O Ministério da Saúde recebe até o próximo dia 19 as inscrições de pacientes interessados em compartilhar sua experiência com o uso de liraglutida (Saxenda) e semaglutida (Wegovy, Ozempic). A ação integra o processo de análise para incorporação dos medicamentos no tratamento da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
O pedido de avaliação da liraglutida partiu da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), com o apoio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
O documento pede a incorporação para o atendimento de pessoas com obesidade, diabetes tipo 2 e doença cardiovascular - e são pacientes com esse perfil que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) quer ouvir. Veja como participar aqui.
"Na chamada pública, os pacientes se inscrevem para dar seu depoimento, falar da sua experiência com a medicação", diz Maria Edna de Melo, coordenadora da Comissão de Advocacy da Abeso e integrante da SBEM.
A endocrinologista explica que os pedidos precisam levar em consideração o gasto do governo com a possível incorporação. Nesse sentido, uma proposta mais ampla, que incluísse pessoas com obesidade e diabetes tipo 2, sem problemas cardíacos, por exemplo, geraria uma grande elevação nos custos.
"Acabamos solicitando para aquele paciente que vai se beneficiar mais, que é mais grave", afirma. Pela estimativa das entidades, o gasto anual por paciente com o uso da liraglutida seria de R$ 7.390.
O preço foi justamente um dos fatores para o indeferimento de um pedido anterior, apresentado pela farmacêutica Novo Nordisk, fabricante da liraglutida. À época, a tentativa era oferecer o medicamento para pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 35 kg/m², pré-diabetes e alto risco de doença cardiovascular, um grupo estimado em 4.026.120 pessoas em cinco anos.
Análise da semaglutida
Foi a Novo Nordisk quem apresentou o pedido de avaliação da semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, pela Conitec.
Na solicitação, submetida em dezembro de 2024, a empresa propõe a incorporação para o tratamento de pacientes com obesidade grau II ou III (IMC maior ou igual 35 kg/m²), sem diabetes, com idade a partir de 45 anos e com doença cardiovascular estabelecida (infarto ou acidente vascular cerebral prévio ou doença arterial periférica sintomática).
Pessoas com esse perfil que tenham feito uso do medicamento podem se inscrever na chamada pública do ministério neste link.
Após a chamada pública com a participação de pacientes, a Conitec produz um relatório preliminar em que indica se recomenda ou não a incorporação do medicamento. Em seguida, é realizada uma consulta pública em que profissionais da saúde, pesquisadores, fabricantes e não pacientes, entre outros, podem dar suas contribuições. Depois, é formulado o relatório final, submetido a uma votação, e é divulgada a decisão. A expectativa, diz Maria Edna, é que a Conitec divulgue a avaliação final ainda no primeiro semestre.
"Hoje, temos cinco medicamentos para obesidade aprovados pela Anvisa e nenhum deles está disponível no SUS", ressalta a endocrinologista.
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"São pacientes que já infartaram, já tiveram um AVC e precisam perder peso para melhorar sua saúde, sua qualidade de vida e para diminuir o risco de novos eventos", diz. "Disponibilizar (o tratamento) é oferecer um atendimento adequado para a população, é respeito".
Obesidade é doença
No início deste ano, cientistas reunidos pela The Lancet Diabetes & Endocrinology definiram quando o excesso de gordura no corpo configura uma doença. Para isso, eles introduziram dois conceitos: a obesidade clínica e a obesidade pré-clínica.
O primeiro refere-se a pacientes nos quais a adiposidade representa uma doença crônica e sistêmica. Já no segundo, há a preservação da saúde de maneira geral, mas o quadro configura um fator de risco para o desenvolvimento da obesidade clínica e de doenças como diabetes tipo 2.
Para definir em qual dos grupos os pacientes se enquadram, os pesquisadores definiram 18 sinais e sintomas (13 para crianças e adolescentes), ampliando os aspectos observados para além das medidas tradicionais, nomeadamente peso e IMC.
O índice, porém, continua sendo largamente usado e foi a base do último levantamento sobre obesidade no mundo, o Atlas Mundial da Obesidade 2025, divulgado pela da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation, WOF).
De acordo com o documento, três em cada dez brasileiros vivem com obesidade. O Atlas projeta que, em 2030, 119,16 milhões de adultos brasileiros terão IMC alto, e 33,4% dos homens e 46,2% das mulheres conviverão com a obesidade, caso não sejam adotadas medidas efetivas para barrar a progressão da doença.