Políticos se manifestam sobre prisão de suspeitos de mandar matar Marielle

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
A prisão dos suspeitos de mandar assassinar a vereadora do Rio Marielle Franco em março de 2018 provocou reações de governistas e oposicionistas desde os primeiros momentos da manhã deste domingo, 24.

Seis anos após o crime, que também resultou na morte do motorista Anderson Gomes, uma operação conjunta da Polícia Federal (PF), da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prendeu o deputado Chiquinho Brazão, seu irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e o ex-chefe de Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa.

A vereadora do Rio e viúva de Marielle, Monica Benício (PSOL), disse em entrevista coletiva na sede da Superintendência da PF no Rio que Barbosa ser apontado como um dos suspeitos mostra que a Polícia Civil não foi apenas falha, mas cúmplice do crime.

"Hoje saber que o homem que nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu, dizendo que esse caso seria uma prioridade, tem envolvimento nesse mando, para nós, é entender que a Polícia Civil não foi só negligente. Não foi só por uma 'falha' que chegamos a seis anos de dor, mas em especial por ter sido conivente todo esse tempo", disse Monica aos jornalistas com a voz embargada.

Ela também postou uma nota oficial em seu perfil no Instagram, afirmando que é "um momento de esperançar justiça e paz".

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, comemorou a notícia da prisão em seu perfil no X (antigo Twitter), dizendo que é "um grande dia" e marca "mais um grande passo" para conseguirem as respostas que tanto se perguntam nos últimos anos. A ministra também agradeceu nominalmente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que foi sorteado no último dia 15 como relator do caso que investiga o crime, que foi transferido do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o STF.

"Lugares onde as pessoas deveriam estar cuidando do povo, da proteção do povo, não é lugar onde as pessoas arquitetam crimes tão covardes e cruéis como foi o da minha irmã", disse em vídeo postado na rede social.

O ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha fez um post exaltando a colega de Esplanada, dizendo que a altivez demonstrada por ela e sua mãe, Marinete da Silva, reafirma que "resiliência e esperança andam juntas" e de que "política, instituições e milícias nunca poderiam se quer se encontrarem".

O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, afirmou que a prisão preventiva de três suspeitos é uma oportunidade para o Rio de Janeiro "virar essa página em que crime, polícia e política não se separam". Além de aliado político, Freixo era amigo de Marielle.

"Foram 5 delegados que comandaram as investigações do inquérito do assassinato da Marielle e do Anderson, e sempre que se aproximavam dos autores eram afastados. Por isso demoramos seis anos para descobrir quem matou e quem mandou matar", escreveu Freixo, no X (antigo Twitter). Freixo também se diz indignado com o envolvimento do ex-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, para quem ligou assim que soube da morte de Marielle naquela quarta-feira, em março de 2018.

O novo ministro do STF e ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, também se manifestou, afirmando que a data é um domingo de "celebração da fé e da justiça". Por ordem da Corte, a PF deflagrou a Operação Murder Inc, que também realizou 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro.

Em janeiro, antes de deixar a pasta da Justiça e ir para o STF, ele disse que não havia um prazo definido para a conclusão, mas que havia perspectiva de que a investigação estivesse próxima do fim com a entrada da Polícia Federal (PF) na investigação.

A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), disse que a prisão de domingo é um marco na luta contra a violência política e de gênero e foi resultado de "trabalho sério da PF em sintonia com MP e STF".

"Prisão dos suspeitos de serem mandantes do assassinato de Marielle é um marco na luta contra a violência política e de gênero. Que sejam denunciados e julgados todos os envolvidos no crime, que também vitimou o Anderson. Trabalho sério da Polícia Federal, em sintonia com o Ministério Público e o STF, foi fundamental para que o país e o mundo conhecessem a verdade, por tanto tempo ocultada", escreveu em seu perfil no X.

Guilherme Boulos (PSOL-SP), deputado federal e pré-candidato a Prefeitura de São Paulo, postou uma foto dele com Marielle desejando forças às famílias e questionou a nomeação de Rivaldo Barbosa para chefiar a polícia carioca pelo general Walter Braga Netto ter sido feita um dia antes do assassinato.

"Ainda precisamos saber porque o general Braga Neto, que depois veio a ser Ministro e homem forte de Bolsonaro, indicou um criminoso para chefiar a Polícia carioca 1 dia antes do assassinato. De toda forma, o dia de hoje foi muito esperado nos últimos 6 anos!"

Poucos oposicionistas se manifestaram sobre a prisão até agora. A hashtag "Quem mandou matar Bolsonaro" chegou a ser um dos assuntos mais comentados na rede na manhã deste domingo, em uma tentativa de comparar o assassinato da vereadora com o caso do atentado a faca contra o então candidato Jair Bolsonaro (PL) na campanha presidencial de 2018.

O deputado federal e vice-líder da oposição, Mauricio Marcon (PODE-RS), disse que o ex-presidente foi "atacado por anos injustamente" como autor do crime, e que "os verdadeiros criminosos" presos "são pessoas ligadas a milícia que já fizeram campanha para o PT".

O deputado federal e vice-líder do PL, Bibo Nunes (PL-RS) também menciona Bolsonaro, dizendo que "todos os crimes devem ser investigados".

"A luta para descobrir quem mandou matar Marielle é intensa, enquanto quem mandou matar Bolsonaro está esquecido. Qual o sentido disso? Todos crimes devem ser investigados!", escreveu em seu perfil no X.

O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, senador Sérgio Moro (União-PR), escreveu em sua rede social que espera que os mandantes do assassinato "paguem pelos seus crimes" e desejou que as famílias de Marielle e Anderson "possam encontrar justiça e paz". Ele aproveitou para relembrar momentos da investigação enquanto esteve à frente da pasta ministerial e diz que agora "ficam sepultadas as inúmeras fake news exploradas irresponsavelmente sobre esse terrível crime".

Em 14 de março de 2018, a vereadora e o seu motorista foram mortos a tiros quando voltavam de um evento promovido pelo partido da vereadora, o PSOL.

A prisão dos suspeitos ocorreu após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciar a homologação da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado como o responsável por executar os assassinatos há seis anos. O caso foi federalizado e passou a ser de responsabilidade do STF após Lessa citar o deputado Chiquinho Brazão, que tem foro privilegiado.

Em outra categoria

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou seu apoio ao secretário da Defesa, Pete Hegseth após o The New York Times reportar que ele havia compartilhado planos militares para o ataque ao Iêmen em grupo com familiares no aplicativo de mensagens Signal.

Anteriormente, a revista The Atlantic havia publicado que o seu editor-chefe Jeffrey Goldberg havia sido incluído por engano em outro grupo do Signal, em que a cúpula da Casa Branca discutia a ofensiva contra os rebeldes houthis.

As autoridades americanas negam que as informações compartilhadas por Pete Hegseth fossem confidenciais enquanto reforçam o seu apoio ao secretário de Defesa, atribuindo as notícias a ex-funcionários insatisfeitos com as mudanças no Pentágono.

Ao falar com repórteres no gramado da Casa Branca, onde participava das celebrações de Páscoa, Trump reafirmou a confiança em Hegseth e minimizou as preocupações sobre o vazamento de planos militares como "perda de tempo".

"Ele está fazendo um excelente trabalho. Perguntem aos houthis como ele está se saindo", disse o presidente, referindo-se ao grupo rebelde, que é apoiado pelo Irã e foi alvo dos ataques dos Estados Unidos.

De acordo com o NYT, o secretario de Defesa americano compartilhou detalhes sobre os ataques em 15 de março, antes que os bombardeios fossem lançados, em grupo que incluía a mulher, o irmão e o advogado pessoal de Pete Hegseth.

Os detalhes compartilhados no grupo eram essencialmente os mesmos que Hegseth enviou, no mesmo dia, em outro grupo do Signal que, por engano, incluía o editor da revista The Atlantic.

Pete Hegseth se mostrou furioso com a matéria do NYT, que atribuiu a "difamações anônimas de ex-funcionários descontentes sobre notícias antigas".

Ao chegar para as celebrações de Páscoa com a família, ele apontou para os repórteres e os chamou de "farsantes". Na sequência, se voltou para os filhos pequenos, que estavam ao fundo. "Essas crianças aqui, são o motivo pelo qual estamos lutando contra a mídia de notícias falsas", disse.

Em resposta às críticas do governo, um porta-voz disse que o NY Times tem confiança na precisão da reportagem e destacou que o Pentágono "não negou a existência do grupo de mensagens".

Embora as autoridades americanas tenham insistido que nenhuma informação confidencial foi compartilhada no grupo, o NY Times disse que isso não vem ao caso porque a sua reportagem "não caracterizou a informação como confidencial".

Trump e Hegseth conversaram por telefone na noite de domingo. Segundo uma fonte informada sobrea a ligação, o presidente disse ao seu secretário que "delatores ressentidos" seriam culpados pela reportagem e reafirmou que o apoiava.

Essa ideia de que delatores ressentidos estariam por trás da reportagem foi reforçada pela secretária de imprensa da Casa Branca Karoline Leavitt em entrevista ao Fox & Friends, programa da Fox News que era apresentado por Pete Hegseth. "É isso que acontece quando todo o Pentágono está trabalhando contra você e contra as mudanças monumentais que você está tentando implementar", disse. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Dos peronistas ao libertário Javier Milei, o papa Francisco teve relações tensas com presidentes da Argentina. Alvo da politização, ele acabou se distanciado do seu país de origem e morreu sem nunca ter retornado a Buenos Aires.

A disputa envolvendo o líder católico ganhou novos contornos quando Javier Milei o insultou como "imbecil" e "representante do maligno na Terra" durante as eleições. O libertário, contudo, não foi o único líder argentino a criticar o papa, que tinha relações delicadas com a política.

Embora tenha recebido todos os presidentes no Vaticano, Francisco morreu sem ter visitado a Argentina enquanto papa por temer que o seu retorno fosse usado politicamente - por um lado ou pelo outro.

Relação com presidentes argentinos

A relação espinhosa do papa com a política argentina vem de muito antes de Javier Milei.

O casal Néstor e Cristina Kirchner considerava Francisco o "líder espiritual da oposição". Os peronistas chegaram a acusá-lo de colaborar com a ditadura militar argentina entregando padres para o regime - denúncia que nunca ficou comprovada.

Depois que o arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio se tornou o papa Francisco, em 2013, a então presidente Cristina Kirchner foi aconselhada por aliados a rever sua posição e pediu desculpas. "Achei que você fosse outra coisa", teria dito Cristina em encontro com o pontífice.

Ela foi recebida pelo papa quatro vezes e foi atrás de Francisco durante as suas visitas ao Brasil, Paraguai e Cuba. Mas o uso político da aproximação por parte de Cristina Kirchner desagradou o pontífice, segundo reportou o Clarín. Depois disso, a relação voltaria a se desgastar.

Já com Mauricio Macri, o desgaste começou quando ele ainda era prefeito de Buenos Aires. O líder católico havia apoiado a candidatura do bispo Joaquín Piña que conseguiu barrar, na constituinte da província de Misiones, a reeleição indefinida do governador peronista Carlos Rovira. E esperou, em retribuição, que Macri apelasse contra a decisão que abriu caminho para o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina, o que não aconteceu.

Durante a presidência de Mauricio Macri, a Argentina deu mais um passo nas reformas progressistas: o início das discussões no Congresso sobre a legalização do aborto. Apesar do desgaste com o papa Francisco, que enfrentava a pressão dos setores mais conservadores da Igreja Católica, eles mantiveram as relações no nível institucional.

No caso de Alberto Fernández, a relação foi afetada pela legalização do aborto, concluída durante o seu período na Casa Rosada. De acordo com o Clarín, o pontífice também teria se incomodado com a estratégia de Fernández, que assim como sua vice-presidente Cristina Kirchner, tentou explorar politicamente as relações o papa.

Milei, por sua vez, atacou o líder católico antes de chegar à presidência. Depois de eleito, ele participou da missa de canonização de Mama Antula, a primeira santa da Argentina, e foi recebido pelo papa Francisco.

A relação foi apaziguada, mas eles mantiveram profundas discordâncias sobre o papel do Estado. O libertário Javier Milei promove um duro ajuste fiscal, que atinge principalmente os mais pobres na Argentina, enquanto o papa Francisco se dedicou à defesa dos vulneráveis.

"O Estado, hoje mais importante do que nunca, é chamado a exercer esse papel central de redistribuição e justiça social", disse o papa, um mês após receber Milei no Vaticano.

Francisco também criticou a repressão do governo aos protestos na Argentina. "Me mostraram as imagens da repressão, onde a polícia reprimiu os trabalhadores que exigiam os seus direitos nas ruas como se fossem desordeiros. Em vez de gastarem com justiça social, gastam na compra de gás de pimenta", disse após encontro com representantes dos movimentos sociais.

Embora na Argentina o Estado e a Igreja estejam separados, os vínculos sempre foram muito estreitos. Até a reforma constitucional de 1994, ser católico era requisito para assumir a presidência. Nesse contexto, o papa se viu no meio da polarização e das discussões em torno do peronismo.

"Nunca fui filiado, militante ou simpatizante do peronismo. Afirmar isso é uma mentira. Meus escritos sobre justiça social levaram a dizerem que sou peronista. Mas, na hipótese de ter uma concepção peronista da política, o que haveria de errado nisso?", questionou o papa sobre as acusações dos críticos de vínculos com o peronismo.

"Na Argentina, o papa era visto com um perfil de esquerda, e a direita mais liberal não gostava dele", explicou o biógrafo Sergio Rubín, coautor de O jesuíta (2013) e O Pastor (2023).

A disputa acabou afastando o papa, que nunca voltou a Buenos Aires. O papa Francisco chegou a dizer que gostaria de visitar à Argentina, mas não queria que a sua passagem pelo país fosse "usada nem para um lado, nem para o outro", expressando a preocupação com a politização de sua imagem.

Reações à morte do papa Francisco

Agora, enquanto o mundo dá adeus ao papa Francisco, os líderes políticos da Argentina deixam as desavenças com o líder católico para trás.

"Apesar das diferenças que hoje parecem pequenas, foi uma verdadeira honra para mim ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria", escreveu Javier Milei ao lamentar a morte. O presidente decretou luto oficial de sete dias e vai a Roma para a despedida do papa.

Por sua vez, Cristina Kirchner disse que ele era o "rosto de uma Igreja mais humana, com os pés na terra e o olhar fixo no céu", lembrando do primeiro encontro que teve com o papa Francisco.

O caráter humanitário do pontífice também foi destacado por Alberto Fernández. "A Igreja deveria apoiar os despossuídos, os marginalizados e os perseguidos. A Igreja deveria abraçar aqueles que foram condenados a ser minorias ou perseguidos em suas terras. A Igreja deveria levantar sua voz contra aqueles que acumulam riqueza e distribuem pobreza. No entanto, a Igreja só conseguiu fazer isso quando Francisco, o jesuíta, era o papa", escreveu nas redes sociais.

Lembrando o seu último encontro com o papa Francisco, acompanhado da mulher e das filhas, Mauricio Macri disse: "Tenho a imagem daquele dia e também de Francisco como um homem religioso de estatura inigualável, um político severo e, principalmente, um bom pastor. Sua vida foi marcada pelos ensinamentos que transmitiu com suas palavras, seu compromisso e seus gestos. Ele mesmo, com sua trajetória, é uma lição para todos nós".

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira, 21, que há uma "boa chance" de que a Rússia e a Ucrânia cheguem a um acordo nesta semana para acabar com a guerra. O conflito já dura três anos.

"Há uma boa chance", declarou Trump quando perguntado se ele achava que Moscou e Kiev poderiam selar um acordo até sexta-feira, acrescentando que teve boas reunião com os dois lados.

Durante o evento anual Easter Egg Roll realizado na Casa Branca, o republicano também disse que teve "reuniões muito boas sobre o Irã" e expressou confiança de que uma solução comercial seria alcançada com a União Europeia. "No final das contas, teremos um acordo com qualquer um", afirmou ele.