Morreu neste domingo, aos 92 anos, o apresentador, locutor e dublador João Baptista Belinaso Neto, conhecido apenas como Léo Batista, nome mais recentemente lembrado por aparições no Globo Esporte, mas que passou também por muitos dos principais programas da TV Globo, como o Fantástico, o Jornal Nacional e o Jornal Hoje.
Até ser internado no hospital Rios D'or, em Jacarepaguá, com um tumor no pâncreas, o ícone do jornalismo, chamado de "A Voz Marcante", continuava trabalhando para emissora na qual contribuiu com seus serviços por 55 anos. Viúvo, foi casado com Leyla Chavantes Belinaso, a Dona Leila, que morreu aos 84 anos, em 2022.
Inquieto, não imaginava uma vida em que não podia exercer o seu trabalho, pensamento que ficava bem claro aos que cruzavam seu caminho nos corredores e camarins da Globo. "Eu acho que se ele sair do ar ele morre", diz Alex Escobar em depoimento à série "A Voz Marcante", que conta a história de Leo e é dirigido por Kizzy Magalhães. Até o meio de 2024, o nonagenário ainda comandava um quadro dentro do Globo Esporte e ia duas vezes por semana à sede da emissora.
"Eu vou fazer 92 anos agora em julho, sendo 76 deles dedicados ao jornalismo, e continuo gostando muito do que faço", disse Seu Léo, como é chamado nos corredores da Globo, ao Estadão, na época do lançamento do documentário.
"Sigo trabalhando porque a TV permite que eu continue ativo no esporte. Enquanto eles permitirem e eu tiver essa vitalidade, vou seguindo. Quero continuar fazendo isso. Não sei quanto tempo Deus ainda vai me dar de vida, mas eu estou muito bem de saúde e quero continuar fazendo o que me dá prazer."
Batista começou sua trajetória como locutor do serviço de alto-falante de uma praça em Cordeirópolis, no interior de São Paulo, passando pela "era de ouro" do rádio, ao risco de se aventurar na televisão, na época em que o meio de comunicação havia acabado de surgir e ainda era um caminho incerto e questionado. Na telinha, se firmou como um dos principais nomes do jornalismo da Globo.
Enquanto trabalhava em Cordeirópolis, foi notado pelo ex-deputado Domingos Lot Neto, então dono da recém-inaugurada Rádio Clube de Birigui, veículo no qual passou a trabalhar. Mais tarde, trabalhou no Rádio Difusora de Piracicaba e narrou muitos jogos do XV. Mesmo atuando em um veículo do interior, cobriu a Copa do Mundo de 1950 no Rio, para onde se mudaria em 1953, contratado pela Rádio Globo.
No comando do programa o Globo no Ar, foi a primeira voz a noticiar o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. Um ano depois, o espírito desbravador o levou a se aventurar na televisão, que ainda dava seus primeiros passos. Entrou para a TV Rio e apresentou o Telejornal Pirelli, concorrente do poderoso Repórter Esso, da TV Tupi.
Léo Batista continuou na mesma emissora até 1970, quando foi chamado para fazer parte da cobertura da Copa do Mundo pela Globo, a pedido de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então chefe de direção de programação e produção da emissora.
No ano seguinte, a "Voz Marcante" já apresentava a primeira edição do Jornal Hoje. Também foi o primeiro apresentador do Esporte Espetacular, em 1973, e do Globo Esporte, 1978, programas dos quais foi criador. Esteve na primeira edição do Fantástico, apresentando os gols da rodada e interagindo com a famosa Zebrinha na hora de noticiar os resultados da loteria esportiva. Também chegou a apresentar edições do Jornal Nacional, ao lado de Cid Moreira.
Assim como no rádio, participou de coberturas marcantes depois que foi para a televisão, especialmente no esporte. Na soma das duas áreas, trabalhou em 13 Copas do Mundo e 13 Jogos Olímpicos. Foi ele quem entrou nos plantões sobre a morte de Ayrton Senna, em contato com o repórter Roberto Cabrini, que estava na Itália, e para noticiar o acidente que tirou a vida de Princesa Diana.
"Na verdade, eu tive foi sorte de estar na hora certa e no lugar certo em todos esses momentos", disse Léo Batista ao Estadão. "Não sei se a palavra correta é emocionado, mas com certeza tem um misto de emoção com orgulho de ter feito parte disso tudo. Esse orgulho, na verdade, é por poder estar inserido na história, por ter sido a voz de fatos importantes e que marcaram a vida de muita gente. Agora, ao mesmo tempo, também noticiei alguns fatos tristes, como as mortes do Getúlio Vargas, do Ayrton Senna e da Princesa Diana, por exemplo."
Além do amplo trabalho como comunicador, Léo Batista se dedicou a ofícios como o canto, as artes plásticas, a comédia e a literatura. Também foi dublador e marcou uma geração como narrador dos desenhos animados dos heróis da Marvel na década de 1960.
Léo Batista, ícone do jornalismo e funcionário da Globo há cinco décadas, morre aos 92 anos
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