Morte de Matthew Perry: leia trechos da biografia que chega ao topo dos mais vendidos

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A morte de Matthew Perry, o Chandler de Friends, surpreendeu o mundo na noite do último sábado, 28. Com a notícia, a autobiografia do ator, Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível, voltou a ser visitada por fãs e se tornou o livro mais vendido na Amazon Brasil neste domingo, 29. A obra foi lançada em 2022 no exterior e, no Brasil, em janeiro de 2023, pela editora Best Seller.

Descrito como um relato transparente e sensível de Perry, que interpretou um dos protagonistas de uma das séries mais assistidas do mundo enquanto enfrentava o vício em drogas, o livro conta com vários relatos marcantes.

"Olá, meu nome é Matthew, embora você possa me conhecer por outro nome. Meus amigos me chamam de Matty. E eu deveria estar morto", escreveu ele na biografia, que vendeu um milhão de cópias em 2022. Leia trechos:

O prefácio da obra é assinado por Lisa Kudrow, que interpretou Phoebe.

"Como anda o Matthew Perry? Desde que começaram a me fazer essa pergunta, esse foi o principal questionamento que ouvi ao longo dos anos", escreveu a amiga. "Mas a verdade é que eu não sabia muito bem como andava o Matthew."

"Eu me concentrava em Matthew, que me fazia rir todo dia e que uma vez por semana me fazia rir tanto que eu não conseguia respirar. Lá estava ele, Matthew Perry, brilhante, charmoso, doce, sensível, muito sensato e racional".

Ela finaliza com uma mensagem direcionada ao amigo. "Ele sobreviveu ao impossível, mas até hoje eu não tinha a menor ideia de quanta vezes escapou por pouco. Estou feliz por você continuar aqui, Matty. Parabéns. Eu te amo".

Vício e infelicidade

"Eu tinha todas as coisas exteriores possíveis. Julia Roberts é minha namorada. Não importa, você precisa beber. Acabei de comprar minha casa dos sonhos. Impossível ficar feliz com isso sem um traficante. Ganho um milhão de dólares por semana - venci na vida, certo? Quer uma bebida? Ah, lógico. Muitíssimo obrigado".

"Eu tinha tudo. Mas esse tudo era uma ilusão. Nada resolveria aquilo. (...) Sou um dos homens mais sortudos do planeta. E, nossa, como eu me diverti. Só que nada disso era a resposta".

Papel em Friends

Perry estava escalado para outra sitcom quando as escalações para Friends, então chamada Friends Like Us, começaram. O papel de Chandler era cobiçado por muitos atores, mas ele sentia que o pertencia.

"Quando li o roteiro, parecia que alguém tinha passado um ano me seguindo, roubando as minhas piadas, imitando meus trejeitos, fazendo uma cópia da minha visão pessimista, porém irônica, da vida. Um personagem específico me chamava a atenção: não era que eu achasse que era capaz de interpretar Chandler; eu era o Chandler".

"Li o papel de Chandler para ela e quebrei todas as regras - para começo de conversa, não segurei o roteiro. É que eu já tinha decorado tudo. E logicamente fui bem (...). Arranquei risadas em momentos em que ninguém mais tinha arrancado. Era como se eu estivesse naqueles momentos em que fazia a minha mãe rir. E Chandler nasceu".

Auge da carreira e fundo do poço

No livro, Perry diz que a nona temporada da série foi a única temporada de Friends em que ele estava totalmente sóbrio, e a única que o rendeu indicação ao Emmy. Segundo o ator, ele achava que conseguia manter seu vício em segredo até que, um dia, Aniston disse que elenco e equipe percebiam o cheiro de álcool nele.

Então, ele começou a morar em um centro de reabilitação.

"Me casei com Monica e fui levado de volta ao centro de tratamento - no auge do meu ponto mais alto em Friends, o ponto mais alto da minha carreira, o momento icônico da série icônica - em uma caminhonete dirigida por um técnico sóbrio".

Coma e sobriedade

Ele conta que, em 2019, teve uma experiência de quase morte depois de um rompimento do cólon, por uso excessivo de opióides. Segundo os médicos, ele tinha 2% de chance de sobreviver.

Depois de um coma de duas semanas e uma hospitalização de cinco meses, seu terapeuta o aconselhou a associar as drogas à possibilidade de ter que usar uma bolsa de colostomia para o resto da vida. "Desde então, não tenho mais interesse em consumir drogas", escreveu.

Ao longo da obra, Matthew ressalta que, apesar do vício em aplacar a "Dor" que sentia - descrita assim, com a inicial em maiúscula -, ele diz que sempre quis continuar vivo.

"Eu me rendi, mas ao lado vencedor, não ao perdedor. Não estou mais atolado em uma batalha impossível contra as drogas e o álcool. Não sinto mais necessidade de acender automaticamente um cigarro para acompanhar meu café da manhã."

"Eu nunca desisti, nunca levantei as mãos e disse: 'Já chega, não aguento mais, você venceu", escreve Perry. "E por causa disso, estou firme agora, pronto para o que vem a seguir".

Leia o primeiro capítulo completo de Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível:

Oi, meu nome é Matthew, embora talvez você me conheça por outro nome. Meus amigos me chamam de Matty. E eu devia estar morto. Se quiser, pode considerar o que vai ler agora como uma mensagem do além, do meu além. É o Sétimo Dia da Dor. E, quando digo Dor, não estou falando de bater o dedão em uma quina nem do filme Meu Vizinho Mafioso 2. Escrevo Dor com letra maiúscula porque foi a pior Dor que já senti- era o Ideal Platônico da Dor, a Dor primordial. Já ouvi as pessoas dizerem que a pior dor é a do parto: bem, aquela era a pior dor imaginável, mas sem a felicidade de ter um recém-nascido nos braços no fim de tudo. E era o Sétimo Dia da Dor, mas também era o Décimo Dia Sem Movimentos. Se é que você me entende. Fazia dez dias que eu não cagava - pronto, explicado.

Havia alguma coisa muito, muito errada. Não era uma dor lânguida, latejante, como uma dor de cabeça; também não era uma dor aguda, penetrante, como a da pancreatite que tive aos 30 anos. Era uma Dor diferente. Parecia que meu corpo estava prestes a explodir. Que minhas entranhas tentavam escapar de mim. Era uma Dor séria pra caralho. E os sons. Meu Deus, os sons. Em geral, sou um cara bem quieto, tranquilo. Mas naquela noite eu berrava a plenos pulmões. Em certas noites, quando o vento sopra na direção certa e os carros já estão todos na garagem, é possível ouvir os sons horríveis de coiotes estraçalhando algo que uiva em Hollywood Hills. No começo, parece o barulho de crianças rindo, muito ao longe, até você perceber que não é bem isso - são os sinais da morte. Mas a pior parte, sem dúvida, é quando os uivos param, porque aí você sabe que a criatura que estava sendo atacada já morreu. É um inferno. E, sim, existe um inferno. Não acredite em ninguém que diga algo diferente disso. Eu já estive lá, ele existe e ponto final. Naquela noite, eu era o animal sob ataque. E ainda gritava, lutando com unhas e dentes para sobreviver. O silêncio significaria o fim. E mal sabia eu o quanto estava próximo disso.

Na época, eu morava em uma casa de reabilitação no sul da Califórnia. Isso não era surpresa - passei metade da minha vida em centros de tratamento ou casas de reabilitação. É uma situação aceitável quando você tem 24 anos, mas nem tanto aos 42. Naquele momento eu tinha 49 e continuava lutando para me livrar do fardo do vício. Àquela altura, eu já sabia mais sobre dependência química e alcoolismo do que todos os orientadores e a maioria dos médicos desses estabelecimentos. Infelizmente, esse autoconhecimento não serve de nada. Se o segredo para a sobriedade fosse esforço e informação, esse monstro não passaria de uma lembrança distante e desagradável para mim. Minha estratégia para continuar vivo tinha sido me transformar em um paciente profissional. Não vamos medir as palavras aqui. Aos 49, eu ainda tinha medo da solidão. Quando ficava sozinho, meu cérebro maluco (maluco apenas nesse sentido, aliás) encontrava qualquer desculpa para recorrer ao impensável: álcool e drogas. Depois de ter décadas da minha vida arruinadas por esse hábito, sinto pavor de retomá-lo. Não sinto medo algum de falar na frente de vinte mil pessoas, mas basta uma noite sentado no sofá, vendo TV, para ficar apavorado. Tenho medo da minha própria mente; medo dos meus pensamentos; medo de a minha cabeça me incentivar a recorrer às drogas, como já fez tantas vezes. A minha mente quer me matar, e eu sei disso. Sou constantemente tomado por uma solidão sorrateira, uma ânsia, e permaneço apegado à ideia de que algo exterior vai ser capaz de me consertar. Mas eu tinha todas as coisas exteriores possíveis!

Julia Roberts é minha namorada. Não importa, você precisa beber. Acabei de comprar minha casa dos sonhos - com vista para a cidade toda! Impossível ficar feliz com isso sem um traficante. Ganho um milhão de dólares por semana - venci na vida, certo? Quer uma bebida? Ah, lógico. Muitíssimo obrigado. Eu tinha tudo. Mas esse tudo era uma ilusão. Nada resolveria aquilo. Eu levaria anos para chegar perto de encontrar uma solução. Por favor, não me leve a mal. Todas essas conquistas - Julia, a casa dossonhos, um milhão por semana - eram maravilhosas, e vou ser eternamente grato por elas. Sou um dos homens mais sortudos do planeta. E, nossa, como eu me diverti. Só que nada disso era a resposta. Se tivesse que fazer tudo de novo, eu ainda participaria do teste para Friends? Sem dúvida alguma. Eu beberia de novo? Sem dúvida alguma. Se não fosse o álcool para acalmar meu nervosismo e me ajudar a me divertir, eu teria pulado do alto de um prédio aos vinte e poucos anos.

Meu avô, o maravilhoso Alton L. Perry, cresceu com um pai alcoólatra, e, por isso, nunca tocou em bebida durante todos os seus longos e maravilhosos 96 anos. Eu não sou o meu avô. Não estou escrevendo isto tudo porque quero que sintam pena de mim, mas porque é a verdade. Escrevo porque alguém pode estar se sentindo confuso por saber que deveria parar de beber - assim como eu, essa pessoa tem todas as informações e entende as consequências de suas ações -, mas não consegue parar. Vocês não estão sozinhos, meus irmãos e minhas irmãs. (No dicionário, a palavra "viciado" devia vir acompanhada de uma foto minha, olhando ao redor, muito atordoado.)

Na casa de reabilitação no sul da Califórnia, meu quarto tinha duas camas queen e vista para West Los Angeles. A segunda cama era ocupada pela minha assistente/melhor amiga, Erin, que é lésbica e cuja amizade aprecio por me oferecer a alegria do companheirismo feminino sem a tensão romântica que pareceu estragar minha amizade com mulheres heterossexuais (sem contar que podemos conversar sobre mulheres gostosas). Nós tínhamos nos conhecido dois anos antes, na clínica de reabilitação onde ela trabalhava. Não permaneci sóbrio naquela época, mas logo percebi que ela era maravilhosa em todos os sentidos e imediatamente a roubei de lá e a contratei como assistente, e ela se tornou minha melhor amiga. Ela também entendia a natureza da dependência química e compreendia as minhas dificuldades melhor do que qualquer médico que já encontrei. Mesmo que a presença de Erin melhorasse a situação, passei muitas noites naquele lugar sem conseguir dormir. O sono é um problema sério para mim, especialmente quando estou em lugares assim. E, para além desse fato, acho que nunca na vida dormi por mais de quatro horas seguidas.

E o meu hábito recém-adquirido de assistir a documentários sobre prisões não ajudava - eu estava me desintoxicando de tanto Frontal que meu cérebro fritou a ponto de me convencer de que eu era um prisioneiro, e aquela casa de reabilitação era um presídio de verdade. Meu psiquiatra diz que "a realidade é um gosto adquirido". Bom, naquela altura eu já tinha perdido o gosto e o cheiro da realidade; eu estava com a Covid da mente, e estava completamente delirante. Mas a Dor não era um delírio; na verdade, doía tanto que eu tinha parado de fumar, e, se você soubesse o quanto eu fumava, saberia que esse era um sinal evidente de que havia alguma coisa muito errada. Um dos funcionários do lugar, cujo crachá poderia muito bem dizer Enfermeiro Cuzão, sugeriu que eu tomasse um banho com sulfato de magnésio para aliviar o "desconforto". Não dá para tratar uma fratura exposta com um Band-Aid; não dá para colocar alguém sentindo tanta Dor em um banho com sais. Mas a realidade é um gosto adquirido, lembra?

E então eu fui tomar o tal banho com sulfato de magnésio. Fiquei sentado lá, pelado, sentindo Dor, uivando feito um cachorro sendo estraçalhado por coiotes. Erin me ouviu - meu Deus, as pessoas devem ter me ouvido até em San Diego. Ela apareceu na porta do banheiro e, olhando para o meu corpo triste e pelado, se contorcendo de Dor, perguntou simplesmente:

- Quer ir pro hospital?

Se Erin achava que estava ruim no nível de ir para o hospital, estava ruim no nível de ir para o hospital. Além do mais, ela percebeu que eu tinha parado de fumar.

- Acho uma ideia boa pra cacete - falei, entre um uivo e outro.

De algum jeito, Erin conseguiu me ajudar a sair da banheira e me secar. Eu estava colocando minha roupa quando uma conselheira - alertada pelo som de um cachorro sendo morto ali dentro - apareceu na porta.

- Vou levar o Matthew para o hospital - disse Erin.

Por acaso, Catherine, a conselheira, era uma moça loira e muito bonita que eu aparentemente havia pedido em casamento quando cheguei ali, então talvez ela não fosse minha maior fã. (É sério, eu estava tão alucinado quando chegamos que a pedi em casamento e imediatamente despenquei por um lance de escadas.)

- Tudo isso não passa de um plano para conseguir drogas - disse Catherine para Erin enquanto eu continuava a me vestir. - Quando ele chegar no hospital vai pedir remédios.

Bom, o casamento não vai rolar, pensei. A essa altura, os uivos haviam alertado outras pessoas de que o chão do banheiro devia estar coberto de entranhas caninas, ou que alguém estava sentindo Dor de verdade. O conselheiro-chefe, Charles - visualize: pai com cara de modelo, mãe em situação de rua -, se juntou a Catherine na porta, para ajudá-la a bloquear nossa iminente saída. Bloquear a saída? Como assim, nós tínhamos 11 anos?

- Ele é nosso paciente - disse Catherine. - Você não tem o di-reito de levá-lo embora.

- Eu conheço o Matty - insistiu Erin. - Ele não está tentando se drogar.

Então Erin se virou para mim.

- Você precisa ir para o hospital, Matty?

Concordei com a cabeça e berrei mais um pouco.

- Vou levá-lo - disse Erin. De algum modo, passamos por Catherine e Charles, saímos do prédio e chegamos ao estacionamento. Digo "de algum modo" não porque Catherine e Charles tenham tentado nos segurar, mas porque, sempre que meus pés tocavam o chão, a Dor piorava. No céu, olhando para mim com desdém, completamente alheia à minha agonia, havia uma bola amarela e brilhante. O que é aquilo?, pensei em meio aos surtos de sofrimento. Ah, o sol. Pois é... Eu não saía muito de casa nessa época.

- Um paciente famoso está chegando com dores abdominais fortes - disse Erin ao telefone enquanto abria a porta do carro. Carros são coisas idiotas, comuns, até você não poder mais dirigi-los, e então eles se tornam caixas mágicas de liberdade e sinais de uma vida anterior bem-sucedida. Erin me colocou no banco do passageiro e eu me deitei. Minha barriga se retorcia em agonia. Ela sentou no banco do motorista, olhou para mim e disse:

- Você quer chegar rápido ou prefere que eu evite as estradas mais esburacadas?- Só anda logo, mulher! - consegui dizer.

Naquele momento, Charles e Catherine tinham decidido se esforçar mais para nos impedir e pararam na frente do carro, bloqueando o caminho. As mãos de Charles estavam erguidas, exibindo as palmas para nós, tentando dizer "Não!", como se um veículo motorizado de uma tonelada e meia pudesse ser impedido de se mover pela força daquelas mãozinhas. Para piorar a situação, Erin não conseguia dar a partida. O motor só funciona quando você diz para o carro ligar, porque, sabe como é, eu trabalhei em Friends. Catherine e as mãozinhas de Charles não desistiram. Quando Erin conseguiu entender como dar a partida naquela joça, só havia mais uma coisa a se fazer: ela ligou o motor, colocou o câmbio no modo "Drive" e virou o volante para subirmos na calçada - só o choque dessa ação, ricocheteando pelo meu corpo inteiro, quase me fez morrer bem ali. Com duas rodas sobre o meio-fio, passamos por Catherine e Charles e ganhamos a rua. Os dois ficaram olhando enquanto íamos embora, mas naquela situação eu a incentivaria a passar por cima deles - é muito assustador se encontrar em um estado em que você não consegue parar de gritar. Se eu estivesse fazendo aquilo só para conseguir drogas, merecia um Oscar.

- Você está mirando nos quebra-molas? Não sei se deu pra perceber, mas estou numa situação meio incômoda agora. Vai mais devagar - implorei a ela.

Lágrimas escorriam tanto pelas minhas bochechas quanto pelas dela.

- Preciso ir rápido - disse Erin, seus olhos castanhos, solidários, me encarando com preocupação e medo. - Não podemos perder tempo. Foi nesse exato momento que perdi a consciência. (Aliás, na escala da dor, perder a consciência é o nível máximo.)

[Um aviso: pelos próximos parágrafos, este livro será uma biografia, mas não com memórias minhas, porque eu deixei de estar presente naquele momento.]

O hospital mais próximo da casa de reabilitação era o Saint John's. Como Erin teve a perspicácia de ligar antes e avisar que uma pessoa famosa estava a caminho, alguém foi nos encontrar na entrada da emergência. Sem ter noção da gravidade do meu estado ao fazer o telefonema, Erin se preocupou com a minha privacidade. Mas o pessoal do hospital logo viu que havia alguma coisa muito errada e eu fui levado para uma sala de tratamento. Lá, me ouviram dizer:

- Erin, por que tem bolas de pingue-pongue em cima do sofá? Não havia um sofá e muito menos bolas de pingue-pongue - eu só estava delirando completamente. (Nunca soube que era possível delirar de dor, mas é isso aí.)

Então a hidromorfina (minha droga favorita no mundo inteiro) chegou ao meu cérebro, e eu recuperei a consciência por um instante. Fui informado de que precisaria ser operado imediatamente e, do nada, todos os enfermeiros da Califórnia apareceram no quarto. Um deles se virou para Erin e disse: - Se prepara para correr! Erin estava preparada, e todos nós corremos - bom, eles correram, eu fui empurrado na minha cadeira de rodas em alta velocidade até chegar à sala de cirurgia. Mandaram Erin sair de lá poucos segundos depois de eu pedir a ela "Por favor, não vai embora", então fechei os olhos; eles só voltariam a se abrir duas semanas depois. Sim, pois é: coma, senhoras e senhores! (E aqueles escrotos da casa de reabilitação tinham tentado bloquear a passagem do carro?)

A primeira coisa que aconteceu quando entrei em coma foi uma broncoaspiração, quando vomitei dez dias de substâncias tóxicas diretamente nos meus pulmões. Eles não gostaram muito disso - daí a pneu-monia instantânea -, e foi então que o meu cólon explodiu. Vou repetir para quem não prestou atenção: meu cólon explodiu! Já me acusaram de ser cheio de merda, mas naquela ocasião o caso era esse mesmo. Ainda bem que eu não estava lá para presenciar o momento. Naquele instante, minha morte era praticamente certa. Eu tive azar por meu cólon ter explodido? Ou tive sorte por isso ter acontecido na única sala no sul da Califórnia em que poderiam resolver o problema? De todo modo, agora eu encarava uma cirurgia de sete horas, que pelo menos deu tempo suficiente para que todos os meus entes queridos fossem correndo para o hospital. Conforme eles chegavam, recebiam a notícia: "Matthew tem dois por cento de chance de sobreviver a esta noite."

Todo mundo ficou tão impactado que algumas pessoas desmoronaram bem ali, na recepção do hospital. Vou ter que passar o resto da vida sabendo que minha mãe e outras pessoas ouviram essas palavras. Enquanto eu passava pelo menos sete horas em cirurgia, e convencidos de que o hospital faria o melhor trabalho possível, minha família e meus amigos foram para casa dormir, enquanto meu subconsciente lutava pela vida entre bisturis, cânulas e sangue. Spoiler: eu sobrevivi àquela noite, mas ainda havia risco. Minha família e meus amigos foram informados de que, em curto prazo, eu precisaria de uma máquina de ecmo para continuar vivo (ecmo significa oxigenação por membrana extracorpórea, na sigla em inglês).

O aparelho geralmente é considerado um último recurso - só para exemplificar, quatro pacientes haviam recorrido à ecmo na UCLA naquela semana, e todos tinham morrido. Para dificultar ainda mais a situação, o Saint John's não tinha a máquina. Ligaram para o Cedars-Sinai - pelo jeito eles deram uma olha-da na minha ficha e disseram: "Matthew Perry não vai vir morrer no nosso hospital." Valeu, pessoal. A UCLA também não queria me aceitar - pelo mesmo motivo? Vai saber -, mas pelo menos mandou a ecmo e uma equipe. Passei várias horas conectado a ela, e pareceu dar certo! Então fui transferido para a UCLA de verdade, em uma ambulância cheia de médicos e enfermeiros. (Seria impossível sobreviver a uma viagem de quinze minutos de carro, ainda mais do jeito que Erin dirige). Na UCLA, fui levado para a UTI cardiológica e pulmonar; aquele seria o meu lar pelas seis semanas seguintes.

Eu continuava em coma, mas, para ser sincero, devia estar adorando. Estava deitado, todo aconchegado, sendo entupido de drogas - tem coisa melhor? Fui informado de que, durante o coma, nunca, em momento algum, fiquei sozinho - sempre havia um familiar ou amigo no quarto. Eles fizeram vigílias à luz de velas, fizeram círculos de oração. Eu estavacercado de amor. Com o tempo, meus olhos magicamente se abriram.

[De volta às minhas memórias.] A primeira pessoa que vi foi a minha mãe.

- O que houve? - consegui falar, rouco. - Onde diabos eu estou?

Minha última lembrança era de estar no carro com Erin.

- O seu cólon explodiu - respondeu ela. Com essa informação, fiz o que qualquer ator que atua em comédia faria: revirei os olhos e voltei a dormir.

Já me disseram que, quando alguém fica muito doente, acontece um tipo de desconexão - é uma coisa que segue as linhas do "Deus nos dá apenas o fardo que podemos suportar". Quanto a mim, bom, nas semanas após sair do coma, não deixei que ninguém me contasse exatamente o que tinha acontecido. Eu tinha pavor de descobrir que a culpa era minha, que eu tinha feito aquilo comigo mesmo. Então, em vez de falar sobre o assunto, fiz a única coisa que me sentia capaz de fazer - durante os dias no hospital, me concentrei completamente na minha família, passando horas com minhas lindas irmãs, Emily, Maria e Madeline, que são engraçadas, carinhosas e presentes. À noite era a vez de Erin; eu nunca ficava sozinho. Um dia, quando algum tempo já havia passado, Maria - que faz parte da família Perry (minha mãe é do lado da família Morrison) - decidiu que era hora de me contar o que tinha acontecido. Lá estava eu, preso a cinquenta fios, feito um robô, de cama, enquanto Maria me informava sobre os acontecimentos. Meus medos eram válidos: eu tinha feito aquilo; a culpa era minha. Eu chorei - nossa, como eu chorei. Maria foi maravilhosa se esforçando para me consolar, mas não havia consolo possível. Eu praticamente tinha me matado.

Nunca fui de ir a festas - meu consumo excessivo de drogas (e eram muitas drogas) era apenas uma tentativa inútil de me sentir melhor. Só eu mesmo para tentar me sentir bem a ponto de quase causar minha morte. Ainda assim, lá estava eu, vivo. Por quê? Por que eu havia sido poupado? Mas as coisas ficariam ainda piores antes de melhorar. Parecia que toda manhã um médico entrava no meu quarto só para dar mais uma notícia ruim. Se algo pudesse dar errado, realmente dava. Eu já estava com uma bolsa de colostomia - pelo menos me informaram que isso seria reversível, graças a Deus -, mas agora havia sinais de uma fístula, um buraco no intestino. O problema era que não conseguiam encontrá-la. Para ajudar, recebi outra bolsa, que soltava um negócio verde nojento, e isso significava que eu não poderia comer nem beber nada até que encontrassem a tal fístula. Os médicos a buscavam todos os dias, enquanto eu sentia cada vez mais sede. Eu literalmente implorava por uma Coca Diet, sonhava que era perseguido por uma lata gigante de Sprite Diet.

Depois de um mês - um mês inteiro! -, finalmente encontraram a fístula em um segmento posterior do cólon. Eu pensei: Poxa, pessoal, se vocês estão procurando um buraco no meu intestino, não seria melhor começar olhando atrás do negócio que explodiu, porra? Agora que o furo havia sido encontrado, poderia ser consertado, e eu poderia aprender a andar de novo. Percebi que estava melhorando quando me dei conta de que sentia certa atração pela terapeuta. Sim, havia uma cicatriz imensa na minha barriga, mas nunca fui muito de tirar a camisa. Não sou nenhum Matthew McConaughey e, quando tomo banho, prefiro ficar de olhos fechados. Como eu disse, em toda a minha estadia nos hospitais, nunca fiquei sozinho - nunca mesmo.

Então, existe luz na escuridão. Ela está lá - você só precisa se esforçar para encontrá-la. Depois de cinco longos meses, recebi alta. Fui informado de que, dentro de um ano, tudo dentro de mim teria se curado o suficiente para que eu pudesse passar por outra cirurgia e remover a bolsa de colostomia. Por enquanto, pelo menos, fizemos minhas malas - de cinco meses de internação - e voltamos para casa. Ah, e a propósito, eu sou o Batman.

Serviço

Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível: As memórias do astro de Friends

Editora: Best Seller

Preço: R$ 36

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A Enel Distribuição São Paulo respondeu à notificação da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP) sobre a queda de energia na terça-feira, 7. "Para os próximos três anos, a companhia aumentará ainda mais os recursos destinados à sua área de concessão em São Paulo, que chegarão a R$ 10,4 bilhões até 2027", afirma a nota.

Empresa privada de origem italiana de distribuição e comercialização de energia elétrica que atende a Região Metropolitana do Estado, a Enel argumenta que conseguiu restabelecer a energia para a maioria dos clientes afetados em até 30 minutos após o início da tempestade. E ressalta que o temporal não afetou apenas o sistema elétrico, mas também a estrutura urbana.

"O plano de ação da companhia inclui o reforço das equipes em campo de acordo com a previsão meteorológica, a contratação de mais eletricistas próprios, o aumento da disponibilidade da frota de geradores, a ampliação da capacidade nos canais de atendimento, dentre outras medidas", diz a nota.

A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) entrou com processo judicial contra a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) devido às novas regras de cobrança das tarifas de água estabelecidas pela empresa. Com as mudanças, o valor cobrado pela água aos estabelecimentos - que prestam serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS) - vai dobrar.

Segundo a organização, as clínicas estavam inseridas em um modelo de contrato chamado de "demanda firme", que é reservado para locais que consomem um alto volume de água e oferece descontos. Esses tratados, porém, estão sendo cancelados pela Sabesp, diz Luciano Bonaldo, vice-presidente da ABCDT de São Paulo.

Ele conta que, entre outubro e novembro, as clínicas de diálise no Estado receberam notificações informando que, a partir de 1º de janeiro, iriam perder os descontos oferecidos às unidades de saúde.

Ainda de acordo com o vice-presidente, as instituições foram notificadas por e-mail sobre o encerramento de seus contratos, informando que a rescisão seria unilateral e que, após 60 dias da data do comunicado, a interrupção entraria em vigor.

Em nota, a Sabesp diz que "a rescisão dos contratos de demanda firme estava expressamente autorizada nesses contratos" e que respeitou as regras impostas no novo acordo de concessão, que estabelece restrições para o fornecimento de descontos a grandes consumidores.

Segundo a empresa, a mudança teria relação com o compromisso de promover a universalização do saneamento básico, alcançando áreas que hoje não são cobertas em São Paulo, até 2029. Segundo a Sabesp, isso irá demandar um investimento de R$ 60 bilhões.

Por fim, a companhia afirma que está desenvolvendo novos programas comerciais, que serão implementados assim que regulamentados pela Agência Reguladora dos Serviços.

Processo requer grandes volumes de água

Na região servida pela Sabesp, existem 83 centros de hemodiálise, com cerca de 22 mil pacientes ao todo. Desse número, 85% fazem o seu tratamento por meio do SUS, segundo dados da ABCDT.

A entidade explica que a água é utilizada em grande quantidade no processo de realização da hemodiálise. Segundo Bonaldo, uma máquina consome cerca de 180 litros de água para cada sessão e cada máquina trata três pacientes por dia, demandando 540 litros diários.

Por isso, segundo Luciano, o aumento da tarifa vai "impactar significativamente" no custo das sessões e "inviabilizar o tratamento" - há dois anos, as clínicas ameaçaram parar por falta de recursos e o cenário não melhorou significativamente de lá para cá, afirma a ABCDT.

A associação diz que, com a rescisão dos contratos de demanda livre, uma clínica com 300 pacientes que hoje gasta R$ 50 mil por mês com a conta de água passará a gastar R$ 100 mil. Ao todo, serão R$ 9 milhões em custos extras para as clínicas de todo o Estado.

"Esse aumento da Sabesp pode colapsar um atendimento SUS", avalia Bonaldo.

Processo judicial

Após o recebimento das notificações, a associação solicitou à Sabesp uma solução urgente para que as clínicas não enfrentassem o aumento, sugerindo categorizá-las como entidades filantrópicas - o que manteria o benefício.

Na época, segundo Bonaldo, a Sabesp informou que havia enviado à Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) uma nova metodologia de cálculo e logo haveria uma definição.

Mas a ABCDT afirma que não recebeu respostas e que, com a proximidade da data de suspensão do contrato, levou o caso ao Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). A entidade entrou com um pedido de mandado de segurança para a manutenção da cobrança com desconto e aguarda os desdobramentos da medida.

A expectativa, segundo a associação, é que a Sabesp prorrogue por no mínimo seis meses o reajuste para as clínicas de diálise que prestam serviço ao SUS. "Dessa forma haverá tempo para a discussão adequada e busca por soluções para o setor", diz a ABCDT em comunicado.

O que é diálise

Existem dois tipos de diálise: a hemodiálise e a diálise peritoneal. A hemodiálise é um procedimento em que uma máquina filtra e purifica o sangue, desempenhando parte da função que os rins comprometidos não conseguem realizar, segundo o Ministério da Saúde.

Esse processo remove do organismo resíduos prejudiciais, excesso de sal e líquidos, além de ajudar a controlar a pressão arterial e manter o equilíbrio de substâncias como sódio, potássio, ureia e creatinina. A hemodiálise é indicada para pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica grave.

Já a diálise peritoneal, conforme a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), é um tratamento em que o processo ocorre dentro do corpo do paciente. A solução de diálise (ou dialisato) é infundida na região do abdômen; o líquido entra em contato com o sangue, também interagindo com as substâncias acumuladas, como ureia, creatinina e potássio; e depois a solução é drenada, juntamente com as toxinas presentes na corrente sanguínea.

O resultado do exame de exumação do marido da mulher que fez um bolo de reis com arsênio em Torres, no Rio Grande do Sul, mostrou que ele também foi envenenado. Paulo Luiz dos Anjos morreu em setembro, três meses antes do envenenamento de outros cinco integrantes da família, entre elas a própria mulher que cozinhou o bolo. Ao todo, quatro pessoas morreram.

"Foi o segundo mais envenenado (com maior presença de arsênio) das quatro mortes", disse o delegado responsável pelo inquérito, Marcos Vinícius Veloso, da Delegacia de Polícia de Torres, ao Estadão.

A suspeita da Polícia Civil é de que a nora do casal tenha causado os envenenamentos na família. por causa de um desentendimento com a sogra. Ela foi presa preventivamente no último domingo, 5. "Nós temos fortíssimos indicativos pela justificativa da prisão. Ela foi a autora", disse Veloso após a prisão ser efetivada.

A polícia encontrou farinha contaminada com arsênio, um tipo de inseticida, na casa da mulher que cozinhou o bolo. A substância também foi encontrada, em concentrações altíssimas, nas amostras de sangue, urina e conteúdo estomacal das três vitimas do bolo de reis: Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, de 59, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, de 47 anos.

"Os níveis de arsênio dessas amostras são tão elevados que são considerados tóxicos e letais, e isso se explica a causa da morte", explicou Marguet Mittmann, diretora do Instituto Geral de Perícias (IGP-RS), em coletiva de imprensa esta semana.

A polícia informou que, devido ao sigilo das investigações, não pode revelar os motivos dos conflitos entre nora e sogra. No entanto, o delegado afirmou que os problemas entre ambas ocorriam há 20 anos.