A Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk) anunciou nesta segunda-feira que assinou acordo com a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) para a criação de uma entidade que vai representar as duas modalidades internacional. A nova confederação era uma exigência da World Skate, o que encerra um imbróglio que atrapalhou a gestão do skate nacional ao longo de 2024.
"Pelo acordo, a CBSk assegura o direito legítimo de seguir representando e gerindo o Skateboarding olímpico brasileiro, com toda autonomia e liberdade administrativa, econômica e estatutária sobre a modalidade. Ainda com base no termo, também nos mantemos como a única entidade a representar e gerir o Skateboarding nacional como um todo", informou a CBSk, em comunicado.
De acordo com a confederação, o acordo assinado já foi enviado para a World Skate, a federação internacional da modalidade, que ainda vai homologar o termo. O acordo contou com o incentivo do Ministério do Esporte e do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos últimos meses.
A nova entidade, segundo apurou o Estadão, deve se chamar Skate Brasil. Na prática, a nova confederação terá efeitos práticos apenas de representação internacional das duas modalidades (skate e hóquei/patinação). No dia a dia, cada confederação anterior - CBSk e CBHP - manterá sua autonomia na gestão e nas decisões diárias.
Pelo acordo, costurado nos últimos meses de 2024, a nova entidade respeitará a divisão de recursos e a autonomia das modalidades. A CBSk conta com orçamento mais robusto por gerir uma modalidade olímpica, com direito a mais recursos junto ao COB. As duas partes ainda não explicaram onde será a sede da Skate Brasil e se CBSk e CBHP vão dividir escritórios e outras estruturas.
O acordo começou a ser negociado após a Olimpíada de Paris-2024, finalizada em agosto. A CBSk procurou a CBHP visando uma convivência pacífica sob um novo "guarda-chuva", que uniria as duas entidades, mas respeitando a autonomia de ambas para gerirem suas modalidades.
A solução, já proposta anteriormente pela CBHP, ainda em 2017, atenderia à exigência da World Skate, que pedia a fusão de todas as modalidades de patins e skate numa mesma confederação. Inicialmente, a demanda gerou críticas por parte da CBSk, que temia perder sua autonomia, além do possível risco de dividir os recursos do COB com a CBHP.
ENTENDA O CASO
A disputa entre CBSk e CBHP é antiga e se consolidou em 2017, quando, após o skate se tornar esporte olímpico, a Federação Internacional de Esportes sobre Patins se fundiu à Federação Internacional de Skate, culminando na criação da World Skate (WS). Então, o COB teve de indicar uma entidade para representar os skatistas junto à nova entidade e chegou a escolher a CBHP, mas mudou de ideia e optou pela CBSk, na época presidida por Bob Burnquist, um dos maiores skatistas da história e fundamental nesse processo de convencimento.
A "novela" ganhou novos capítulos em 2019, antes mesmo da Olimpíada de Tóquio, marcada inicialmente para 2020, mas que foi realizada somente no ano seguinte. Em assembleia realizada em 2019, a World Skate decidiu que cada país poderia ter apenas uma entidade filiada ao seu quadro, e o Brasil tinha a CBSk e a CBHP. Entre alguns adiamentos, a regra só foi aplicada após 31 de dezembro de 2023. Antes disso, travou-se uma disputa nos bastidores, pois a WS queria a fusão das duas entidades, sugestão refutada pela CBSk, que sentiu sua autonomia ameaçada e adotou o discurso de manter o "skate nas mãos dos skatistas".
Em um panorama mais amplo, a CBSk aliou-se a federações de outros países em um movimento que chamaram de "no merge" (sem fusão, em tradução livre do inglês). Ao fim do prazo para a resolução dos conflitos entre as instituições nacionais, cinco países não tiveram acordos entre suas entidades: Brasil, Estados Unidos, Geórgia, Eslovênia e Turquia. A escolha da representação, então, foi feita pela WS, conforme determinado pelo estatuto da organização.
Diante da resistência da entidade brasileira, a federação internacional desfiliou a CBSk no fim de janeiro, a poucos meses da Olimpíada, o que gerou preocupação no esporte brasileiro. A WS criticou a CBSk por ter "recusado qualquer diálogo com a CBHP" e realizado uma "campanha difamatória na mídia contra a World Skate e suas regras". O texto também disse que a proposta apresentada pela CBSk "não estava de acordo com as determinações, uma vez que previa manter duas entidades separadas sem criar uma organização guarda-chuva". Por outro lado, a CBHP aceitou se transformar na "organização guarda-chuva", unindo todas as modalidades.
Diante da proximidade da Olimpíada de Paris, o COB assumiu a gestão do skate brasileiro ao intervir na CBSk e definir uma estrutura administrativa para auxiliar os atletas. Na prática, não houve mudanças drásticas uma vez que um dos cargos criados pelo COB para gerir a entidade foi ocupado por Tatiana Lobo, que exerceu diversos cargos diretivos dentro da própria CBSk e tinha trânsito com dirigentes e atletas.
A cinco meses da Olimpíada, a confederação obteve uma vitória parcial ao obter uma liminar junto à Corte Arbitral do Esporte (CAS), pedindo a refiliação na World Skate. Uma audiência envolvendo as partes aconteceu no dia 26 de setembro, mas a decisão, definitiva sobre o assunto, será feita somente no dia 13 de dezembro. O resultado da ação, contudo, poderá ficar em segundo plano caso a união entre CBSk e CBHP seja homologada pela própria WS, nas próximas semanas.
Confederação de skate anuncia acordo com CBHP para entidade de representação internacional
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