Brasil vive 'crise de reputação' no exterior, afirma consultoria

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Apesar do esforço recente do governo brasileiro em melhorar a avaliação do País no exterior, um estudo feito pela consultoria Curado & Associados, especializada em gestão de imagem, aponta que o Brasil vive uma "crise de reputação". O levantamento mostra que 92% de 1.179 textos publicados em veículos estrangeiros em 2020 apresentaram viés negativo sobre a administração de Jair Bolsonaro.

O Itamaraty tem orientado embaixadas brasileiras a ter uma posição mais proativa em relação ao noticiário doméstico, numa tentativa de desfazer a imagem negativa do País e do governo no exterior. A ordem às representações na Europa e na Ásia é de passar um "pente-fino" no noticiário sobre o Brasil, que ganhou manchetes no exterior após alta nos índices de queimadas no fim de 2019.

A análise das publicações feita pela consultoria, no entanto, chegou a um índice de imagem - chamado de índice de Valor, Gestão e Relacionamento (iVGR) - de -3,38, numa escala que vai de -5 a +5. Pela metodologia do índice, criado em parceria com estatísticos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), as crises de imagem começam quando o indicador está abaixo de -2.

O patamar negativo foi mantido nos 12 meses do ano, o que pode ser visto como indicativo de crise, segundo a fundadora da consultoria, Olga Curado.

Para chegar ao número, os consultores analisaram textos de sete veículos: The New York Times e The Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El País (Espanha), Le Monde (França) e Der Spiegel (Alemanha). Foi observado que a imagem do governo que prevaleceu durante o ano foi de "incompetente" e "vulnerável". No aspecto ético, o atributo "irresponsável" manteve média de 20% de participação em 2020.

Às vésperas do registro do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, em fevereiro, o iVGR do governo apresentou seu momento menos negativo no ano. Ainda assim, ficou em -2,59, abaixo do patamar considerado de crise. Já entre abril e junho, no auge da primeira onda de covid-19 no País, o índice apresentou o pior momento, voltando a se deteriorar a partir de setembro por causa de outra cobertura desfavorável: a política ambiental e os incêndios na Amazônia e no Pantanal.

Das 1.179 matérias publicadas, 1.088 foram negativas (92%) e 91 positivas (8%). Entre as negativas, 52% estavam relacionadas à gestão da pandemia. No tema "outros", destaque para textos sobre a crise econômica do Brasil fora do contexto da pandemia e a violação a direitos humanos.

No grupo do noticiário positivo estavam abordagens sobre expectativas de retomada da economia e de reformas estruturais, concentradas no primeiro trimestre. Outros temas que geraram visibilidade positiva foram o pagamento de auxílio emergencial e testes com vacinas.

Para o professor Anthony Pereira, do Brazil Institute e do Department of International Development do King's College de Londres, o retrato já era esperado. "Não é uma surpresa, mas, de modo geral, houve muita cobertura negativa sobre outros países também", comparou, citando ações do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi durante a pandemia; a postura do ex-presidente americano Donald Trump de não aceitar a derrota de sua reeleição; e a demora do premiê britânico, Boris Johnson, de aderir a medidas de quarentena. "Houve um superávit de cobertura negativa em 2020", constatou.

Discursos

O professor disse ainda que a imagem negativa do governo brasileiro lá fora se deve não apenas por causa dos dados. "Os discursos também contribuem para isso, como o de que as ONGs incentivam a queima da floresta e o de que os dados sobre do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) são uma mentira. Esse discurso negacionista e o desmantelamento da infraestrutura de combate a incêndios geraram essa imagem. Fora as falas nas áreas de direitos humanos e política externa", afirmou Pereira.

Procurado, o Itamaraty, responsável pela política externa do governo brasileiro, disse que o levantamento em veículos de imprensa "não parece refletir a opinião da população ou governos de outros países".

"O exercício da atividade diplomática no exterior inclui a comunicação formal, quando o assunto requer, entre o representante diplomático e os órgãos de imprensa, para permitir ao público conhecer também a perspectiva oficial brasileira a respeito de determinado assunto - contexto em que se inscreve o exemplo citado", afirma nota do ministério.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O governo da Malásia deu aprovação final para que uma empresa de robótica marinha do Texas (EUA) retome as buscas pelo voo Malaysia Airlines MH370, que desapareceu há mais de dez anos. Acredita-se que a aeronave caiu no sul do Oceano Índico.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto que exige que todos os cidadãos ucranianos presentes em territórios ocupados pelos russos sem autorização legal para permanência (residência) "deixem a Federação Russa por conta própria ou regularizem sua situação jurídica até 10 de setembro de 2025".

O decreto também estipula que estrangeiros e apátridas que tenham chegado às regiões da República Popular de Donetsk, República Popular de Lugansk, Oblast de Zaporíjia e Oblast de Kherson "para fins não relacionados ao exercício de atividade laboral, por mais de 90 dias consecutivos, ou para fins de trabalho, sem ter passado por exame médico", deverão ser submetidos a testes para detecção de drogas e possíveis doenças infecciosas até 10 de junho.

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Dezenas de peixes mortos foram encontrados na costa. Surfistas têm reclamado desde o fim de semana de sintomas como olhos irritados, dor de garganta e tosse após o contato com a água, disse o morador local Anthony Rowland, que surfou em Waitpinga no sábado.

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