'Sem Coração' volta ao verão dos anos 90 para contar uma história de amadurecimento e descobertas

Variedades
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
No verão de 1996, no litoral de Alagoas, a jovem Tamara (Maya de Vicq) está aproveitando seus últimos dias de pé na areia e amizade com aqueles que conhece desde pequena. Afinal, logo mais ela parte dali, dessa pequena vila pesqueira, para fazer faculdade em Brasília. Só que, antes da partida, um novo sentimento chega: a atração por Sem Coração (Eduarda Samara), apelido de uma menina da região que tem uma cicatriz no peito.

Essa é a história do interessante Sem Coração, filme que chegou aos cinemas brasileiros na quinta-feira, 18. Dirigido pela dupla de amigos Nara Normande e Tião, o longa-metragem é o retorno ao tema mais caro para a cineasta: o retorno às memórias e à vida na Guaxuma, essa pequena cidade alagoana que povoa a imaginação de Nara.

A cineasta, ao Estadão, conta que não pensava em contar essa história depois de fazer um curta homônimo, em 2014 - que, aliás, fala sobre alguém que está chegando na Guaxuma, enquanto o longa-metragem trata principalmente de quem está partindo. "A experiência de fazer o curta foi muito forte", conta Nara. "A gente viu que havia um universo muito grande ao redor daquilo, nas minhas memórias, e aí começamos a escrever o longa só em 2016".

Essa mudança de tirar o personagem Léo, que é alguém de fora, para focar na jovem Tamara, de dentro da comunidade, é o grande acerto da produção: ao invés de uma sensação de estranhamento com o que acontece em Guaxuma, temos logo uma noção de que tudo ali é familiar, verdadeiro. São as memórias de Nara colocadas dentro da trama.

"A Tamara sai desse lugar como eu também saí aos 13 anos. É bem diferente do que acontece no curta-metragem: você não está descobrindo essa paisagem; a Tamara e a Sem Coração apresentam essa paisagem", explica Nara. Maya de Vicq, aliás, tem uma relação próxima com a cineasta: são primas e a atriz, em seu primeiro longa, também viveu isso.

"Há tempos a Nara já falava com a minha mãe para eu fazer Sem Coração. Mas, como eu era muito nova, acabou não dando certo", conta a jovem atriz. "O filme todo foi gravado de uma forma muito natural. Não foi estranho pra mim. Estava sendo eu, falando com as câmeras, atuando, mas muita coisa realmente aconteceu quando eu era mais nova. Morei sete anos na Guaxuma, passei minha infância lá e parte de mim está na personagem".

O fato é que, além de Sem Coração mexer com as memórias de Nara e de Maya, o filme trata de algo complicado: o amadurecimento coletivo. Não apenas Tamara está tendo que amadurecer nesse seu último verão na Guaxuma, mas todas as pessoas ao seu redor estão tendo que lidar com novas emoções que nem sempre sabem lidar - assim como a baleia encalhada na areia e que ninguém sabe muito o que fazer com aquela chegada inesperada.

"Não é um filme só sobre o grupo, mas também sobre a história das duas. Tanto no roteiro quanto na montagem, qualquer alteração que a gente fazia replicava em mexer em tudo. Estão todos ligados, mesmo com histórias individuais", explica Tião. "Foi a coisa mais difícil, achar o equilíbrio. Até pra gente descobrir sobre quem mais a gente queria falar", diz Nara. "É importante também ser um filme atmosférico, que mostre muito desse lugar complexo".

E fica a dúvida: depois de dois curtas e um longa-metragem, será que Nara ainda tem mais histórias da Guaxuma para contar? "Guaxuma sempre irá inspirar minhas histórias, inclusive no meu próximo longa que se passa no futuro", diz a cineasta. "Minhas três primeiras histórias foram sobre minha infância, as memórias. Agora estou indo pra idade adulta".

Confira o trailer de Sem Coração

Em outra categoria

Um deslizamento de terra sobre uma casa em Taubaté, interior de São Paulo, deixou quatro pessoas soterradas, segundo informações preliminares da Defesa Civil, divulgadas na noite desta sexta-feira 27. A residência fica localizada no bairro Barreiro.

A ocorrência, que ainda está em andamento, é atendida pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros. O Centro de Gerenciamento de Emergências também acompanha o caso. Não há informações detalhadas ainda sobre o estado de saúde das vítimas, que são tratadas como "soterradas" pela Defesa Civil.

O deslizamento de terra foi provocado pelas fortes e constantes chuvas que caem no Estado de São Paulo desde quinta-feira, 26.

A cidade, que fica na região do Vale do Paraíba, encontra-se sob a influência de um extenso corredor de umidade, conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Segundo a Defesa Civil de Taubaté, o município registrou um volume de chuvas de 64 mm nas últimas 12 horas.

O Gabinete de Crise montado pelo governo do Estado contabiliza 19 municípios afetados por conta dos temporais. Até a noite desta sexta-feira, não foi confirmada nenhuma morte ou desaparecidos.

Entre vítimas, foram registrados as quatro pessoas soterradas de Taubaté, e uma pessoa ferida, em Jundiaí. Ao todo, há 14 pessoas desalojadas e cerca de 31,8 mil imóveis sem energia elétrica.

O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) emitiu nesta sexta-feira, 27, um novo alerta de chuvas intensas para o litoral paulista. De acordo com o instituto, o norte do litoral será o mais impactado nos próximos dias, com chuvas classificadas na categoria "perigo" (nível laranja), o segundo mais alto na escala de alerta do INMET, ficando abaixo apenas do nível vermelho ("grande perigo").

Em São Sebastião, Guarujá e Praia Grande, o acumulado de chuva até o momento já ultrapassou a média esperada para o mês de dezembro.

No Guarujá, o volume chegou a 322,7 milímetros, enquanto a média aguardada para dezembro é de 177,9 milímetros. Na Praia Grande, o acumulado atingiu 232,3 milímetros, e em São Sebastião, 255 milímetros.

"O Guarujá já ultrapassou quase o dobro do volume médio esperado para o mês, o que reforça a necessidade de atenção redobrada aos riscos hidrológicos e geológicos", destacou a Defesa Civil.

Apesar do grande volume de chuvas e sua persistência nesses municípios, não há registro de deslizamentos graves até o momento. Entretanto, pontos de alagamentos foram identificados, principalmente em áreas urbanas de Guarujá e Praia Grande.

Como o solo já está saturado, aumenta o risco de deslizamentos, especialmente em São Sebastião e em regiões com relevo mais acentuado.

Com precipitação de 94 milímetros entre quinta-feira, 26, e hoje, Bertioga é outra cidade do litoral norte que segue sob alerta. As chuvas ocasionaram a interdição parcial da Rodovia Mogi-Bertioga (SP-098) na altura do km 85 sentido sul devido a deslizamento de talude, mas foi liberada no fim do dia.

Alguns trechos de acesso a São Sebastião e Ubatuba também registraram quedas de barreiras menores, na rodovia Manoel Hyppolito do Rego. O trânsito foi liberado com apoio das concessionárias responsáveis.

No fim de semana, a chuva deve se concentrar mais no litoral norte de São Paulo, mantendo elevado o risco de acumulados significativos e aumento na saturação do solo.

A previsão é de precipitações entre 30 e 60 milímetros por hora ou até 100 milímetros ao longo do dia, acompanhadas de ventos intensos que podem variar de 60 a 100 quilômetros por hora.

Com isso, há riscos significativos de deslizamentos, quedas de árvores, descargas elétricas e alagamentos. Já no litoral sul, o alerta é de nível amarelo (perigo potencial), com chuva entre 20 e 30 mm/h ou até 50 mm/dia e ventos intensos 40-60 km/h.

Veja as áreas mais afetadas do litoral nas últimas 24 horas:

Litoral Norte

- Bertioga (Jardim Lido): 94mm

- Guarujá: 77mm

- São Sebastião (Camburi): 51mm

Litoral Sul

- Praia Grande: 105mm

- Peruíbe (Centro): 84mm

- Mongaguá (Centro): 77mm

- São Vicente (Jardim Rio Branco): 73mm

- Santos (Morro São Bento): 68mm

- Itanhaém (Balneário Gaivota): 61mm

- Cubatão (Jardim Casqueiro): 62mm

Recomendações

A Defesa Civil recomenda seguir as orientações abaixo, especialmente para aqueles que estão em área de risco:

- Evite locais abertos, como praias, campos de futebol e estacionamentos.

- Afaste-se de objetos altos e isolados, como árvores, postes, caixas d'água e quiosques.

- Durante chuvas, mantenha distância de aparelhos e objetos conectados à rede elétrica, como geladeiras, fogões e televisores.

- Não tome banho durante tempestades.

- Cuidado com ventos fortes, pois podem derrubar árvores, postes, fios e semáforos.

- Não desafie a força das águas: evite atravessar enxurradas ou caminhar em áreas alagadas.

- Em áreas de encosta, fique atento a sinais de movimentação do solo, como rachaduras em paredes, árvores ou postes inclinados, e água barrenta.

- Caso um fio energizado caia sobre o veículo, permaneça dentro do carro e entre em contato com o serviço de emergência.

Para receber alertas da Defesa Civil, envie um SMS com o CEP da sua região para o número 40199 ou acompanhe atualizações pelo perfil oficial no Instagram e Twitter: @defesacivilsp.

O estado de saúde da jovem que foi baleada pela Polícia Rodoviária Federal na terça-feira, 24, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, continua gravíssimo. Conforme boletim divulgado na tarde desta sexta, 17, a paciente Juliana Leite Rangel, de 26 anos, segue internada no Centro de Terapia Intensiva do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes.

Ela está entubada e é acompanhada por serviço de neurocirurgia, em conjunto com equipe multidisciplinar. Não há previsão de alta.

Segundo nota divulgada pela prefeitura de Duque de Caxias, Juliana deu entrada na unidade na noite do dia 24, véspera do Natal, levada pela PRF, vítima de lesão por arma de fogo na região do crânio. Ao chegar à unidade, a paciente foi entubada e encaminhada diretamente para o centro cirúrgico, onde passou por procedimento, sem intercorrências.

A jovem estava no carro da família com o pai, a mãe, o irmão e cunhada a caminho de uma festa de Natal em Niterói, quando os policiais dispararam em série contra o veículo. Um tiro, provavelmente de fuzil, feito a partir de uma viatura da PRF, atingiu a lateral esquerda do crânio da paciente.

Com o impacto do projétil, fragmentos da caixa craniana entraram no cérebro e uma cirurgia foi necessária para removê-los.

Na quarta-feira, 25, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento investigatório criminal para apurar a conduta dos agentes da PRF. No procedimento, o MPF pede que as viaturas que estavam na abordagem sejam recolhidas, assim como as armas dos policiais, e que a PF informe o que já foi apurado sobre o caso.

Pede ainda que sejam informadas as medidas de assistência prestadas pela PRF à família de Juliana. A Polícia Federal também investiga o caso.

O pai de Juliana, Alexandre Rangel, disse ao Estadão que dirigia o carro quando, ao avistar a viatura da PRF, abriu passagem para o veículo passar. No entanto, os agentes começaram a atirar contra a família.

"Não deram ordem de parada, não deram nada. Eu percebi que era tiro quando estilhaçou o vidro do carro. Eu pedi para os meus filhos e para a namorada do meu filho adolescente se agacharem e ficarem deitados no assoalho. Eles continuaram metendo tiro, mais de 30. De fuzil, pistola", disse.

Alexandre também foi atingido por um tiro no dedo. Ele se deitou para se proteger, mas continuou dirigindo o veículo para o acostamento, mesmo sem enxergar a pista. "Eu falei que 'aqui tem família, aqui tem família'. Eles falaram: 'Vocês atiraram na gente'. Eu falei: 'Nem arma eu tenho. Como eu vou atirar em vocês se nem arma eu tenho? Eu só tenho família."

Em nota, a PRF informou que os agentes - dois homens e uma mulher - envolvidos no caso foram afastados preventivamente das atividades operacionais. O órgão lamentou profundamente o episódio e disse que presta assistência à família. A PRF abriu um procedimento interno, em Brasília, para apurar as circunstâncias do ocorrido.