O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 19, em alta moderada, refletindo correção parcial após a queda de ontem e uma postura mais defensiva dos investidores na véspera do feriado do Dia da Consciência Negra, quando não haverá negócios no mercado local.A busca pela moeda americana, sobretudo pela manhã, teria sido impulsionada em parte pelo aumento das tensões geopolíticas, com o agravamento do conflito entre Ucrânia e Rússia, que ameaça responder a ataques aéreos com armas nucleares. Moedas vistas como abrigo em momentos de aversão ao risco, como o franco suíço e o iene, operaram a maior parte do pregão com sinal positivo.
Por aqui, as expectativas se voltam para a divulgação do pacote de corte de gastos do governo Lula. Há possibilidade de que o anúncio do plano possa ficar para a semana que vem, apurou a reportagem do Broadcast, que acompanha a cúpula do G20, no Rio de Janeiro.
A operação da Polícia Federal que prendeu militares suspeitos de tramar um atentado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi monitorada, mas não teve impacto relevante nos negócios.
Com máxima a R$ 5,7979 pela manhã, o dólar fechou em alta de 0,34%, cotado a R$ 5,7672. Apesar do avanço de hoje, a moeda ainda acumula queda em novembro (-0,24%). No ano, o dólar sobe 18,83% em relação ao real, que tem, ao lado do peso mexicano, o pior desempenho entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes.
"O dólar está pressionado na véspera do feriado, quando é comum o investidor buscar proteção. Temos um pouco de aversão ao risco no exterior e ainda as dúvidas sobre o tamanho do pacote fiscal. Estão falando em R$ 70 bilhões em dois anos, mas ainda é só especulação", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Esperava-se inicialmente que o pacote fosse anunciado após o desfecho das eleições municipais. Depois uma série de reuniões no Palácio do Planalto, das quais emergiram relatos de confronto entre ministros da área social e a equipe econômica, a divulgação foi postergada diversas vezes. No domingo, 17, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote "está fechado" e que o anúncio correrá "brevemente".
Embora haja perspectiva de divulgação ainda nesta semana, surgiram rumores de que o anúncio pode ficar para a semana que vem. Faltariam ainda acertos com Lula e ajustes para inclusão do Ministério da Defesa no pacote.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, há pouca disposição neste momento para formação de posições mais firmes, o que se reflete na baixa liquidez. "Temos a entrega do pacote fiscal do governo, que pode ser melhor do que o esperado. Dentro desse ponto de vista, o mercado parece estar operando dentro da ideia de que é mais provável o dólar voltar para R$ 5,60 do que subir para R$ 6,00", afirma Borsoi.
O economista, porém, vê uma tendência de valorização da moeda americana no médio prazo. Além de políticas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, favoráveis ao dólar globalmente, Borsoi não acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) leve a taxa Selic para níveis próximos de 14%, que vê como necessários para promover a convergência da inflação à meta. "E considero que o plano de controle de gastos do governo não vai se mostrar crível ao longo do tempo, assim como aconteceu com o arcabouço", afirma.
Dólar sobe com ajustes antes de feriado e tensão geopolítica
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