Crise na Venezuela: oposição vai ouvir Amorim, Vieira, María Corina, González e embaixadora

Política
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Em dia de derrota do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição na Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, dia 28, um pacote com nove requerimentos relacionados à crise política na Venezuela. Os deputados querem discutir o posicionamento oficial do Brasil, o impasse político na Venezuela, os indícios de fraude na proclamação de reeleição de Maduro e o recrudescimento do regime.

Entre os requerimentos, estão convites para realização de audiências públicas que expõem a questionamentos autoridades do governo Lula diretamente envolvidas na tentativa - até aqui fracassada - de mediação entre o regime chavista e a oposição. A lista inclui o assessor especial Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e a embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira. Eles deverão comparecer à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden), em data a ser definida.

Os deputados também aprovaram audiências e querem ouvir o relato de lideranças da oposição venezuelana. O convite será levado aos dois principais nomes da Plataforma Unitária Democrática, María Corina Machado e Edmundo González - este último foi candidato em substituição a ela e vem sendo reconhecido por parte da comunidade internacional como real vencedor da eleição presidencial, realizada há um mês. Ambos vivem na clandestinidade por causa de ameaças de prisão pela repressão chavista, e a expectativa dos parlamentares é que possam participar por meio de uma videoconferência.

A bancada de oposição ainda aprovou cinco moções de repúdio à ditadura venezuelana, por motivos como a condução de um processo eleitoral suspeito de fraude, as prisões e censuras arbitrárias durante protestos que tomaram conta do país. A Venezuela não é reconhecida como uma ditadura por Lula, mas como um regime de viés autoritário e "desagradável". Essa classificação é contestada até mesmo nas fileiras do PT, partido do presidente. A legenda parabenizou Maduro pela vitória na eleição.

Em outras duas frentes, os deputados aprovaram audiências públicas para ouvir especialistas no sistema eleitoral da Venezuela e na promoção de eleições, pesquisas e no monitoramento delas. Eles sugeriram que sejam convidados representantes de entidades observadoras como o Centro Carter, a Missão de Observação Eleitoral (MOE) da Colômbia, o Instituto Atlas/Intel e o Portal Votoscopio.

A aprovação dos requerimentos em bloco mostra força da oposição e tende a desgastar o governo Lula. Ao contrário do que ocorre na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, o ambiente na comissão da Câmara é mais complicado, com maioria de opositores unida e métodos de interpelação mais hostis. Todos os requerimentos foram apresentados por deputados de PL, Novo e PSDB. Somente o PT se opôs, exceto no caso das entidades e observadores.

"Eu não vou na linha do repúdio. O assunto é mais complexo do que uma tintura banca ou preta", disse o governista Arlindo Chinaglia (PT-SP), principal interlocutor na comissão dos interesses da Presidência da República e do Itamaraty. O ex-presidente da Câmara defendeu que o País siga em defesa do diálogo, e não endureça a interlocução com o regime.

O governo tentava evitar a realização da audiência com a embaixadora Glivânia de Oliveira, que está em Caracas. Se houve um acordo nesse sentido no Senado, a base do petista não conseguiu blindar a diplomata na Câmara. No caso do ministro Mauro Vieira e do ex-chanceler Celso Amorim houve um acordo para que eles se apresentem voluntariamente.

Vieira volta nesta quarta-feira, dia 28, de viagem à Ásia - ele teve compromissos nas Filipinas, Malásia e Índia. O chanceler também é aguardado no Senado, que já aprovou uma audiência e aguarda o agendamento de uma data. Amorim, por sua vez, já deu explicações aos senadores, que na prática se anteciparam aos deputados nos questionamentos sobre a crise na Venezuela.

"Estamos retardando nosso papel e a cada dia surgem novos atos nessa crise, como agora o feito pelo presidente da Nicarágua, questionando o posicionamento do Brasil e uma crítica ferrenha à proposta de novas eleições. Estamos sendo ridicularizados em função de algumas posturas do governo", disse o deputado general Girão (PL-RN).

O deputado Mario Frias (PL-RJ) disse que, se o convite não for atendido por Vieira e Amorim, terá de apelar para a convocação - nesse caso, a apresentação é obrigatória, em data determinada pela Câmara.

Por acordo, os dois principais conselheiros de Lula deverão dar explicações sobre a condução diplomática do Brasil e os posicionamentos do presidente Lula na crise da Venezuela em audiências distintas. A comissão estabeleceu duas datas tentativas, diante de servidores do Itamaraty e do Palácio do Planalto. O prazo limite é o dia 16 de outubro.

O petista Arlindo Chinaglia chegou a dizer que Amorim havia se pré-disposto a ir à Câmara nesta terça-feira, dia 27, para prestar contas, mas que foi atrapalhado pela desmobilização no Parlamento.

A primeira data sugerida é entre 9 e 11 de setembro. A comissão sugeriu que Amorim seja ouvido no dia 10 de setembro, e Vieira, no dia 11. No entanto, o assessor especial de Lula já tem uma viagem agendada à Rússia, entre 5 e 13 de setembro.

A Câmara aprovou em junho, também por acordo entre base governista e oposição, uma reunião reservada para tratar das missões de Amorim ao Kremlim e das conversas com conselheiros e assessores de Vladimir Putin a respeito da guerra na Ucrânia. Essa reunião também vem sendo protelada e segue sem data.

Tanto no Senado quanto na Câmara, as sessões de questionamento a Amorim e Vieira vem sendo adiadas e atrapalhadas pelo recesso parlamentar e pela decisão dos líderes do Congresso de realizar sessões remotas ou híbridas e permitir ausência de deputados e senadores durante o período de campanha das eleições municipais. Foram estabelecidas semanas de esforço concentrado em Brasília, o que na prática esvazia o Legislativo nos demais dias.

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Após vencer as eleições parlamentares da Groenlândia da terça-feira, 11, o Partido Demokraatit, de centro-direita, rejeitou nesta quarta, 12, as recentes pressões feitas pelo presidente americano, Donald Trump, para assumir o controle da ilha, que é um território autônomo da Dinamarca. Favorável a uma independência gradual de Copenhague, a legenda declarou que a Groenlândia não está a venda.

"Não queremos ser americanos. Também não queremos ser dinamarqueses. Queremos ser groenlandeses. E queremos nossa própria independência no futuro. E queremos construir nosso próprio país por nós mesmos, não com a esperança dele", disse o líder do partido Jens-Friederik Nielsen, à Sky News.

Trump tem mencionado abertamente o seu desejo de anexar a Groenlândia. Durante uma sessão conjunta no Congresso no dia 4 de março, o presidente americano afirmou que acreditava que Washington iria conseguir a anexação "de uma forma ou de outra".

Independência

Uma ruptura com a Dinamarca não estava na cédula, mas estava na mente de todos. A Groenlândia foi colonizada há 300 anos pela Dinamarca, que ainda exerce controle sobre a política externa e de defesa do país.

A ilha de 56 mil pessoas, a maioria de origem indígena, está caminhando para a independência desde pelo menos 2009, e os 31 legisladores eleitos moldarão o futuro da ilha enquanto o território debate se chegou a hora de declarar independência.

Quatro dos cinco principais partidos na corrida defendem a independência, mas discordaram sobre quando e como.

A legenda Naleraq ficou em segundo nas eleições. O partido deseja um processo mais rápido de independência, enquanto o Demokraatit favorece um ritmo mais moderado de mudança.

Uma vitória surpreendente

O Demokraatit ganhou quase 30% dos votos, em comparação com apenas 9% na eleição de quatro anos atrás, segundo a Greenlandic Broadcasting Corporation, enquanto Naleraq ficou em segundo lugar com quase 25%, acima dos quase 12% em 2021.

A vitória surpreendente do Demokraatit sobre partidos que governaram o território por anos indicou que muitos na Groenlândia se importam tanto com políticas sociais, como saúde e educação, quanto com geopolítica.

Nielsen, de 33 anos, pareceu surpreso com os ganhos de seu partido, com fotos mostrando-o ostentando um sorriso enorme e aplaudindo na festa eleitoral.

A emissora dinamarquesa DR relatou que Nielsen disse que seu partido entraria em contato com todos os outros partidos para negociar o futuro curso político para a Groenlândia.

A primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen parabenizou o Demokraatit e afirmou que o governo dinamarquês aguardaria os resultados das negociações de coalizão.

União

O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Bourup Egede convocou a votação em fevereiro, dizendo que o país precisava se unir durante um "momento sério" diferente de tudo que a Groenlândia já vivenciou.

Depois que os resultados foram conhecidos, Egede agradeceu aos eleitores em uma postagem no Facebook por comparecerem e disse que os partidos estavam prontos para recorrer às negociações para formar um governo.

Seu partido, o Inuit Ataqatigiit, ou United Inuit, recebeu 21% dos votos. Este é um declínio significativo em relação à última eleição, quando a legenda teve 36% dos votos, de acordo com a KNR TV.

O Inuit Ataqatigiit era amplamente esperado para vencer, seguido pelo Siumut. Os dois partidos dominaram a política da Groenlândia nos últimos anos.

O Siumut ficou em quarto lugar com 14% dos votos. (COM INFORMAÇÕES DA ASSOCIATED PRESS)

O ex-presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, foi entregue à custódia do Tribunal Penal Internacional (TPI) nesta quarta-feira, 12, informou o órgão. Duterte tinha uma ordem de prisão emitida pelo TPI por supostos crimes durante sua campanha contra o tráfico de drogas.

"Hoje, 12 de março de 2025, Rodrigo Roa Duterte, nascido em 28 de março de 1945, foi entregue ao Tribunal Penal Internacional", disse o órgão, sediado em Haia, na Holanda, em comunicado.

O político foi preso no Aeroporto Internacional de Manila quando retornava de Hong Kong. "Após a chegada de Duterte, o promotor-geral apresentou a notificação do TPI para um mandado de prisão. Agora ele está sob a custódia das autoridades", afirmou um comunicado do governo das Filipinas.

O governo disse que o ex-líder de 79 anos estava em boa saúde e foi examinado por médicos ao ser detido e foi levado para Haia.

Duterte é investigado pelos assassinatos em massa que aconteceram durante seu governo em meio à repressão contra o comércio de drogas ilegais no país. O TPI começou a investigar o papel de Duterte na repressão violenta aos filipinos ainda em novembro de 2011, quando ele era prefeito da cidade de Davao. Duterte foi presidente do país entre 2016 e 2022.

O TPI vem investigando assassinatos em massa em repressões supervisionadas por Duterte desde que ele serviu como prefeito de Davao, uma cidade no sul das Filipinas. As estimativas do número de mortos na repressão sob Duterte como presidente variam, de mais de 6 mil que a polícia nacional relatou até 30 mil reivindicados por grupos de direitos humanos.

O mandado de prisão contra Duterte aponta que "há motivos razoáveis para acreditar que o ataque às vítimas foi generalizado e sistemático".

A prisão de Duterte foi necessária "para garantir seu comparecimento ao tribunal", de acordo com o documento de 7 de março.

Jurisdição

Duterte se tornou o primeiro ex-presidente asiático a ser preso pelo TPI. Advogados do ex-presidente questionam o mandado porque as Filipinas não fazem parte do tratado que permite a jurisdição do Tribunal.

O TPI extrai sua jurisdição do Estatuto de Roma, um documento atualmente assinado por 125 países. Logo após o anúncio do inquérito, Duterte afirmou que as Filipinas se retirariam do tratado, e o país deixou oficialmente o Tribunal em março de 2019.

O TPI alega que tem jurisdição porque as acusações datavam de quando as Filipinas ainda eram signatárias do tratado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que "espera que possamos obter um cessar-fogo da Rússia". "E se conseguirmos, acho que isso seria 80% do caminho para acabar com esse horrível banho de sangue" , disse Trump em entrevista concedida na Casa Branca, onde recebeu o primeiro-ministro da Irlanda, Micheal Martin, nesta quarta-feira, 12. O presidente dos EUA novamente fez ameaças veladas de atingir a Rússia com novas sanções. "Podemos, mas espero que não seja necessário", acrescentou Trump. Fonte: Associated Press.