoria

Dos peronistas ao libertário Javier Milei, o papa Francisco teve relações tensas com presidentes da Argentina. Alvo da politização, ele acabou se distanciado do seu país de origem e morreu sem nunca ter retornado a Buenos Aires.

A disputa envolvendo o líder católico ganhou novos contornos quando Javier Milei o insultou como "imbecil" e "representante do maligno na Terra" durante as eleições. O libertário, contudo, não foi o único líder argentino a criticar o papa, que tinha relações delicadas com a política.

Embora tenha recebido todos os presidentes no Vaticano, Francisco morreu sem ter visitado a Argentina enquanto papa por temer que o seu retorno fosse usado politicamente - por um lado ou pelo outro.

Relação com presidentes argentinos

A relação espinhosa do papa com a política argentina vem de muito antes de Javier Milei.

O casal Néstor e Cristina Kirchner considerava Francisco o "líder espiritual da oposição". Os peronistas chegaram a acusá-lo de colaborar com a ditadura militar argentina entregando padres para o regime - denúncia que nunca ficou comprovada.

Depois que o arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio se tornou o papa Francisco, em 2013, a então presidente Cristina Kirchner foi aconselhada por aliados a rever sua posição e pediu desculpas. "Achei que você fosse outra coisa", teria dito Cristina em encontro com o pontífice.

Ela foi recebida pelo papa quatro vezes e foi atrás de Francisco durante as suas visitas ao Brasil, Paraguai e Cuba. Mas o uso político da aproximação por parte de Cristina Kirchner desagradou o pontífice, segundo reportou o Clarín. Depois disso, a relação voltaria a se desgastar.

Já com Mauricio Macri, o desgaste começou quando ele ainda era prefeito de Buenos Aires. O líder católico havia apoiado a candidatura do bispo Joaquín Piña que conseguiu barrar, na constituinte da província de Misiones, a reeleição indefinida do governador peronista Carlos Rovira. E esperou, em retribuição, que Macri apelasse contra a decisão que abriu caminho para o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina, o que não aconteceu.

Durante a presidência de Mauricio Macri, a Argentina deu mais um passo nas reformas progressistas: o início das discussões no Congresso sobre a legalização do aborto. Apesar do desgaste com o papa Francisco, que enfrentava a pressão dos setores mais conservadores da Igreja Católica, eles mantiveram as relações no nível institucional.

No caso de Alberto Fernández, a relação foi afetada pela legalização do aborto, concluída durante o seu período na Casa Rosada. De acordo com o Clarín, o pontífice também teria se incomodado com a estratégia de Fernández, que assim como sua vice-presidente Cristina Kirchner, tentou explorar politicamente as relações o papa.

Milei, por sua vez, atacou o líder católico antes de chegar à presidência. Depois de eleito, ele participou da missa de canonização de Mama Antula, a primeira santa da Argentina, e foi recebido pelo papa Francisco.

A relação foi apaziguada, mas eles mantiveram profundas discordâncias sobre o papel do Estado. O libertário Javier Milei promove um duro ajuste fiscal, que atinge principalmente os mais pobres na Argentina, enquanto o papa Francisco se dedicou à defesa dos vulneráveis.

"O Estado, hoje mais importante do que nunca, é chamado a exercer esse papel central de redistribuição e justiça social", disse o papa, um mês após receber Milei no Vaticano.

Francisco também criticou a repressão do governo aos protestos na Argentina. "Me mostraram as imagens da repressão, onde a polícia reprimiu os trabalhadores que exigiam os seus direitos nas ruas como se fossem desordeiros. Em vez de gastarem com justiça social, gastam na compra de gás de pimenta", disse após encontro com representantes dos movimentos sociais.

Embora na Argentina o Estado e a Igreja estejam separados, os vínculos sempre foram muito estreitos. Até a reforma constitucional de 1994, ser católico era requisito para assumir a presidência. Nesse contexto, o papa se viu no meio da polarização e das discussões em torno do peronismo.

"Nunca fui filiado, militante ou simpatizante do peronismo. Afirmar isso é uma mentira. Meus escritos sobre justiça social levaram a dizerem que sou peronista. Mas, na hipótese de ter uma concepção peronista da política, o que haveria de errado nisso?", questionou o papa sobre as acusações dos críticos de vínculos com o peronismo.

"Na Argentina, o papa era visto com um perfil de esquerda, e a direita mais liberal não gostava dele", explicou o biógrafo Sergio Rubín, coautor de O jesuíta (2013) e O Pastor (2023).

A disputa acabou afastando o papa, que nunca voltou a Buenos Aires. O papa Francisco chegou a dizer que gostaria de visitar à Argentina, mas não queria que a sua passagem pelo país fosse "usada nem para um lado, nem para o outro", expressando a preocupação com a politização de sua imagem.

Reações à morte do papa Francisco

Agora, enquanto o mundo dá adeus ao papa Francisco, os líderes políticos da Argentina deixam as desavenças com o líder católico para trás.

"Apesar das diferenças que hoje parecem pequenas, foi uma verdadeira honra para mim ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria", escreveu Javier Milei ao lamentar a morte. O presidente decretou luto oficial de sete dias e vai a Roma para a despedida do papa.

Por sua vez, Cristina Kirchner disse que ele era o "rosto de uma Igreja mais humana, com os pés na terra e o olhar fixo no céu", lembrando do primeiro encontro que teve com o papa Francisco.

O caráter humanitário do pontífice também foi destacado por Alberto Fernández. "A Igreja deveria apoiar os despossuídos, os marginalizados e os perseguidos. A Igreja deveria abraçar aqueles que foram condenados a ser minorias ou perseguidos em suas terras. A Igreja deveria levantar sua voz contra aqueles que acumulam riqueza e distribuem pobreza. No entanto, a Igreja só conseguiu fazer isso quando Francisco, o jesuíta, era o papa", escreveu nas redes sociais.

Lembrando o seu último encontro com o papa Francisco, acompanhado da mulher e das filhas, Mauricio Macri disse: "Tenho a imagem daquele dia e também de Francisco como um homem religioso de estatura inigualável, um político severo e, principalmente, um bom pastor. Sua vida foi marcada pelos ensinamentos que transmitiu com suas palavras, seu compromisso e seus gestos. Ele mesmo, com sua trajetória, é uma lição para todos nós".

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira, 21, que há uma "boa chance" de que a Rússia e a Ucrânia cheguem a um acordo nesta semana para acabar com a guerra. O conflito já dura três anos.

"Há uma boa chance", declarou Trump quando perguntado se ele achava que Moscou e Kiev poderiam selar um acordo até sexta-feira, acrescentando que teve boas reunião com os dois lados.

Durante o evento anual Easter Egg Roll realizado na Casa Branca, o republicano também disse que teve "reuniões muito boas sobre o Irã" e expressou confiança de que uma solução comercial seria alcançada com a União Europeia. "No final das contas, teremos um acordo com qualquer um", afirmou ele.

A secretária de Comunicação da Casa Branca, Karoline Leavitt, negou nesta segunda-feira, 21, que o governo americano tenha iniciado o processo de busca por um novo secretário de Defesa, conforme noticiou a NPR. "Essa história da NPR é uma notícia falsa completa, baseada em uma fonte anônima que claramente não tem a mínima ideia do que está falando. Como o presidente disse esta manhã, ele apoia firmemente o secretário da Defesa", escreveu Leavitt, em publicação na rede social X.

Segundo fontes ouvidas pela NPR, a Casa Branca teria a intenção de substituir o atual secretário de Defesa, Pete Hegseth, diante das controvérsias pelo compartilhamento de detalhes sigilosos de operações militares por meio de bate-papos no aplicativo Signal.

De acordo com a Reuters, o presidente americano Donald Trump disse a jornalistas hoje que "Pete está fazendo um ótimo trabalho" e que "todos estão felizes com ele". Quando questionado se continuaria confiando em Hegseth, Trump disse: "Ah, totalmente".