Membros da equipe da Casa Civil começaram a atuar diretamente nas discussões sobre o modelo do leilão do Tecon 10, novo terminal de contêineres de Santos. A ampla concorrência está em julgamento no Tribunal de Contas das União (TCU), com linhas divergentes em disputa.
A informação de que a Casa Civil defende que a disputa seja aberta a todos os interessados foi primeiro revelada pela Folha de S. Paulo. A Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, apurou que o movimento existe, mas não massificado. Nome do alto escalão do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) diz que há alinhamento com a Casa Civil desde antes de o projeto ser enviado ao TCU e refuta divergências.
Mas o consenso teria se revertido porque, mesmo diante de uma série de relatórios técnicos que dizem que a ampla concorrência deve ser garantida, há tendência de a maioria dos ministros votar para restringir a participação dos atuais operadores do Porto de Santos. Entre as posições pela abertura a todos os interessados estão documentos do Ministério da Fazenda e da equipe técnica do próprio TCU. Há projeções, por isso, de que o processo será alvo fácil de judicialização.
O Tecon 10 é considerado estratégico por exigir R$ 6,45 bilhões em investimentos e ampliar a capacidade do Porto de Santos, responsável por cerca de 30% do comércio exterior brasileiro. A demanda pela expansão é histórica, com registro de prejuízos milionários para empresas que dependem do atual espaço que, insuficiente, leva operadores a esperarem dias para atracar seus navios.
Conforme relatado à reportagem, mais que defender a ampla concorrência - na contramão ao projeto elaborado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Casa Civil está colhendo a tendência de votos e dialogando sobre esses. Pelo retrospecto da relação entre a equipe palaciana e a Corte de Contas, há chances de a Casa Civil conquistar mudanças de posições, avalia um membro do TCU.
Um integrante-chave do MPor afirmou à reportagem que o movimento de parte do ministério palaciano, se existir, é inexpressivo e orquestrado por pessoas que querem tumultuar o processo. O mesmo membro disse que essa oposição não faria sentido já que, antes de o processo ser remetido ao TCU, o modelo que restringe participações recebeu o aval da Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos, da Casa Civil.
Julgamento
O julgamento foi iniciado na semana passada com duas linhas divergentes. O relator, ministro Antonio Anastasia, defende o modelo aberto, até aqui, isolado em sua tese. O relator revisor, ministro Bruno Dantas, vê necessidade de restringir os atuais operadores de Santos em uma primeira tentativa de leilão, o que seria necessário para evitar concentração de mercado.
A análise foi suspensa por pedido de vista do ministro Augusto Nardes e está prevista para ser retomada na próxima semana. Dantas foi seguido pelo ministro Walton Alencar, que antecipou o voto. O ministro Jorge Oliveira também comunicou que acompanhará a tese, mas não formalizou por pedido do presidente Vital do Rêgo, que apelou aos colegas para aguardar a retomada do julgamento.
O cenário da semana passada, conforme mostrou a Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, era de que Anastasia seria acompanhado por no máximo outros dois ministros: Benjamin Zymler, que crava a interlocutores que acompanhará o colega e, talvez, o presidente da Corte de Contas, Vital do Rêgo, que até então se dizia indeciso.
Já o apoio ao voto de Dantas tendia a ser bem mais amplo. Interlocutores diziam que ele seria acompanhado também pelos ministros Aroldo Cedraz e Jhonatan de Jesus. Dessa forma, Antonio Anastasia amargaria no mínimo seis votos contrários. Caso Vital do Rêgo também decida pela tese de Dantas, o placar final ficará em sete a dois.
Agora, com a atuação - de parte ou integral - da Casa Civil, um observador do processo diz que vê possibilidade de empate. Nesse caso, como o colegiado é formado por nove ministros, a decisão final ficaria com o presidente Vital do Rêgo - que nesse cenário tenderia a votar com o relator.
O Ministério de Portos e Aeroportos não é obrigado a seguir a definição do TCU sobre o leilão. No entanto, o titular da pasta, ministro Silvio Costa Filho, reitera publicamente há meses que seguirá o que for estabelecido na Corte de Contas.
A reportagem solicitou posicionamentos da Casa Civil e do MPor e, tão logo esses se manifestem, terão suas posições registradas pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Casa Civil entra em cena no julgamento do Tecon 10 e pode reverter resultado no TCU
Tipografia
- Pequenina Pequena Media Grande Gigante
- Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
- Modo de leitura