Grupo europeu refaz convite ao Brasil para cúpula de procuradores contra facções internacionais

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Em meio aos debates da primeira Cúpula dos Procuradores-Gerais (PG20), no Rio, uma presença em particular pode colocar pressão no governo Lula e no Itamaraty para que a Procuradoria da República passe a integrar o grupo considerado como "o estado da arte" das iniciativas do Ministério Público em âmbito internacional. A parceria pode levar ao avanço das ações de combate ao crime organizado transnacional, inclusive contra o PCC e sua extensa atuação internacional.

A expectativa é a de que as tratativas e encaminhamentos do PG20 - que é realizado no Rio nesta semana, sob presidência da Procuradoria brasileira do G20 - destravem o aceite de um convite ao Brasil ainda no governo Bolsonaro, que parece ser "empurrado com a barriga" desde então.

A presença em questão é a de Boštjan Škrlec, vice-presidente da Eurojust - iniciativa que reúne os MPs de todo velho continente, além de 12 procuradores de países estratégicos. Em reunião bilateral realizada no PG20, Škrlec reiterou, ao procurador-geral da República Paulo Gonet, o convite para que o MPF passe a integrar a organização internacional.

Ao Estadão, ele afirmou que a Cúpula de PGRs é "mais uma confirmação" do compromisso do País em desenvolver parcerias internacionais no combate à crimes transnacionais. "A União Europeia espera logo continuar com as negociações", disse.

Segundo o vice-presidente da Eurojust, o acordo visado envolve a troca de informações operacionais e permite que o Brasil mantenha um procurador na sede do órgão em Haia, "onde os procuradores atuam lado a lado em investigações". Esses procuradores têm acesso a uma série de ferramentas únicas e tecnologia de ponta, garante.

Boštjan Škrlec afirma que investigações conjuntas aumentam exponencialmente a partir do momento em que um País é fisicamente representado na sede do grupo. Esse aumento tem relação com o fato de organizações criminosas operarem hoje em escala global, sendo necessário que as autoridades colaborem entre si além das fronteiras.

Na abertura do evento, Gonet afirmou que a expectativa é a de que o Brasil assine o acordo. O procurador destacou como a parceria entre os MPs que compõem o Eurojust permite uma troca de informações em tempo real, assim como a atuação conjunta das Procuradorias.

A comparação mais próxima da magnitude da Eurojust é com a Europol. A Polícia ainda tem uma instituição "mais alta" em nível internacional, a Interpol - a Polícia Internacional, com ramificação em quase 200 países.

No caso dos Ministérios Públicos, não há organização "mais importante" que a Eurojust, indica o vice-procurador geral da República Hindemburgo Chateaubriand Filho. "Não tem nada igual no mundo."

Hindemburgo explica que a Eurojust coordena toda a cooperação internacional entre os Ministérios Públicos da Europa e também com os países convidados a participar do grupo.

Atualmente doze países fora da União Europeia compõem o grupo: Albânia, Georgia, Noruega, Islândia, Moldova, Montenegro, Macedônia do Norte, Sérvia, Ucrânia, Reino Unido e Estados Unidos.

Segundo o vice-PGR, a Eurojust tem critérios muito restritos para convidar países a participarem do grupo. Trata-se de uma instituição consolidada e amplamente reconhecida, com mais de 20 anos de atuação, e que convida países a integrarem a organização para ampliar as investigações sobre o crime organizado transnacional. O grupo coopera apenas com órgãos análogos.

O Ministério Público Federal já é um ponto focal da Eurojust, tendo participado de forças-tarefa intermediadas pela organização, como as que prenderam integrantes da máfia italiana. Essa parceria foi destacada inclusive por Škrlec, que citou a prisão de integrantes da Cosa Nostra - máfia que inspirou a trilogia O Poderoso Chefão - em outubro, no Rio Grande do Norte.

Segundo ele, as investigações que levaram à prisão de mafiosos italianos no Brasil começou em 2022 e incluiu bloqueios de valores e empresas no exterior.

Apesar de a Procuradoria já atuar, em algumas investigações intermediadas pela Eurojust, se o Brasil se tornar um membro participante do órgão inúmeras possibilidades de investigação seriam abertas, avalia Hindemburgo, considerando que a natureza do vínculo é mais forte. "Há uma diferença entre ser um convidado e ser sócio do clube. O nível da parceria cresce e claro que se abrem possibilidades", indica.

Segundo Hindemburgo, se o Brasil efetivamente se tornar um membro da Eurojust, as oportunidades se abrem especialmente para o combate do crime organizado e das grandes facções internacionais. A parceria poderia inclusive turbinar as investigações, em nível internacional sobre o PCC, que hoje tem uma atuação marcante em inúmeros países.

A maior facilidade em investigar esses crimes seria um resultado do maior diálogo entre o Brasil e outros países, considerando o acesso mais fácil e qualificado possibilitado pela Eurojust. "Cooperação pressupõe conhecimento e confiança. Você não coopera com quem você não conhece", explica Hidemburgo.

A aproximação seria, inclusive, física. Isso porque os países que integram a Eurojust mantêm um procurador representante da nação na sede em Haia. Isso permite que os integrantes dos MPs parceiros da instituição possam simplesmente bater à porta do gabinete de um procurador de outro país. A avaliação é a de que são criadas condições perfeitas para o diálogo, troca de informações ou resolução de dúvidas.

Convite

No MPF, a avaliação é a de que o convite veio após a entidade mapear a maneira como hoje operam as organizações criminosas, considerando o grande volume de crimes praticados com origem no País e destino na Europa. Além disso, a atuação do MPF como parceiro fez com que a instituição se mostrasse confiável, pensam integrantes da Procuradoria.

Outra questão que propiciou o convite - algo que sempre foi de interesse do Ministério Público Federal -, foi o fato de o Brasil ter desenvolvido uma legislação mínima que permite a relação almejada, em especial a instituição da Lei Geral de Proteção de Dados.

Para a formalização do ingresso do Brasil no Eurojust foi apresentado ao governo federal, via Ministério das Relações Exteriores, um convite, ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. À época, o chefe do Ministério Público Federal era o ex-procurador-geral da República Augusto Aras, antecessor de Gonet. Portugal presidia o Conselho da Europa.

O documento encaminhado ao MRE estabelece algumas condições para a parceria entre a Eurojust e o Brasil. Uma assinatura implicaria em um tratado internacional que, segundo Hindemburgo, é de "interesse óbvio" do Brasil. "(A parceria) não irá trazer um avanço miraculoso, mas uma vez parte do processo será desenvolvida a capacidade de atuação no combate ao crime organizado."

O Estadão apurou que a Agência Nacional de Proteção de Dados já deu parecer favorável à parceria entre o Brasil e a Eurojust. No entanto, o motivo de as negociações não terem deslanchado é considerado um "mistério". Até o impacto da Operação Lava Jato e a disputa de poder envolvendo a possibilidade de eventualmente haver um representante do MPF em Haia são aventados como possíveis entraves internos para as tratativas.

Nos bastidores, considera-se a negociação arrastada, com episódios que se destacam. Em um primeiro momento, por exemplo, o governo teria negado que teria havido uma proposta de acordo formal, o que foi posteriormente contrariado pelo ex-PGR Augusto Aras.

Em outra ocasião, que repercutiu muito no MPF, foi a sugestão, feita pela comissão que analisa a proposta, de o ponto focal da parceria do Brasil com o Eurojust ser a Advocacia-Geral da União, braço jurídico do Executivo, mesmo se tratando de uma organização de Ministérios Públicos.

A sensação interna na Procuradoria é a de que "se empurra o acordo com a barriga". A expectativa, com o encontro do PG-20 e a presença do vice-presidente da Eurojust é que pelo menos seja estabelecido um processo de convencimento em torno da importância de o Brasil participar do grupo.

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O casamento de Ary Mirelle e do cantor João Gomes ocorreu na noite desta segunda-feira, 21. Os noivos celebraram o evento no Castelo de Brennand, em Recife, em cerimônia que reuniu shows de famosos e contou com presenças ilustres. Eles são pais do pequeno Jorge, de nove meses.

Artistas como Mari Fernandez, Vitor Fernandes, Xand Avião e Saulo Fernandes se apresentaram na cerimônia.

O salão do casamento, no Castelo de Brennand, é uma área arquitetônica de 992 metros quadrados, que conta com obras de arte e exposições variadas entre artistas como Tereza Costa Rego e Claire Colinet. O local também possui uma capela, onde foi realizada a cerimônia religiosa e a troca de votos do casal.

O vestido de Ary Mirelle

A noiva escolheu dois modelitos do atelier de prêt-à-porter (roupas "prontas para vestir") da Casamarela Noivas feita os pela estilista espanhola Rosa Clará. O modelo da cerimônia é da linha Aire Barcelona, no estilo romântico, confeccionado em tule e renda, com aplicações em 3D.

O segundo foi escolhido para a festa, ocasião em que Ary decidiu utilizar um modelo mais ajustado ao corpo. Ele ganhou algumas modificações para que ficasse mais confortável para a noiva. A maquiagem e o cabelo foram realizados pelo artista e maquiador Nandu Vieira.

* Estagiária sob supervisão de Charlise Morais.

O escritor francês Édouard Louis, que veio ao Brasil para participar da Flip 2024, foi entrevistado no Roda Viva, da TV Cultura. No programa, que foi ao ar na segunda-feira, 21, falou sobre sua homossexualidade, e como o machismo presente no ambiente em que cresceu impediu que tivesse uma boa relação com o pai - temática frequente em seus livros, publicados no País pelas editoras Tusquets e Todavia.

"Posso dizer que, assim que nasci, quando aprendi a falar, a me movimentar, a andar, eu estilhacei os sonhos do meu pai", começou o autor, em resposta a uma pergunta do advogado e influenciador literário Pedro Pacífico. "Meu pai sonhava em ter um filho másculo, durão, que jogasse futebol, que gostasse de mulher. Eu era um rapazinho gay, efeminado, que desejava outros rapazes, que tinha horror a esportes", continuou.

Ele afirma que isso foi uma forma de traição para o pai. "Eu traí a masculinidade dele porque, para que ele mesmo produzisse essa masculinidade, ele precisava ter um filho macho. Eu nunca consegui ser a pessoa que esperavam e sofri muito com as violências que conto nos meus livros, desde que vim ao mundo. Me chamavam de bicha, biba, maricas, veado. Mas no fim, o que tento entender é o modo como essa violência me salvou, porque ela não me deixou outra escolha senão ir embora", refletiu.

Em seu romance de estreia O Fim de Eddy (Ed. Tusquets), por exemplo, o autor faz um retrato autobiográfico a partir da casa miserável, no centro da vila operária falida no norte da França, onde, até a adolescência, enfrentou as piores violências e humilhações.

Para ele, seus livros são uma forma de "guerra" contra a literatura que insiste em retratar histórias de pessoas que fugiram desses ambientes como se fossem mais inteligentes, livres e sensíveis do que outros. "Eu não era mais sensível. Era simplesmente excluído", argumentou no Roda Viva.

Stepan Nercessian, presidente do Retiro dos Artistas, falou sobre algumas dificuldades com as contas da instituição, durante entrevista publicada na segunda-feira, 21, pelo O Globo. Entretanto, ele se animou com o aumento das doações, que beneficiam artistas residentes do Retiro, localizado em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro.

Sobre a instabilidade da instituição, Stepan comentou que o fechamento das contas "é sempre um momento delicado": "A doação depende de quem doa, e pode ser suspensa a qualquer momento. Fizemos um convênio, e agora todos os residentes têm plano de saúde, algo que era um sonho e que traz grande tranquilidade para todos nós", disse.

Entretanto, o ator explicou que mais pessoas perceberam a importância da instituição recentemente. "Muitos colegas tinham medo de visitar o retiro achando que seria um asilo, um lugar deprimente. Mas perceberam que, pelo contrário, as pessoas ali vivem um momento especial da vida. A corrente de apoio está crescendo, e muita gente está nos ajudando."

Alguns artistas são figurinhas carimbadas nas visitas ao Retiro. Marieta Severo, Gloria Pires, Boni e Fernanda Montenegro são alguns dos artistas que fazem parte das doações e das visitas mais constantes.

O presidente da instituição destacou a ajuda de Boni para o Retiro dos Artistas: "Ele reformou nossa lavanderia e também o refeitório. Essas ações nos animam muito. Temos também pessoas maravilhosas que, às vezes, contribuem não com dinheiro, mas com visitas e conversas com os residentes. Isso é uma forma de participação tão importante quanto a financeira".

Na terça-feira, 22, Boni, que lançou recentemente seu livro O Lado B de Boni, revelou que toda a arrecadação com os direitos autorais do livro foram doados para a instituição. Todos os livros do ex-diretor da Globo tiveram o lucro revertido para o local.

O Retiro dos Artistas aceita doações monetárias mensais ou feitas pontualmente, além de alimentos, roupas, remédios e móveis. Saiba como doar aqui.