O caminhoneiro que bloqueou o Rodoanel Mário Covas na semana passada teria confessado quais itens utilizou para forjar o próprio sequestro e uma falsa bomba caseira: spray de gás para fogareiro, desodorante para os pés, galão e papel alumínio. À polícia, também teria reconhecido a pedra utilizada para simular um ataque ao veículo.
Em entrevista ao programa Balanço Geral, da Record, o delegado do caso afirmou que o motorista reconheceu ter simulado o sequestro e que se arrependeu. O homem também teria dito à polícia que cometeu esse ato como uma forma de chamar a atenção para as condições de trabalho dos caminhoneiros.
"Disse também que já vinha com essa ideia horas antes, que produziu aquele simulacro de artefato explosivo na própria cabine do caminhão, com o que tinha", contou o delegado Marcio Fruet, do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Dise) de Taboão da Serra, na Grande São Paulo.
O motorista é Dener Laurito dos Santos. Diferentemente do que narrou, a pedra não teria sido atirada contra o caminhão por uma pessoa em uma caminhonete. "Ele confessou que parou para urinar, jogou essa pedra contra o caminhão, prosseguiu. Ele mesmo se amarrou, até prosseguir por mais alguns quilômetros e bloquear a via", contou o delegado.
A investigação se valeu de apurações em campo, imagens de câmeras do trajeto do motorista desde a noite anterior (que passou na Rodovia dos Bandeirantes) e dados do sistema de monitoramento do caminhão. "Ele diz que desmaiou de verdade, tendo em vista o estresse muito grande a que foi submetido", completou.
Na entrevista, o delegado destaca que já havia indícios de inconsistência no depoimento desde o começo das investigações. As lesões identificadas no motorista não condiziam, por exemplo, com o relato de que teria passado por luta corporal e sofrido agressão de três homens - um deles com um fuzil.
"Ele tentou, no começo, prosseguir com essa história, mas felizmente confessou", comentou o delegado. O inquérito policial segue em andamento. "Vamos continuar para verificar se essa motivação é real ou não", disse o delegado. O homem deve responder por falsa comunicação de crime, além de poder sofrer sanções civis.
Os resultados de alguns laudos ainda estão pendentes, como o toxicológico. O delegado contou, contudo, que o teste do bafômetro feito no dia do ato deu negativo e que o caminhoneiro alegou não utilizar drogas e remédios. "Diz que praticou os atos de forma consciente", explicou.
Natural de Ribeirão Pires, o motorista trabalhava como colaborador da transportadora Sitrex, que tem sede em São Bernardo do Campo. Nessa função, fazia entregas para clientes de outros Estados e até de outros países.
Como o Estadão mostrou, o motorista tem outro histórico que chamou a atenção: em 2006, foi oficialmente expulso da Polícia Militar por "atos desonrosos". Ele foi policial por mais de 10 anos, até cometer "transgressão disciplinar de natureza grave".
Relembre o caso
No dia 12, o caminhão conduzido por Dener parou sobre as três faixas do Rodoanel, na altura do quilômetro 45, provocando o bloqueio total da pista. A polícia foi acionada pelo próprio motorista, encontrado sozinho, com as mãos amarradas e com um simulacro de bomba dentro do veículo.
Após horas de operação policial, que contou com o apoio do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), o caminhoneiro foi resgatado. Chegou a ser hospitalizado, por suposto estado de choque. Aos policiais, contou inicialmente que tinha sido rendido por três criminosos na estrada, sofrido agressões e mantido refém.
Na ocasião, a Polícia Civil registrou o caso como tentativa de roubo. Conforme as investigações, nada tinha sido levado pelos supostos assaltantes.
*Com informações de Caio Possati.