'Descobri um gênio', diz Juan Cárdenas sobre Machado de Assis na Flip

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Há 20 anos, o escritor colombiano Juan Cárdenas descobriu a literatura de Machado de Assis ao traduzir a obra do Bruxo do Cosme Velho para o espanhol. "Descobri um gênio", contou ele ao Estadão em Paraty, onde participou da 22ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip.

"Graças a Machado, comecei a compreender situações da região onde nasci, Popayán, no interior da Colômbia." E a sofisticação da escrita machadiana o convenceu a acreditar que o Brasil teve o precursor de outro grande nome latino, o argentino Jorge Luis Borges.

Cárdenas traduziu também obras de Eça de Queiroz, João Gilberto Noll e Guimarães Rosa. Foi, portanto, quase impossível que a prosa desses clássicos não influenciassem sua escrita pessoal. É o que se percebe em O Diabo nas Províncias (DBA), romance hipnótico em que um acontecimento mágico aparece e convive de forma normal com a trama.

"A cozinha da minha escritura sempre foi a tradução com seu ritmo e sintaxe", comenta ele na entrevista com o Estadão, iniciada justamente sobre esse assunto.

Como o trabalho de tradutor influencia seu texto pessoal?

Interfere muito. A cozinha da minha escritura sempre foi a tradução, com seu ritmo, sua sintaxe. E a musicalidade de outras línguas contagia o meu próprio idioma. É algo parecido com o trabalho de um médium, ao sintonizar com as energias espirituais. E, quando é entranhada por outra, a sua língua se torna mais viva.

Autores de língua portuguesa, como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Eça de Queiroz, foram ainda mais decisivos?

Sim, são um grande alimento. No caso de Guimarães, por vezes é frustrante. É incrível essa relação com um texto que é praticamente intraduzível. Já no início do trabalho, você sabe que não vai dar certo. Mas, apesar disso, essa impossibilidade é também importante.

E o que dizer de Machado?

O universo do Machado fica muito próximo daquele do lugar onde nasci e cresci, uma região na Colômbia marcada pelos traumas da escravidão. Aliás, como a organização política, social e econômica da região, por séculos, esteve ligada à estrutura de fazendas, ler Casa Grande & Senzala, do Gilberto Freyre, é como descobrir algo muito familiar para nós.

E, com Machado, um escritor brasileiro, comecei a compreender as minhas situações locais. Essa foi a primeira impressão. Anos depois, descobri a incrível sofisticação do Machado em termos do procedimento literário.

Sempre digo que o Brasil teve um Jorge Luis Borges antes do surgimento do próprio Borges. Veja Memórias Póstumas de Brás Cubas: é um texto que, por baixo das curvas, é cervantino ao jogar com os planos da realidade. Ele simplesmente atualizou a técnica de Cervantes no século XIX. Machado foi um gênio da escrita.

E sua obra desperta interesses de leitores surpreendentes, como o comediante Woody Allen

Ele atinge vários povos em diferentes épocas. Mesmo um cara chato como o crítico Harold Bloom, que não conhecia a literatura latino-americana, era grande admirador de sua obra. Isso é prova inconteste de sua genialidade.

Em sua obra, como consegue conciliar acontecimentos fantásticos com fatos corriqueiros, sem que um não contraste com o outro?

Curiosamente, foi um escritor brasileiro que me deu a chave para entender a oposição falsa da abstrata, entre realidade e fantasia. Quando traduzi Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll, logo no começo eu me deparei com uma situação totalmente cotidiana, normal, que se transforma em algo completamente estranho. E sempre no plano da realidade, Noll não faz um corte para introduzir o fantástico. Com isso, a percepção da realidade se torna muito mais profunda, rica. É mesmo que entrar no mistério profundo das coisas visíveis sem desvelar nada.

Você acredita que a literatura está dando conta da realidade de hoje, tão complexa e acelerada?

A literatura faz o que pode. Hoje vivemos uma realidade com mudanças constantes, difícil saber o que poderá acontecer nos próximos dez anos

Seria o mal um aliado da literatura?

Não vejo os escritores como vampiros à espera do mal para alimentar sua obra. Claro que não faltam problemas, especialmente na América Latina, mas somos tropicais - não pessoas despreocupadas com a vida, hedonistas, mas que sabem viver bem e corretamente sob o sol

O avanço da tecnologia pode facilitar o trabalho dos escritores?

Não me preocupo com os avanços tecnológicos porque a Inteligência Artificial comprova que as máquinas sabem cada vez mais de tudo. E, na literatura, é melhor não saber de tudo. Daí a vantagem humana. A fantasia é muito importante hoje, assim como a projeção do desejo. Também acredito que as imagens são muito importantes. Estão vivas. São seres vivos.

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Na véspera da data em que Isabella Nardoni completaria 23 anos de idade, Ana Carolina Oliveira compartilhou nas redes sociais as lembranças que guarda da filha em uma caixa, como fotos, brinquedos e sapatos de bebê. Isabella foi morta aos 5 anos pelo pai, Alexandre Nardoni, e pela madrasta, Anna Carolina Jatobá, em 2008.

Hoje vereadora de São Paulo pelo Podemos, Oliveira também publicou um vídeo em homenagem à filha: "Eu guardo tudo de você com tanto carinho, suas fotos, seus desenhos, suas cartinhas. Às vezes fecho os olhos e consigo sentir você aqui comigo", disse.

Ela diz imaginar como a filha estaria hoje, se estaria na faculdade, se teria um amor e como seria a relação com os irmãos mais novos. "Daria tudo pra viver mais um aniversário com você", disse no vídeo.

Relembre o crime e desdobramentos

Isabella teria sido jogada da janela do 6º andar do prédio na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, onde moravam o pai e a madrasta. Ambos foram condenados em 2010 - ele, a 31 anos e 1 mês, ela, a 26 anos e 8 meses de prisão - mas já se encontravam presos desde 2008, quando ocorreu o crime. O caso teve grande repercussão nacional.

Alexandre Nardoni está em regime aberto desde maio do ano passado, cumprindo o restante da pena em liberdade. Ele teve concedida a progressão para o regime aberto depois de ficar preso por 16 anos. Já Anna Carolina Jatobá cumpriu 15 anos de pena e foi solta em 2023, também em progressão para o regime aberto.

Ana Carolina Oliveira foi a segunda vereadora mais votada da cidade nas eleições municipais de 2024. Seus projetos em tramitação na Câmara de São Paulo são voltados à proteção de mulheres, crianças e adolescentes e pessoas com deficiência contra a violência, mas nenhuma proposta ainda foi aprovada.

Uma adolescente de 17 anos foi esfaqueada dentro de sua casa, em Sorocaba, interior paulista, pelo namorado, também de 17 anos. O crime ocorreu na noite de quinta-feira, 17.

O próprio jovem chamou a Polícia Militar após o ato, confessando o crime. Ele foi encaminhado à Fundação Casa e permanece à disposição da Justiça.

A Polícia Civil investiga o caso. A perícia foi solicitada ao local e o caso foi registrado como feminicídio na Delegacia de Plantão de Sorocaba.

Em 2024, o Brasil registrou 1.450 feminicídios, uma redução de 5% em relação a 2023, segundo dados do Ministério da Justiça. No Estado de São Paulo, porém, houve recorde de casos de homicídios de mulheres por razões de gênero no último ano - foram mais de 250.

O advogado Juliano Bento Rodrigues Girau foi morto a tiros durante um assalto na madrugada deste sábado, 19, na orla da Praia Grande, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Um amigo da vítima também foi baleado.

Ao menos um dos quatro suspeitos de participação no crime foi detido pela manhã. A Polícia Civil faz buscas pelos demais envolvidos.

Morador de São Gonçalo do Sapucaí (MG), o advogado estava no litoral paulista a passeio, junto com dois amigos. O crime teria ocorrido quando o grupo saiu de uma festa realizada na beira da praia, momento em que foi abordado por quatro homens encapuzados.

O caso foi registrado como latrocínio na Delegacia de Ubatuba. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), um terceiro amigo da vítima não se feriu e prestou depoimento à polícia.

"Os criminosos levaram celulares, carteiras e joias das vítimas", apontou em nota. "As investigações seguem em andamento para identificar e localizar os responsáveis pelo crime", finalizou.

Câmeras de segurança captaram o momento do crime, ocorrido pouco antes das 4 horas da madrugada. Nas imagens, o advogado e seus amigos são abordados por quatro homens encapuzados enquanto ainda estavam na faixa de areia.

Nas redes sociais, um dos amigos do advogado havia postado imagens das cerca de 12 horas de viagem de carro até Ubatuba. Guirau era formado em Direito pela Faculdade de Direito de Varginha (Fadiva), mas residia em São Gonçalo do Sapucaí, município do sul mineiro localizado a menos de 300 quilômetros de Ubatuba.

Prefeitura e OAB lamentam crime: 'Profissional íntegro'

A subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Gonçalo do Sapucaí se manifestou nas redes sociais: "Sua dedicação e compromisso com a Justiça sempre será lembrada com respeito e gratidão". "Manifestamos nosso repúdio pelo crime brutal que levou a morte do advogado da nossa subseção e que as medidas sejam tomadas para uma célere investigação", acrescentou.

A Prefeitura de São Gonçalo do Sapucaí também lamentou o caso em nota veiculada nas redes sociais. "Profissional íntegro, Dr. Juliano dedicou sua vida ao exercício da Justiça com ética, competência e respeito ao próximo. Sua partida representa uma grande perda não apenas para a advocacia, mas para toda a nossa comunidade", declarou.