Como é e como fica a criminalização das fake news se veto de Bolsonaro for derrubado

Política
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O Congresso Nacional realiza nesta terça-feira, 28, uma sessão conjunta com deputados e senadores para analisar, entre outros assuntos, o veto do então presidente Jair Bolsonaro (PL) que retirou o trecho sobre fake news do texto que substituiu a Lei de Segurança Nacional. Um dos dispositivos vetados por Bolsonaro foi o que criminalizava a comunicação enganosa em massa, feita no contexto eleitoral ou que lesasse o exercício dos Poderes, e previa até cinco anos de reclusão para quem cometesse o crime.

Advogados ouvidos pelo Estadão explicam que, atualmente, continuam valendo os dispositivos do Código Penal, que tratam de difamação, calúnia e injúria, nos casos em que notícias falsas são disparadas em massa, mas ressaltam que um dispositivo específico para enquadrar o que são "verdadeiras campanhas de desinformação" poderiam garantir a saúde democrática do País.

O texto aprovado pelo Senado criava um novo título no Código Penal para tipificar dez crimes, entre eles o de fake news nas eleições. O capítulo sobre crimes contra o funcionamento das instituições democráticas no processo eleitoral foi incluído no projeto pela então deputada e relatora na Câmara, Margarete Coelho (PP-PI), em 2021.

O artigo vetado, que versava sobre a disseminação de desinformação em massa, tratava como crime o ato de "promover, ofertar, constituir, financiar, ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, mediante uso de expediente não fornecido diretamente pelo provedor de aplicação de mensagem privada, campanha ou iniciativa para disseminar fatos que sabe inverídicos capazes de colocar em risco a higidez do processo eleitoral, ou o livre exercício dos poderes constitucionais". A pena prevista era a reclusão de um a cinco anos e multa a quem promovesse notícias sabidamente falsas.

Advogado criminalista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), Celso Vilardi explica que o trecho, que passará a valer caso o veto seja derrubado pelo Congresso, pode dimensionar campanhas de desinformação, inclusive impulsionadas, e punir os autores.

O artigo vetado não prevê a ocorrência de crime somente em caso de financiamento, mas o mero "promover" uma notícia falsa poderá ser enquadrado na legislação. Para a advogada eleitoral Anna Raquel Gomes, os casos em que esse tipo de campanha é impulsionada por meio de pagamento são ainda mais difíceis de serem enfrentados, mesmo se o veto for derrubado.

"No caso específico de financiamento, acredito que pode ser um dos grandes desafios a serem enfrentados, porque hoje ainda se mostra uma tarefa bastante complicada saber a fonte real das fake news e, consequentemente, quem é o responsável pela fabricação e disseminação", disse a advogada.

Ela exemplifica como crimes que podem ser tipificados no artigo, a divulgação de vídeos e notícias falsas sobre a suposta facilidade de fraudar urnas eletrônicas, o que já foi desmentido, com evidências, em diversas ocasiões pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A Corte eleitoral publicou em fevereiro deste ano uma resolução que determina que os provedores de propagandas pagas na internet deverão "manter repositório desses anúncios para acompanhamento, em tempo real, do conteúdo, dos valores, dos responsáveis pelo pagamento e das características dos grupos populacionais que compõem a audiência".

Em resposta, para cumprir a nova resolução, o Google passou a proibir o impulsionamento de conteúdos políticos em todas as suas plataformas a partir de maio. Para Anna Raquel, a decisão da plataforma pode ajudar a coibir o crime, mas dificulta a identificação dos autores e promotores das campanhas de difamação.

Justificativa do veto

Ao justificar o veto, Bolsonaro afirmou que o dispositivo contrariava o interesse público "por não deixar claro qual conduta seria objeto da criminalização, se a conduta daquele que gerou a notícia ou daquele que a compartilhou (mesmo sem intenção de massificá-la), bem como enseja dúvida se o crime seria continuado ou permanente, ou mesmo se haveria um 'tribunal da verdade' para definir o que viria a ser entendido por inverídico a ponto de constituir um crime punível."

Além disso, segundo o governo do então presidente, "a redação genérica tem o efeito de afastar o eleitor do debate político, o que reduziria a capacidade de definir as suas escolhas eleitorais, inibindo o debate de ideias, limitando a concorrência de opiniões, indo de encontro ao contexto do estado democrático de direito, o que enfraqueceria o processo democrático e, em última análise, a própria atuação parlamentar".

Bolsonaro e aliados são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das milícias digitais, que apura a atuação de grupos organizados na internet para atacar a democracia, inclusive com a divulgação em massa de notícias falsas, como as que queriam colocar em xeque o resultado eleitoral de 2022, quando ele perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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O ministro de Defesa de Israel, Israel Katz, disse nesta quarta-feira, 16, que tropas permanecerão nas chamadas zonas de segurança na Faixa de Gaza, no Líbano e na Síria "indefinidamente", o que pode complicar ainda mais as negociações com o Hamas sobre um acordo e a libertação de reféns.

As forças israelenses tomaram mais da metade de Gaza em uma campanha renovada para pressionar os militantes do Hamas a libertar reféns depois que Israel encerrou o cessar-fogo no mês passado.

Israel também se recusou a se retirar de algumas áreas no Líbano após um cessar-fogo com o grupo militante Hezbollah no ano passado, e tomou uma zona tampão no sul da Síria depois que os rebeldes derrubaram o presidente sírio, Bashar Assad, em dezembro.

Um apagão atingiu toda a ilha de Porto Rico nesta quarta-feira, 16, enquanto os moradores do território norte-americano, em sua maioria católicos, se preparavam para celebrar o fim de semana da Páscoa, disseram autoridades.

Todos os 1,4 milhão de clientes da ilha estavam sem energia, disse Hugo Sorrentini, porta-voz da Luma Energy, que supervisiona a transmissão e distribuição de energia. "A ilha inteira está sem geração", disse.

Enquanto isso, pelo menos 78.000 clientes ficaram sem água, com as autoridades alertando que a energia provavelmente não será totalmente restabelecida nas próximas 48 a 72 horas.

"Isso é inaceitável", disse Josué Colón, chamado czar da energia da ilha e ex-diretor executivo da Autoridade de Energia Elétrica de Porto Rico.

Não se sabia o motivo exato para o apagão, o mais recente de uma série de falhas de fornecimento de energia na ilha nos últimos anos. A governadora Jennifer González , que estava viajando, disse que as autoridades estavam "trabalhando com diligência" para resolver o problema.

Milhares de porto-riquenhos ficaram furiosos com a última queda de energia, ampliando os apelos para que o governo cancele o contrato com a Luma e a Genera PR, que supervisiona a geração de energia na ilha.

Um juiz federal afirmou nesta quarta-feira, 16, que encontrou causa provável para condenar o governo Trump por desacato criminal ao violar as ordens judiciais para retornar aviões de deportados que foram enviados a El Salvador.

O juiz distrital dos EUA, James E. Boasberg, disse que poderia abrir um processo contra a Casa Branca, caso o governo continue ignorando as suas ordens judiciais.

"A Constituição não tolera a desobediência deliberada de ordens judiciais - especialmente por funcionários de um poder coordenado que tenham feito um juramento de cumpri-la", escreveu Boasberg.

Escalada

A decisão do juiz marca uma escalada na batalha entre o Judiciário e Executivo sobre os poderes do presidente para executar as principais prioridades da Casa Branca. Trump pediu o impeachment de Boasberg, enquanto o Departamento de Justiça acusou o juiz de extrapolar sua autoridade.

Boasberg, que foi indicado para a magistratura federal pelo presidente democrata Barack Obama, ordenou ao governo no mês passado que não deportasse ninguém sob a Lei de Inimigos Estrangeiros. Trump invocou a lei de guerra de 1798 sobre o que alegou ser uma invasão da gangue venezuelana Tren de Aragua.

Quando Boasberg foi informado de que já havia aviões com destino a El Salvador, que concordou em abrigar imigrantes deportados em uma prisão de segurança máxima, o juiz disse que a aeronave precisava ser devolvida aos Estados Unidos. Mas horas depois, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou que os deportados haviam chegado ao seu país.

O governo Trump argumentou que não violou nenhuma ordem e disse que o juiz não incluiu a diretiva de retorno em sua ordem escrita.

No início deste mês, a Suprema Corte anulou a ordem temporária de Boasberg que bloqueava as deportações sob a Lei de Inimigos Estrangeiros, mas afirmou que os imigrantes devem ter a chance de contestar suas remoções antes de serem deportados. A maioria conservadora afirmou que as contestações legais devem ocorrer no Texas, e não em um tribunal de Washington. (COM INFORMAÇÕES DA AP)