Artista inglês, Willard Wigan, fala sobre seu mundo de sutilezas

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No tempo frio e instável de Birminghan, na Inglaterra, o dia de Willard Wigan começa com uma vitamina batida no liquidificador. Talvez o barulho do eletrodoméstico seja o som mais alto que ele ouvirá no dia. No resto do tempo, ele se dedica às microesculturas no silêncio tranquilo de sua casa. Concentração, respiração lenta, gestos delicados. Minuciosas batidinhas na pedra que, aos poucos, se transforma, dentro do buraco de uma agulha, no rosto de quatro presidentes dos Estados Unidos, numa recriação do Monte Rushmore.

Em um primeiro relance, a visão das peças, que recriam celebridades, monumentos, quadros históricos e até animais selvagens, pode nos deixar um tanto incrédulos. Dizer que uma escultura cabe no buraco da cabeça de uma agulha sugere a pequenez, mas parece uma comparação vazia perto da grandiosidade do trabalho de Wigan.

Devido ao tamanho, as ferramentas tradicionais não funcionam: grande parte de como o trabalho é realizado atualmente foi um processo de "tentativa e erro" para Wigan. Quando o material é a pedra, por exemplo, ele quebra um diamante em estilhaços, substituindo o formão (instrumento utilizado para entalhar e esculpir).

"Eu faço as ferramentas por minha própria conta. Testei e experimentei por muito tempo. Para fazer o diamante, eu seguro ele em um pedaço de aço e o estilhaço com um martelo. Esses pequenos fragmentos pontiagudos que resultam do processo são a ferramenta para esculpir meus trabalhos."

A pintura também não é feita com o pincel: Wigan utiliza os próprios cílios para dar cor às esculturas.

Entretanto, o microscópio, aparato que atualmente é essencial no trabalho do escultor, foi um aliado que chegou com o tempo - e a idade. Wigan explica que, apesar do extremo controle com as mãos, os 67 anos pesaram na visão na hora de produzir: "Mas conforme a idade chega, parece que eu fico melhor".

Não só pela delicadeza, mas também por conta do fato de que ele deve controlar a própria respiração e os batimentos cardíacos para esculpir, muitas de suas obras levam semanas para ficarem prontas, mesmo em uma rotina de produção de cerca de 16 horas por dia. O Cristo Redentor, esculpido em nylon com o uso de uma lasca de um prato de jantar quebrado, levou cinco semanas para ser completado.

Casa de formiga

As esculturas, que hoje fazem morada em topos de parafusos, buracos de agulhas e cabeças de fósforos, começaram inocentemente, ainda na infância do escultor.

Ele conta que se entretinha, durante a juventude, com as pequenas farpas de madeira que se soltavam de objetos e árvores, e então tomou a decisão de criar pequenas casas para formigas. A partir daí, as obras foram encolhendo.

"Todo ser humano foi alguma vez pequeno. Meu trabalho conta a verdade: todos começamos pequenos. E crescemos. Você não consegue ver a olho nu, mas quando você vê pelo microscópio, as coisas se tornam grandes. Só porque você não pode ver, não significa que não está lá", explica.

Para quem analisa as obras de Wigan, o foco principal está na proporcionalidade e na riqueza de detalhes: os entalhes dos doze apóstolos, dispostos atrás da mesa, por exemplo, evidenciam os contornos de copos e pratos, pintados e entalhados manualmente.

O artista não usa uma "cola": as referências fazem parte da sua imaginação. "Eu faço tudo com a minha cabeça. Não preciso olhar. Eu olho só uma vez, é tudo que preciso."

Descoberta tardia do autismo

Para Wigan, os aparentes obstáculos da dislexia e do autismo, vindos de um diagnóstico tardio em sua vida, aos 50 anos, são agora aliados no processo de concentração e configuração das peças.

"Eu não fazia ideia de que tinha autismo e dislexia. Isso me causou grandes problemas, mas eu não sabia o que era. Quando eu ainda era pequeno, eu fui maltratado na escola. E esse é o lugar onde estou hoje", conta. Ele explica que o processo de entender seus limites é hoje uma recompensa pelo trabalho.

Guinness Book

De um fio de cabelo retirado de seu próprio pescoço, Wigan esculpiu uma bicicleta utilizando o ouro como matéria prima. A peça lhe rendeu seu primeiro reconhecimento no Guinness - Livro de Recordes, pela menor escultura feita por mãos humanas, ainda em 2013.

Mas a ambição do britânico não parou por aí. Inspirado nos conselhos da mãe, que costumava dizer que "quanto menores forem suas obras, maior você será", ele decidiu superar seus próprios parâmetros. Quebrou o recorde de novo, em 2017, com a reprodução de um embrião em Kevlar (tecido sintético), do tamanho aproximado de uma célula sanguínea humana (que mede 8 micrômetros, unidade equivalente a um milionésimo de metro).

"Eu nunca pensei muito no que eu queria ser quando crescesse. E, mais tarde, eu não me promovi, as pessoas só viram o que eu podia fazer e continuaram querendo mais do meu trabalho. Eu sinto como se toda essa energia que, com o tempo, coloquei no meu trabalho estivesse sendo reconhecida. É uma honra para mim."

O reconhecimento do Guinness veio acompanhada de mais dois títulos: Wigan também é doutor honorário pela Universidade de Winnick, além de ser um Membro da Ordem do Império Britânico, título concedido por um comitê real para indivíduos que causam impacto positivo na sociedade. "Eu só quero mostrar ao mundo o que os homens são capazes de fazer com as próprias mãos", diz.

Apesar do reconhecimento, o artista das pequenas formas complementa que ainda tem muitos sonhos. Bem-humorado, ele brinca sobre a afinidade com a bossa nova e outros gêneros musicais brasileiros, e expressa o desejo de uma visita ao Brasil com uma exposição: "Eu amaria montar uma mostra aí. Se me chamarem, pegarei o primeiro voo", finaliza.

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A Andreani Logística anunciou nesta terça-feira, 29, a suspensão dos serviços prestados à Fundação Butantan, incluindo o armazenamento de insumos utilizados na produção de vacinas. O centro de pesquisa, por sua vez, afirma que o contrato com a empresa foi encerrado dentro do prazo previsto e nega qualquer interrupção inesperada.

A versão da Andreani, no entanto, é diferente. Segundo a empresa, o contrato original teve vigência de abril de 2023 a abril de 2024, com solicitação da fundação para que a operação fosse mantida por mais seis meses, enquanto uma nova licitação era elaborada. A previsão era de que a prorrogação se encerrasse em 30 de setembro. Em agosto, porém, o Butantan já havia selecionado a empresa Simas Logística como vencedora da concorrência.

Em 30 de setembro, a fundação teria enviado à Andreani uma prorrogação unilateral do contrato até abril de 2025 - decisão que a empresa afirma que não aceitou nem assinou. "Estamos prestando serviço sem contrato. Não existe negócio unilateral, e o Butantan agiu de forma arbitrária. Isso está sendo discutido em juízo", afirma a Andreani.

A disputa pela gestão logística, armazenamento e distribuição de vacinas já foi levada ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), após a Andreani, segunda colocada no certame, contestar a legalidade da contratação da Simas. Um dos principais pontos de questionamento é a transparência do processo. Segundo a Andreani, o edital exigia a apresentação de uma licença que comprovasse a atuação da empresa em São Paulo - o que facilitaria a logística -, mas o documento da Simas não foi disponibilizado, mesmo após solicitação formal.

Outro ponto de crítica da Andreani é o que considera "falta de preparo da nova operadora". De acordo com a empresa, nas últimas 48 horas, equipamentos do Butantan que estavam sob sua guarda foram transferidos para uma fazenda da fundação e não para instalações da Simas, em um movimento que comprovaria a ausência de estrutura adequada.

A Andreani afirma que a única movimentação solicitada até o momento foi essa. A denúncia foi levada ao Ministério Público.

Embora o início oficial das atividades da Simas estivesse previsto para 17 de abril, a Andreani afirma que continuou recebendo cargas. "De 1º até 28 de abril, recebemos 340 paletes de insumos, sendo 40 apenas na segunda-feira, 28", afirma. A empresa também alega que nenhum desses materiais foi retirado até agora - versão contestada pelo Butantan, que informa já ter transferido 900 paletes para a nova operadora.

Segundo a Andreani, os serviços vêm sendo mantidos sem contrato e com valores determinados de forma unilateral pelo Butantan. A empresa afirma que, a partir desta quarta-feira, 30, deixará de receber novos insumos e de transportar cargas já armazenadas - função que também está sob sua responsabilidade - caso não seja apresentado um cronograma detalhado de transferência, amparado legalmente, com respeito aos valores comerciais anteriormente pactuados e acesso completo à documentação do processo licitatório.

A empresa afirma ainda que o imbróglio coloca em risco a integridade dos insumos. Ela assegura que as cargas sob seus cuidados seguirão armazenadas e refrigeradas, mas se recusa a receber novos insumos para armazenamento ou a realizar o transporte dos que já estão armazenados.

O que diz o Butantan?

A Fundação Butantan afirma que a Simas Logística, vencedora da licitação, dispõe de um galpão já qualificado e começou a receber insumos desde 3 de abril - informação que, assegura, foi previamente comunicada à Andreani.

Inicialmente, a fundação afirma que foram encaminhados materiais não refrigerados e, a partir de 30 de abril, a nova operadora também passará a receber insumos refrigerados. "Mais de 900 paletes já foram transferidos para as instalações da Simas, e a previsão é de que toda a migração seja concluída até o fim de maio", diz o Butantan.

O centro de pesquisa também destaca que o contrato com a Andreani foi firmado por inexigibilidade de licitação - modalidade diferente de uma contratação emergencial - e foi prorrogado unilateralmente com base na Lei 14.133/2021. "A empresa segue prestando serviços até o encerramento do contrato, em 30 de abril. Após essa data, caberá à Andreani permitir a retirada do restante dos materiais, já que a Simas está plenamente capacitada para armazenar e operar com os insumos", afirma.

A fundação assegura que não há risco de interrupção na produção de vacinas, especialmente considerando que a entrega das doses contra gripe ao Ministério da Saúde já foi concluída e que essa produção, a de maior volume do Butantan, só será retomada no segundo semestre, como ocorre regularmente.

A instituição também defende a regularidade do processo licitatório. Afirma que todo o procedimento foi conduzido com transparência e dentro da legislação, sendo reiteradamente validado por decisões judiciais favoráveis, e acrescenta que a Simas teria apresentado uma proposta com preço 45% inferior ao da segunda colocada, gerando uma economia estimada em R$ 72 milhões. "O que ocorreu, portanto e simplesmente, foi que a Andreani perdeu uma licitação", afirma o Butantan.

Segundo a fundação, a Andreani apresentou diversos recursos, todos sem sucesso. Além do recurso administrativo indeferido no âmbito do próprio Butantan, a empresa teve três pedidos de liminar negados pela Justiça - dois já em segunda instância - e teve indeferido também, pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), o pedido de suspensão do certame. O processo ainda está em fase de instrução para julgamento do mérito, mas relatório técnico da fiscalização do TCE concluiu pela regularidade da licitação e improcedência da representação feita pela empresa.

Um metalúrgico de 22 anos morreu baleado durante discussão no trânsito em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, na madrugada do domingo, 27. O autor do tiro fugiu e não havia sido identificado até a publicação desta reportagem, segundo a polícia.

Patrick da Silva Brito morava em Diadema e na noite de sábado, 26, foi à festa de aniversário de um amigo em São Bernardo do Campo. Ao fim do evento, na madrugada de domingo, pegou carona com um amigo que também mora em Diadema. Durante o trajeto, enquanto passavam por uma rua próxima do Corredor ABD, se depararam com um carro parado na via, impedindo a passagem. Fora do veículo, um casal discutia.

O amigo de Patrick, que dirigia um Citroen C4 Cactus branco, buzinou pedindo passagem. O homem responsável pelo outro veículo sacou um revólver e disparou dois tiros na direção do motorista, segundo foi registrado na Polícia Civil.

Quando o amigo de Patrick percebeu a reação do rapaz, manobrou e tentou fugir, mas um dos tiros atingiu a nuca de Patrick. O amigo saiu com o veículo rumo a um hospital e, no caminho, encontrou guardas-civis municipais e pediu ajuda. Patrick chegou vivo ao hospital, mas não resistiu.

O caso está sendo investigado pelo Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil em São Bernardo do Campo, segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado. Até a noite de terça-feira, 29, o autor dos tiros não havia sido identificado.

Ainda hoje, muitos órgãos para transplante são transportados em embalagens que usam o gelo para manter refrigeração, sem controle preciso da temperatura. Pensando nisso e em outras demandas baseadas na realidade brasileira, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram uma embalagem inteligente que promete mudar esse cenário.

O produto é equipado com um sistema de monitoramento em tempo real, via internet, que permite rastrear o órgão e detectar qualquer queda ou alteração de temperatura durante o transporte. A embalagem, além disso, possui uma autonomia de até 6 horas e conexão de backup para garantir a continuidade do processo em situações adversas.

"Ela tem várias funcionalidades para dar um suporte em tempo real e garantir que esses órgãos e tecidos sejam transportados na temperatura adequada, diferentemente do gelo, em que não temos controle algum", detalha Bartira de Aguiar Roza, coordenadora do projeto e professora da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp. "O objetivo é reduzir perdas e otimizar o trabalho."

De acordo com a professora, existe uma perda estimada de 5% dos órgãos que são transportados a uma longa distância. As caixas, ela explica, precisam passar por diferentes ambientes, como aeroportos e táxis, onde muitas vezes a temperatura do ar-condicionado não é suficiente para manter a refrigeração adequada.

"Além disso, existem os requisitos de segurança, de rastreabilidade. Existem produtos que são transportados com alta tecnologia, mas, quando falamos de órgãos humanos, estamos transportando com iglu de gelo. Precisamos responder várias demandas, não só a demanda de perdas, mas também assegurar a rastreabilidade", diz.

A inovação é mais cara do que as embalagens padrão. A estimativa é de que chegue ao mercado por um valor entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. "Mas, comparando com caixas desenvolvidas em outros países, é mais barata", assegura a pesquisadora. "Caixas (estrangeiras) que ainda usam gelox, mas são rastreadas são vendidas por R$ 80 mil no Brasil. Desenvolvemos o produto para ter uma caixa nossa, da qual possamos nos orgulhar e que, sobretudo, seja mais barata."

Recentemente, foi concluída a etapa de validação pré-clínica da nova embalagem por meio de um estudo de caso-controle. Nessa fase, foi feita uma comparação entre o modelo atualmente utilizado no Brasil e a proposta desenvolvida pelos pesquisadores. Segundo Bartira, os resultados demonstraram que a nova embalagem é segura para o transporte de órgãos e tecidos destinados a transplantes.

O produto ainda deve passar por outros testes com órgãos humanos e a expectativa é que esteja disponível no mercado no início de 2026. A embalagem começou a ser desenvolvida em 2017, sem nenhum tipo de apoio financeiro, e em 2020 recebeu um aporte da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

A tecnologia foi desenvolvida pela Unifesp, por meio da Escola Paulista de Enfermagem e da Escola Paulista de Medicina, em parceria com a São Rafael Câmaras Frigoríficas, Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) e o Centro de Tecnologia em Embalagem para Alimentos do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).